António Agostinho Neto
ANTÓNIO AGOSTINHO NETO nasceu a 17 de Setembro de 1922, na aldeia de Kaxicane, região de Icolo e Bengo, a cerca de 60 km de Luanda.
Seu pai era pastor e professor da igreja protestante e sua mãe professora. Após ter concluído o liceu em Luanda, Agostinho Neto tornou-se uma figura proeminente do movimento cultural nacionalista Angolano que, na década de quarenta estava em franca expansão.
Decidido a seguir a carreira de médico, Agostinho Neto juntou dinheiro e em 1947 embarcou para Portugal para matricular-se na Faculdade de Medicina de Coimbra.
Seu pai era pastor e professor da igreja protestante e sua mãe professora. Após ter concluído o liceu em Luanda, Agostinho Neto tornou-se uma figura proeminente do movimento cultural nacionalista Angolano que, na década de quarenta estava em franca expansão.
Decidido a seguir a carreira de médico, Agostinho Neto juntou dinheiro e em 1947 embarcou para Portugal para matricular-se na Faculdade de Medicina de Coimbra.
Estudou em Coimbra e em Lisboa com uma bolsa de estudos da Igreja Metodista Americana.
Agostinho Neto esteve sempre envolvido em atividades políticas e foi preso pela primeira vez em 1951, quando reunia assinaturas para a Conferência Mundial da Paz em Estocolmo. Depois de ser libertado, retomou imediatamente às atividades políticas e tornou-se representante da Juventude das colônias portuguesas e no decurso de um comício estudantil em fevereiro de 1955 a que assistiam operários e camponeses que foi preso pela segunda vez.
Desta vez ficou 2 anos na prisão e neste período publicou sua primeira obra literária de poemas.
A prisão de Agostinho Neto desencadeou uma série de protestos com repercussões internacionais. Realizaram-se encontros; escreveram-se cartas e enviaram-se petições assinadas por intelectuais franceses de primeiro plano, como Jean-Paul Sartre, André Mauriac, Aragon e Simone de Beauvoir, pelo poeta cubano Nicolás Gullén e pelo pintor mexicano Diogo Rivera.
Em 1957 foi eleito Prisioneiro Político do Ano pela Amnistia Internacional.
Em 1958, Agostinho Neto finalmente formou-se em Medicina e, casou no próprio dia em que concluiu o curso. Nesse mesmo ano, foi um dos fundadores do Movimento Anticolonial Clandestino (MAC) que reunia grupos das diversas colónias portuguesas.
Em 30 de dezembro de 1959, Agostinho Neto retornou à Angola com a mulher Maria Eugénia e o filho pequeno. Tornou-se lider do MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola) e nas horas vagas exercia a medicina.
No entanto em 8 de junho de 1960, o director da Policia Internacional e da Defesa do Estado (PIDE) ou policia politica portuguesa que existiu entre 1945 e 1969, veio pessoalmente prender Agostinho Neto em seu consultório em Luanda. A PIDE receava as consequências que a presença de Agostinho Neto em Angola poderia causar e por isso, o transferiram para uma prisão de Lisboa e mais tarde Cabo Verde onde continuou a exercer a medicina sob constante vigilância política.
Neste período foi eleito Presidente Honorário do MPLA. Novamente preso, foi transferido para a prisão de Aljube em Lisboa em 17 de Outubro de 1961. No entanto, sob forte pressão, as autoridades portuguesas viram-se obrigadas a libertarAgostinho Neto no ano seguinte. Neste momento, o MPLA começou a arquitetar um plano para retirar clandestinamente Agostinho Neto de Portugal, o que ocorreu em julho de 1962 quando ele e sua familia chegaram a Léopoldville, hoje Kinshasa, onde o MPLA tinha sua sede no exterior. No final deste ano foi eleito presidente do MPLA durante a Conferência Nacional do Movimento.
Com a "Revolução dos Cravos" e a derrocada do regime português em 25 de abril de 1974, o MPLA considerou que era o momento ideal para assinar um acordo de cessar-fogo com o Governo Português, o que aconteceu em outubro de 1974.
Agostinho Neto regressou à Luanda no dia 4 de Fevereiro de 1975, sendo alvo da maior manifestação popular já vista em Angola. Passou a dirigir pessoalmente todas as ações a favor da independência de Angola, proclamando uma resistência popular generalizada e em 11 de novembro de 1975, Agostinho Neto proclamou a o independência Nacional da República Popular de Angola.
Com a "Revolução dos Cravos" e a derrocada do regime português em 25 de abril de 1974, o MPLA considerou que era o momento ideal para assinar um acordo de cessar-fogo com o Governo Português, o que aconteceu em outubro de 1974.
Agostinho Neto regressou à Luanda no dia 4 de Fevereiro de 1975, sendo alvo da maior manifestação popular já vista em Angola. Passou a dirigir pessoalmente todas as ações a favor da independência de Angola, proclamando uma resistência popular generalizada e em 11 de novembro de 1975, Agostinho Neto proclamou a o independência Nacional da República Popular de Angola.
Angola: uma guerra de todos-contra-subversão
As autoridades portuguesas de Angola compreenderam, desde muito cedo, que seria inevitável a abertura da Frente Leste pelos movimentos de libertação.
A independência da Zâmbia, em 1964, foi o ponto de partida para o reconhecimento da nova realidade.
Contudo, passados quase dois anos, no início de 1966, não tinham sido tomadas verdadeiras medidas de contenção na nova frente. O largo empenho de forças militares no Norte, que as sequelas dos acontecimentos de 1961 não permitiam aliviar, a dificuldade de mobilização de novos efectivos e o peso da manobra militar nas longínquas e extensas terras do Leste, assim como certa ideia da dependência da Zâmbia em relação ao corredor do caminho de ferro de Benguela, justificaram de algum modo o retardamento das medidas que se tornavam imperiosas.
Só a partir do início das acções militares dos movimentos de libertação nesta zona, cuja infiltração desde cedo tinha sido detectada, é que os aparelhos administrativos, policiais e militares reconheceram a urgência de acorrer à nova frente.
Todos os movimentos, MPLA, FNLA e UNITA (esta última a partir da sua constituição), ocuparam posições no Leste de Angola, com infiltrações a partir da Zâmbia. Os objectivos estratégicos do MPLA e da FNLA passavam pelo acesso ao planalto central e pela possível ligação à Frente Norte, e os da UNITA pela consolidação da sua presença em todo o Leste, desde a Lunda ao Cuando-Cubango.
As autoridades portuguesas compreenderam estes objectivos e tentaram, a partir de 1966, opor aos movimentos de libertação uma política coerente e coordenada de contra-subversão.
Em primeiro lugar, empenharam o dispositivo policial, especialmente a estrutura da PIDE, na recolha de informações e no estudo das possibilidades e das intenções dos movimentos, missão que foi excelentemente desempenhada não só pela implantação dos seus efectivos no terreno, mas também pela qualidade dos quadros presentes em Angola.
Em segundo lugar, os dispositivos militares foram alterados, levando ao aperto da malha de quadrícula em todo o Leste e à constituição de um único comando, que assumiria, mais tarde, a total responsabilidade da zona.
O que é interessante realçar como consequência da abertura desta segunda frente é a consciência que as autoridades portuguesas demonstraram em relação às condições de aplicação de uma doutrina global, coordenada e assumida por todos os aparelhos da administração - civil, policial e militar.
Este conceito estratégico de contra-subversão foi especialmente desenvolvido em Angola, a partir de 1967, com a constituição de uma orgânica apropriada que veio a definir, coordenar, orientar e mesmo intervir na execução de todas as acções políticas, administrativas e militares levadas a efeito em todo o território angolano.
Esta estrutura, estendida a todos os escalões, não teve paralelo em qualquer outro teatro de operações, só tendo sido adoptada em Moçambique nos últimos anos da guerra.
A organização de contra-subversão, constituída em Angola a partir de 1967, incluía um Conselho Geral de Contra-Subversão, que se reunia uma vez por mês e integrava as mais altas autoridades civis e militares, Conselhos Distritais de Contra-Subversão, que se reuniam uma vez por semana, e Comissões Locais de Contra-Subversão, que se consideravam em reunião permanente. Em todos estes órgãos participavam as autoridades máximas do respectivo nível, que tinham a missão de definir as prioridades e os procedimentos a adoptar, assegurando a coordenação da sua execução nas diversas estruturas, como decisões compulsórias para todos os serviços. Esta estrutura vertical era completada com órgãos laterais de coordenação, orientação e inspecção.
