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segunda-feira, 7 de abril de 2014

HISTÓRIA DA GUERRA COLONIAL 17ª PARTE - A OPERAÇÃO PEDRA VERDE - VÍDEO, DEPOIMENTO. SOM DO COMBATE, IMAGENS - -



Pedra Verde


De entre as operações de guerra que filmei para as "Actualidades de Angola", uma que muito me marcou foi a operação Pedra Verde, na zona do Úcua, a norte de Luanda. No Quartel General, eu e outros camaradas jornalistas, recebemos camuflados e juntámos-nos a uma coluna militar a caminho de... (destino desconhecido). Tomei lugar num jeep comandado por um 1º sargento que gentilmente me deu o lugar da frente, ao lado do motorista. Além de "gentil" parvo é que ele não era. Aquele lugar era o mais procurado pelo inimigo emboscado. Mas não me preocupei muito porque ainda íamos pela estrada de Catete e ali não havia grande perigo. Mas mais à frente, os soldados e o próprio sargento começaram, "Olha, lá estão os gajos!". E eu perguntava: Mas quais gajos? "Os turras, não ouve?" E isto repetiu-se várias vezes, até que eu perguntei: Mas o que é que vocês ouvem afinal? - "Os gajos a assobiar. "Olhe, olhe, oiça agora... Fartei-me de rir. Era um "Noitibó, um pássaro que tem um assobio repetitivo, género "piu, píu, píu", que se encontra muito na beira das estradas e que realmente parece um assobio humano. Mas toda a gente que alguma vez andou pelo mato o reconhece, é muito frequente. "Então vocês de onde é que vieram?" –"Viemos do Grafanil". Está bem, mas antes do Grafanil? (o Grafanil era o aquartelamento em Luanda onde ficavam os recém chegados da "Metrópole"). "Viemos de Lamego". Caiu-me a alma aos pés! Eram todos "MAÇARICOS"! Soldados que não só nunca tinham entrado em combate, como nem sequer tinham posto ainda um pé no mato. E eu sabia, por experiência própria, o medo que faz o mato das primeiras vezes que lá se mete o pé.
Sob o comando do Tenente-Coronel Fialho Prego, e tendo como comandante operacioanal o Major Loureiro, a operação integrava também um batalhão de Infantaria e um pelotão de Cavalaria com um carro todo o terreno comandado pelo Alferes Monje, hoje General. E ainda um oficial de referenciação que ia dando a nossa posição de forma a que a Artilharia fosse batendo o terreno à nossa frente, sempre a uma distância "conveniente". Este oficial ia também tomando nota de quantos projécteis passavam sobre nós. Era um ruído arrepiante quando passavam, parecia pano a rasgar! E deveria ter informações da sua bateria sobre o número de disparos efectuados. Sabia assim quantas granadas poderiam eventualmente não ter explodido. Destas, uma secção de sapadores comandada por um sargento iria localiza-las e faze-las explodir. Mas assustador mesmo era o rugido dos "jactos" voando a razar as árvores. Só se ouviam quando já estavam em cima de nós e... já passou! As companhias avançavam paralelamente, mas afastadas umas das outras. Nós seguíamos na do meio. Dormimos a primeira noite a meio do caminho, e só aí abri a ração de combate, e mesmo assim só para comer o queijo, a marmelada e as bolachas. Isto porque durante o dia sofria tanto com a sêde que chegava a beber a água que os soldados me davam generosamente dos seus cantís. Se tivesse comido durante a marcha não aguentaria a sede. Mas chegada a noite parámos para dormir, guardados por sentinelas, apesar de não haver receio de tiros vindos da mata - o clarão indica a posição do atirador, segundo me explicaram. Ao nascer o dia, o comandante de uma outra companhia veio até ao pé de nós trazendo um ordenança e, mal chegaram, um tiro vindo da mata atingiu o ordenança e fracturou o braço ao Capitão. Pouco depois o Capitão entrou em estado de choque e foram ambos evacuados para o hospital em Luanda. Prosseguimos então a marcha com uma Chaimite abrindo a coluna e fazendo "reconhecimento pelo fogo". Mas a metralhadora do carro encravou-se, e foi então um cabo, grande e possante, da guarnição da Chaimite, auto-intitulado 1º cabo Açoriano, quem pegou numa metralhadora ligeira "Lieuse", e chamando um soldado para o municiar arrancou à frente disparando rajadas para um lado e outro da mata. Chegados finalmente à zona de operações, o Alferes, sempre com o seu pingalim, sentou-se à frente do carro TT e nós, fotógrafos e operadores passamos para a frente para filmar a situação. Entretanto tinhamos chegado a um lugar onde a picada estava cortada por uma vala, e o carro não conseguia passar. Nessa altura passou por nós uma secção de morteiros para ir montar um tubo um pouco mais à frente. Aproveitei e fui com eles para filmar aquele aspecto da operação. Nesse preciso momento, desencadeou-se uma fuzilaria incrível. No meio de tudo aquilo ouço um homem a gritar: "Estou ferido, estou ferido". Pela direcção da voz concluí que o homem estaria para lá do carro TT. Pedi aos soldados que estavam ali a fazer fogo para a mata: "Cubram-me que eu vou passar". Corri aquela escassa dezena de metros, passei a vala e abriguei-me atrás do carro. A picada contornava um morro, portanto do nosso lado esquerdo o terreno era mais alto e descia em declive para o lado direito. Como disse, abriguei-me atrás do carro, e vejo estendido no chão a uns três metros à frente, e a descoberto, um soldado ferido na cabeça mas gritando como um possesso. Filmo o homem e procuro acalma-lo. "Ó homem, rola para cá, isso não é nada". Agora veja-se o caricato da situação: Um tipo convenientemente abrigado atrás de um carro de ferro a dizer a um outro, ferido na cabeça. "Ó pá, isso não é nada..." Mas visto friamente é mesmo assim. Com um tiro na cabeça, das duas uma, ou o tipo está morto ou em coma ou, se tem capacidade para gritar, não deve ser muito grave. O tiroteio continuava intenso, mas agora só de cá para lá, pois quem disparara de lá, ou já ia longe ou já tinha sido morto. Nessa altura fiz um grande disparate: Pus a máquina de filmar no chão, e tentei rastejar para puxar o rapaz para trás do carro. Nesse momento um soldado do Pelotão de Cavalaria (os do Carro TT), que estava na parte mais elevada da picada, dá um mergulho e aterra directamente junto do ferido arrastando-o para junto de mim. E eu perdi aquela imagem magnífica, aquela decisiva e corajosa acção daquele soldado. Depois filmei o curativo que um soldado fazia ao outro, e o ferido tinha apenas um furo muito redondinho no lóbulo da orelha esquerda (depois inchou muito e rompeu-se ficando um rasgão feio). Mas o mais fantástico é que ele tinha também um rasgão no sobrolho direito. Era quase inacreditável, o soldado foi atingido por dois tiros na cabeça, não morreu, e nem sequer ficou gravemente ferido. Mas eu não me perdoo por ter largado a máquina!







