AVISO

OS COMENTÁRIOS, E AS PUBLICAÇÕES DE OUTROS
NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO ADMINISTRADOR DO "Pó do tempo"

Este blogue está aberto à participação de todos.


Não haverá censura aos textos mas carecerá
obviamente, da minha aprovação que depende
da actualidade do artigo, do tema abordado, da minha disponibilidade, e desde que não
contrarie a matriz do blogue.

Os comentários são inseridos automaticamente
com a excepção dos que o sistema considere como
SPAM, sem moderação e sem censura.

Serão excluídos os comentários que façam
a apologia do racismo, xenofobia, homofobia
ou do fascismo/nazismo.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

HISTÓRIA DA GUERRA COLONIAL 35ª PARTE - DESERTAR OU IR À GUERRA - MARCELINO DA MATA - Figuras públicas que foram à guerra colonial

Desertar ou ir à guerra? Há mais de 40 anos, muitos jovens portugueses confrontaram-se com esta difícil alternativa.


Há dias, em conversa com um amigo, concluímos que a questão da guerra colonial tinha marcado impressivamente a nossa geração e que faltava fazer um estudo sobre as atitudes relativas à oposição à guerra, nomeadamente acerca dos desertores e refractários. Como se verá abaixo, as diversas oposições ao regime tinham tácticas diversas no combate à guerra colonial. Ora, tanto o meu amigo como eu própria continuamos ambos a defender que era então correcta a atitude de desertar, senão a mais correcta. A questão é polémica e quase tabu em Portugal. Quarenta anos após 25 de Abril de 1974, a questão deve ser discutida. Pessoalmente penso que também urge fazer "justiça" à atitude que tiveram dezenas de milhares de jovens portugueses, ao recusarem-se a participar na guerra colonial.

Ora, acabo de saber que o cineasta Rui Simões estreou, na Cinemateca, o documentário Guerra ou Paz, cuja sinopse pode ser aqui lida -http://guerraoupaz-2010.blogspot.pt/
«Entre 1961 e 1974, 100.000 jovens portugueses partiram para a guerra nas ex-colónias. No mesmo período, outros 100.000, saíram de Portugal para não fazer essa mesma guerra. Em relação aos que fizeram a guerra já muito foi dito, escrito, filmado. Em relação aos outros, não existe nada, é uma espécie de assunto tabu na nossa sociedade. Que papel tiveram esses homens que “fugiram à guerra” na construção do país que somos hoje? Que percursos fizeram? De que forma resistiram? Esta é a história que GUERRA OU PAZ pretende contar: a dos jovens que se recusaram a participar numa guerra que não sentiam como sua, sem pôr em questão o seu amor à Pátria. Se há a figura do Soldado Desconhecido, este filme pretende retratar esse outro Homem Desconhecido que recusou ser soldado».

A propósito do tema da deserção, publico aqui excertos do meu livroHistória da Oposição à Ditadura, 1926-1974 (Figueirinhas, 2014)

Capítulo V, pp. 415-417
«Para a maioria dos elementos da oposição ao regime, a questão da guerra colonial era, desde o início dos anos 60, um tema incómodo, dado que, enquanto os socialistas e republicanos tinham alguma reserva em aceitar a independência das colónias, o PCP, que foi o único partido a reconhecê-la, oscilara inicialmente entre uma retórica nacionalista sobre os custos da guerra e um «modo proletário» de encarar o assunto, que vincava a solidariedade internacionalista com os povos das colónias[1]. Lembre-se que o tema da independência dos territórios africanos tinha surgido pela primeira vez, em texto, no V Congresso do PCP, em 1957, com a definição de uma táctica organizativa que passava por criar secções do partido nas colónias. Posteriormente, esta táctica mudaria, passando os comunistas a estimular a criação e apoio aos partidos indígenas em luta pela independência nacional.
Quanto
à Frente de Acção Popular (FAP)/Comité Marxista Leninista Português (CMLP), ao ser criada, nos primeiros meses de 1964, dando origem à corrente marxista-leninista, considerou desde logo a temática anti-colonial como fundamental. O primeiro número do órgão do CMLP, Revolução Popular, de Junho desse ano, defendia a articulação entre a luta armada independentista dos povos coloniais e o combate armado do povo português. No ano seguinte, o CMLP criticou o PCP por fabricar um «movimento anti-colonialista comum ao proletariado e à burguesia», através do qual ignorava tanto os «interesses colonialistas existentes em sectores importantes das classes médias», como «o chauvinismo infiltrado nas massas»[2].
Do lado do regime, para contrabalançar algumas ténues fissuras que se faziam sentir relativamente à «política ultramarina» desde 1963, «Salazar, ou alguém por ele, respondia com manifestações de apoio por parte de representantes das Forças Armadas (nos Passos Perdidos da Assembleia Nacional, a 23 de Agosto, e no Terreiro do Paço, a 27 do mesmo mês)»[3]. No final de 1964, já estavam envolvidos nas guerras em África 85 mil militares portugueses, respectivamente cerca de 52 mil em Angola, 18 mil em Moçambique e 15 mil, na Guiné[4]. Os jovens portugueses eram obrigados a cumprir o serviço militar, que durava entre dois a quatro anos, incluindo a recruta e uma comissão de serviço numa colónia africana em guerra. Alguns deles, por razões económicas ou políticas, tornaram-se refractários ou desertores, saindo clandestinamente do país, a caminho do exílio, atravessando a fronteira “a salto”.
Por vezes, ao saírem clandestinamente do País, os refractários e desertores corriam grandes riscos, como aconteceu em 1963, com três jovens que tentaram fugir, de Tavira, num barco a remos, para o norte de África. O bote naufragou, acabando por ser encontrado pelas autoridades espanholas ao largo costa de Cádis, mas apenas com dois sobreviventes, Rui Cardoso de Matos e António Guerreiro, pois o terceiro, José Pinharanda Rego, tinha morrido. Na sequência das prisões dos dois jovens sobreviventes, a PIDE deteve os estudantes universitários angolanos Humberto Traça, Cláudio Sobral, João Nobre e Alberto Rui Pereira, antigo vice-presidente da direcção da Casa dos Estudantes do Império, que, após 23 dias no Aljube, foi enviado para a colónia disciplinar de Penamacor, de onde conseguiria fugir, exilando-se em Paris[5].
Efectivamente, no caso de os refractários e desertores serem capturados, ou por desenvolverem acção política contra a guerra, eram punidos com a incorporação na companhia disciplinar de Penamacor e/ou com a mobilização para os diversos campos de batalha. Em 15 de Outubro de 1964, o decreto-lei n.º 45 308 considerou puníveis como em tempo de guerra os crimes previstos na legislação penal militar praticados nas «províncias ultramarinas», enquanto nelas decorressem operações militares ou de polícia destinadas a combater determinadas perturbações ou ameaças.
Em 15 de Novembro de 1965, o Estado-Maior do Exército emitiu instruções secretas de contra-subversão, segundo as quais os incorporados passavam a ser divididos em três grupos, consoante a sua classificação fosse de «insuspeitos», «suspeitos» (ou «politicamente suspeitos» - PS) ou de «activistas» (ou «politicamente activos» - PA)[6]. Os casos eram julgados pela instituição militar, embora, desde 1961, a PIDE tenha retido alguns dos “prevaricadores” nas suas prisões, sem os entregar às Forças Armadas. Por exemplo, em Março desse ano, prendeu um soldado desertor, que não entregou às autoridades militares, alegadamente porque a Escola Prática de Infantaria não tinha instalações seguras[7]