É evidente que conflitos tão característicos de qualquer administração múltipla, como era a de Angola, não deixaram de se manifestar pelo facto de existirem órgãos coordenadores, mas eles puderam funcionar como atenuadores, com enorme vantagem na utilização dos meios disponíveis.
Um dos acontecimentos que viriam a ter influência na atitude das autoridades portuguesas, em especial no mais alto escalão, foi a realização, em Luanda, em Março de 1969, de um Simpósio de Contra-Subversão, impulsionado pelo comandante-chefe, general da Força Aérea, Almeida Viana, cujas conclusões determinaram uma inflexão doutrinária em campos tão importantes como a estrutura da própria contra-subversão, a definição de um plano geral para a combater, o reagrupamento e controlo das populações, a promoção social e o reordenamento rural, a defesa civil, incluindo autodefesas e milícias das regedorias, e a acção psicológica e informação pública. Todo este programa, assumido e impulsionado pelo Governo central de Lisboa, se não resolveu os conflitos de competências, conseguiu delinear as traves mestras de uma estratégia compreendida por todos.
Daqui em diante, ninguém mais pôde alegar desconhecimento das políticas necessárias nem refugiar-se na ignorância das intenções superiores.
Faltava apenas colocar no leme das Forças Armadas, em Angola, alguém que soubesse interpretar, ao mais alto nível, os princípios doutrinários estabelecidos para a contra-subversão e fosse, ao mesmo tempo, capaz de fazer executar, no terreno, esses princípios.
O escolhido, fortuita ou intencionalmente, foi o general Costa Gomes, que assumiu o cargo de comandante-chefe em Maio de 1970.
As autoridades portuguesas de Angola compreenderam, desde muito cedo, que seria inevitável a abertura da Frente Leste pelos movimentos de libertação.
A independência da Zâmbia, em 1964, foi o ponto de partida para o reconhecimento da nova realidade.
Contudo, passados quase dois anos, no início de 1966, não tinham sido tomadas verdadeiras medidas de contenção na nova frente. O largo empenho de forças militares no Norte, que as sequelas dos acontecimentos de 1961 não permitiam aliviar, a dificuldade de mobilização de novos efectivos e o peso da manobra militar nas longínquas e extensas terras do Leste, assim como certa ideia da dependência da Zâmbia em relação ao corredor do caminho de ferro de Benguela, justificaram de algum modo o retardamento das medidas que se tornavam imperiosas.
Só a partir do início das acções militares dos movimentos de libertação nesta zona, cuja infiltração desde cedo tinha sido detectada, é que os aparelhos administrativos, policiais e militares reconheceram a urgência de acorrer à nova frente.
Todos os movimentos, MPLA, FNLA e UNITA (esta última a partir da sua constituição), ocuparam posições no Leste de Angola, com infiltrações a partir da Zâmbia. Os objectivos estratégicos do MPLA e da FNLA passavam pelo acesso ao planalto central e pela possível ligação à Frente Norte, e os da UNITA pela consolidação da sua presença em todo o Leste, desde a Lunda ao Cuando-Cubango.
As autoridades portuguesas compreenderam estes objectivos e tentaram, a partir de 1966, opor aos movimentos de libertação uma política coerente e coordenada de contra-subversão.
Em primeiro lugar, empenharam o dispositivo policial, especialmente a estrutura da PIDE, na recolha de informações e no estudo das possibilidades e das intenções dos movimentos, missão que foi excelentemente desempenhada não só pela implantação dos seus efectivos no terreno, mas também pela qualidade dos quadros presentes em Angola.
Em segundo lugar, os dispositivos militares foram alterados, levando ao aperto da malha de quadrícula em todo o Leste e à constituição de um único comando, que assumiria, mais tarde, a total responsabilidade da zona.
O que é interessante realçar como consequência da abertura desta segunda frente é a consciência que as autoridades portuguesas demonstraram em relação às condições de aplicação de uma doutrina global, coordenada e assumida por todos os aparelhos da administração - civil, policial e militar.
Este conceito estratégico de contra-subversão foi especialmente desenvolvido em Angola, a partir de 1967, com a constituição de uma orgânica apropriada que veio a definir, coordenar, orientar e mesmo intervir na execução de todas as acções políticas, administrativas e militares levadas a efeito em todo o território angolano.
Esta estrutura, estendida a todos os escalões, não teve paralelo em qualquer outro teatro de operações, só tendo sido adoptada em Moçambique nos últimos anos da guerra.
A organização de contra-subversão, constituída em Angola a partir de 1967, incluía um Conselho Geral de Contra-Subversão, que se reunia uma vez por mês e integrava as mais altas autoridades civis e militares, Conselhos Distritais de Contra-Subversão, que se reuniam uma vez por semana, e Comissões Locais de Contra-Subversão, que se consideravam em reunião permanente. Em todos estes órgãos participavam as autoridades máximas do respectivo nível, que tinham a missão de definir as prioridades e os procedimentos a adoptar, assegurando a coordenação da sua execução nas diversas estruturas, como decisões compulsórias para todos os serviços. Esta estrutura vertical era completada com órgãos laterais de coordenação, orientação e inspecção.
É evidente que conflitos tão característicos de qualquer administração múltipla, como era a de Angola, não deixaram de se manifestar pelo facto de existirem órgãos coordenadores, mas eles puderam funcionar como atenuadores, com enorme vantagem na utilização dos meios disponíveis.
Um dos acontecimentos que viriam a ter influência na atitude das autoridades portuguesas, em especial no mais alto escalão, foi a realização, em Luanda, em Março de 1969, de um Simpósio de Contra-Subversão, impulsionado pelo comandante-chefe, general da Força Aérea, Almeida Viana, cujas conclusões determinaram uma inflexão doutrinária em campos tão importantes como a estrutura da própria contra-subversão, a definição de um plano geral para a combater, o reagrupamento e controlo das populações, a promoção social e o reordenamento rural, a defesa civil, incluindo autodefesas e milícias das regedorias, e a acção psicológica e informação pública. Todo este programa, assumido e impulsionado pelo Governo central de Lisboa, se não resolveu os conflitos de competências, conseguiu delinear as traves mestras de uma estratégia compreendida por todos.
Daqui em diante, ninguém mais pôde alegar desconhecimento das políticas necessárias nem refugiar-se na ignorância das intenções superiores.
Faltava apenas colocar no leme das Forças Armadas, em Angola, alguém que soubesse interpretar, ao mais alto nível, os princípios doutrinários estabelecidos para a contra-subversão e fosse, ao mesmo tempo, capaz de fazer executar, no terreno, esses princípios.
O escolhido, fortuita ou intencionalmente, foi o general Costa Gomes, que assumiu o cargo de comandante-chefe em Maio de 1970.
www.guerracolonial.org
IMPORTANTE
PASSE O RATO POR CIMA DO LINK, COPIE, E COLE NO MOTOR GOOGLE PARA PODER VISUALIZAR TRÊS VÍDEOS
REFERENTES AOS GRÁFICOS
COPIE AQUI O LINK QUE ESTÁ EM AZUL
http://www.guerracolonial.org/specific/guerra_colonial/uploaded/flash/mapa_angola9.swf
CHEGADOS AO SITE VERÁ A PROJEÇÃO DOS MAPAS E NO CANTO SUPERIOR DIREITO
ESPERANDO UM BOCADINHO CLIK EM CONTINUAR PARA
IR VISUALIZANDO, NO CANTO INFERIOR ESQUERDO TEM EM CADA MAP A OPÇÃO
DE VISUALIZAR OS VÍDEOS E NO FIM DA APRESENTAÇÃO TERÁ
OS TRÊS VÍDEOS PARA VISUALIZAR AS VEZES QUE QUISER,
www.guerracolonial.org
OUTROS VÍDEOS
VÍDEOS DIVERSOS
PRÓXIMOS QUATRO VÍDEOS
Cronologia 1961-1969: Início da Guerra Colonial e viragem no destino das colónias
O apego de Portugal pelas suas colónias durou séculos, mas a partir de 1961 eclode a Guerra do Ultramar. Os movimentos a favor da independência dos territórios ultramarinos acabariam por ganhar força.
