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quinta-feira, 24 de abril de 2014

PORTUGAL 40 ANOS DEPOIS DO 25 DE ABRIL 74 - João Andrade da Silva

PORTUGAL 40 ANOS DEPOIS DO 25 DE ABRIL 74

João Andrade da Silva
Coronel Emérito do Exército, Militar de Abril e do PREC

PORTUGAL 40 ANOS DEPOIS DO 25 DE ABRIL 74
24-04-2014 - Andrade da Silva

Falar sobre Portugal, o nosso Portugal, 40 anos pós 25 de Abril 1974, para quem andou de alma e coração no processo do  25 de Abril por  um Portugal e Mundo  melhores é um exercício doloroso, mas anulará o facto  glorioso,  heróico e nobre do 25 de Abril 74?

Não. A conquista da liberdade, da democracia e dos direitos  fundamentais, como os da educação, da saúde, da contratação colectiva são ainda grandes vitórias do 25 de Abril, que embora feridos ainda sobrevivem, todavia, teriam de viver e desenvolverem-se, deveriam estar, no mínimo assegurados, sendo que o seu desenvolvimento é o esperado, normal e desejável, porém o que  acontece é que estão em regressão, e esta realidade é intolerável.

Todos ouvimos que tão desgraçada situação  se deve  à crise, direi, contudo, que o que há é a tomada do poder ao nível mundial por agiotas, especuladores cruéis, quase conluiados na construção de um reino universal de escravização, o que, sendo grave não desculpa os governantes portugueses, nem os lideres de opinião, e da cultura nacionais, porque são cúmplices e servidores coniventes destas trágicas politicas que, entre nós, são ampliadas,  com grave prejuízo para todos os portugueses, por milhares de milhões que escorrem pelos canais da corrupções e de transferências  financeiras excessivas, em prol de governantes e dos grandes  e velhos donos de Portugal, com um consentimento infame de uma faixa larga de portugueses que moral, intelectual e ao nível da cidadania deviam ser bem mais exigentes. É mesmo incompreensível tal  comportamento,   face  ao aumento  significativo da educação: que deveria ter libertado muito mais povo, mas não o fez, e,  aqui  Abril soçobrou, porquê?

A razão mais profunda estará nos alicerces de uma cultura castradora,  estreita, inquisitorial, de séculos em que cada  um só ouve os seus pares, reproduzindo indefinidamente o mesmo de sempre, facto que não estimula a participação,  nem a inovação. Como as pessoas se sentem inúteis quanto ao destino colectivo não aplicam nem energia, nem ligações sinápticas a produzirem opinião critica, e  promovem  uma espécie de autofagia cerebral para estes temas. Deste modo morre na vida de  cada um, o espaço publico e politico. Consequentemente com uma maioria destes cidadãos , que é o nosso caso, pese embora, alguns movimentos mais activos de contestação centralizada em  temas com maior referência às necessidades primárias, o sistema politico e social  global mudará muito pouco, ao longo de muitos anos. Não havendo critica e inovação estabelece-se e restabelece-se sistematicamente a narrativa subjugadora de que somos um povo que - aguenta, aguenta.

AGUENTAAGUENTA é um estado de  alma e comportamento social que pode sustentar, o caminho da destruição da democracia, através do total bloqueamento do estado de direito, isto é, há leis que são música para os nossos ouvidos, mas que feitas com alguma ou muita perversidade permitirão, no limite, que nenhum crime grave e  lesivo  dos bens  públicos ou privados praticado pelos poderosos seja alguma vez julgado, e o mesmo em relação aos ligeiros, dizendo tudo, por inteiro: não há estado de direito entre nós, porque nem todos são iguais perante a lei.

Uma democracia está ferida de morte, quando não sabe, ou não quer, ou  às boas aceita o corrupto, como excelências dignitárias, sejam cardeais,  governantes, ou outros. Ferido este pilar todas as arbitrariedades são possíveis e a  democracia corre grave risco, é este o nosso caso - ALERTA CAROS CONCIDADÃOS!