CAPÍTULO VI, pp. 585-588
«Como se viu, quer no PCP, quer no PS, quer nas organizações de luta armada, ou entre marxistas-leninistas, maoistas, trotskistas ou socialistas radicais, a questão principal na década de setenta, que também tocava em particular a juventude estudantil e operária, obrigatoriamente mobilizada por um período longo de entre dois e quatro anos, era a guerra colonial. E a pedra de toque era a forma como as diversas organizações lidavam com ela, que também foi evoluindo. Se na manifestação contra a guerra do Vietname de Fevereiro de 1968, em Lisboa, ainda não tinha sido levantada a bandeira do combate à guerra colonial e se esta ainda estivera ausente das reivindicações dos estudantes de Coimbra, em 1969, a partir da década de setenta ela estaria sempre presente no meio estudantil.
As tácticas para enfrentar e lidar com a guerra colonial variavam consoante os partidos da oposição. A linha do PCP, sempre cauteloso na abordagem do tema da guerra, passava pelo cumprimento do serviço militar, inclusivamente nas colónias. No início da guerra, em 1961, os comunistas haviam considerado que a juventude não devia «reconhecer ao governo da ditadura fascista autoridade para a obrigar a fazer uma guerra colonial», mas, a meio da década de 60, mudou de estratégia, através da resolução «Criar uma forte organização militar é uma das tarefas mais urgentes do Partido».
O PCP passou assim a atribuir grande importância à organização dos comunistas nos quartéis, considerando que eles deveriam aí difundir a propaganda anti-colonial, incluindo a deserção, junto dos soldados. No entanto, relativamente aos seus militantes, o PCP não preconizava a deserção isolada, pois na sua perspectiva isso privaria os jovens de serem esclarecidos sobre o carácter da política colonial do governo. Por isso, os comunistas deveriam frequentar o serviço militar obrigatório, aprendendo a manejar armas, e deviam mesmo ir até às frentes de batalha, com o objectivo de esclarecer os outros soldados, incitando-os, esses sim, a desertar[8].
Ao contrário do PCP, a emergente esquerda radical colocou logo a guerra colonial no centro da sua luta, criticando violentamente a proposta daquele partido, segundo o qual se deveria ir para a frente de combate. Os grupos à esquerda do PCP, nascidos a partir do final dos anos 60, defenderam na sua maioria a deserção, por vezes com armas, dos jovens mobilizados. No entanto, a escolha entre desertar ou manter-se no exército foi ela própria também objecto de discussão num desses grupos da extrema-esquerda, a URML que defendia uma táctica próxima da preconizada pelo PCP. Efectivamente considerava a deserção uma «atitude individualista e oportunista», que levava «necessariamente à perda de elementos com os quais a Revolução Proletária poderia contar».
Pelo contrário, os núcleos em torno de O Comunista e o grupo do Grito do Povo, mais tarde unificados na OCMLP, defendiam a deserção logo na metrópole, e com armas. Para o PCP (m-l), a deserção deveria ocorrer no final da recruta, depois de se «aprender a manejar as armas» e fazer «agitação e propaganda anticolonialista junto dos soldados prestes a partir para a guerra». A deserção era, segundo esse grupo, um «mal menor», atendendo à impossibilidade de um «autêntico trabalho revolucionário no seio do corpo expedicionário». Na emigração, tanto o PCP de P (m-l) como «O Comunista»/OCMLP mantinham comités de desertores.
Por exemplo, em França, onde havia cento e oito portugueses com o estatuto de refugiados políticos — uma minoria entre os exilados, que na sua maior parte estavam em situação ilegal —, havia diversos comités. Entre estes contavam-se o Comité de Apoio aos Desertores, Refractários e Insubmissos Portugueses, influenciado pelo PCP m-l, e o Comité de Apoio aos Desertores Portugueses, de Grenoble, que defendia a «deserção com armas», ligado à OCMLP. Este grupo também influenciava os comités de desertores portugueses na Holanda, na Suécia, onde viviam cerca de cento e trinta desertores portugueses, em Estocolmo, Uppsala e Malmö, e ainda na Dinamarca[9].
Durante uma paragem da fragata Almirante Magalhães Correia num porto dinamarquês, cinco marinheiros portugueses desertaram, com o apoio dos Comités de Desertores influenciado por «O Comunista»/OCMLP[10]. Em 1970, chegou haver uma deserção colectiva de vários oficiais, que terminou para a maioria destes na Suécia. Tratou-se dos tenentes milicianos Vítor Pires e Vítor Bray, Albino Costa, Constantino Lucas, Fernando Cardeira, José Marta e Silva, Fernando Mendes, António Baltazar, Artur Pita e Carlos Almeida, do Regimento de Infantaria n.º 5 das Caldas da Rainha, mobilizados militarmente para Angola, Moçambique e Guiné, em 5 de Maio desse ano.
[…]
Entretanto, em Portugal, num discurso feito no último dia do ano de 1970, em que qualificava os desertores de traidores à pátria, o ministro da Defesa Nacional e do Exército, Sá Viana Rebelo, deu precisamente o exemplo dos «seis tenentes milicianos, antigos alunos de Engenharia da Academia Militar». Acrescentou que, nos termos da legislação, aqueles «tiveram de frequentar os três últimos anos numa escola de engenharia civil de Lisboa», onde «receberam a inspiração suficiente para trair a pátria» e fazer no estrangeiro «uma torpe campanha contra o seu país e contra os seus camaradas do Exército, onde efectivamente nunca serviram».
Sá Viana Rebelo já tinha anteriormente reconhecido que estavam a chegar «aos cursos de oficiais e sargentos milicianos muitos dos seus instruendos, oriundos das universidades, de liceus e de escolas técnicas», que transformavam esses estabelecimentos em «centros de subversão»[11]. Para punir os que se subtraíssem ao serviço militar, dois diplomas, promulgados em 1969, estabeleciam para esse “crime” penas de seis meses a um ano de prestação de serviço militar efectivo em regime disciplinar[12]. Abrangidos por esta legislação, um grupo de trinta e um estudantes e licenciados, considerados «activistas», foram incorporados na companhia disciplinar de Penamacor, no ano seguinte.
No entanto, o ministro Sá Viana Rebelo manifestou preocupação com o facto de esses jovens da “elite” estarem a ser enviados para essa companhia, onde se misturavam com outros, de classes sociais mais baixas, punidos por crimes comuns. O próprio director da DGS também temeu que desse nas vistas «a incorporação de tantos indivíduos, ou já licenciados ou com habilitações universitárias (médicos, advogados, etc...)» e, por isso, aconselhou o ministro a substituir o teor da informação prestada a seu respeito («activista»), pela de «elemento suspeito». É que o facto de serem considerados «suspeitos» e, não «activistas», fazia com que esses jovens não fossem enviados para Penamacor.
Em Julho, o Estado-Maior do Exército considerou «incompleta» e «genérica» a prévia classificação entre «insuspeitos», «suspeitos» e «activistas», pelo que procedeu a algumas modificações. Passaram, assim, a ser considerados «activistas» não só os membros do PCP ou de outros grupos subversivos, como os que tivessem sido reconhecidos «como cabeças de motins ou greves» ou tivessem feito «afirmações verbais ou escritas de carácter subversivo». Na categoria de «suspeitos», cabiam os que tivessem participado em actos subversivos, em reuniões e em actividades estudantis, ou houvessem acompanhado «reconhecidos activistas».
No mesmo mês de Julho, iniciaram-se conversações entre a DGS e o ministério do Exército para especificar a mútua colaboração e proceder em particular a um controlo mais rigoroso dos refractários e dos compelidos[13]. O Ministério do Exército comprometeu-se a facultar à DGS os elementos necessários para facilitar a organização dos ficheiros nos postos fronteiriços, enquanto a polícia procederia à captura e entrega dos indivíduos detectados em contravenção da legislação militar. Além disso, por sugestão da DGS, o ministro do Interior concordou em colaborar com o seu colega do Exército[14].
Isso não impediu, porém, que aumentasse progressivamente o número de refractários e desertores. Na delegação de Coimbra da DGS, uma informação dava conta de que, em 1971, muitos «mancebos» de todas as classes sociais não tinham levantado as guias de marcha para se apresentarem nas unidades de incorporação[15]. O próprio Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) afirmou, em Maio desse ano, que 25% do total de recenseados faltavam ao cumprimento do serviço militar[16]. Em Julho de 1973, a direcção da DGS enviou a todos os postos do continente vários radiogramas com pedidos de captura e interdição de saída do país de indivíduos em idade militar[17]. Calcula-se que, em França, houvesse nesse ano cerca de 60.000 desertores, refractários e compelidos, entre os 600.000 emigrantes portugueses naquele país[18]. Segundo números oficiais divulgados em Maio de 1974, terá havido, durante os treze anos de guerra, entre cerca de 110 a 170.000 jovens refractários e desertores[19]