Fevereiro de 1961
Início da Guerra Colonial
A 4 de fevereiro, o Movimento Popular e Libertação de Angola (MPLA), que era apoiado pela União Soviética e por Cuba, atacou a prisão de São Paulo, em Luanda, e uma esquadra da polícia. Foram mortos sete polícias. E no norte do território, a UPA (União das Populações de Angola), que se dedica sobretudo à guerrilha rural, desencadeou vários ataques contra a população branca. Angola foi a primeira colónia onde se iniciou a luta armada organizada contra o domínio português.
Março de 1961
Massacres em Angola
São perpetrados massacres nas regiões de São Salvador e Dembos e nos distritos coloniais de Luanda, Kwanza Norte e Uíge, em Angola, depois da agitação da UPA. Fontes da época falam na morte de 1.200 brancos e 6.000 negros. Assistiu-se à destruição de fazendas, postos administrativos e destacamentos da polícia por parte de bakongos. As operações do Exército português contra a UPA prolongaram-se durante oito meses.
Abril de 1961
Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias
Sob os auspícios do rei Hassan II, a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP), criada por iniciativa do MPLA, do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) e da Liga de Goa, reuniu-se pela primeira vez em Casablanca (Marrocos), de 18 a 20 de abril. O seu objetivo era “coordenar os esforços dos movimentos nacionalistas e estabelecer os meios efectivos para iniciar a luta contra o colonialismo português”. Em Portugal, o mês de abril fica também marcado pela “Abrilada”, a tentativa falhada de golpe militar contra Salazar liderada por Botelho Moniz, ministro da Defesa.
A CONCP voltou a reunir-se em Dar-Es-Salam, em 1965, para a II Conferência (da esq. para a dir.) Agostinho Neto, Gaston Sumialat, Amílcar Cabral, Mohamed Babu, Eduardo Mondlane e Mohamed Meghracui
Agosto de 1961
Perda da Fortaleza de Ajudá
O recém-criado Daomé (atual Benim), antiga colónia francesa na África Ocidental, ocupa a Fortaleza de São João Baptista de Ajudá. Com 4,5 hectares, era uma das colónias mais pequenas do mundo. A fortaleza foi fundada em 1680 pelos portugueses e serviu, sobretudo, como entreposto comercial, nomeadamente de escravos. Portugal só reconheceu a soberania do Benim sobre a fortaleza em 1975. Foi o primeiro território ultramarino em África que Portugal perdeu no século XX.
A Fortaleza de São João Baptista de Ajudá, também conhecida como Feitoria de Ajudá, localiza-se na cidade de Uidá, no Benim
Dezembro de 1961
Fim do domínio português na Índia
Os mais de 450 anos de domínio português na Índia terminam a 18 de dezembro, quando as tropas indianas entram em Goa, Damão e Diu, quase sem resistência. A integração da Índia Portuguesa na União Indiana era exigida pelo primeiro-ministro indiano, Jawaharlal Nehru, desde a independência do império britânico, em 1947. “Não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, assim como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”, tinha escrito Salazar numa mensagem enviada ao governador do Estado Português da Índia, General Vassalo e Silva. Porém, os soldados recusam-se a lutar perante o poder militar da Índia.
1962
Criação da FPLN
No decurso da I Conferência de Forças da Oposição, a decorrer em Argel, em dezembro, é criada a Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN), organização de inspiração comunista e de luta armada. É a partir de Argel que emite a Rádio Voz da Liberdade, emissora clandestina da FPLN dirigida por Piteira Santos e Manuel Alegre (foto), que teve um papel importante na luta contra o colonialismo português. No norte de Angola, os portugueses constroem os primeiros aldeamentos estratégicos para controlar melhor a população indígena, que é obrigada a abandonar as suas terras e é concentrada em novas aldeias vigiadas pelos militares. A estratégia é repetida nos anos seguintes noutras colónias.
1963
Luta armada alarga-se à Guiné
A 23 de janeiro de 1963, face à intransigência do regime fascista português, a luta armada nas colónias portuguesas alarga-se à Guiné-Bissau. A guerra inicia-se com o ataque do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) ao quartel de Tite, no sul do país. O PAIGC conta com o apoio da Guiné-Conacri, independente desde 1958.
1964
Batalha da Ilha do Como na Guiné-Bissau
A Ilha do Como torna-se num dos símbolos da luta do PAIGC devido à operação realizada, no início de 1964, pelas tropas portuguesas que pretendiam reocupar a ilha. A maior batalha das guerras africanas de Portugal durou 72 dias. Os combatentes do PAIGC conseguiram impedir o regresso dos militares à base estratégica na ilha.
Setembro de 1964
Início da guerra em Moçambique
Perante a intolerância do regime português, a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) inicia a luta armada em Moçambique (foto) em 25 de setembro de 1964 com o ataque a Chai, em Cabo Delgado. Antes desta primeira ação armada, a guerrilha tinha já iniciado a sua propaganda política, especialmente entre os macondes, etnia de religião animista que ocupa aquela zona. A Organização da Unidade Africana (OUA) reconhece o MPLA como “único representante legítimo do povo de Angola” e concede-lhe auxílio diplomático e logístico. No mesmo ano, é criada em Genebra, na Suíça, a Ação Socialista Popular (ASP), que elege Mário Soares como secretário-geral.
Outubro de 1964
MPLA abre Frente Leste
Depois da independência da Zâmbia, o MPLA abre a Frente Leste, aumentando, desta forma, a sua zona de influência. Antes operava principalmente em Cabinda e a norte de Luanda. Já a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), outro movimento independentista, tinha a sua área de atuação no norte de Angola, junto à fronteira com o Zaire (atual República Democrática do Congo). O MPLA abandonará a Frente Leste em 1973 devido a problemas de abastecimento.
Fevereiro de 1965
Assassinato de Humberto Delgado
No dia 13 de fevereiro, o general Humberto Delgado é raptado e assassinado pela PIDE, os serviços secretos portugueses, em Vila Nueva del Fresno, perto de Badajoz, Espanha, com a colaboração da polícia política do regime fascista de Franco. O “general sem medo” tinha regressado clandestinamente a Portugal para participar numa reunião que alegadamente se destinava a preparar um novo golpe militar contra o regime de Salazar.
A transladação dos restos mortais de Humberto Delgado para o Panteão Nacional aconteceu a 5 de outubro de 1990
Junho de 1965
ONU endurece posição
Com o agravamento da situação em Angola, na Guiné-Bissau e em Moçambique, aumentam as condenações da política colonial portuguesa por parte da Assembleia-Geral, Conselho de Segurança e Comissão de Descolonização da ONU. No dia 10 de junho, a Comissão passa a falar em “territórios sob dominação portuguesa” e reconhece a legitimidade das lutas de libertação nacional. Aos Estados é pedido que não forneçam armas a Portugal enquanto o país mantiver a sua política colonial.
Apesar de alguns estudos para expandir a guerra a Cabo Verde, o PAIGC prefere manter a luta no continente na Guiné-Bissau devido ao difícil acesso às ilhas.
Apesar de alguns estudos para expandir a guerra a Cabo Verde, o PAIGC prefere manter a luta no continente na Guiné-Bissau devido ao difícil acesso às ilhas.
Janeiro de 1967
Salazar aceita reivindicações de Pequim
Depois de confrontos em Macau entre o Exército português e manifestantes influenciados pelo Governo da República Popular da China, Salazar cede e aceita as reivindicações de Pequim. Liberta todos os presos políticos, proíbe no território atividades do Governo de Taiwan e aceita reconhecer a soberania chinesa. A República Popular da China usa Macau como porta de entrada e saída de divisas e opõe-se à sua descolonização.
Julho de 1967
Rádio Libertação do PAIGC inicia emissões
Em julho, o PAIGC inicia as emissões da sua Rádio Libertação na Guiné-Bissau. A emissora foi um dos vários meios criados pelo partido fundado por Amílcar Cabral para difundir informação. Para divulgar os seus objetivos e êxitos militares, o PAIGC também criou boletins informativos e estabeleceu contactos com a imprensa internacional.
1968
Novo Governo em Portugal
Aos 79 anos, Salazar sofre um acidente ao cair de uma cadeira e é afastado do Governo. É substituído no cargo por Marcelo Caetano (foto), antigo ministro das Colónias (1944-47) e fervoroso ativista do “Estado Novo”. Em 1962 tinha defendido uma tese federal para as colónias como “Estados Unidos Portugueses”. Esta nomeação cria a expectativa de uma possível solução política para a questão ultramarina, mas não houve mudanças fundamentais. O general António de Spínola assume o comando militar na Guiné, onde inicia uma operação político-militar designada “Para Uma Guiné Melhor”. O objetivo era conquistar a simpatia dos habitantes através da sua promoção socioeconómica e, dessa forma, acabar com a sublevação que tinha transformado a Guiné-Bissau na colónia militarmente mais difícil para os portugueses.