Li há pouco tempo, por acaso, uma entrevista com um fotógrafo com largo currículo em reportagens de guerra, em que abordava exactamente esta questão, e que já se lhe tinha posto mais do que uma vez. Ir acudir a alguém em perigo perdendo um "boneco" fundamental, ou fechar os olhos da consciência e fazer aquilo que é o seu trabalho. Ele não chegou a conclusão alguma... e eu também não.

Entretanto começou o corte dos troncos para libertar o carro, e aqueles "maçaricos" aglomeravam-sa para ver. Eram um belo alvo para quem estivesse ainda emboscado na mata. Por mais que os oficiais os quisessem dispersos, voltavam sempre a juntar-se. Tiveram sorte! Ao menino e ao borracho...
A partir dali desenvolveu-se o avanço em direcção ao objectivo, uma aldeia no cimo de um pequeno morro. Estava deserta, como se esperava, mas revistado um pequeno "hospital", foram encontrados sinais de feridos daquela manhã. Entretanto, enquanto um grupo revistava umas cubatas, um outro que chegou depois, apercebendo-se do movimento lá dentro, desata aos tiros sobre as cubatas. No meio de gritos e palavrões, saiem de lá os soldados furiosos e milagrosamente incólumes, dado que as paredes das cubatas são de capim. Os sapadores tinham iniciado o seu trabalho e já tinhamos ouvido dois ou três rebentamentos. Um teve lugar ali bem próximo, mesmo atrás de uma cubata, levantando uma coluna de terra e de poeira, e lá de trás aparece um velho sargento, de camisola interior ensanguentada e com uma mão no pescoço. "Olhe meu capitão, olhe o que aquele malandro me fez". E tira a mão do pescoço de onde esguicha, liberto da pressão, um repucho de sangue. Não quero mentir, mas pareceu-me um esguicho aí de uns quinze centímetros ou nais. Fomos ver o que acontecera, e vimos três soldados no chão com estilhaços nas costas, um furriel com as pernas horrivelmente feridas e outro homem a quem faltava a garganta. Horrível de ver! Como teria acontecido aquele horror? Tinha sido o furriel a vê-la. "Olha esta não rebentou..."
Paragem de dois dias.





Pedi para aproveitar o transporte e vim a Luanda, creio que também vinha o Fernando Farinha, ainda um jovem. Tomar um banho reparador, matar a fome! Já estavamos no mato há uma semana, e a viajem dentro daquele carro de ferro, por estradas de terra batida numa velocidade maluca, amontoados uns sobre os outros acompanhando um ferido que entrava em coma mas felizmente não morreu.