[1] Miguel Cardina, O Essencial sobre A Esquerda Radical, Coimbra, Angelus Novus (Biblioteca Mínima), 2010, pp. 87-88
[2] Idem, pp. 44-45 e 87-88
[3] César Oliveira, Os Anos Decisivos, Portugal 1962-1985. Um Testemunho,Lisboa, Editorial Presença, 1993, pp. 27-28.
[4] Luís Farinha, «A guerra estende-se à Guiné e Moçambique», Os Anos de Salazar, Secção Destaque, vol. 20, pp. 7-19
[5] Arquivo da PIDE/DGS, pr. 11.692 CI (2), Alberto Rui Pereira, fls. 33 e 34; pr. 14 CI (1), pasta 20, Posto de Vigilância de Setúbal
[6] José Medeiros Ferreira, O Comportamento Políticos dos Militares, pp. 304 e 305
[7] Arquivo da PIDE/DGS, pr. 556/59 Div. Inv., Domingos Abrantes, fl. 189
[8] Elísio Estanque, Rui Bebiano, Do Activismo à Indiferença. Movimentos Estudantis, em Coimbra, pp. 75-77
[9] Arquivo da PIDE/DGS,pr. 19181 CI (2), Comité de Apoio aos Desertores Portugueses, Grenoble; Idem, pr. 402/73 CI (2), fls. 6, 35 e 37; Idem, pr. 11006 CI (1), pasta de Julieta Gandra, fl 106; Idem, pr. 15.568 CI (2), «Desertores portugueses na Suécia; Idem, pr. 19461CI (2), Comité de Desertores Portugueses na Dinamarca, fl. 42.
[10] Miguel Cardina, O Essencial sobre a Esquerda Radical, pp. 89-93
[11] Raquel Varela, «Oficiais milicianos optam pela deserção. Sete oficiais milicianos, ex-alunos da Academia Militar, chamados para combater na guerra colonial desertam para a Suécia», Os Anos de Salazar, Secção Portugal, vol. 26, pp. 60-69
[12] Lei n.º 2135, de 11/7/68, Diário do Governo, n.º 163-I série, art.º 64
[13] Indivíduos obrigados a cumprir o serviço militar.
[14] MAI, gabinete do ministro, caixa 396
[15] Arquivo da PIDE/DGS, NP 10643, pasta «Faltosos ao serviço militar», fls. 1, 3, 9, 11 e 38
[16] A informação é de José Medeiros Ferreira, cit. por Fernando Rosas, «O Estado Novo», História de Portugal, na nota n.º 94, p. 563
[17] Arquivo da PIDE/DGS,NP10520, delegação de Coimbra, posto de rádio, diversos, fl. 15, 11/7/73
[18] José Mário Branco, «As canções de protesto e o fim da ditadura», Os Anos de Salazar, Secção Cultura, vol. 30, pp. 145-153
[19] O primeiro número é referido em «Quem tem medo dos desertores?», inVida Mundial, 6/2/75, pp. 25-27, e o segundo número foi dado pela imprensa portuguesa de 29 de Junho de 1976.