AGUENTAAGUENTA é também um estado de alma que mata a identidade e a dignidade do cidadão Nacional, e, assim, aguentamos  cordatamente este período em que um governo estrangeiro de tecnocratas está entre nós, numa afronta ao D, da descolonização,  de Abril.

Aí está a troika a impor-nos regras de uma potência colonial, tratando-nos como colónia, porque nos endividamos. Todavia, aqui, diferentemente do que acontece com uma família endividada que negoceia os juros e forma de pagamento com o banco , sem o banco entrar nas nossas casas, para dizer o que fazermos -tão só pedirão um fiador que só em caso de incumprimento dos contratos depois de re.re_re.. negociados intervém- porém no caso de Portugal, Grécia ,etc. os credores governam-nos. Mas não será possível arranjarmos um fiador e nos governarmos a nós próprios? Como é possível aguentarmos esta afronta à soberania nacional, agravada pelas privatizações que ferem as bases da nossa independência no capítulo da reserva estratégica nacional?

Com estes ferretes cheios de veneno letal: empobrecimento; estado  social residual; estado de direito preso ao objectivo de proteger os ricos e poderosos e as suas fortunas ganhas nos mercados da  corrupção;   sem independência nacional, o que nos resta: aguentar, ou mudar mesmo tudo?

A resposta é só uma e uma só, é preciso mudar tudo, mesmo que comece por uma das pontas da Europa, só que mudar tudo é REVOLUÇÃO, e a REVOLUÇÃO precisa de uma grande parte do povo desperta, pronta, consciente e mobilizada, o que, está muito longe de acontecer, e se esta é a condição necessária, a eficaz  será uma liderança nacional que com base num projecto soberano conduza o povo a porto certo, sem rombos, mesmo que, com muita muita dor.

Resta a quem se identifica com este  paradigma - LUTAR, LUTAR, LUTAR, pela mobilização de todos nós, na procura de uma liderança,  do esclarecimento do povo e na sua motivação  para a mudança imperativa, considerando os riscos a acautelar com responsabilidade, mas sempre com determinação, coragem e,  porque, não dizê-lo - com heroísmo!

Fora do rumo de mudança fica o aguenta, aguenta:  letal, recto ao empobrecimento, à escravização. Todavia cabe ao povo português escolher, e aos que têm consciência  e conhecimento dos perigos alertarem, organizarem-se e lutarem pela soberania de Portugal, pela sua descolonização - lutamos em Abril pela descolonização das colónias africanas, agora, temos de lutar pelo nossa própria descolonização- e, ainda, é preciso continuar a luta por  uma  democracia livre, honesta, cidadã que terá como natural consequência - o desenvolvimento.

Porém, e para desgraça de Portugal, as lideranças que vão surgindo  são velhas lideranças, com muito jogo escondido, sem a verdade e a honestidade como instrumentos e sem um conceito  democrático do exercício do poder,e muito pior  da sua  prática.  Vivemos  em  quase todas as  instituições  ao nível  da incivilização  própria  das ditaduras abjectas de África, sem a prática do genocídio.

Nestes 40 anos de Abril e nos seguintes seria importante construir o Futuro com lideranças do Futuro, baseadas no amor a Portugal, à Humanidade/ao homem concreto, na recta intenção, na inteligência, no mérito. Será  pedir demais a 10 milhões de concidadãos?

Não, não é, mas é exigir que os acomodados cumpram com o imperativo categórico que Portugal e a Humanidade lhes exige, cumprirão?

Não tenho a certeza. Da minha parte vou-lhes recordando, se muitos o fizerem, talvez  algo mude, e esse algo, poderá ser o início do Futuro para este século e milénio, mas...

Coronel Emérito do Exército, Militar de Abril e do PREC,

Andrade da Silva


wwwpoetanarquista.blogspot.pt

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