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quinta-feira, 24 de abril de 2014

As envenenadoras de Nagyrév ANO DE 1920 "Durante o período de entre-guerras, em alguns povoados da região de Tiszazug, especificamente em Nagyrév, um povoado agrícola húngaro localizado a uns 100 quilômetros de Budapeste, proliferou uma comunidade de assassinas que acabaram com a vida de umas 300 pessoas que elas consideraram 'incômodas

 As envenenadoras de Nagyrév



ANO DE 1920

"Durante o período de entre-guerras, em alguns povoados da região de Tiszazug, especificamente em Nagyrév, um povoado agrícola húngaro localizado a uns 100 quilômetros de Budapeste, proliferou uma comunidade de assassinas que acabaram com a vida de umas 300 pessoas que elas consideraram 'incômodas'.

Tudo começou no início da Primeira Guerra Mundial, quando muitos homens da região tiveram que abandonar seus lares ao serem recrutados para lutar pelo Império Austro-Húngaro. Na mesma época foi estabelecido na zona, acampamentos para prisioneiros e estes dispunham de uma certa liberdade controlada.
Esses jovens estrangeiros começaram a visitar Nagyrév e converteram-se em amantes de muitas mulheres, que livres de maridos e noivos, podiam se relacionar com eles tranquilamente.

Uma das camponesas detidas.

Mas esta situação 'idílica' terminou bruscamente quando os maridos, pais e outros parentes começaram a voltar para as suas casas. Os veteranos de guerra quiseram retomar às suas vidas de onde haviam deixado, esperando que suas mulheres fossem tão submissas e obedientes como antes. No entanto, essas mulheres, que conseguiram uma independência e liberdade que nunca haviam experimentado até então, receberam os seus familiares com uma grande frieza. Eles, em muitos aspectos, também haviam mudado: os horrores da guerra deixaram aqueles homens mais agressivos e intolerantes e alguns, além disso, estavam terrivelmente mutilados ou cegos.

As esposas buscaram a ajuda de uma mulher valorizada na comunidade. Tratava-se da parteira Julia Fazekas, que naquela época, por não existir nenhum hospital na zona, cobria as necessidades médicas daquelas populações. Ela só levava três anos vivendo em Nagyrév, mas já era uma pessoa respeitada pois as parteiras eram consideradas 'mulheres sábias' que atuavam como médicos e além disso, ela conseguiu ganhar a confiança de algumas famílias ao ajudá-las a se desfazerem de bebês não desejados. De fato, essa mulher foi detida em numerosas ocasiões por praticar abortos ilegais, ainda que sempre tenha ficado livre por falta de provas.

imagem mostra o início das detenções das suspeitas. Algumas levavam os seus filhos.
Fazekas considerou que uma 'boa solução' e ao mesmo tempo, um meio de obter rendimentos extras, era fornecer a todas aquelas mulheres arsênico, obtido através de um método caseiro: mediante a fervura de tiras de papel pega-moscas. A parteira, com uma de suas auxiliares, Susanna Olah, vulgo 'Tia Susi', e algum outro cúmplice, conseguiu induzir às assassinas a cometerem os crimes proporcionando o veneno que todas elas utilizaram. Umas cinquenta envenenadoras compraram o arsênico e conseguiram em poucos anos aumentar notavelmente a taxa de mortalidade da região.

Quando algum servidor público pedia explicações sobre esse acréscimo da mortalidade, um primo de Fazekas apresentava os atestados de óbito que ele mesmo havia assinado e assim demonstrava que as mortes eram naturais e que tudo estava em ordem.

Algumas das detentas durante o julgamento.
Os envenenamentos começaram em 1914, com o assassinato de Peter Hegedus e finalizaram em 1929. Segundo Béla Bodó, um historiador húngaro-norte-americano, autor do livro Tiszazug: A Social History of a Murder Epidemic, os crimes cessaram quando uma carta anônima ao editor de um pequeno jornal local, acusou às mulheres da região de Tiszazug de acabar com a vida de seus familiares através de envenenamento. As autoridades exumaram dezenas de cadáveres do cemitério local e depois de encontrar arsênico em seus corpos, foram iniciadas as detenções dos suspeitos.

O autor do livro citado acima, que cresceu na região, revela em sua obra as possíveis causas sociais que propiciaram estes impiedosos crimes. Examina por exemplo, os elementos da cultura camponesa húngara do período de entreguerras, tais como o abandono tradicional dos idosos e a morte de doentes e incapacitados como uma solução para problemas familiares. Além disso, analisa o contexto histórico-político em que se desenvolveram os fatos, uma época extremamente difícil e dura, em que se vivia com muita pobreza e desespero. Tudo isso para tentar aprofundar a explicação daquela onda de crimes que participaram tantas pessoas.


Naquela época, os casamentos eram arranjados pela família e o divórcio não era socialmente aceito. De modo que as mulheres frequentemente, precisavam suportar a homens que não amavam, muitos deles violentos e alcoólatras. No entanto, nem todas as vítimas eram desse tipo. Também acabaram com a vida de pais idosos, maridos mutilados de guerra ou inclusive, filhos.

Quando finalmente a parteira foi detida, ela se manteve firme no interrogatório e negou todas as acusações, afirmando que não podiam provar nada. As autoridades decidiram deixá-la livre, mas prepararam uma armadilha. Sabiam que ela entraria em contato com suas clientes para avisá-las de que sua 'fábrica de arsênico' havia fechado. Assim ela fez e cometeu o erro de visitar as freguesas pessoalmente, o que de lambuja, indicou à polícia a quem deviam prender.
Foram feitas 37 detenções e conseguiu-se que 26 mulheres fossem levadas a julgamento.


Entre as pessoas processadas encontrava-se Susanna Olah, ('Tia Susi'), já septuagenária.
Maria Kardos, que assassinou o seu marido, o seu amante e o seu filho de vinte e três anos.
Rose Hoyba, que confessou ter acabado com a vida de seu esposo por ele ser...Entediante?
Lydia Csery, que matou os seus pais.
Maria Varga, que assassinou o marido, que ficou cego na guerra, porque ele se queixava de que ela trazia demasiados amantes para casa.
Juliena Lipke, que assassinou a sua madrastra, sua tia, seu irmão, sua cunhada e seu esposo e finalmente, Maria Szendi, que justificou ante o tribunal seu crime deste modo:

'Matei o meu marido porque ele sempre queria ter o controle. É terrível a forma em como os homens sempre querem todo o poder.'

Uma das processadas declarando no julgamento.

Oito foram condenadas à pena de morte na forca. Sete à prisão perpétua e o resto passou um bom tempo na cadeia cumprindo penas diversas. Entre as executadas encontrava-se a'Tia Susi', Susanna Olah, acusada de ser a encarregada da distribuição do veneno para vários clientes. Sua irmã também recebeu a pena máxima. Uma das assassinas, segundo afirma uma habitante de Nagyrév que atualmente tem 93 anos, se enforcou para evitar a prisão. Quanto a Julia Fazekas, a parteira, ela conseguiu evitar a execução suicidando-se com o mesmo veneno que tantas vezes havia vendido."

www.rusmea.com

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