por Irene Pimentel
jugular.blogs.sapo.pt

“Guerra ou Paz”, o que fizeram os desertores?


Estreia de filme sobre a guerra colonial para uns, de libertação para outros.
Lançado no 40º aniversário da Revolução dos Cravos,Guerra ou Paz, de Rui Simões (Bom Povo Português e Deus, Pátria, Autoridade), é dedicado ao tema dos refractários e desertores da guerra colonial. Conta com testemunhos portugueses e angolanos, incluindo o do próprio realizador, do músico Luís Cília, do arqueólogo Cláudio Torres, do cartunista Vasco de Castro, do escritor angolano António Setas, entre outros.
A ante-estreia do documentário Guerra ou Paz realiza-se no dia 4 de Abril na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa. Entre 21 e 25 de Abril, o filme estará em exibição no Teatro do Bairro, em Lisboa. No dia 15 de Abril é lançado em DVD nas lojas Fnac.
Pode ler-se na sinopse: “Entre 1961 e 1974, cem mil jovens portugueses partiram para a guerra nas ex-colónias. No mesmo período, outros  cem mil saíram de Portugal para não fazer essa mesma guerra. Em relação aos que fizeram a guerra já muito foi dito, escrito, filmado. Em relação aos outros, não existe nada, é uma espécie de assunto tabu na nossa sociedade. Que papel tiveram esses homens que “fugiram à guerra” na construção do país que somos hoje? Que percursos fizeram? De que forma resistiram?”



PROPAGANDA NA GUERRA DE LIBERTAÇÃO

0013sbyx
Também do lado do PAIGC não se descurava a propaganda desmoralizadora junto do exército colonial português.

Este panfleto fazia parte do material de propaganda de guerrilha na guerra de libertação na Guiné e era um incentivo à deserção dos militares portugueses, aproveitando três casos que são invocados. Repare-se a preocupação de garantir aos desertores que não ficariam em África mas sim colocados num país europeu com forte colónia emigrante portuguesa (relevo para França). Assim, a deserção é praticamente despida de significado político, além do sentido humanitário de recusar participar numa guerra criminosa e “já perdida”, sendo uma forma de concretizar aquilo que já milhares de jovens portugueses faziam clandestinamente e atravessando Espanha, quando se aproximava a incorporação militar (o “salto” para França). A distinção vincada entre portugueses e exército colonial, por sua vez, era uma forma de induzir a garantia de uma boa recepção quando da entrega ao PAIGC.
---------------

Adenda: O Isidoro de Machede comentou este post referindo que um dos três fuzileiros desertores referidos no panfleto do PAIGC era seu amigo, voltou clandestinamente a Portugal em missão revolucionária, foi preso pela PIDE e só saiu em liberdade da Prisão de Caxias nos dias a seguir ao 25 de Abril. Como complemento, acrescento uma foto dos três desertores (mesma fonte da cópia do panfleto), quando hóspedes do PAIGC. O fuzileiro António Pinto, amigo do Isidoro, está no centro. A ladeá-lo, estão os fuzileiros Alfaiate e Sentieiro.


