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terça-feira, 27 de setembro de 2016

Desenhos e gravuras - Lisboa Velha (1925)


EXPLICAÇÃO
 
     Não esquecerei jamais a impressão de sumptuosidade e de admiração que senti quando, ahí por Fevereiro de 1874, vindo da minha humilde aldeia, entrei em Lisboa.
     Não tinha visto até então mais do que os casebres dos modestíssimos lavradores a cuja família me honro de pertencer.
     A Lisboa do fim do século xix, e especialmente a cidade baixa, caracterisadamente pombalina, apesar do seu fraco movimento e da monótona harmonia das suas construções, impressionaram o meu espírito de provinciano ingénuo, moço e ignorante, como a ultima palavra do urbanismo estonteante das capitaes.
     Começava n'essa ocasião o assentamento da linha de Carris de Ferro Americanos, do Terreiro do Paço ao Conde Barão, e existia, não havia muito, a carreira de vapores de rodas para Alcântara e Belém, de cuja opulenta frota fazia parte o roncador e cuspinhento vapor Progresso, com seu simbólico titulo de arrojado meio de transporte, e no qual tantas vezes embarquei.
     Conheci eu mui particularmente as ruas de S. Paulo e da Bôa Vista, e comquanto ligassem a parte ocidental da cidade com a baixa, não eram então, e apesar de tudo, mais movimentadas do que é hoje qualquer rua dos bairros excêntricos.
     Sob o ponto de vista pitoresco, julgo terem sido estas ruas as mais características, e de mais surprehendente efeito perspético, o qual lhes vinha do seu arco e da sua longa fila de prédios desegualmente altos, e em cujas fachadas haviam enxertado remates de variadissimas e graciosas curvas — evolução lógica da frontaria típica dos séculos anteriores.
     Breve porem, estas ruas, e as do resto da cidade, passaram infelizmente pelas maiores e mais desconchavadas transformações e, mais por preversão do gosto do que por necessidades de facto, foram as construções pombalinas e os seus lindos pormenores, sendo substituídos pelas correntezas de banalissimos casarões de platibanda, cheios de reles exotismo, os quais, por minha desgraça e de alguns outros, que assim pensam, somos, quaes passageiros deste outro «Progresso» — obrigados, bem constrangidamente, a olhar todos os dias.
 
     Vêm estas linhas para justificar e assignalar o desgosto profundo que desde sempre venho sentindo ao ver destruir-se todo o pitoresco de Lisboa, desgosto hoje corrente, mas que mercê da minha edade fui, talvez, dos primeiros a sofrer.
     Essa sincera mágua e uma natural e saudosa atração pelas coisas do passado, levaram-me, desde ha trinta anos, a pintar em aguarelas, a desenhar e a documentar graficamente conforme pude e soube, todos os pormenores que pouco a pouco iam desaparecendo da fisionomia da cidade, tarefa onde puz o melhor dos meus esforços e o carinho muito verdadeiro que consagro ás coisas da minha Terra.
     Essa tarefa é este livro — e eu não sei dizer melhor das suas intenções.
     Affonso Lopes Vieira, que me acompanha com a sua alma de grande poeta e de grande português, melhor do que eu próprio me explicará.
     Daqui pois lhe agradeço do fundo do coração as palavras com que ilumina as minhas despretenciosas e modestas notas gráficas.
Roque Gameiro
 
 
por AFFONSO LOPES VIEIRA
 
 
Pode ver como são estes locais na actualidade em:
 
Est. 1 - Rua de S. Pedro ao Largo do Chafariz de Dentro
 
 
Est. 11 -  A Baixa vista do Jardim de S. Pedro de Alcântara
 
 
Est 21 - Rua do Bemformoso
 
 
Est. 31 - Rua das Farinhas
 
 
 
 
Est 41 - Princípio das Escadinhas de S. Miguel
 
 
Est 51 - Escadinhas dos Remédios (Vista de baixo)
 
 
Est 61 - Rua da Judiaria
 
 
 
Est 71 - Casa no Largo do Menino Deus  (ver estudo)
 
 
Est 81 - Beco dos Cortumes
 
 
Est 91 - Escadinhas de S. Cristóvam
 
 
 
 
 
Est. 02 - O Rossio
 
Est. 03 - Na Rua da Mouraria
 
Est. 04 - A Igreja do Triunfo - Alcântara
 
Est. 05 - Calçada da Bica Grande
 
 
Est. 06 - Casas na Rua do Bemformoso
 
Est. 07 -Junto ao Paço de D. Fernando no Largo da Saúde
 
Est. 08 - Na Rua de S. Miguel - Alfama
 
Est. 09 - Beco do Castelo
 
Est. 10 - Largo da Achada
 
 
Est. 12 - Rua do Vieira Portuense - Belém
 
Est. 13 - Largo da Saúde e Rua da Mouraria
 
Est. 14 - Rua do Século (antiga Rua Formosa)
 
Est. 15 - Arco de Jesus, ao Campo das Cebolas
 
 
Est. 16 - Igreja da Penha de França
 
Est. 17 - Escadinhas dos Remédios (vista de cima)
 