Marcelo Caetano apresenta o seu governo ao Presidente da República, Américo Tomás, após a substituição de Oliveira Salazar (1968)
Fevereiro de 1969
Assassinato de Eduardo Mondlane
Em 3 de fevereiro, Eduardo Mondlane (à dir. na foto), um dos fundadores e primeiro presidente da FRELIMO, é assassinado em Dar-es-Salam, Tanzânia, ao abrir uma encomenda que continha uma bomba. Apesar das circunstâncias da sua morte nunca terem sido esclarecidas, acredita-se que a PIDE, a polícia política portuguesa, tenha sido a autora do ataque. Mondlane estudou antropologia e sociologia nos Estados Unidos e trabalhou para as Nações Unidas. O seu sucessor é Uria Simango, que será substituído na liderança do partido por Samora Machel em 1970. Simango abandona então a FRELIMO e junta-se ao Comité Revolucionário de Moçambique (COREMO), criado em 1964 e com bases na Zâmbia.
Eduardo Mondlane (à dir. na foto), primeiro presidente da FRELIMO, na II Conferência da CONCP, EM Dar-Es-Salam (1965)
Abril de 1969
Marcelo Caetano visita colónias
Em abril desse ano, Marcelo Caetano (foto) visita Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Durante o seu Governo, Salazar nunca chegou a sair da Europa. A Acção Nacional Popular (ANP), o partido único, vence as eleições de 26 de outubro para a Assembleia Nacional. Caetano faz campanha a favor da manutenção das colónias e nega qualquer negociação com os movimentos independentistas: “Portugal não pode ceder, não pode transigir, não capitular na luta que se trava no Ultramar.” O nome da polícia política portuguesa muda de PIDE para DGS.
Marcelo Caetano no seu programa semanal "Conversas em Família", transmitido pela Radiotelevisão Portuguesa (RTP)
Setembro de 1969
Início da construção de Cahora Bassa
O consórcio hidroelétrico do Zambeze (ZAMCO) inicia a construção de Cahora Bassa, na província de Tete. Um dos objetivos da barragem é tornar o rio Zambeze impermeável, evitando o avanço da FRELIMO para o sul. No consórcio participam empresas de Portugal, Suíça, África do Sul, França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos da América. Seria a maior barragem em África e uma das maiores do mundo com uma potência de 3000 MW. A albufeira de Cahora Bassa começaria a encher em dezembro de 1974.
A barragem de Cahora Bassa situa-se no Rio Zambeze, na província moçambicana de Tete
ANGOLA OS PRIMEIROS MASSACRES DOS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO SOBRE COLONOS E AFRICANOS
“Sobrevoamos o Quitexe, Nambuangongo e o Ambriz. Dezoito de Março, sábado. Do ar, apenas parte da extensão da tragédia. Lá em baixo não podemos distinguir senão as depredações cometidas contra as casas e os acampamentos das fazendas. Apenas pomos pé em terra, o espectáculo modifica-se e a metamorfose repelente da vida é formal, súbita, dolorosa.
Quitexe, quatro horas da tarde, uma rua e as matas sufocantes a abafá-la. O cheiro dos mortos, a presença dos mortos a apodrecer, a náusea dos vivos. Imagem do crime. Pulsação apenas. Sangue, sangue, sangue.
A terrifica face das casas esventradas, os cadáveres das crianças e das mulheres.
Ponho as mãos na cabeça, fecho os olhos. Não quero ver. Mas conservo a primeira imagem na mente. E sombras e fantasmas. E o ódio. O ódio que sente quem faz a guerra e reconhece que o inimigo não é humano. “ Isto não é uma guerra” – penso. “Desumano demais para ser uma guerra”.
Encontramo-nos em frente da Administração, cujos vidros estão partidos e as paredes ensanguentadas. A nosso lado, de olhos parados mas muito vermelhos, Bernardo de Oliveira e Emídio Martins. Não comem, nem bebem há três dias. As suas mãos estão feridas dos punhos e das culatras das catanas e armas.
“Raios partam a vida” – disse um. “Raios partam os negros” concluiu depois.
“Olhem o que fizeram” – acrescentou o outro. – “Filhos da ****”, proferiu entre dentes cerrados e raivosos.
E estávamos nisto. Nós, sem conseguirmos uma decisão. Eles que foram decididos, agora mais abatidos pela nossa presença. Com a floresta à ilharga da rua principal, talvez trinta homens, sem armas quase, esperando não sei o quê, sem coragem para enterrar os mortos, como se eles fossem um catalizador necessário para os heróicos feitos que eu depois veria praticar a estes bravos colonos.
A lama da rua salpicou-nos quando ouvimos o roncar do jipe. Saltou um homem decidido. Chama-se Orlando. Orlando Traila. Chega do Zalala. Traz os olhos de espanto. Olhos terríveis. Vermelhos também.
“Todos mortos no Zalala. Trago aqui alguns” – abateu sobre nós.
Zalala é a fazenda do Ricardo Gaspar. Era a melhor de todo o Congo. Agora não é senão um campo de mortos e depredações. Tudo destruído. Nem um ultimo sopro de vida. A ferocidade dos facínoras chegou ao ponto de degolar as crianças. E as mulheres, despidas, tinham um pau aguçado espetado no sexo.
(…)
Aqui estamos. Homens impotentes, no coração do Congo construído com o suor destes mesmos homens. Ensopado com o sangue de suas mulheres e filhos.
Não há militares, não há tropa. Ninguém ousa lembrar isto. Mas todos sabemos que, se ficarem aqui mais uma noite, estes homens poderão estar mortos amanhã.
Ao sentar-me no avião, a caminho de Ambriz, pensei em como são corajosos e abnegados. E em como ficam desprotegidos. E que estão a enterrar os seus mortos. E que ficarão vigilantes sobre as suas sepulturas, de armas na mão, até romper de novo a madrugada.
Não esquecerei mais os seus rostos sujos mas ternos.”
“Trago os olhos pisados das imagens da morte. Não quero mais repetir o dia de ontem e os que estão para lá do dia de ontem. Não quero mais ver morrer estes meus bravos companheiros. E se eles morrerem, os heróis do Quitexe que ontem eu vi despertos às quatro da madrugada, sentados no pavimento do edifício da Administração, de dedos nos gatilhos e os olhos raiados de sangue das vigílias (…) – então quero também lutar com eles. E morrer com eles, que me parece ser neste momento o seu destino.(…) E como nos vemos abandonados. Como é esmagadora e maior que as nossas forças esta solidão. E porque não vêm esses soldados? E porque não chega o auxílio que deve a Angola toda a Metrópole?”MPLA
A organização político-militar do MPLA foi-se aperfeiçoando ao longo da guerra, com muitos recuos e avanços, que quase sempre reflectiam a sua capacidade política de conduzir a luta no interior.
Em 1970, pode dizer-se que o movimento dispunha de complexa organização, abrangendo quase todo o território de Angola, dividido em seis regiões militares.
O Comité Director do movimento, com sede em Kalabo, na República do Congo-Brazzaville, tinha, em 1968, a seguinte composição:
Presidente - Agostinho Neto
Vice-presidente - Lúcio Barreto Lara
Conselheiro geral - Domingos da Silva
Chefe do Dep. de Finanças - Manuel José Cadete
Chefe do Dep. de Informações - Aníbal de Meio (Kamaxilo)
Chefe do Estado-Maior - Henrique Teles Carreira
Em conferência de imprensa realizada em Brazzaville, em 3 de Janeiro de 1968, Agostinho Neto definiu o seguinte objectivo para a organização militar do MPLA:
"Conduzir uma guerra popular revolucionária de longa duração, generalizada a toda a extensão do território nacional e envolvendo aldeias, que são também mobilizadas para o trabalho clandestino e que serão tomadas na última fase da guerra.»
Organização militar do MPLA:
- Comandos de Região Militar e Zona:
Posto de comando
Centro de instrução regional (CIR)
Serviço de assistência médica (SAM) por região
Centro de assistência médica (CAM) por zona
- Unidades combatentes:
Grupo
Secção
Esquadrão
Coluna (agrupamento operacional)
A designação de centro indica o acampamento onde se encontra o comando da Zona, aparecendo também a designação por iniciais PCZ, Posto de Comando da Zona.