00140x9q
desertores Portugueses



agualisa6.blogs.sapo.pt

PROPAGANDA NA GUERRA COLONIAL

0013rtza


Este cartaz-folheto (copiado daqui) fazia parte do material de propaganda de contra-guerrilha na guerra colonial na Guiné e era um incentivo à deserção dos guerrilheiros do PAIGC através da idealização da reintegração sob o poder colonial.

Os elementos pictóricos são simplificados e impressivos. A disposição figurativa dominante é a do reencontro efusivo e afectuoso entre os africanos que continuavam sob dominação portuguesa e aqueles que regressam abandonando as armas da luta de libertação. A bandeira portuguesa, símbolo de soberania perene, é elemento vivo e colorido. No centro, destaca-se, pelo chapéu, o régulo africano como sinal da continuação da autoridade tradicional africana. Os elementos do exército colonial (desarmados e em pose de satisfação convivial) estão postados discretamente como espectadores e incluem um militar negro. A legenda é discreta, sublimando as vantagens da deserção, para os desertores e para os seus familiares e amigos, não contendo qualquer elemento reprovador forte aos guerrilheiros, apenas indicando que estavam “enganados”.

O quadro idílico traçado na ilustração servia de contraponto, sem necessidade de representação dicotómica, à realidade guerrilheira e consequentes riscos – o combate armado, a exclusão da família, do meio familiar e dos complementos afectivos, as carências da vida guerrilheira, a brutalidade da acção militar colonial, incluindo a acção dos agentes da PIDE.

Se a propaganda não resultou não foi por demérito da propaganda. Havia muito no real que resistia à melhor propaganda.

agualisa6.blogs.sapo.pt

Marcelino da Mata Heroi Português


«Quem controlava quase toda a tropa nativa era eu .Tudo o que eu falava eles ouviam O PAIGC só tinha cerca de 2000 homens e nós tinhamos à volta de 40 000. Cada companhia que estava na Guiné era constituida por uma só etnia,por isso, cada companhia queria mostrar que era melhor do que a outra.Dizem que o PAIGC tinha uma zona libertada na Guiné, mas eu ia para onde queria, com quatro, cinco seis, sete ou oito homens.Eu tinha um corneteiro e quando chegavamos ao meio do mato eu mandava-o tocar a corneta. Só depois é que iamos para cima do PAIGC. Mandava tocar a corneta para eles verem que eu ia a caminho e que não tinha medo»
«Mas eu nunca renunciei à nacionalidade portuguesa. Houve um animal na Admistração Interna que me disse «O Sr foi colonizado»Eu disse -Eu nunca fui colonizado!Os meus antepassados foram colonizados , mas eu não. EU NASCI NUMA NAÇÃO CHAMADA PORTUGAL.
Quantos milhares de pessoas de pessoas mataram depois do 25 e Abril ? Foram 7447 mortos, numero que nunca houve durante a guerra»
Marcelino da Mata, «A Guerra de África 1961/64» Circulo dos Leitores
7447 mortos, assassindos, martires da Pátria todos PRETOS
Eu também Marcelino eu também nasci numa Nação chamada Portugal, e para mim continua a ser a mesma: Não reconheço os decretos que a amputaram.

wwwideia.blogspot.pt











M358 – Homenagem ao TCOR Marcelino da Mata – UM HERÓI NACIONAL - UM COMANDO IMPLACÁVEL da GUERRA DE ÁFRICA


Com a devida vénia e agradecimentos ao jornal TAL & QUAL, publicamos hoje (texto e fotos) mais uma justa homenagem ao TCOR Marcelino da Mata – O COMANDO IMPLACÁVEL da Guiné.


ESTA NARRAÇÃO NÃO É FICÇÃO HOLLYWOODESCA! 





Pior ainda, é que esses mesmos Combatentes nada fazem para ajudar a despertar as atenções e o interesse das pessoas, para esta escandalosa e triste realidade, e outros no cúmulo da indiferença, até pactuam com este estado de coisas.


UMA NOJICE de dar vómitos a todos os que serviram em armas e, orgulhosamente, sentem, vivem e ainda acreditam em Portugal! 


Hoje, felizmente, vai havendo um despertar lento para esta realidade, mas tão lento que um dia, infelizmente, será tarde de mais! 




A Guerra do Ultramar, foi um conflito à qual muitos pseudo-portugueses, cobardes e traidores fugiram com medo, "homens" esses que, ainda por cima  tiveram a distinta lata, ao longo dos últimos anos, se arvorarem, baseados nesta alta traição, de serem os seus verdadeiros heróis.


Esta rara e inacreditável desfaçatez só é permitida num país como o nosso, dado o infeliz, pacato e iletrado povo que tem.

Marcelino da Mata é SÓ o português (civil e militar) mais condecorado em Portugal em todos os tempos. É nítido hoje em dia, principalmente por motivos de dor-de-corno e inveja, o desprezo a que é votado pelas autoridades civis e militares nacionais, a todos os níveis.
Honra e Glória seja feita ao TCOR COMANDO MARCELINO DA MATA, por aqueles que amam verdadeira e profundamente esta Nação, pois ele, pelos seus feitos em combate, nem ao seu país de origem - a Guiné -, pode voltar e viver descansado, apenas pelo "crime" de... COMO PORUGUÊS QUE SEMPRE SE ASSUMIU... TER USADO A FARDA E AS INSÍGNIAS DE PORTUGAL!

Repete-se: POR ELE TER COMBATIDO POR PORTUGAL!


Marcelino conquistou-as, com muitas marcas físicas que quase lhe eliminaram a vida, em lutas ferozes e mortíferas contra um inimigo aguerrido, de igual para igual de armas na mão, que combatemos em África - na Guiné -, o P.A.I.G.C. (Partido Africano para a Indepêndcia da Guiné e Cabo Verde).

