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domingo, 15 de setembro de 2019

Baú de Recordações | Ivone Silva


Maria Ivone da Silva Nunes, mais conhecida apenas por Ivone Silva, nasceu ao vigésimo quarto dia do mês de Abril, no ano de 1935, em Ferreira do Zêzere. Filha de José António Silva e Ermelinda Rosa Nunes Dias e irmã de Linda Silva (também actriz), Ivoneteve desde cedo contacto com o mundo do espectáculo, uma vez que embora ambos os seus pais estivessem ligados à alfaiataria, José António era também actor,tendo chegado a fazer participações no cinema mudo português, em filmes tais como O Ladrão da Luva Branca e O Zé do Telhado.

Ivone teve assim, desde cedo, um grande fascínio pelo teatro e por toda a magia que envolvia esta arte, embora, devido a pertencer a uma família modesta, tivesse grandes dúvidas em relação a poder seguir o ramo.
À medida que crescia, mantinha o amor ao teatro, que nunca abandonava o seu pensamento.






























Aos 13 anos, após terminar a escolaridade obrigatória da época, Ivone começou a trabalhar como costureira e depois como ajudante comercial. Aos 16 anos emigrou para Paris, onde trabalhou durante dez anos,porém, não se sentia de qualquer forma vocacionada para este tipo de trabalhos.Ivone regressa a Portugal em 1963.
Ao saber da notícia de que era necessária uma discípula para uma companhia de teatro que ia a África, foi ao Parque Mayer, falar com José Miguel, convencida que era a sua grande oportunidade. Após prestar provas de leitura, Ivone foi aceite. Entre outros, estavam na companhia Camilo de Oliveira e Anita Guerreiro.
Ivone Silva estreou-se assim nessa companhia em Luanda,nas palavras da própria “com um número de cucas, eram quatro discípulas, o actor falava e nós dizíamos aquelas deixazinhas pequeninas.”. Apesar da sua participação nessa peça ser pequena, Ivone tinha uma grande capacidade de memorização e um enorme fascínio pelo teatro, pelo que à falta de algumas colegas da companhia, começou aos poucos a substituí-las.


Ao voltar a Lisboa, Ivone era para ter entrado na Revista O Gesto é Tudo, onde se estreou Irene Cruz. Contudo, o elenco estava já composto e o único cargo que poderiam dar a Ivone era o de chefe de quadro, mas aquele não era o lugar certo para ela, Ivone tinha talento e a hipótese do público se habituar a vê-la como chefe de quadro podia comprometer a sua ascenção. Porém, a atracção brasileira da Revista partiu e Ivone foi chamada para a substituir. Criaram-lhe um número de nome O Cha-cha-cha da vassoura, que foi um sucesso.


Depois disso, entrou na Revista Vamos à Festa (1963, Teatro ABC), onde tinha já alguns números de relevo e onde participava também como chefe de quadro, com Francisco Nicholson, com os Meninos-Bem. A Revista seguinte era chamada Gente Nova em Biquíni (1963, Pavilhão Português - Teatro ABC ao ar livre) e tinha grande qualidade, porém, foi feita com intuito de trazer novos nomes à Revista, tendo falta de reconhecimento dos nomes por parte do público,esteve em cena muito pouco tempo. Seguiu-se Chapéu Alto”(1963, ABC), Lábios Pintados (1964, ABC), É Regar e Pôr ao Luar (1964, ABC) onde se estreia Mariema. 

E depois uma Revista exclusivamente feminina Ai Venham Vê-las (1964, ABC) onde estava também Hermínia Silva.Seguidamente veio Zona Azul (1965, ABC), onde estava também a sua irmã Linda Silva e onde contracenou pela primeira e única vez com o actor António Silva, um dos grandes nomes do teatro de revista.


Depois dessa Revista, Ivone tentou entrar para o conservatório, na esperança de saciar a sua sede de aprender sobre teatro.Injustamente, a sua entrada foi recusada, devido a trabalhar em Revista.















Seguem-se as Revistas Dá-lhe Agora (1965, Pavilhão Português) Mini-Saias (1966, ABC), onde ganhou o Prémio da Imprensa e do SNI (Secretariado Nacional da Informação) e de onde se destacam as rábulas Os pequenos cantores de Viana; Revista Tudo à Mostra (1966, ABC), Mulheres à Vela (1967, ABC) e Sete Colinas (1967, ABC).  Ivone continuou no Parque Mayer, indo para o Variedades na Revista Pois, Pois (1967, Variedades) onde trabalhou com Raul Solnado, Revista Elas é que Sabem (1969, ABC), Ena! Já Fala! (1969, ABC), Revista Alto Lá com Elas! (1970, ABC) e Pega de caras (1970, ABC). 

Vai então para o Teatro Maria Vitória onde entra nas seguintes Revistas: Ó Zé, Aperta o Cinto (1971, Maria Vitória), Cá Vamos Pagando e Rindo (1972, Maria Vitória), Pronto a Despir (1972, Maria Vitória) e Ver, Ouvir e Calar (1973, Maria Vitória). De volta ao ABC, vem então a Revista Uma no Cravo, Outra na Ditadura! (1974, ABC) e P'ra Trás Mija a Burra! (1974, ABC). 