Chegados a Luanda (nesse tempo eu vivia na Cela), fui a casa do pintor Neves e Sousa, onde me aboletava, olhei para o espelho da casa de banho e... fechei os olhos. Despi o camuflado e sem me atrever a olhar-me, lá consegui tomar um banho. Divino! Só depois tive coragem de olhar o espelho, ao fazer a barba. O meu amigo Alfredo Barreiros levou-me depois até ao snack da Versailles, disposto a comer um daqueles bifes maravilhosos como eram os do Nicola em Lisboa. E o bife chega, mergulhado num molho que cheirava a distância e um ovo que ainda borbulhava de quente... Deitei-me gulosamente ao bife e ao ovo, pronto a saborear aquela preciosidade... que se me enrolou na boca e não fui capaz de engolir. Tive de contentar-me com o cheiro, uma torrada e um chá. O meu pobre estômago desconfiou da fartura, e acho que fez bem, defendeu-me de uma congestão. Quem se lambeu com o bife foi o Alfredo, que diante do meu olhar de inveja devorava o meu bife e se ria, o malandro. No dia seguinte lá voltei às rações de combate e água dos cantis dos soldados, até chegarmos à gigantesca "Pedra Verde" que dava nome ao sítio. Era do feitio do Pão de Açúcar, não tão grande, mas mesmo asim impressionava, e era verde porque coberta de musgo. A missão era içar a bandeira nacional, por alguns minutos, no cimo da pedra. Começámos a trepar, e iamos descansando nuns socalcos que havia de onde em onde. O meu material, cada vez mais pesado, foi às costas dos soldados até à etapa final. E eles lá cumpriram a missão, que eu filmei, apesar de não tão próximo como desejaria. Os meus quase cinquenta anos tiveram mais força!


Outras imagens da Pedra Verde (cortesia de Manuel e Pedro Mateus)

blogdarochet-schneider.blogspot.pt







AQUI ABAIXO PODE VER, O VÍDEO, PODE OUVIR O SOM DOS COMBATES
E FAZER O DOWNLOAD
REGISTO ÁUDIO
Reportagem original, da época, da Rádio Clube Moçambique / Emissora Nacional das "4 Horas do Inferno de Quibaba" (operação de reconhecimento armado à Pedra Verde, de 26 a 31 de Julho de 1961) - com registos sonoros dos intensos combates que tiveram lugar e da intervenção dos militares da 4CCE envolvidos. Duração total de aproximadamente 18 minutos.


CLIK NOS SÍMBOLOS PARA VER VÍDEO OU OUVIR AUDIO


Online Audio
aprox. 18 minutos
YouTube >>
Audio, aprox. 18 minutos,
Formato MP3,
aprox. 8.3 MBytes >>
Arquivo para download,
Formato ZIP,
aprox. 7.9 MBytes >>


Créditos originais (1961):
Trabalho de campo: Artur Peres e Óscar Machado
Sonoplastia: Rogério de Vasconcelos e Américo Rebordão Correia

Créditos pós-produção (2009):
Conversão e tratamento formatos digitais: Pedro Mateus


O EMPENHAMENTO OPERACIONAL DAS CCaçEspMAJOR NA REFORMA LUÍS ARTUR CARVALHO TEIXEIRA DE MORAIS 
Publicado como Anexo n.º 8 em "CIOE/CTOE Operações Especiais - 50 anos"
por (Alf.) Helder da Silva Serrão, Editado por Edições Esgotadas, 1. ª Edição, Lamego, 2011 



(...) Algumas observações pertinentes, consideradas convenientes para melhor ser compreendida a gravação.
Após a eclosão da insurreição (terrorismo) em Angola no dia 15 de Março de 1961 começaram a chegar aquele território nacional várias unidades militares, entre as quais, em Junho desse ano, os Batalhões de Caçadores comandos pelo TCor Oliveira Rodrigues [ Batalhão Caçadores n.º 114 ]e TCor Maçanita [ Batalhão Caçadores n.º 96 ].
A estes dois batalhões foram dadas a missão de conquistar e ocupar Nambuango onde se encontravam concentradas grandes forças de sublevados.
Foram constituídas três colunas com esse fim: a primeira, sob o comando do Tcor Oliveira Rodrigues com o itinerário mas curto Luanda -Caxito -Quicabo - Nambuangongo, veio encontrar forte resistência, sobretudo no rio Lifune. A segunda, sob o comando TCor Maçanita com o itinerário mais longo,envolvente pela direita Luanda-Úcua - Quibaxe - Cambamba -Nambuangongo, acabou por ser a primeira a chegar ao objectivo. A terceira constituída por uma força de cavalaria com base no esquadrão de reconhecimento de Luanda e Auto-Metralhadoras, com o itinerário envolvente pela esquerda. pelo litoral, Luanda -Ambriz -Zala -Nambuangongo, foi retardado pelos inúmeros abalizes encontrados.
Quando a Batalhão de Caçadores do TCor Maçanita chegou à Úcua, teve informações de que na região da Pedra Verde, ali perto, se encontravam concentradas fortes forças inimigas. Comunicada a informação superiormente, recebeu ordens para reconhecer a região, mas todas as tentativas para o fazer foram repelidas por fogo intenso de espingardas e metralhadoras de um inimigo que diziam ser possuidor de rádios ligados com oexterior. Como até aí os sublevados apenas se haviam apresentado armados de catanas e "canhangulos'', as informações foram postas em dúvida, até porque se tratava de uma unidade recentemente chegada em Angola.
Para esclarecer a situação decidiu o comando da região mandar a 4ª CCaçEsp, que nessa altura era a unidade mais experiente que tinha, reconhecer aquela região e deu ordens ao Batalhão de Caçadores para prosseguir o avanço sobre Nambuangongo.
1. No dia 25 de Julho de 1960 [1961] fui chamado ao QG [Quartel General] quando procedíamos à recepção distribuição das primeiras espingardas automáticas chegadas em Angola, as FNs e ali recebi a missão de proceder ao reconhecimento armado da Pedra Verde, com o reforço de dois pelotões Indígenas do RIL [Regimento de Infantaria de Luanda] e recomendação de dar conhecimento da missão à companhia apenas na Úcua. Como a companhia teve de sair de Luanda na manhã do dia seguinte, apenas tivemos tempo de conhecer muito à pressa superficialmente o seu funcionamento e de as irmos experimentar com alguns tiros na carreira de tiro reduzida do RIL. Agrande experimentação iria ser feita ao real dois dias depois.
2. Ainda no QG fui apresentado a cinco jornalistas que ali haviam ido pedir autorização para acompanhar uma unidade em operações, e que sabendo ter-me sido acabada de dar uma missão, solicitaram-me, desde logo, permissão para me acompanhar, que tive de dar.Tratavam-se dos jornalistas Magalhães Monteiro da Rádio Clube de Moçambique, Artur Peres e Óscar Machado da Emissora Oficial de Angola, Xarula de Azevedo do Jornal Comércio de Luanda e António Maria Zorra de Moçambique.
3. Como conhecia um pouco da região da Pedra Verde, por ter já patrulhado e saber tratar-se de uma zona de cultura de café há já algum tempo abandona[da] e por issocom muitas plantas entrecruzadas a impedir a qualquer progressão fora das picadas, pedi um reforço de trabalhadores Bailundos munidos de catanas, para em caso de necessidade, nos abrirem ca­minhos fora das picadas e que nos foram cedidos pelo dono de uma das fazendas locais da Úcua, com um capataz europeu que nos ia servir de guia, o qual veio a ser ferido e morrer já na Úcua (é o ferido que se ouve na gravação a ser socorrido pelo médico da companhia).
4. A coluna saiu de Luanda na manhã do dia 26 de Julho echegou na tarde desse dia à Úcua, onde, por curiosidade, se encontrava um Batalhão de Caçadores [ n.º 137 ] comandado pelo TCor Henriques da Silva que havia sido comandante do CIOE, quando ali recebemos instrução (1960).