Sim, combateu por Portugal, ao nosso lado, e muitos portugueses, na condição de militares em Serviço Militar Obrigatório, hoje lhe devem a vida.

PELO MENOS AQUI NESTE CANTINHO NÃO SERÁ ESQUECIDO, COMO NÃO FOI PELO JORNAL TAL & QUAL!

Como poderão ler mais abaixo, numa excelente homenagem daquele jornal, ficarão cientes da traição e cobardia nacional que grassava, e ainda hoje grassa, neste país do pós-25 de Abril.

Esta postagem, em formato Word, contou com a colaboração do meu Camarada da Guerra na Guiné - Manuel Marinho -, a quem aqui endereçamos os nossos melhores e devidos agradecimentos por permitir uma leitura correcta e mais visível do recorte.

Ganhou inúmeras condecorações, não a polir esquinas ou botas em Portugal como muitos hoje as recebem, sem ter arriscado nada pela nação, nem ter produzido qualquer bem útil à sociedade e nacionalidade.
AO RAMBO DA GUINÉ
MARCELINO DA MATA – O COMANDO IMPLACÁVEL
Mataram-lhe as duas primeiras mulheres na Guiné e já tentaram assassiná-lo em Queluz. É o preço que está a pagar por ter combatido ferozmente no Exército português contra os da sua cor do PAIGC.

Marcelino da Mata, com a Torre e Espada e restantes condecorações, esta semana, em Queluz.

O oficial mais condecorado do Exército português, hoje na reserva em Lisboa, não esquece as torturas de que foi vítima, no Ralis, em 1975, e promete vingança.

Foi em Madrid em 1975, que ele me disse com frio desprendimento, como se me estivesse a dizer as horas: “ O capitão Quinhones não perde pela demora. Quando o encontrar, hei-de matá-lo”.

Entendi que a afirmação fora proferida num momento de sofrimento físico e indignação moral. Pareceu-me uma ameaça excessiva, coisas de filme e que o tempo se encarregaria de dissipar a sede de vingança.

Enganei-me.

Há menos de dois meses, passados, portanto, 11 anos, ele reafirmou as suas intenções perante três juízes do Tribunal Militar de Santa Clara: “ Falta aqui um réu, o capitão Quinhones. Se ele aparecer morto, já sabem que fui eu”.

Ele é o capitão comando Marcelino da Mata, herói da guerra colonial na Guiné, interveniente em 2414 operações no mato, e o oficial mais condecorado do Exército português: uma Torre e Espada, três Cruzes de Guerra de 1ª classe, uma de 2ª e uma de 3ª, aos louvores por actos de bravura em combate, perdeu-lhes a conta – “uns dizem que foram 47, outros 52”.

Um oficial que o conheceu bem na Guiné disse esta semana ao “T&Q”: “ Como era o Marcelino da Mata? Olhe o Rambo, comparado com o Marcelino, parece uma criança de infantário. E não estou a ser espirituoso – é verdade”.

Em Maio de 1975, no rescaldo do 11 de Março, com o país a guinar bruscamente à esquerda, o Ralis (Regimento de Artilharia Ligeira de Lisboa) era uma unidade revolucionária. No juramento de bandeira, os recrutas, barbudos e desalinhados, prometiam estar “ sempre, sempre ao lado do povo”, contra os reaccionários, os fascistas, os capitalistas, os imperialistas.

Comandava a unidade o coronel Leal de Almeida e era sua vedeta principal o capitão Dinis de Almeida, cognominado o “ Fittipaldi das Chaimites”. O general Spínola havia fugido de helicóptero para Espanha juntamente com um punhado de oficiais considerados reaccionários, e ali fundara o MDLP, um movimento dedicado a derrubar o comunismo em Portugal, corporizado no primeiro-ministro Vasco Gonçalves.

Iguais objectivos tinham o ELP (Exército de Libertação de Portugal, também sediado em Madrid mas mais político do que militar).

Foi neste pano de fundo que o então alferes comando Marcelino da Mata, um guineense trazido para Portugal para não ser fuzilado pelo PAIGC, foi preso por Dinis de Almeida e levado para o Ralis. – “Queriam saber que ligações o coronel Jaime Neves tinha com o ELP” – disse-me esta semana Marcelino da Mata. E rememorou: Estive um dia inteiro nas mãos de dois militares, o capitão Quinhones e o furriel Duarte, de dois civis, cujos nomes nunca soube, e de uma mulher de cabelos compridos, calças de camuflado, uma camiseta que dizia COPCON e uma pistola Walter com o coldre aberto.

Foi ela quem comandou as sessões de tortura: bateram-me com cadeiras de ferro e partiram-me costelas, a bacia e atingiram-me a coluna: por ideia dessa mulher, que ainda não sei quem é, deram-me choques eléctricos no nariz, nos ouvidos e nos órgãos sexuais, o que me deixou impotente durante três anos. Soube depois que na operação estiveram envolvidos elementos do MRPP. Identifiquei o capitão e o furriel Duarte porque o coronel Leal de Almeida os chamou pelo nome enquanto me espancavam”.

Depois de sete meses preso no forte de Caxias, Marcelino da Mata escapou a uma tentativa de rapto na sua residência em Queluz e fugiu para Espanha, onde foi acolhido pelo MDLP. Foi tratado por um médico espanhol e outro francês e trabalhou como mecânico em Talavera. Afirma nunca ter sido operacional do MDLP.

Nesse verão quente de 1975, eu deslocara-me a Madrid para fazer uma reportagem sobre o que era aquele movimento spínolista de que tanto se falava em Portugal, sem que alguém se lembrasse de lhe bater à porta e fazer as perguntas que entendesse.

