Objetivo é que os adultos estudem fora da escola, através do computador
Projeto-piloto de ensino recorrente a distância arranca em Lisboa e Mangualde e para já apenas com o curso de Línguas e Humanidades. Aulas são à noite
Terminar o ensino secundário, quase sem pôr os pés na escola vai ser possível já este ano. O projeto-piloto lançado pelo Ministério da Educação esta semana vai ter lugar na Secundária de Camões, em Lisboa, e no Agrupamento de Escolas de Mangualde, avançou o ministério ao DN. O ensino secundário recorrente à distância vai ser testado nestas escolas e, por exemplo, no Camões apenas vai funcionar o curso de línguas e humanidades, com o mesmo programa do ensino recorrente feito presencialmente.
Ainda não há alunos inscritos - só na quarta-feira a informação do projeto chegou às escolas - mas as expectativas são, no caso de Lisboa, que se chegue aos 40 a 50 alunos. O mote é apelativo: "O ensino secundário à distância de um clic", assim anuncia a Secundária de Camões.
O objetivo é captar os jovens que tendo mais de 18 anos não têm o ensino secundário e não podem ir à escola assistir às aulas. Esta deslocalização do ensino pode ajudar quem trabalha a voltar a ter tempo para estudar e terminar pelo menos a escolaridade obrigatória. O ensino recorrente a distância insere-se também no Programa Qualifica - que veio substituir os centros para a qualificação e o ensino profissional -, criado para aumentar as qualificações dos portugueses, já que 62% dos adultos (cerca de três milhões de pessoas) entre os 25 e os 64 anos não completaram o ensino secundário.
Na escola Camões, em Lisboa, a expectativa "é forte", porque esta é "única alternativa ao ensino recorrente noturno para terminar o secundário", aponta o diretor João Jaime Pires. "Tendo em conta que os cursos noturnos são cada vez menos, este modelo por ser o futuro", acrescenta o responsável.
Para já, o projeto vai ser aplicado apenas a um curso, mas João Jaime Pires acredita que pode ser alargado já no próximo ano a Ciências Socioeconómicas. Assim que as disciplinas deste curso sejam atualizadas ao currículo do ensino recorrente, indica.
Quem se inscrever este ano vai ter aulas de português, história, inglês, MACS (matemática aplicada às ciências sociais), literatura portuguesa e filosofia. As disciplinas vão ser divididas em três módulos. O ano letivo no ensino recorrente a distância é igual ao ano letivo comum, ou seja, quem quiser fazer o secundário vai demorar na mesma três anos a concluí-lo.
O Camões vai "desafiar alunos do Algarve a Coimbra para fazer esta equivalência", já que se trata de promover o ensino longe da escola sede e são a escola escolhida mais a sul para aplicar o programa. Ao longo do curso estão previstas sessões presenciais, mas estas podem ser feitas pelos alunos nas escolas de proximidade que vão trabalhar em articulação com a sede. João Jaime Pires aponta para cerca de três sessões por cada disciplina, uma por cada módulo. Estas sessões servirão essencialmente para a aplicação de testes ou apresentação de trabalhos, esclarece.
Em casa, os alunos vão ter sessões em que todos estão ligados à mesma hora com o professor (sessão síncrona) e que no liceu Camões estão previstas para decorrer entre as 18.45 e as 23.25. "Não serão mais de três disciplinas por dia", adianta o diretor.
Existem também sessões assíncronas, em que os estudantes e professores utilizam as tecnologias em tempos diferentes, "desenvolvendo metodologias de trabalho não simultâneas", explica a portaria publicada em Diário da República.
A secundária Camões está a preparar a oferta usando também a experiência que a secundária Fonseca Benevides, também em Lisboa, já tem nos ensino a distância para alunos em itinerância ou impedidos de frequentar a escola por algum motivo (por exemplo por doença). "Embora o programa seja diferente daquele que é feito para o público regular vamos estar em articulação com eles."
O diretor do Camões acredita ainda que este modelo pode ser o futuro das vias alternativas para conclusão do secundário e até para permitir ter vários conteúdos online para serem usados por outros públicos. "Em três, quatro anos, o Ministério da Educação vai ter uma plataforma onde estarão as aulas das disciplinas todas do secundário, que podem ser utilizadas por quem tem dificuldades, por atletas de alta competição ou militares. Estes são alguns casos podem beneficiar."
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