5. Na gravação pode-se ouvir distintamente os disparos espaçados das espingardas inimigas e das suas metralhadoras de cadência lenta, a contrastar com as nossas armas automáticas FNs de cadência muito rápida e silvo característico.
6. De notar em especial a impecável disciplina de fogo da companhia, só consegui[d]a por a uma tropa muito experiente: tiros do inimigo, silêncio absoluto para o inimigo ser localizado e concentração do fogo sobre os objectivos localizados . Imediato alto ao fogo á minha ordem. Por mais e melhor que uma unidade seja instruída e treinada, e a nossa estava, só com muita experiência tudo isso se consegue no real.
7. Naquela situação a nossa progressão só podia ser feita frontal e a descoberto ao longo da picada e por isso difícil, perigosa e lenta. Em contrapartida sentíamo-nos observados e visados por todos os lados.
8. A situação começou a agravar-se quando ao fim de três horas e meia de combate nos apercebemos de que as nossas dotações individuais de munições se encontravam esgotadas e o inimigo nos procurava cercar.
9. Munições para as nossas armas, na altura, só havia em Luanda . Procuramos então retirar para Úcua mas encontramos a retirada cortada. Valeu-nos então o TCor Henriques da Silva, que atento à nossa situação deu ordens às peças 8,8 [Obus 88 mm QF 25 Pdr Mk 2 m/43/46 ] de Artilharia [ 3.º Pelotão da Bataria de Artilharia n.º 147 ] para fazerem fogo "directo" sobre o inimigo. Nesse momento já não sabíamos de onde nos vinha o maior perigo, se do inimigo, se das granadas amigas. Mas conseguimos chegar à Úcua.

BART-147-Pedra-Verde-Obus-8-8-IMG_0022.jpg (82934 bytes)  BART-147-Pedra-Verde-Obus-8-8-IMG_0023.jpg (92116 bytes)  BART-147-Pedra-Verde-Obus-8-8-IMG_0076.jpg (53437 bytes)Obuses 88 mm QF 25 Pdr Mk 2 m/43/46 do 3.º Pelotão da Bat.ª de Artilharia N.º 147
em acção na Pedra Verde ( fotos circa 28 a 31 de Julho de 1961 )

BART-147-Guiao.jpg (48109 bytes)
"Guião" da Bat.ª de Artilharia N.º 147
Conteúdos da BART 147 gentilmente cedidos por Albano Mendes de Matos para uso no site da 4CCE
 
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0. Cumprida a missão e avaliada ali a força do inimigo, inédita até aí e mesmo posteriormente,visto até essa data não havermos encontrado um inimigo tão fortemente armado, nem nos ter constado que tal tivesse acontecido depois, nesses primeiros anos de guerra em Angola (mas a prova ficou gravada) a 4ª CCaçEsp foi mandada regressar a Luanda para outra importante e urgente missão.
11. A missão de conquistar e" limpar" a região da Pedra Verde ["Operação Esmeralda"] foi dada mais tarde ao Batalhão de Caçadores [ Batalhão de Caçadores Especiais n.º 261 ] comando pelo TCor Prego, reforçado com uma Companhia de Paras, Artilharia e Auto-Metralhadoras, apoiado pela aviação. No entanto toda essa força foi repelida pelo inimigo no primeiro dia [ 10 de Setembro de 1961 ] em que o tentaram e com importantes baixas. Depois destas forças se reorganizarem, à segunda tentativa, feita dias depois, estranhamente chegaram à própria Pedra Verde, um monte rochoso coberto de vegetação, sem encontrar qualquer resistência [ 16 de Setembro de 1961 ]. As forças inimigas ali existentes , que segundo constou continha elementos estrangeiros, haviam retirado e abandonado a região.
12. Segundo informações recebidas posteriormente, resultantes de interrogatórios a prisioneiros feitos mais tarde, o inimigo, durante a acção da 4ª CCaçEsp, havia sofrido pesadíssimas baixas, calculadas em centenas de mortos.
Esta acção da 4ª CCaçEsp, que ficou por sorte gravada, como prova, foi sem dúvida um dos mais duros combates de toda a guerra de Angola, senão mesmo o mais duro: três horas e meias de fogo intenso face ao inimigo bem armado de espingardas e metralhadoras. (...)

5 de Setembro de 2005
Luís Artur Carvalho Teixeira de Morais
Major na Reforma  (...)" 


FOTOS "NOTÍCIA!"
Reportagem com reconstituição fotográfica publicada a 19 de Agosto de 1961 no magazine "Notícia !"

162-DOC-accao-pverde-report-8.jpg (4133420 bytes)155-1-DOC-accao-pverde-report-1.jpg (1329589 bytes)
Foto sem legenda incluída >>
Capa do magazine "Notícia !"
publicado em Luanda, 19 de Agosto de 1961
Legenda original:
"A patrulha militar pronta a entrar em acção (momentos antes), comandada por um alferes. O tipo de mata cerrada, propícia e emboscadas está bem patente na fotografia."


155-2-DOC-accao-pverde-report-1.jpg (1183766 bytes)
Foto sem legenda incluída >>
156-1-DOC-accao-pverde-report-2.jpg (1172122 bytes)
Foto sem legenda incluída >>
Legenda original:
"O ataque presentido começa, e os homens tomam imediatamente posições atirando-se de qualquer forma para o chão . A emboscada foi preparada e executada pelos dois lados da estrada e por isso torna-se mais perigosa."
Legenda original:
"Os soldados têm dificuldade em divisar o inimigo devido à natureza da mata. No entanto, cada um sabe a tarefa que lhe compete e isso é a razão da categoria desta tropa."


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Foto sem legenda incluída >>
158-3-DOC-accao-pverde-report-4.jpg (1180544 bytes)
Foto sem legenda incluída >>
Legenda original:
"No momento mais apertado do ataque. O fotógrafo, muito naturalmente, sente o efeito e transmite-o à fotografia."
Legenda original:
"Quem há pouco tempo transitava nas «estradas» do Norte, talvez nunca tenha imaginado esta cena."


Excerto do som gravado durante os violentos confrontos no decurso da operação
- o intenso e dramático som de armas automáticas e de fogo "cerrado".
Duração de 13 seg / 136 KBytes em formato WAV .

159-1-DOC-accao-pverde-report-5.jpg (1240185 bytes)
Foto sem legenda incluída >>
160-2-DOC-accao-pverde-report-6.jpg (1215898 bytes)
Foto sem legenda incluída >>
Legenda original:
"Os emboscados começam a sentir o efeito do pronto contra-ataque e a intensidade do fogo reduz-se um pouco, permitindo uma busca de melhores posições."
Legenda original:
"Os tiros cessam por completo. No entanto os soldados permanecem ainda uns momentos alerta: o capim é traiçoeiro e é necessário muito cuidado antes se penetrar na mata."


160-3-DOC-accao-pverde-report-6.jpg (1099219 bytes)
Foto sem legenda incluída >>
157-1-DOC-accao-pverde-report-3.jpg (925243 bytes)
Legenda original:
"No final da luta procede-se ao balanço: um ferido grave e alguns arranhões sem consequências de maior. A briosa tropa está pronta para nova acção"


161-DOC-accao-pverde-report-7.jpg (330727 bytes)
"Notícia !", Luanda, 19 de Agosto de 1961



www.4cce.org

A Pedra Verde
pverde
Conquistada Nambuangongo pelas forças armadas portuguesas, os guerrilheiros da UPA encontram refúgio numa cordilheira de morros escarpados com cerca de 700 metros de altitude, uma zona de muito difícil acesso, situada poucos Km a Nordeste de Úcua e na entrada dos Dembos, onde predomina um morro com grutas naturais e túneis escavados pelo homem denominado Camucugonlo mas conhecido por “pedra verde”.