Num primeiro andar da Calle Lagasca, no centro de Madrid, o seu chefe operacional, o comandante Alpoim Calvão, conduziu-me a um quarto. Sobre a cama, sem se poder mexer, estava Marcelino da Mata a recuperar dos espancamentos sofridos no Ralis.

Foi quando me disse que havia de matar o capitão Quinhones.

Esta semana, passados 11 anos, perguntei-lhe se o tempo havia cicatrizado essa ferida.

“ De maneira nenhuma. Ainda em Julho passado o reafirmei no Tribunal de Santa Clara, no julgamento do coronel Leal de Almeida” – foi a inesperada resposta dada com a mesma convicção de 1975, apenas amaciada por um ligeiro sorriso.

“ Assim que eu voltei de Espanha, o furriel Duarte soube e fugiu para o Canadá. O capitão Quinhones? Um dia hei-de encontrá-lo”.

Contactado anteontem pelo “T&Q” no seu novo regimento, o agora major Quinhones disse-me.” Não estou autorizado a falar, mas sempre lhe digo que não tive nada a ver com isso. Nunca bati no Marcelino da Mata nem em ninguém”.

Regressado em 1976 a Portugal, o oficial guineense, ainda alferes, foi integrado no Regimento de Comandos, na Amadora. Executava todos os deveres de um oficial do quadro permanente sem ser… português.

“Agora já sou, mas foi um problema enorme para me darem a nacionalidade; eu, que na Guiné jurei bandeira como português comentou”. Há muitos militares guineenses a quem ainda não deram a cidadania.

Estão há anos à espera, mas aos “fotocópias” deram num instante.

Fotocópias? “Sim, os “monhês”, os indianos; nós chamámos-lhes “fotocópias” porque têm aquela cor, não são pretos nem brancos”. E continua a recordar, revelando uma memória de precisão: “Sofri muitas pressões para sair da tropa. Estou convencido de que foi devido a manobras do PAIGC. Como oficial do Exército português, era embaraçoso para eles eliminarem-me, mas assim que saí começou a dança (ver caixa).

Um dia fui chamado a um brigadeiro do Serviço de Pessoal. Queria que eu assinasse um papel, pedindo a passagem à reserva. Disse-lhe que não assinava. Ameaçou-me de não me deixar sair e chamou um alferes e um tenente que entraram no gabinete. Eu lembrei-lhe que ele sabia muito bem que eu sairia quando quisesse. E para pôr ponto final no assunto, puxei pela pistola: o alferes dirigiu-se imediatamente à porta, abriu-a e eu saí ”.

Finalmente, em 1979, conseguiram dá-lo como “não apto”, devido a um ferimento num braço que nunca o impediu de ser o terror do mato guineense.

Ultrapassados há muito os prazos de promoção, saiu com o posto de capitão, auferindo a respectiva reforma, mais cerca de 18 contos como deficiente.

Hoje, com 46 anos, Marcelino da Mata suplementa a reforma com uns biscates aqui e ali, para sustentar a mulher e 15 filhos. Presentemente olha pelo físico do proprietário de um restaurante lisboeta. “Estive quatro meses a fazer a segurança da firma Tomás de Oliveira, no parque onde guardam as máquinas pesadas no bairro das Galinheiras” – conta. A Associação de Comandos arranjou-me o lugar porque ninguém queria ir para lá. A gatunagem prendia os guardas às árvores e roubava gasóleo para depois vender. Eu ainda andei lá aos tiros mas não houve mais roubos. O meu ordenado era de 100 contos mas a Associação ficava com 50. Cortei com eles”.

Mesmo assim, Marcelino da Mata considera-se um privilegiado. Ele acha injusto que outros guineenses, ex-militares do Exército português, não tenham a nacionalidade portuguesa nem qualquer reforma do Estado. “ Eles vivem em condições miseráveis”- acusa ele, sem nunca fundamentar os seus desabafos em considerações políticas ou ideológicas. No passado dia 21 de Agosto, Marcelino da Mata foi notícia por ter encabeçado uma manifestação à porta do Estado-Maior General das Forças Armadas, em defesa dos guineenses desprezados pelo Exército.

Na altura ninguém lhes deu ouvidos, mas na passada segunda-feira o ministro da defesa chamou-o. Logo a seguir, o general Almeida Bruno, comandante-geral da PSP e ex-combatente na Guiné, contactou-o pedindo-lhe uma lista de todos os ex-militares guineenses para que lhes seja concedida a nacionalidade portuguesa, condição essencial para que possam ser reformados ou reintegrados, igualmente lhe pediu uma lista das viúvas de guineenses mortos em combate para que lhes seja atribuída a respectiva pensão de sangue.

Marcelino da Mata está agora mais confiante no futuro dos seus camaradas guineenses em Portugal. “ Mas levou tanto tempo”- diz com indisfarçável amargura.

UMA MÁQUINA DE GUERRA
Marcelino da Mata tinha 19 anos quando um seu irmão, que havia faltado à incorporação militar, lhe pediu que fosse ao Centro de Recrutamento em Bissau saber em que situação se encontrava. Marcelino foi e o sargento não perdeu tempo.

“O teu irmão faltou mas tu ficas cá”.

Assim começou a sua carreira militar que, por sinal só não durou apenas dois anos por culpa dos guerrilheiros nacionalistas: “Já eu tinha 21 anos quando decidi fugir e aliar-me ao PAIGC, que na altura se chamava FLING (Frente de Libertação para a Independência Nacional da Guiné)”- conta Marcelino da Mata”. Mas eles decidiram exercer represálias por eu estar no Exército português e fuzilaram o meu pai e a minha irmã, que estava grávida de oito meses. Fiquei do lado português”.