A base era o acampamento do comando de secção, sendo local de recuperação do pessoal e ponto de reabastecimento e de recompletamento.
Unidades e efectivos do MPLA:
Unidades Constituição Efectivos
Coluna Comando de 3 a 5 esquadrões 750
Esquadrão Grupo de comando de 3 a 5 secções 150
Secção 3 a 4 grupos 30 a 40
Grupo 10 a 12
Organização territorial do MPLA (regiões militares):
I RM - Distritos do Zaire, Uíje, Luanda, e Cuanza-Norte
II RM - Cabinda
III RM - Distritos de Moxico e Cuando-Cubango
IV RM - Distritos de Malanje e Lunda
V RM - Distritos de Quanza-Sul, Benguela, Huambo e Bié
VI RM - Distritos de Huíla, Moçâmedes e Cunene
Datas de implantação militar do MPLA:
1961 - Dembos
1964 - Cabinda
1966 - Moxico e Cuando-Cubango
1966/67 - Reactivação da frente noroeste
1968/69 - Lunda, Bié
1970 - Cuanza
Os efectivos militares do MPLA variaram entre 3000 e 4500 guerrilheiros, sendo as três primeiras regiões militares (Dembos, Cabinda e Leste) as mais activas operacionalmente.
A abertura da IV Região Militar (Malanje), em 1968, destinava-se a possibilitar a ligação entre o Leste e o Norte, com o fim de apoiar esta região a partir da Zâmbia através de uma linha de infiltração a que foi dado o nome de Rota Agostinho Neto.
O MPLA actuava normalmente por emboscadas a curta distância (10 - 20 metros), preparando abrigos junto aos itinerários que as forças portuguesas utilizavam nas suas patrulhas e colunas de reabastecimento. Para as emboscadas, articulava as forças em duas equipas, sendo uma de armas automáticas e outra de granadeiros. O início da acção era marcado por uma rajada, seguindo-se o lançamento de granadas de mão.
As minas e as armadilhas foram utilizadas em grande escala pelo MPLA, a partir de 1966, e principalmente no Leste. Eram usadas não só nos trilhos, como no interior dos acampamentos abandonados, sendo, por vezes, armadilhadas as minas anti-carro, para dificultar o seu levantamento pelas forças portuguesas.
A fim de evitar que os guerrilheiros ou a população as fizessem accionar, a localização das minas e das armadilhas era sinalizada com marcas nas árvores próximas.
Embora esporadicamente, o MPLA realizou também flagelações e ataques a aquartelamentos portugueses, utilizando neste caso morteiros, canhões sem recuo e armas ligeiras.
Armas mais utilizadas pelo MPLA:
Pistola (Tokarev)
Pistola-metralhadora 9 mm M/25
Pistola-metralhadora 7,62 mm PPSH
Espingarda semiautomática Simonov
Espingarda automática Kalashnikov
Metralhadoras ligeiras e pesadas
Morteiro de 82 mm
Lança-granadas-foguete
Minas A/C e A/P
Os lança-granadas-foguete foram introduzidos cerca de 1970, tendo o primeiro ataque a forças portuguesas com esta arma ocorrido em 22 de Setembro do mesmo ano, no Cuando-Cubango.
Armamento típico de um grupo do MPLA:
Metralhadora ligeira 1
Espingarda Simonov 4/6
Espingarda Mauser, Kalash ou carabina Steyer 3/4
Pistola-metralhadora M25 4/6
Em 1970, um relatório das forças portuguesas fazia a seguinte análise sobre o movimento:
«O MPLA está bem organizado e armado e controla bem as populações. Dispõe de armas automáticas, semiautomáticas, de repetição e granadas de mão, que sabe utilizar convenientemente, e os seus combatentes mostram coragem e audácia nas suas acções extremamente rápidas sobre as NT (nossas tropas). »
O MPLA construía habitualmente os seus acampamentos em matas fechadas, a fim de não serem facilmente detectados pela aviação. Além disso, os guerrilheiros construíam também abrigos destinados à defesa contra ataques aéreos. A localização das bases estava igualmente sujeita ao condicionamento de poder colocar sentinelas que detectassem a aproximação das forças portuguesas.
O movimento executou actividades de acção psicológica, usando como veículo as emissões rádio e os panfletos, procurando minar a vontade de combater dos militares portugueses.
Mas o grande esforço neste campo foi dirigido às populações, como consta da apreciação militar portuguesa: «Neste campo de actuação, a sua acção psicológica, de carácter revolucionário, dirigida às populações, bate as diversas teclas da luta contra o colonialismo, tribalismo e capitalismo, fomentando o ódio ao branco e à política portuguesa. Na sua propaganda, utiliza a rádio, a conversa e os folhetos mais diversos.»
O apoio logístico do MPLA vinha sobretudo a partir da Zâmbia. Das suas bases instaladas neste país recebia armamento e munições, víveres enlatados e medicamentos. A maior parte dos géneros alimentares era obtida a partir de recursos locais. As populações garantiam aos guerrilheiros os meios de subsistência de que necessitavam.
Em 1965, o MPLA conseguiu instalar forças bem armadas na região a sul de Nambuangongo, próximo de rio Dange, desalojando os elementos da UPA/FNLA ali instalados desde 1961.
Daqui, o movimento alargou a sua influência para sul, na direcção de Catete e para leste, na direcção de Mucondo, expulsando a UPA/FNLA de mais algumas das suas bases.
O avanço militar do MPLA para sul ameaçou a «Estrada do Café» Luanda-Caxito-Carmona e poderia vir a criar problemas noutro itinerário importante, a estrada Luanda-Catete-Salazar, o que aproximava a guerrilha da capital. Este avanço foi travado pelas forças portuguesas em operações de certa envergadura, realizadas em 1968.
Ainda em 1965, o MPLA, contando com o apoio do Congo-Brazzaville, expandiu as suas actividades militares em Cabinda, que iniciara em 1964. Nesta zona, levou à prática grande número de acções; principalmente emboscadas e minas, que provocaram baixas nas forças portuguesas.
Mas logo no ano seguinte a sua actividade militar diminuiu, por ter orientado o seu esforço para a zona leste. Em 1966, o MPLA, que desde o ano anterior desenvolvia intensa acção política na região leste, transferiu parte dos seus combatentes e do material do Congo-Brazzaville para a Zâmbia, e em Abril infiltrou numeroso grupo de guerrilheiros no saliente do Cazombo, alargou a sua influência para o Chiume e, posteriormente, para Gago Coutinho, tendo por vezes de defrontar elementos da UNITA.
Em 1967, o MPLA ultrapassou o rio Cuando, atingindo Mavinga, já no distrito do Cuando-Cubango. A partir de 1968, a sua actividade militar expandiu-se ao longo dos vales do Luena e Lungué-Bungo, em direcção ao Luso e ao distrito da Lunda. O movimento designou esta penetrante por Rota Agostinho Neto e foi ao longo dela que se desenrolaram as principais acções militares entre as forças portuguesas e o MPLA.
No Leste, o MPLA defrontou também a UNITA, tendo ocorrido combates entre os dois movimentos nas regiões de Lumeje, Casage e Chafinda. Como consequência desta pressão do MPLA, a UNITA, segundo relatório militar português, sofreu profunda redução de influência na zona leste, à excepção da faixa adjacente ao caminho de ferro de Benguela.
A Rota Agostinho Neto.
O início do movimento de expansão da III Região Militar para norte do caminho de ferro de Benguela, com vista à instalação da futura IV Região Militar, ocorreu em 18 de Março de 1968, tendo sido efectuado por elementos da Zona A da III Região Militar, comandados por Pambassangue, que partiram de Lumeje. Como comandante de toda a operação de penetração foi nomeado Petrof, membro da Comissão Militar, mais tarde substituído por Henrique Teles Carreira, «Iko». Para esta operação foram constituídos dois grupos, sendo designado o primeiro por Certeza ou Fura Terra, sob o comando de Paulino Manuel e de João Correia «Diazau» e o segundo por Lastro ou Fura-Mata, que actuou dividido em dois subgrupos com os nomes de Lastro A ou Secção Sangue do Povo, sob o comando de Cafuxe, e Lastro B ou Secção Pachanga, sob o comando de Chambassuku.