Esta região acidentada e coberta por floresta densa, domina o itinerário mais directo de Luanda para Carmona (Uíge) e é conhecido por “estrada do café”, pois serve ao longo dos Dembos inúmeras fazendas e povoações ligadas aquela cultura.
Considerado um baluarte do inimigo onde teriam afluído elementos fugidos de Nambuangongo, a “Pedra Verde” constituía uma ameaça pela sua proximidade em relação a Luanda e também pelas frequentes emboscadas realizadas pelos guerrilheiros às nossas tropas e pelos assaltos que levavam a cabo nas fazendas da região.
A 10 de Setembro de 1961 iniciou-se uma operação de grande envergadura e mesmo com apoio da artilharia e meios aéreos, as tropas tiveram de vencer imensas dificuldades num terreno sem picadas e muito difícil e só a 16 de Setembro foi conquistada a “Pedra Verde”, último refúgio da UPA.
Esta região foi sempre das mais problemáticas da guerra em Angola, onde houve muitas baixas da nossa parte, qualquer militar mobilizado para aquela zona já sabia do perigo que o esperava, mas para amenizar a situação, os mais velhos costumavam brincar com os maçaricos: Que sorte a tua, vais ver a Gina Lolobrigida!
QUESSO
Nesta foto podemos apreciar os seios da bela italiana, vendo-se ao fundo a “Pedra Verde”.
Mário Mendes

cc3413.wordpress.com

O TEMÍVEL MORRO DA PEDRA VERDE
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Situado geograficamente entre Quibaxe e Ucua, na província de Cuanza Norte, era atravessado por uma estrada asfaltada, a qual nos parecia sempre tão pequenina e aterradoramente apertada, ladeada e comprimida que estava por aqueles morros tão altos e com um historial de guerra tão sinistro. A vegetação tropical dum verde sempre húmido quanto luxuriante ali crescia envolta num silêncio perturbador e profundo. Todos nós já havíamos alguma vez ouvido contar, como se de uma lenda se tratasse, que toda aquela imponência construída pela natureza a uma altura desmesurada, havia sido traiçoeiramente adubada com sangue e restos de corpos jamais encontrados. Outrora um local ideal de massacres que dizimaram pelotões inteiros, sobretudo nos primeiros anos de guerrilha, era um local propício à prática do fogo cruzado. A progressão no terreno era praticamente impossível, dada a sua altura enorme e uma inclinação quase vertical. Foram sobretudo as tropas paraquedistas quem dali enviou para a Metrópole mais caixas, daquelas que recordo ainda ouvir – quem não se recorda ? – na balada de intervenção de Adriano Correia de Oliveira : “...desta vez o soldadinho / vem numa caixa de pinho..."
Passei por lá duas vezes. Da última, seguia em coluna civil escoltada por viaturas militares, pois a Companhia havia sido transferida de Ambriz para o Quiage, na região dos Dembos. Os relógios marcavam mais ou menos vinte e uma horas. O sol já se havia recolhido e a escuridão tornava a passagem por aquele local ainda mais arripiante. Há muito que as tropas portuguesas controlavam a região e não havia notícia de qualquer ataque, contudo, as instruções do comando apontavam para que a passagem se efectuasse à maior velocidade possível, os olhos bem abertos e preparados para qualquer eventualidade. Normalmente, em deslocações deste género viajávamos juntamente com as bagagens, na caixa de carga de camiões civis e aproveitávamos para dormir, cobrindo-nos com o oleado. A viatura em que eu, acompanhado de meia dúzia de camaradas, me transportava, tinha uns painéis laterais e traseiros do tipo das usadas no transporte de gado. Alguns momentos antes de chegarmos à Pedra Verde levantámo-nos, colocando as cartucheiras à cintura e, enquanto a mão esquerda se agarrava com firmeza a uma das traves do taipal, a direita segurava a G-3, já com a patilha de selecção de tiro na posição de rajada. E, a partir daí, seria como passar pelo corredor escuro da Casa dos Fantasmas da Feira Popular...



As viaturas que seguiam à nossa frente aceleraram, acabando por ficarem fora do meu campo visual ; apenas se viam as luzes dos faróis lá mais adiante. De repente, o camião em que eu seguia travou bruscamente, os faróis apagaram-se, o mesmo acontecendo às duas viaturas que nos seguiam. No meio daquela sinistra escuridão e do silêncio sepulcral ouvi uma discussão de vozes atabalhoadas que não reconheci de imediato e a voz de um negro que “arranhava” o português. O instinto fez-me galgar o taipal, saltei para a berma, atitude tomada pelos restantes camaradas, e caí de cú, adoptando logo de seguida a posição típica de combate : deitado de barriga para baixo, o corpo esticado e a metralhadora apontada para a frente, consciente, contudo, de que de nada serviria o seu uso. Calaram-se as vozes. A mim, assim como a todos os outros que sabia estarem algures ali estendidos, restava esperar talvez o eventual rebentamento duma granada. Não deu tempo sequer para rezar...Lembro-me de, involuntariamente, haver começado a tremer e de ter feito um enorme esforço para manter a calma e, sobretudo, a Fé.
Entretanto, no meio daquele silêncio de tempo indefinido, a vista começou a habituar-se à escuridão e comecei a enxergar os camaradas que se mantinham imóveis tanto à minha direita como à esquerda. Comecei a ouvir vozes dispersas à distância, não conseguindo, porém, distinguir o que diziam. Manteve-se a espera convertida em resignação. Fazer o quê ? Aguardar ! Passados os primeiros momentos de incerteza e desprendimento, misturados, obviamente, com o medo (não era vergonha tê-lo, é um sentimento humano e, na maioria dos casos até se tornava nosso aliado, dando-nos forças que até então desconhecíamos), então sim, consegui, ainda com algum trepidar dos maxilares, rezar. Não muito, pois nesse momento, mesmo por cima dos nossos corpos, explode no ar com enorme estrondo e iluminando a área, uma granada. Logo seguida de outra, e mais outra. Ao longe ouvi tiros de rajada, os quais consegui imediatamente identificar como partindo de uma metralhadora G-3. Reconheci então a voz do furriel de Operações Especiais, o Fonseca, que havia chegado com mais alguém. – Malta, toca a unir e vamos embora, está tudo bem ! Não há crise ! Esta guerra não é connosco !
Só quando chegámos ao Ucua, a alguns quilómetros mais à frente e onde estava instalado um destacamento da PIDE-DGS, tivemos conhecimento do que se havia passado. Na estrada encontrava-se um indivíduo de raça negra, completamente despido, ensanguentado, sem uma orelha e com dois dedos da mão cortados, pedindo auxílio à coluna que ali passava naquele instante. Disse ser trabalhador numa fazenda ali perto e terem sido assaltados por um grupo de "terroristas". Os motoristas dos camiões que nos precediam haviam-se recusado a parar. O do nosso camião, um negro natural e residente em Luanda, teve um comportamento bem diferente. Parou, e, contrariando a ordem do furriel Fonseca que seguia na cabina a seu lado, disse-lhe com indignação e firmeza : - Mas afinal ninguém parou porquê ? Por o homem ser negro ? E se fosse branco, não paravam ? Quando chegar a Luanda vou direitinho ao Quartel-General e vou dar conhecimento desta vossa atitude !


