Morreu hoje o comandante Guilherme George Conceição e Silva, grande apaixonado por São Vicente
A Sagres, atracada na Base Naval de Lisboa (Alfeite) - Foto Joaquim Saial |
O capitão-de-fragata Guilherme George Conceição e Silva faleceu hoje, em Lisboa. Licenciado em Direito (especializado em Direito Marítimo), foi professor da Escola Naval e, após o 25 de Abril, chefiou a comissão de extinção da PIDE/DGS. Este militar da Armada encontrava-se, em Março de 1961, a bordo da fragata Nuno Tristão em Angola, no início da guerra e comandou a força de desembarque que protegeu as populações do Ambriz e Ambrizete. Foi Secretário de Estado da Comunicação Social nos governos de Vasco Gonçalves, quando o ministro da pasta era o comandante Correia Jesuíno.O funeral realiza-se amanhã, segunda-feira, estando o seu corpo na capela do Cemitério Inglês.
Era filho de outro distinto oficial da Marinha, o comandante Eugénio da Conceição e Silva, considerado o pai da astronomia amadora em Portugal e irmão do general da Força Aérea Tomás George Conceição e Silva, também com brilhante folha de serviço.
Na sua longa vida profissional, viajou vários anos a bordo do Navio-Escola Sagrescomo instrutor de vela e remo em viagens de instrução de cadetes. Neste âmbito, fez inúmeras viagens a Cabo Verde, nomeadamente a São Vicente, terra que amava e à qual pretendia voltar em viagem a bordo do iate de um amigo, com este e mais dois companheiros da Armada. A doença de um deles impediu a realização da viagem que o Pd'B publicitou. Devido a esse desaire, pretendia realizá-la em breve, por meios convencionais, de avião.
Cais acostável do Porto Grande, anos 60/70 |
Isso mesmo o disse ao Pd'B em longas e proveitosas conversas que tivemos na Brasileira do Chiado e na Associação Caboverdiana, onde almoçámos, os cinco, há pouco, talvez há três ou quatro meses. O comandante estudava nos arquivos de Marinha os barcos de cabotagem das ilhas e acabámos por trocar muita informação. Também se interessava pela obra de Teixeira de Sousa que conhecia em profundidade e considerava exemplar na minúcia e exactidão com que retratava a ambiência e nomenclatura marítima. No final desse almoço, no hall do piso térreo do edifício, acabaria por me oferecer um pisa-papéis em cristal com a Sagres, tendo eu retribuído com um CD com quase uma centena de fotografias de barcos de Cabo Verde. Ofertas singelas, mas significativas, trocadas entre doismondronguim amantes das coisas da Marinha e das terras e gentes do arquipélago de morabeza. As coisas que Cabo Verde produz... Ainda conversámos com o poeta José Luís Hopffer Almada na ACV sobre uma possível palestra a fazer ali, em que seriam intervenientes antigos oficiais de marinha que tinham passado por Cabo Verde, mas agora essa ideia caiu por terra.
Quis o destino que esta bela amizade acabasse demasiado cedo. Neste dia de tristeza, resta-nos encomendar a alma do comandante a Deus e a Neptuno, desejando que ambos a embalem na longa viagem agora iniciada.
mindelosempre.blogspot.pt
1 comentário:
Sou a filha dele.
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