Nesta fase alta da sua carreira, Ivone torna-se empresária de teatro, criando uma sociedade artística que continua a trazer sucessos ao Teatro ABC. Deste período, são de destacar as rábulas de grande sucesso A Guerra SantaA Vira Vestidos, de onde sai a célebre frase "Com um simples vestido preto, eu nunca me comprometo!" e por fim, um dos seus maiores êxitos de sempre, a rábula Olívia, Olívia onde se dividia entre Olívia Patroa e Olívia Costureira.


Segue-se então a Revista O Bombo da Festa (1976, Maria Vitória), Ó da Guarda (1977, ABC) onde teve de, após uma semana, abandonar o elenco, sendo substituída por Anabela; Aldeia da Roupa Suja (1979, Variedades) esta Revista contou no elenco com Camilo de Oliveira e Nicolau Breyner, no entanto, não sendo um grande sucesso, ficou pouco tempo em cena. Ivone entra então na Revista Olh'ó Patego, Olh'ó Balão (1979, Maria Vitória) onde substitui Rita Ribeiro, entra depois na Revista Não Há Nada Para Ninguém (1981, Maria Vitória), Sem Rei Nem Rock! (1982, Maria Vitória). Segue-se uma comédia musical Eu Desço na Próxima e Você? considerada o maior fracasso da sua carreira.


A seguir vem um grande sucesso de Revista, de nome Não Batam Mais No Zézinho! que contou com nomes como Eugénio Salvador, Henrique Santana, Marina Mota e muitos mais. Este sucesso esteve em cena durante 14 meses, com 13 sessões semanais. Ivone entra então na Revista Isto é Maria Vitória! (1986, Maria Matos) onde se estreia também a encenar, recebendo enormes ovações no número Um drama no teatro da alegria, de homenagem ao Maria Vitória. É nesta Revista que Ivone nota os primeiros sintomas da sua doença, retirando-se, para posteriormente produzir ao lado de Camilo de Oliveira uma nova Revista no Teatro Laura Alves, a primeira Revista do ano a estrear: Cá estão Eles! (1987, Laura Alves). Aqui, Ivone passou por grandes dificuldades em termos de saúde, provando simultaneamente a enorme força do seu amor ao teatro, pois chegou a estar em palco ajoelhada devido às dores, mas sem nunca abandonar a cena, por amor a esta arte e um extraordinário respeito ao público. 

Foi então internada no IPO, tendo mesmo de deixar este elenco e sendo substituída, por sua vontade, pela actriz Luísa Barbosa.
Além de Revista, fez também outros géneros teatrais, como o drama Feliz Natal, Avózinha pelo grupo Teatro Hoje (1979, Teatro Experimental de Cascais), drama Os Verdugos pelo mesmo grupo (1980, Teatro Experimental de Cascais), ambos foram representados no Brasil, sendo que o primeiro lhe valeu o Prémio da Crítica. Fez também as peças Auto da Barca do Inferno e Auto da Índia que foram também ao Brasil, fez finalmente a peça Andorra pelo Grupo Quatro.


Mas Ivone Silva não se dedicou exclusivamente ao palco, esteve também na sétima arte, com o filme Estrada da Vida (1968) O Destino Marca a Hora (1969) e A Maluquinha de Arroios (1970), realizados por Henrique Campos.


Outra das áreas de destaque na vida da «Açorda de Coentros» (assim lhe chamava o poeta Ary dos Santos) é a televisão, desde o mais marcante: Sabadabadu (1981), com Camilo de Oliveira, a A Feira (1978), Ivone Faz Tudo (1979) Querida Televisão e Ponto e Vírgula (1984). Nestes programas, Ivone teve a oportunidade de lançar vários talentos do teatro português, como é o caso do actor Carlos Cunha. Faz ainda uma peça televisiva de nome A Bisbilhoteira (1980/1981).


Foi operada e esteve internada algum tempo, depois de ser forçada a abandonar o elenco da revista Cá Estão Eles e, após ter alta, Ivone foi ainda madrinha de um jogo amigável de futebol entre o Teatro ABC e o Teatro Maria Vitória. À equipa vencedora (ABC) foi entregue uma taça com o seu nome.

Ivone faleceu dia 20 de Novembro do ano de 1987, em Lisboa e deixou assim uma grande saudade ao público português que a recorda e também tristeza por parte dos mais novos interessados na cultura e na arte em Portugal, que desejavam poder ter contactado com esta grande Mulher do teatro.


Ivone deixou assim vago um lugar nunca ocupado até hoje e que nunca ninguém ocupará, deixando um vazio nos corações do público que a ama sempre, que se enche ao sentir os seus passos no Parque Mayer.


Mas decerto gostaria que a lembrássemos com um sorriso, por isso Ivone, por tudo o que nos deixou, pela sua entrega e por tanto que podemos aprender assistindo aos pequenos grandes pedaços da sua vida que ficaram registados no tempo, um grande, grande OBRIGADA. Fica o meu enorme respeito e admiração por si, onde quer que esteja, num sorriso e num eterno aplauso de pé!




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