Depois, sem nos prevenir, o furriel de Operações Especiais partiu juntamente com um sargento, que também viajava na cabina, e o motorista negro na direcção da roça de café que supostamente estava a ser atacada, a qual distava ainda mais de um quilómetro do local onde nos encontrávamos. Aquela guerra realmente não era nossa, por isso decidiram, após progredirem uma dezena de metros, tentar intimidar os presumíveis assaltantes (não necessariamente terroristas). Lançaram, com a G-3, algumas granadas para o ar e fizeram alguns disparos de rajada. Aqueles rebentamentos e os enormes clarões por eles provocados interromperam abrupta e momentaneamente a escuridão e o silêncio, fazendo-nos acreditar que estávamos a ser alvo de um ataque.
Já em cima do camião, por via das dúvidas, ainda percorremos alguns quilómetros com a atenção redobrada, traumatizados que ficámos com aquele insólito acontecimento. Chegados à localidade de Ucua, o negro ferido foi entregue aos cuidados da Polícia Política e lá prosseguimos viagem. Fazia frio, o cacimbo havia já começado a formar-se, tornando-se cada vez mais denso, e voltei a desapertar o cinturão, atirando-o juntamente com as cartucheiras para o lado e colocando, lembrando aos camaradas que fizessem o mesmo, a patilha de selecção de tiro na posição de segurança. Encostei a cabeça em cima duma grade de refrigerantes, tapando-me com o oleado mas, durante o resto dessa viagem, já não consegui adormecer.
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CAMUCONGOLO

Os artilheiros preparam os obuses 8,8 cm para sessões de tiro; ao fundo à direita, a Pedra Verde.



Os militares de uma companhia de Infantaria, em acção para conquista da Pedra Verde, Camucongolo na toponímia cartográfica, pernoitam num armazém da Roça Quibaba, a cerca de pouco mais de uma légua do objectivo.


No negrume da noite, dançam os fantasmas que cada mente concebe. É no sossego aparente, necessário para o restabelecimento físico do corpo e para o relaxamento dos nervos, que surgem alguns pesadelos sobre contactos com os «turras», com gritos de desespero em sonhadas emboscadas.


Ao dealbar da manhã, os militares esfregaram os olhos, ajeitaram os bornais, mastigaram pão com marmelada, verificaram os carregadores e outros pertences, e entraram no carreiro da mata que leva à picada para o rio Dange e Nambuangongo, seguindo o itinerário rascunhado em papel vegetal, no sentido da Pedra Verde. Caminhando sob as frondosas árvores, passo a passo, encontram diversos trilhos, que ora se cruzam, ora divergem ou terminam em ligeiras veredas. São apoiados da Artilharia instalada na Roça Quibaba: seis peças 7,5 cm e dois obuses 8,8 cm, que durante a noite flagelaram, com concentrações de tiros, algumas sanzalas e zonas adjacentes à Pedra Verde.


- Não devem andar longe – disse, em surdina, um furriel, apontando ramos partidos de fresco.


Perante o emaranhado de trilhos e sem visibilidade, os militares sentem-se perdidos do itinerário. Voltam ao local onde já tinham passado. O capitão pede um tiro de artilharia sobre a Pedra Verde para se localizar no terreno. Orientados, prosseguem a marcha. Poucas falas. Apenas gestos. Irmanados num forte espírito de corpo.


Ao subirem um cerro, despido de árvores robustas, avistam um pedaço do morro Camucongolo. Uma bandeira vermelha drapeja no cume.


- Olha o descaramento dos gajos! – disse um furriel.