Est. 18 - Rua de S. Miguel - Alfama
 
Est. 19 - Detrás da Igreja de S. Miguel
 
Est. 20 - Na Rua dos Remédios
 
Est. 22 - Arco de Penabuquel
 
Est. 23 - Pátio de uma casa na Rua de Castelo Picão
 
Est. 24 - Esquina da Rua de S. Bento e Rua do Sol ao Rato
 
Est. 25 - Paço e muralhas de D. Fernando no Largo da Saúde
 
 
Est. 26 - Travessa do Terreiro do Trigo
 
Est. 27 - O Arco Escuro
 
Est. 28 - Capela de Nossa Senhora da Guia (Rua da Mouraria)
 
Est. 29 - Entrada para o Pátio de D. Fradique
 
Est. 30 - Beco do Espírito Santo ao Largo do Chafariz de Dentro
 
 
Est. 32 - Rua do Arco do Marquês do Alegrete    (ver estudo)
 
Est. 33 - No Largo da Achada
 
Est. 34 - Travessa de S. João da Praça (Vista de cima)
 
Est. 35 - Princípio da Rua do Capelão
 
 
Est. 36 - Rua das Madres
 
Est. 37 - Rua do Loureiro
 
Est. 38 - Rua de Santo Estêvão
 
Est. 39 - Arco de S. Estêvão (Vista de baixo)
 
Est. 40 - Arco de S. Estêvão (Vista de cima)
 
 
Est. 42 - Pátio do Prior
 
Est. 43 - Entrada da Rua de S. Miguel - Alfama
 
Est. 44 - Casa quinhentista da Rua dos Cegos
 
Est. 45 - Calçada de S. Vicente
 
 
Est. 46 - Princípio da Rua de S. Pedro ao Largo do Chafariz de Dentro
 
Est. 47 - Nicho na Calçado do Jogo da Péla
 
Est. 48 - Portal do Convento da Encarnação
 
Est. 49 - Na Rua dos Corvos
 
Est. 50 - Porta Sul do Convento das Francesinhas
 
 
Est. 52 - Calçada de S. Lourenço vista do Largo dos Trigueiros
 
Est. 53 - Travessa da Portuguesa da Rua do Marechal Saldanha
 
Est. 54 - Rua de S. Miguel Junto à Igreja
 
Est. 55 - Chafariz do Largo de S. Paulo
 
 
Est. 56 - Chafariz do Largo do Carmo
 
Est. 57 - Rua de S. Pedro Mártir
 
Est. 58 - Rua do Vale (a Jesus)
 
Est. 59 - Largo de Santo Estêvão
 
Est. 60 - Casa dos Bicos
 
 
Est. 62 - Casa da Rua de Belém
 
Est. 63 - Pátio da Carrasco
 
Est. 64 - Arco de Santo André visto de cima
 
Est. 65 - A Fonte Santa (aos Prazeres)
 
 
Est. 66 - Casas da Rua Castelo Picão
 
Est. 67 - Igreja de Nossa Senhora de Monserrate (Amoreiras)
 
Est. 68 - Pátio do Peneireiro
 
Est. 69 - Junto ao Cais das Colunas no Terreiro do Paço
 
Est. 70 - Arco de Santo André
 
 
Est. 72 - A Torre da Ajuda
 
Est. 73 - Igreja de Santa Luzia
 
Est. 74 - Escadinhas de Santo Estêvão
 
Est. 75 - Largo do Menino Deus da Travessa do Açougue
 
 
Est. 76 - Princípio da Travessa de S. João da Praça
 
Est. 77 - A Torrinha do cimo da Avenida da Liberdade
 
Est. 78 - Rua Possidónio da Silva aos Prazeres
 
Est. 79 - Rua da Galé - Alfama
 
Est. 80 - Rua da Regueira
 
 
Est. 82 - Largo do Chafariz de Dentro
 
Est. 83 - Restos de praia junto ao Cais do Sodré
 
Est. 84 - Convento da Esperança
 
Est. 85 - Vista dos terramotos para o Alto dos sete Moínhos
 
 
Est. 86 - A Igreja de Santo Amaro (vista para o Tejo)
 
Est. 87 - Calçada de S. João da Praça
 
Est. 88 - Casas da Rua de S. Pedro (ao Chafariz de Dentro)
 
Est. 89 - Rua de S. Miguel (Alfama)
 
Est. 90 - Casas da Rua da Regueira
 
 
Est. 92 - Beco dos cortumes (visto de fora)
 
Est. 93 - Rua do Arco a S. Mamede
 
Est. 94 - Chafariz da Rua Formosa
 
Est. 95 - Chafariz das Janelas Verdes
 
 
Est. 96 - Chafariz da Alegria
 
Est. 97 - Entrada para o Quartel da Cova da Moira
 
Est. 98 - Casas do Largo do Rato
 
Est. 99 - Casas do Largo do Convento da Encarnação
 
Est. 100 - Entrada do Palácio dos Paulistas (antigo Correio Geral)


tribop.pt
 

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