O conceito de manobra desta operação consistia em fazer actuar o Certeza na região de Luacano-Casage-Lumeje-Nova Chaves-Cassai e o Lastro na região de Lumeje-Buçaco e infiltrar um destacamento com a designação de Grande Bomboko ou BBKO, sob o comando de Mateus Cadete «Kavunga», com a missão de atingir Sautar (distrito de Malanje) e activar o II Distrito da IV Região Militar.
Em 15 de Junho, o destacamento BBKO chegou a Mandume, sendo dividido em três secções, que avançaram por escalões. Os grupos Lastro escoltaram o destacamento BBKO até Sautar, cobrindo-lhe os flancos e a retaguarda. Em 29 de Julho de 1968, o primeiro grupo do destacamento Certeza encontrava-se na margem esquerda do rio Lualo, a sueste de Nova Chaves, portanto no seu objectivo, vindo o seu posto de comando a receber o nome de código de Kaladende.
Por sua vez, em 8 de Agosto, a secção Pachanga estava na região de Luatxe, juntamente com a primeira secção do destacamento BBKO.
A partir de 31 de Outubro, o MPLA achava-se em vias de consolidar a sua actividade político-militar na Lunda e na faixa leste do sector do Luso e de infiltrar uma secção do destacamento BBKO na região de Sautar, através da infiltrante geral rio Luena-Sandando-rio Cassai, que materializaria a Rota Agostinho Neto.
Em 30 de Novembro de 1968, parte do destacamento BBKO estava instalado na região de Luma-Cassai e a secção Certeza implantara-se entre Casage-Nova Chaves e o rio Cassai.
O posterior desenvolvimento da guerra obrigou o MPLA a deslocar a Rota Agostinho Neto mais para sul e, em 1969, foram assaltados por forças portuguesas cinco dos principais acampamentos que apoiavam esta penetrante - Chichima, Chiconde, Ho-Chi-Minh, Cauevo e Che Guevara.
A Rota Agostinho Neto constituiu a zona de conflitos mais intensos entre as forças do MPLA e as forças portuguesas de toda a guerra no Leste.
ATENÇÃO - COPIE COM O RATO O LINK ABAIXO , COLE, NO MOTOR
GOOGLE E VEJA O VÍDEO
http://www.guerracolonial.org/index.php?content=2256
Chacina de trabalhadores bailundos em Nambuangongo (foto Net)
Voluntários (foto Net)
escrito por Hugo Bragança Monteiro
petrinus.com.sapo.pt
OS FLECHAS - GUERRILHA SOBRE A
ORIENTAÇÃO DA PIDE
Os membros dos Flechas eram recrutados entre determinados grupos nativos, nomeadamente
Guerra Colonial em Angola: estórias na primeira pessoa
Esta é uma reportagem com relatos interessantes de quem viveu directamente, na frente de ataque, a Guerra Colonial em Angola. O texto é do jornalista João Vaz e retirado do site do Correio da Manhã, hoje 5 de Junho de 2007.
"Os combates eram duros e muito feios", recorda Libânio Pontes Miquelina, alferes na 105 do Batalhão de Caçadores 96, o primeiro a entrar em Nambuangongo, no Norte de Angola, ao fim da tarde de 9 de Agosto de 1961. Com o êxito da ‘Operação Viriato’, a primeira de grande dimensão nas campanhas de África, acabou-se com o « santuário da UPA », onde os independentistas se consideravam inexpugnáveis, apesar de alguns aviões da Força Aérea Portuguesa irem de vez enquanto lá despejar uma bombas.
A partir de um morro rodeado de matas diabólicas, com as picadas que lá conduziam obstruídas por árvores e muitas valas, a UPA lançava ataques a povoações próximas e mantinha sob ameaça cidades mais distantes como Carmona, Ambriz e mesmo Luanda. Para o comando militar português destruir a base tornou-se decisivo e não teve dúvidas em montar uma operação de envergadura.
Por três itinerários diferentes, outras tantas forças militares receberam ordens para chegar a Nambuangongo. O Batalhão de Caçadores 114 comandado pelo tenente-coronel Henrique de Oliveira Rodrigues foi o único que não conseguiu lá chegar. E o 96, do tenente-coronel Armando Maçanita o primeiro a atingir o objectivo, tendo à frente a Companhia 103 dos alferes Santana Pereira, já falecido, e Casimiro, que veio a morrer em campanha.
Libânio Miquelina, que se estreara em fogo a sério no 10 de Junho de 1961 com o ataque à Pedra Verde, era um dos alferes da Companhia 105 que se previa ser a primeira a chegar Nambuangongo.
"Os combates eram duros e muito feios", recorda Libânio Pontes Miquelina, alferes na 105 do Batalhão de Caçadores 96, o primeiro a entrar em Nambuangongo, no Norte de Angola, ao fim da tarde de 9 de Agosto de 1961. Com o êxito da ‘Operação Viriato’, a primeira de grande dimensão nas campanhas de África, acabou-se com o « santuário da UPA », onde os independentistas se consideravam inexpugnáveis, apesar de alguns aviões da Força Aérea Portuguesa irem de vez enquanto lá despejar uma bombas.
A partir de um morro rodeado de matas diabólicas, com as picadas que lá conduziam obstruídas por árvores e muitas valas, a UPA lançava ataques a povoações próximas e mantinha sob ameaça cidades mais distantes como Carmona, Ambriz e mesmo Luanda. Para o comando militar português destruir a base tornou-se decisivo e não teve dúvidas em montar uma operação de envergadura.
Por três itinerários diferentes, outras tantas forças militares receberam ordens para chegar a Nambuangongo. O Batalhão de Caçadores 114 comandado pelo tenente-coronel Henrique de Oliveira Rodrigues foi o único que não conseguiu lá chegar. E o 96, do tenente-coronel Armando Maçanita o primeiro a atingir o objectivo, tendo à frente a Companhia 103 dos alferes Santana Pereira, já falecido, e Casimiro, que veio a morrer em campanha.
Libânio Miquelina, que se estreara em fogo a sério no 10 de Junho de 1961 com o ataque à Pedra Verde, era um dos alferes da Companhia 105 que se previa ser a primeira a chegar Nambuangongo.
Chacina de trabalhadores bailundos em Nambuangongo (foto Net)
Ficámos um pouco para trás por causa de um avião Drossard, atingido por uns tiros inimigos e que, vendo a localidade ocupada por militares, decidiu aterrar na rua central de Muxaluando, a uns 20 km de Nambuangongo", conta Libânio Miquelina, alentejano de Grândola com quatro comissões em África, sendo três em Angola e a última 1971-73 em Moçambique, onde comandou uma unidade de morteiros.
Rumo a Nambuangongo, numa ofensiva que durou mais de 20 dias de intensos combates, as dificuldades começaram numa ponte sobre o Dange, a cem km do objectivo.
"Quando chegámos à zona tivemos de intervir rápido porque descobrimos que eles estavam a tentar destruir a única ponte existente", conta o alferes da 105. "Eles faziam grandes fogueiras com muitas árvores e ramos sobre o tabuleiro e depois baldeavam água por cima para estalarem com o cimento através do efeito da diferença de temperaturas. Foi um ataque difícil porque eles já tinham metralhadoras automáticas, além de canhangulos e bazucas, enquanto no Exército português as melhores ferramentas para cavar os abrigos eram as baionetas das espingardas Mauser. Deixei lá dois mortos e muitos feridos."
Os ataques inimigos aconteciam de dia e de noite, ao meio-dia e ao meio da tarde, mas nunca chegaram ao corpo a corpo de que às vezes se fala.
"Os guerrilheiros tinham uma segunda vaga armada de catanas para nos atacarem, caso nos derrotassem ou fugíssemos, mas na minha companhia travámo-lhes sempre as intenções. Além das metralhadoras, o canhangulo é que era a mais temível arma deles. Aquilo disparava uma carga com pregos e pedras que levava tudo à frente, enquanto uma bala fazia só um buraquinho a entrar e um maior à saída."
A tomada de Nambuangongo constituiu uma viragem na guerra. Com a mobilização de meios militares, a segurança das populações foi sendo reposta. A Companhia 105 ficou oito meses a controlar a zona.
COMANDANTE DA REGIÃO MILITAR MORRE EM QUEDA DE AVIÃO
A adaptação da chefia militar à nova situação em Angola concretizou-se com a nomeação efectiva a 1 de Junho de 1961 do general Carlos Manuel Lopes da Silva Freire para comandante da Região Militar de Angola em substituição do general Monteiro Libório, em funções desde Setembro de 1959.