- É da República de Nambuangongo, que eles apregoam! – comentou um alferes, mirando pelos binóculos.


Depois de um ligeiro descanso, é reiniciada a marcha, sob os ardores do sol, que já estava alto. Os ânimos aquecem, as vontades firmes e indomáveis, como nos momentos das grandes decisões. Os rostos cerrados, nas cautelas e nas preocupações, que os indícios são certezas de que os guerrilheiros andam pelas redondezas. O silêncio apenas cortado pelo cantar de pássaros, voando de ramo em ramo, nas suas naturais liberdades. A Natureza vibrando de vida. A selva na sua grandiosidade, as plantas tocando as ramagens, enlaçadas em protecção mútua, a coarem os raios do sol. Depois, num plaino, os arbustos e os capinzais substituem a selva.


Subitamente, uma descarga de fogo atroa nos ares. Colocados instintivamente em defesa, um soldado fica de bruços sobre a espingarda. Era o transmontano Valdanta ferido por uma bala. Um tiro certeiro. Como num jogo de sorte de azar.


- Calma! Aguentar! Vamos a eles! – alguém gritou.


Quebrado o ímpeto inicial dos guerrilheiros, os soldados metropolitanos assestam as armas sobre as orlas do plaino. Disparam continuamente. Há ordem para evitar consumos desnecessários de munições. Os «turras» respondem com vigor, mas, a pouco e pouco, vão reduzindo o fogo até ficarem silenciados. Um caminho e diversos trilhos cortam o plaino. A pedido, a Artilharia faz fogo para a frente das tropas emboscadas. Como em guerras clássicas.


Há soldados que gritam e praguejam clamando vingança. Outros não conseguem evitar o nervosismo e continuam a disparar. O comandante determina uma paragem na progressão para ser evacuado o soldado Valdanta ferido.


- «Turras» dum catano! – grita um soldado patrício do Valdanta, com o rosto congestionado, chorando.


A companhia reinicia a caminhada para a Pedra Verde. Agora, numa linha de alturas, na direcção do rochedo. Para os lados, a perder-se nos horizontes, um mar de verdura. A sueste, erguem-se os morros «Lemba-Lemba», como dois descomunais seios.


- Os gajos devem ter cavado com os tiros da Artilharia, que eles têm medo do «pum cá» e «pum lá» – disse um furriel.


O sol a pino, queima. Os suores afloram. Logo evaporam com uma sensação de frescura, na sombra das árvores. Uma avioneta sobrevoa os militares, faz círculos sobre a Pedra Verde. Depois o silêncio. A Natureza adormecida, na modorra da tarde.




Dezoito de Setembro de 1961.


Data significativa da Guerra Colonial. Quebrava-se o mito da Pedra Verde.


A companhia de infantaria ocupa a base nascente do moro Camucongolo ou Pedra Verde. Os militares de uma secção iniciam, vagarosamente, a subida para o penhasco. Os declives e a vegetação complicam a acção. Chegados ao cume, retiram a bandeira vermelha, que diziam ser do movimento independentista UPA (União dos Povos de Angola) e, sem as solenidades apropriadas, sem fanfarras, nem clarins, içam, num pau, a servir de mastro, a Bandeira Nacional.


Os militares, perfilados, afogueados pelo calor, as fardas empapadas por suores e pó, com algumas lágrimas a aflorar, olham a Bandeira.


Em baixo, as armas disparam salvas.


Ao ouvir as salvas e ter conhecimento da tomada da Pedra Verde, o capitão comandante da Bateria de 7,5 mandou carregar as peças apenas com cargas, para fazer tiros de salva a comemorar o acontecimento. Carregadas e prontas as peças, mandou fogo pela direita. Seis tiros, um de cada vez. Os estampidos das explosões dos primeiros tiros apenas se ouviram nas imediações das peças.


Perante o facto, o capitão gritou:


- Parem, parem com isso, que só faz paaff… paaff… paaff…; não faz pum!


O capitão artilheiro dos obuses 8,8 cm, para mofar do camarada ou das peças 7,5 cm gritou:


- Ó capitão, as tuas peças são maricas! Só fazem paaff… paaff… paaff… Pum é para o 8,8!


Os militares dos obuses 8,8 cm não contiveram uma risada geral. Os militares das 7,5 cm ficaram em silêncio.


A Pedra Verde estava tomada.



O Pelotão artilheiro obuses 8,8 cm retira da Pedra Verde.





Sob forte cacimba, o pelotão artilheiro de obuses 8,8 cm retira da Pedra Verde. Alguns militares protegem-se com capas.




Um militar do pelotão artilheiro junto de uma cubata destruída; ao fundo, a Pedra Verde.



Um obus 8,8 cm no momento do tiro.


Obus 8,8 cm no momento do tiro.




Militares artilheiros na mata, próximo da Pedra Verde.



Militares artilheiros nas proximidades da Pedra Verde, que se vê em segundo plano.


Uma companhia de infantaria entra na mata, a caminho da Pedra Verde.

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OS VÍDEOS



Savimbi aliado com as tropas portuguesas


REPORTAGEM RÁDIO NA PEDRA VERDE


Nambuamgongo


IMAGENS DE GUERRA

MANUEL ALEGRE REGRESSA A NAMBUANGONGO


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