As represálias do PAIGC intensificaram-se à medida que a eficácia militar de Marcelino da Mata ia espalhando o pânico entre as foças nacionalistas. “ A minha primeira mulher foi morta quando seguia num barco civil não armado. O PAIGC separou-a de umas vinte mulheres que iam a bordo e fuzilou-a” – recorda. A minha segunda mulher foi morta quando saía do mercado. Tinha ido às compras. Encostaram-lhe uma pistola à cabeça e dispararam. Estou de novo casado e tenho 15 filhos dos três casamentos. Estão todos comigo, aqui em Queluz”.

O capitão comando diz eu desde o derrube de Luís Cabral na Guiné nunca mais foi alvo de atentados. O oficial que o conheceu no mato guineense sintetiza: “ O PAIGC tinha como objectivo prioritário, eliminá-lo, compreende-se: o Marcelino era uma implacável máquina de guerra que causava estragos diabólicos ao inimigo. A acção dele foi muito importante na guerra colonial, independentemente da justeza da posição portuguesa. Ele fez coisas que ainda hoje parecem irreais”.

Marcelino da Mata fala da sua acção militar na Guiné, exceptuando duas coisas: as operações secretas que cumpriu em casos selectivos de eliminação física e o comportamento menos corajoso de alguns oficiais portugueses, hoje muito conhecidos. Ele fala da invasão da Guiné – Conakry em1971,comandado por Alpoim Calvão e aprovada por Spínola. (“ Falhou a tomada da emissora, mas libertamos os 28 prisioneiros portugueses”), duas incursões no Senegal em missões de busca e destruição de acampamentos inimigos (“Dávamos-lhes nos cornos e trazíamos o armamento aprendido”) e dos oficiais portugueses “ com eles no sítio”; o capitão António Ramos, ex-ajudante dos generais Spínola e Eanes, o general Carlos Azeredo, comandante da Região Militar Norte, e o coronel Carlos Fabião, hoje colocado num posto administrativo.

Descrição de uma operação típica:

- Quando sabíamos de um acampamento do PAIGC com, por exemplo, 20 ou 30 homens, eu escolhia três ou quatro do meu grupo e lá íamos.

- Só três ou quatro?

- E chegavam. Um deles era o corneteiro.

- ?!...

- Quando estávamos perto do acampamento eu mandava tocar a corneta. Quando lá chegávamos, os do PAIGC já estavam preparados, mas aquilo era um instante.

- Mas porquê avisá-los com a corneta?

- Porquê?!... Para lhes dar uma oportunidade. Não se encosta a arma a um gajo que está a dormir. Dá-se-lhe uma oportunidade para se defender.

Marcelino da Mata apenas lamenta os oficiais negros fuzilados pelo PAIGC após a independência.”Eles eram portugueses e bateram-se por Portugal. O Mário Soares, o Eanes e o Cavaco Silva pediram há dias ao governo de Bissau que não fuzilassem um guineense condenado à morte. Na manifestação junto ao EMGFA, eu perguntei-lhes por que razão não tinham intercedido a favor dos portugueses negros que o PAIGC fuzilou. O apelo que fizeram agora foi uma ingerência nos assuntos internos de outro país, ou não foi”?

Marcelino da Mata vive hoje com dificuldades. E se pudesse voltava para África. “ Para a Guiné não posso ir, mas gostava de ir para um país africano onde pudesse ser instrutor militar. Ainda sou novo e podia viver sem tantas dificuldades. Vamos a ver…”.



Mas, segundo Marcelino da Mata, o PAIGC não desistiu de eliminá-lo, já em Portugal. “Já tinha deixado o Regimento de Comandos e passado à reserva, quando uma noite, vinha eu para casa, um carro galgou o passeio e tentou atropelar-me. Desviei-me e anotei a matricula que dei à judiciária. Era falsa. Pouco tempo depois, também à noite, ouvi um tiro vindo de uns arbustos e senti a bala passar-me por cima. Era um básico que não sabia atirar à cabeça. Deu outro tiro e nada. Eu fiz fogo duas vezes para os arbustos mas o tipo fugiu”.


Pelos contactos e conversas que mantemos com a juventude de hoje, facilmente nos apercebemos que a Guerra do Ultramar é para os jovens portugeses um completo tabu, coisa que não admira dado o país de ignorantes e hipócritas em que vivemos, por um lado, e, por outro, o ostracismo a que foram votados os ex-Combatentes por Portugal, resultado de políticas anti-patrióticas adoptadas nos últimos 37 anos pelos diversos (des)governantes deste descambado país.

É do conhecimento geral que às novas gerações, há muitos anos, foi vedado nas escolas o acesso à História de Portugal, pela politicalhada e seus apaniguados do pós-25 de Abril de 1974.

Há rapaziada hoje, que diz que o 25 de Abril foi feito pelo Salazar e que Salgueiro Maia foi ponta-direita do Benfica!?

É UMA VERGONHA NACIONAL... INADMISSÍVEL E REPUGNANTE... que parece passar ao lado dos actuais políticos, que assobiam para o lado como nada se passasse e tenha a ver com eles. 

Também muitos dos que combateram nessa guerra fazem de conta que não sabem e vêem nada sobre esta matéria, por interesses políticos e outros bem mais obscuros.

coisasdomr.blogspot.p


Lista de pessoas (FIGURAS PÚBLICAS) que participaram na Guerra Colonial Portuguesa


Clikando nos nomes tem acesso a mais conhecimento sobre o referido

Guerrilheiros / Opositores


pt.wikipedia.org

VÍDEOS - OPERAÇÃO NA GUINÉ










MARCELINO DA MATA


COMANDOS - FOI AÍ QUE APRENDI A MATAR
PARA NÃO MORRER


Sem comentários: