A cóltura do praime taime
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Manuela Moura Guedes também é um ícone, mas de um certo tipo de jornalismo de entretenimento muito apreciado pelo público da televisão.
O seu “jornal da nove”, na Tvi, era uma espécie de “o juiz decide”, em directo e em horário nobre – ela era o juiz, claro, uma espécie de Roy Bean do faroeste europeu - instruía o processo, acusava, interrogava implacavelmente as testemunhas e ódepois julgava, sem direito a defesa claro, para grande gáudio da imensa audiência, sedenta de justiça, que assistia à coisa. Às sextas-feiras a novela só começava lá para a meia-noite, devido ao penoso derenrolar dos processos. Nada que inquietasse os aficionados. Mais emocionante só no tempo da santíssima inquisição, quando a populaça levava farnel e refrescos para o terreiro-do-paço, para ver arder as bruxas e os judeus.
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Entretanto, a pedido de várias famílias, o generoso milionário que então mandava na estaçãocancelou-lhe o pugrama (esta é uma das peculiaridades do faroeste europeu: aqui até os milionários sofrem pressões, coitadinhos).
Manuela deixou então o jornalismo-de-merda. Mas não passou à estória, como José Milhazes - passou ao entretenimento-de-merda.
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Agora Manuela apresenta o concurso “Quem quer ser milionário”, dizem que com “conteúdo cultural”. Em horário nobre, como o jornal-das-nove-da-tvi, mas na RTP1.
É lá que interroga implacavelmente uns pobres idiotas - que apenas querem enriquecer honestamente sem fazer grande coisa - para delírio da imensa audiência da Tvi, que o canal público agora definitivamente disputa, com as mesmas armas.
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