Enquanto ao antecessor coubera sobretudo a tomada de medidas preventivas contra a subversão independentista, que já se adivinhava, a Silva Freire coube o papel de comandante das operações de guerra.
Rumo a Nambuangongo, numa ofensiva que durou mais de 20 dias de intensos combates, as dificuldades começaram numa ponte sobre o Dange, a cem km do objectivo.
"Quando chegámos à zona tivemos de intervir rápido porque descobrimos que eles estavam a tentar destruir a única ponte existente", conta o alferes da 105. "Eles faziam grandes fogueiras com muitas árvores e ramos sobre o tabuleiro e depois baldeavam água por cima para estalarem com o cimento através do efeito da diferença de temperaturas. Foi um ataque difícil porque eles já tinham metralhadoras automáticas, além de canhangulos e bazucas, enquanto no Exército português as melhores ferramentas para cavar os abrigos eram as baionetas das espingardas Mauser. Deixei lá dois mortos e muitos feridos."
Os ataques inimigos aconteciam de dia e de noite, ao meio-dia e ao meio da tarde, mas nunca chegaram ao corpo a corpo de que às vezes se fala.
"Os guerrilheiros tinham uma segunda vaga armada de catanas para nos atacarem, caso nos derrotassem ou fugíssemos, mas na minha companhia travámo-lhes sempre as intenções. Além das metralhadoras, o canhangulo é que era a mais temível arma deles. Aquilo disparava uma carga com pregos e pedras que levava tudo à frente, enquanto uma bala fazia só um buraquinho a entrar e um maior à saída."
A tomada de Nambuangongo constituiu uma viragem na guerra. Com a mobilização de meios militares, a segurança das populações foi sendo reposta. A Companhia 105 ficou oito meses a controlar a zona.
COMANDANTE DA REGIÃO MILITAR MORRE EM QUEDA DE AVIÃO
A adaptação da chefia militar à nova situação em Angola concretizou-se com a nomeação efectiva a 1 de Junho de 1961 do general Carlos Manuel Lopes da Silva Freire para comandante da Região Militar de Angola em substituição do general Monteiro Libório, em funções desde Setembro de 1959.
Enquanto ao antecessor coubera sobretudo a tomada de medidas preventivas contra a subversão independentista, que já se adivinhava, a Silva Freire coube o papel de comandante das operações de guerra.
Voluntários (foto Net)
Militares desse tempo lembram que "era apresentado como o melhor general que Salazar tinha". Em Angola, tomou a iniciativa na acção militar e a ele se devem as directivas que conduziram à tomada de Nambuangongo e, de um modo geral, ao controlo de toda a região Norte abalada pelos massacres da UPA. Ficou famosa uma ‘directiva para a época das chuvas’, desmistificadora na medida em que apontava para um incremento das acções militares numa estação considerada inadequada para as operações em zonas já se si intransitáveis por causa de árvores abatidas e valas.
O tempo de comando de Silva Freire foi, porém, curto. Após pouco mais de cinco meses, em 1.º de Novembro de 1961 morreu devido à queda do avião em que viajava juntamente com quase todo o seu Estado-Maior. Na lista dos 18 mortos no desastre no Chitado estão também um brigadeiro, quatro tenentes-coronéis, dois majores e dois capitães.
COMBATENTES
O HOMEM QUE CHEGOU A NAMBUANGONGO
Armando Maçanita, à frente do Batalhão de Caçadores 96, ganhou lugar de destaque na galeria dos heróis: comandou com êxito a primeira grande acção militar da Guerra de África – a ‘Operação Viriato’, entre 10 de Julho e 9 de Agosto de 1961, com o objectivo de conquistar a vila de Nambuangongo, no Norte de Angola, em poder dos guerrilheiros da UPA. Armando Maçanita faleceu em 2006
O COMANDANTE DO PELOTÃO DE ENGENHARIA
O Batalhão de Caçadores 96, na marcha de Luanda para Nambuangongo, encontrou obstáculos naturais difíceis de imaginar. Valeu o pelotão de Engenharia, comandado pelo alferes Jorge Jardim Gonçalves: construiu jangadas e removeu árvores de grande porte para erguer pontes sobre vales dos rios. "Se não fosse o alferes Gonçalves, não sei se teria chegado a Nambuangongo", dirá o coronel Maçanita. Jardim ganhou uma Cruz de Guerra.
GOLPES DE MÃO NA GUINÉ E EM MOÇAMBIQUE
Carlos Matos Gomes, Comando oriundo de Cavalaria, é dos oficiais com mais experiência de combate – e carrega no corpo algumas marcas da guerra. Participou nas mais duras operações militares – entre elas, duas das mais míticas: a ‘Nó Górdio’, em Moçambique, que acabou por ficar aquém dos resultados esperados; e a ‘Ametista Real’, na Guiné, que consistiu na destruição de uma base da guerrilha no território do Senegal.
O OFICIAL 'COMANDO' DAS CINCO MISSÕES
Jaime Neves, oficial de Infantaria, cumpriu cinco comissões – uma na Índia e quatro em África. Em Angola, começou como comandante de Caçadores Especiais e integrou em 1965 a 2.ª Companhia de Comandos com missões alargadas a Moçambique. Foi promovido a major em 1972 ao assumir o comando do Batalhão de Comandos. Em 1974 foi lá buscar a Companhia 2045 e esteve à frente do Regimento da Amadora de 1974 a 1981.
FUTURO HISTORIADOR EMBARCOU À FRENTE
António Pires Nunes devia seguir com a sua companhia de Artilharia no primeiro embarque para África, a bordo do ‘Niassa’ a 21 de Abril de 61. Foi desviado para a guarnição militar do cargueiro ‘Benguela’ que transportava uma enorme quantidade de material de guerra. Chegou a Luanda a 6 de Maio e seguiu para a frente de guerra na região Norte. Fez mais três comissões antes de se tornar no historiador militar das campanhas em Angola.
NOTAS
AJUDA AS FAZENDAS
Os fazendeiros do Norte de Angola, atacados pelos guerrilheiros da UPA, em 1961, foram ajudados por um generoso grupo de civis de Luanda proprietários de pequenos aviões – que formaram a Esquadrilha de Voluntários do Ar (EVA). Descolavam da capital e levavam aos colonos sitiados mantimentos, medicamentos e armas. Regressavam a Luanda com refugiados.
VOLUNTÁRIOS DO AR
A Esquadrilha de Voluntários do Ar (EVA) foi fundada, em Angola, por Rui de Freitas, Carlos Monteiro, Afonso Vicente Raposo, Carlos Mendes, Jaime Lopes, Rui Manaças, Mário Dias e Pereira Caldas. Cada um fez centenas de horas de voo – em socorro dos colonos do Norte. Voavam muitas vezes em condições difíceis e aterravam nas picadas lamacentas.
SUBSCRIÇÃO PÚBLICA
As notícias dos esforços dos pilotos da EVA chegam à Metrópole. Os aviões não eram suficientes. Não havia aparelhos de reserva para substituir os que eram obrigados a parar para operações de manutenção dos motores. A Emissora Nacional e a RTP lançam então uma subscrição pública e o dinheiro recolhido deu para comprar cinco aviões Auster.
FORÇA AÉREA
Meses depois da Esquadrilha dos Voluntários do Ar entrar em acção, o Governo criou por decreto a Força Aérea Voluntária (FAV), que passou a fazer a organização militar de Angola e para onde transitaram os pilotos da EVA. Passaram a cumprir missões estritamente militares. Quando se deu a independência, em 1975, estes pilotos tinham o posto de tenente.
'BALA NÃO MATA'
Os guerrilheiros da UPA, no Norte de Angola, emboscavam as tropas e, por vezes, atacavam em hordas, às centenas: enfrentavam as balas de peito aberto, armados de catanas, paus e canhangulos, alguns aos gritos de "bala não mata". Os militares estavam mal armados: dispunham de poucas armas automáticas, apenas de velhas espingardas Mauser de repetição.
CABEÇAS CORTADAS
Os guerrilheiros, nestes primeiros meses de guerra, acreditavam na ressurreição: mesmo que fossem mortalmente atingidos voltavam a viver só morriam se lhes fosse amputada parte importante do corpo. Os militares receberam ordens para decapitarem os cadáveres e espetarem a cabeça em estacas – para provar aos vivos que morriam se atacassem os portugueses.
