Reparei que muitas pessoas estão a partilhar os resultados de um questionário eleitoral designado “bússola política”. À primeira vista, assemelha-se a projetos semelhantes já feitos no passado. O inquirido responde a um conjunto de questões e, no fim do questionário, o teste revela qual é o partido do qual o inquirido está mais próximo politicamente, tendo por base os valores e preferências reveladas pelo inquirido em áreas como a política económica, social, cultural ou migratória. Estes inquéritos costumam ser feitos por centros de investigação em ciência política, que se pautam por critérios de independência na sua construção. Ainda que os pressupostos utilizados tenham sempre um forte elemento subjetivo e devam ser escrutinados com sentido crítico, o facto de serem realizados por uma instituição que se pauta por critérios académicos de intervenção na sociedade garante um patamar mínimo de independência.
Ora, não é isso que ocorre com esta bússola política que se encontra agora a ser partilhada. Se olharem com atenção, no final do site pode verificar-se que a bússola foi criada pelo “Instituto Mises Portugal”, o representante nacional de uma instituição reconhecida internacionalmente por promover os valores da economia austríaca e do neoliberalismo.
Houve dois elementos que me intrigaram de imediato, por serem demasiado imprecisos e indefensáveis. Em primeiro lugar, o PNR (partido de extrema-direita) está num eixo categorizado como “economia socialista”. Eu percebo a ideia subjacente: o que eles pretendem sinalizar é que se trata um partido que defende o intervencionismo do estado na economia. Mas nunca um projeto feito por uma instituição fiável poderia chamar a isso “economia socialista”. É um erro grosseiro que me levou de imediato a suspeitar. O outro exemplo refere-se ao posicionamento da Iniciativa Liberal: é o único partido que está no quadrante economia de mercado/libertário. Com efeito, qualquer cidadão nessa área será facilmente enquadrado nesse partido e não noutros possíveis nesse domínio ideológico, como o PSD ou mesmo o CDS. Trata-se de um enviesamento muito conveniente: a maioria dos elementos do instituto Mises está envolvido ou é apoiante da Iniciativa Liberal.
Este inquérito, em resumo, não é mais do que um exercício de manipulação eleitoral conduzido por pessoas próximas da candidatura da Iniciativa Liberal. Não ajudem à sua divulgação.
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