É verdade que o Maduro não é (e o Chávez também não era, e o PSUV jamais vai ser) um revolucionário e um comunista.
É verdade também que as tarefas históricas que recaem sobre o povo venezuelano para se livrar da gusanera e do imperialismo tem muito pouco a esperar dele, para não dizer que só se farão quando as massas se desembaraçarem dele sob direcção de comunistas e de revolucionários.
Tudo isto é verdade no planeta da abstração.
Tão ou mais verdade que o facto de o Tsipras ser um inapto político que ia levar (e levou) o processo de vitória eleitoral do Syriza a uma cova de onde só se levantou para fazer a política da UE.
Como é verdade que a direcção do PT e o seu delírio de um Programa Democrático e Popular onde "todos ganham" só podia enrolá-los em contradições tão medonhas e tão colossais que no fim de linha até o Bolsonaro pareceu melhor que eles, e foi eleito por isso.
Um partido tem de estar no grau zero da lama suja para alguém dizer, como um tipo disse numa entrevista de rua, "Bolsonaro dá medo na gente, mas votar no PT não tem como".
Isto é uma coisa. Outra é a milícia afiar os dentes porque o Bolsonaro vai chegar ao poder e eu bater palmas porque estou contra o reformismo do PT.
Outra é a Comissão Europeia impor medidas de austeridade aos gregos e eu apoiar as medidas de austeridade porque não gosto do Syriza.
Outra é a UE exigir eleições para a presidência da Venezuela (quando eleições para os órgãos europeus lol) e eu fazer coro com a UE e ainda usar o argumento da mais merdosa das latas de dizer que "ele não é socialista".
Então quem é socialista?
O Juncker?
O Mário Centeno?
É possível criticar Maduro pela esquerda (eu faço isso há anos) e não ser um lacaio do imperialismo.
Nem o lacaio que bate palmas ao que quer que o imperialismo faz, nem o lacaio que quando o imperialismo bate diz "vamos lá a ver, a Líbia/o Iraque/a Coreia/a Venezuela também" (e que é tão lacaio como o primeiro, só que é mais cobarde).
Basta ter claro que a política não é o reino das vitórias morais, é o reino das vitórias. Pelo que antepor pudorzinhos à defesa de povos em luta leva geralmente a lado nenhum. Com efeito, a derrota de Tsipras, de Lula, e as passas do Algarve de Maduro, são a consequência directa de pudorzinhos a mais.
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