O tempo de comando de Silva Freire foi, porém, curto. Após pouco mais de cinco meses, em 1.º de Novembro de 1961 morreu devido à queda do avião em que viajava juntamente com quase todo o seu Estado-Maior. Na lista dos 18 mortos no desastre no Chitado estão também um brigadeiro, quatro tenentes-coronéis, dois majores e dois capitães.
COMBATENTES
O HOMEM QUE CHEGOU A NAMBUANGONGO
Armando Maçanita, à frente do Batalhão de Caçadores 96, ganhou lugar de destaque na galeria dos heróis: comandou com êxito a primeira grande acção militar da Guerra de África – a ‘Operação Viriato’, entre 10 de Julho e 9 de Agosto de 1961, com o objectivo de conquistar a vila de Nambuangongo, no Norte de Angola, em poder dos guerrilheiros da UPA. Armando Maçanita faleceu em 2006
O COMANDANTE DO PELOTÃO DE ENGENHARIA
O Batalhão de Caçadores 96, na marcha de Luanda para Nambuangongo, encontrou obstáculos naturais difíceis de imaginar. Valeu o pelotão de Engenharia, comandado pelo alferes Jorge Jardim Gonçalves: construiu jangadas e removeu árvores de grande porte para erguer pontes sobre vales dos rios. "Se não fosse o alferes Gonçalves, não sei se teria chegado a Nambuangongo", dirá o coronel Maçanita. Jardim ganhou uma Cruz de Guerra.
GOLPES DE MÃO NA GUINÉ E EM MOÇAMBIQUE
Carlos Matos Gomes, Comando oriundo de Cavalaria, é dos oficiais com mais experiência de combate – e carrega no corpo algumas marcas da guerra. Participou nas mais duras operações militares – entre elas, duas das mais míticas: a ‘Nó Górdio’, em Moçambique, que acabou por ficar aquém dos resultados esperados; e a ‘Ametista Real’, na Guiné, que consistiu na destruição de uma base da guerrilha no território do Senegal.
O OFICIAL 'COMANDO' DAS CINCO MISSÕES
Jaime Neves, oficial de Infantaria, cumpriu cinco comissões – uma na Índia e quatro em África. Em Angola, começou como comandante de Caçadores Especiais e integrou em 1965 a 2.ª Companhia de Comandos com missões alargadas a Moçambique. Foi promovido a major em 1972 ao assumir o comando do Batalhão de Comandos. Em 1974 foi lá buscar a Companhia 2045 e esteve à frente do Regimento da Amadora de 1974 a 1981.
FUTURO HISTORIADOR EMBARCOU À FRENTE
António Pires Nunes devia seguir com a sua companhia de Artilharia no primeiro embarque para África, a bordo do ‘Niassa’ a 21 de Abril de 61. Foi desviado para a guarnição militar do cargueiro ‘Benguela’ que transportava uma enorme quantidade de material de guerra. Chegou a Luanda a 6 de Maio e seguiu para a frente de guerra na região Norte. Fez mais três comissões antes de se tornar no historiador militar das campanhas em Angola.
NOTAS
AJUDA AS FAZENDAS
Os fazendeiros do Norte de Angola, atacados pelos guerrilheiros da UPA, em 1961, foram ajudados por um generoso grupo de civis de Luanda proprietários de pequenos aviões – que formaram a Esquadrilha de Voluntários do Ar (EVA). Descolavam da capital e levavam aos colonos sitiados mantimentos, medicamentos e armas. Regressavam a Luanda com refugiados.
VOLUNTÁRIOS DO AR
A Esquadrilha de Voluntários do Ar (EVA) foi fundada, em Angola, por Rui de Freitas, Carlos Monteiro, Afonso Vicente Raposo, Carlos Mendes, Jaime Lopes, Rui Manaças, Mário Dias e Pereira Caldas. Cada um fez centenas de horas de voo – em socorro dos colonos do Norte. Voavam muitas vezes em condições difíceis e aterravam nas picadas lamacentas.
SUBSCRIÇÃO PÚBLICA
As notícias dos esforços dos pilotos da EVA chegam à Metrópole. Os aviões não eram suficientes. Não havia aparelhos de reserva para substituir os que eram obrigados a parar para operações de manutenção dos motores. A Emissora Nacional e a RTP lançam então uma subscrição pública e o dinheiro recolhido deu para comprar cinco aviões Auster.
FORÇA AÉREA
Meses depois da Esquadrilha dos Voluntários do Ar entrar em acção, o Governo criou por decreto a Força Aérea Voluntária (FAV), que passou a fazer a organização militar de Angola e para onde transitaram os pilotos da EVA. Passaram a cumprir missões estritamente militares. Quando se deu a independência, em 1975, estes pilotos tinham o posto de tenente.
'BALA NÃO MATA'
Os guerrilheiros da UPA, no Norte de Angola, emboscavam as tropas e, por vezes, atacavam em hordas, às centenas: enfrentavam as balas de peito aberto, armados de catanas, paus e canhangulos, alguns aos gritos de "bala não mata". Os militares estavam mal armados: dispunham de poucas armas automáticas, apenas de velhas espingardas Mauser de repetição.
CABEÇAS CORTADAS
Os guerrilheiros, nestes primeiros meses de guerra, acreditavam na ressurreição: mesmo que fossem mortalmente atingidos voltavam a viver só morriam se lhes fosse amputada parte importante do corpo. Os militares receberam ordens para decapitarem os cadáveres e espetarem a cabeça em estacas – para provar aos vivos que morriam se atacassem os portugueses.
escrito por Hugo Bragança Monteiro
petrinus.com.sapo.pt
OS FLECHAS - GUERRILHA SOBRE A
ORIENTAÇÃO DA PIDE
Flechas (PIDE)
Durante a Guerra do Ultramar, a PIDE (a partir de 1969, chamada Direcção-Geral de Segurança (DGS)) era
responsável pelas operações de recolha de informações estratégicas, investigação e acções
Como tal foi decido criar uma força especial armada para auxílio e protecção dos agentes da PIDE
nas operações contra os guerrilheiros.
Os membros dos Flechas eram recrutados entre determinados grupos nativos, nomeadamente
ex-guerrillheiros e membros da etnia bosquímane (khoisan). Os bosquímanos que historicamente tinham sido invadidos pelos povos Bantu não tinham qualquer problema a aliarse aos portugueses, dado que viam nos movimentos de libertação o Bantu invasor do seu território. Estes eram especialmente escolhidos pelas seus conhecimentos do inimigo, conhecimento do terreno, conhecimento das populações locais, etc. É de salientar que os bosquímanos eram um povo caçador-recolector, logo exímios intérpretes de rastos e pistas deixadas no terreno pelo inimigo dada a sua experiência em perseguição de caça. Esses membros nativos eram enquadrados por oficiais do Exército Português e por agentes da PIDE e recebiam treino de forças especiais.
Com o decorrer da Guerra do Ultramar os Flechas revelaram-se uma das melhores forças antiguerrilha ao serviço de Portugal, indo progressivamente alargando o seu tipo de actuação. Se no início eram basicamente usados como guias e pisteiros dos agentes da PIDE, passaram posteriormente também a ser usados como forças de assalto em operações especiais. Pelo reconhecimento do seu elevado nível de eficácia, as próprias Forças Armadas passaram a solicitar frequentemente à PIDE o auxílio dos
Algumas das operações frequentemente realizadas eram as chamadas Pseudo-Terroristas, em que os Flechas, muitos deles ex-guerrilheiros, se disfarçavam de guerrilheiros inimigos, para atacarem alvos com características tais que não podiam ser abertamente atacados por forças identificadas como portuguesas (ex.: alvos em território estrangeiro, missões religiosas que auxiliavam terroristas, bases terroristas de difícil aproximação, etc.).
Os Flechas actuaram sobretudo em Angola. Na década de 1970 começaram a ser organizados Flechas também em Moçambique mas que não chegaram a ter uma importância tão elevada.
Organização e Equipamento
Foram inicialmente organizados pelo Sub-Inspector Óscar Aníbal Piçarra de Castro Cardoso no período que passou nas "terras do fim do mundo"- o Kuando-Kubango. Os Flechas estavam organizados em
Grupos de Combate de cerca de 30 homens. Estavam equipados com o equipamento em uso no Exército Português, mas também utilizavam muito armamento capturado aos guerrilheiros,
nomeadamente nas Operações Pseudo-Terroristas.
Sem comentários:
Enviar um comentário