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quarta-feira, 25 de setembro de 2019

João Oliveira: “Até hoje, ninguém me soube explicar porque é que o défice imposto é de 3%”

Em entrevista ao Jornal Económico, o líder parlamentar do PCP insiste na renegociação da dívida, de forma a não hipotecar o desenvolvimento do país, apesar de o partido ter aprovado quatro Orçamentos do Estado contrários a esse princípio. Diz que a política do Governo de António Costa em relação à dívida pública não é sustentável e defende a afirmação da soberania e independência nacionais

Continuam a defender a renegociação da dívida e “a libertação do país da submissão ao euro”. Porquê insistir nestas medidas quando durante quatro anos aprovaram Orçamentos do Estado contrários a isso?

Essa era uma das questões que esteve presente ao longo destes quatro anos e em que não fomos capazes de nos entender com o PS. Os Orçamentos do Estado que foram aprovados teriam permitido ao Governo do PS encetar um processo de renegociação da dívida. O PS optou pelo contrário e fazer uma gestão da dívida, de contração de novos empréstimos para substituir anteriores, beneficiando de uma conjuntura de redução das taxas de juro. 
A nós não nos parece que seja uma política sustentável e o resultado está à vista.











A que resultado se refere?
A dívida pública aumentou e, ainda que o Governo possa dizer que a situação está controlada, a política relativamente à dívida pública é igual à casa de madeira dos três porquinhos. Já não é a casa de palha, que com um sopro vai à vida, como aconteceu em 2008/2011, com a tragédia a que o país foi submetido com aquela operação de chantagem dos especuladores. Mas também não é uma política sólida e sustentável, porque continuamos a enfrentar um serviço da dívida que fica muito acima das capacidades reais de criação de riqueza do país para suportar esses encargos a longo prazo. Vamos chegar ao final de 2018, com um saldo das contas públicas positivo em aproximadamente 4.500 milhões de euros. Porque é que temos afinal um défice? Porque entretanto aparecem 7 mil milhões de euros de juros da dívida por pagar. São 7 mil milhões de euros que podíamos utilizar para desenvolver o país, mas são queimados numa fogueira a que se chama serviço da dívida. Isso exige uma renegociação, não hipotecando com isto o desenvolvimento do país.
Como seria feita essa renegociação com os credores?
Tem de ser uma renegociação feita em função dos objetivos de desenvolvimento do país. Temos de ver o que podemos suportar de pagamento do serviço da dívida. Essas medidas têm de ser tomadas em articulação com outras questões e vencendo outras barreiras, nomeadamente a das regras da União Económica e Monetária e, naturalmente, aquilo que são as regras do sistema financeiro. São três aspetos que têm de ser considerados em conjunto, como um todo.
É possível afirmar a soberania e a independência nacionais nos moldes atuais da Europa?
A Suíça, não integrando a União Europeia, não deixou de ser um Estado soberano e de se relacionar com os outros Estados. Aliás, todos os outros Estados que não fazem parte da UE continuam a ser Estados soberanos e a relacionar-se com outros. Não há nada que nos impeça de fazer o mesmo. Mas não houve até hoje nenhum Governo português que tivesse feito o teste da defesa da soberania e dos interesses nacionais perante imposições da UE. Estamos sujeitos a metas do défice que até hoje ninguém conseguiu explicar porque é que são estas e não são outras. Porque é que o défice que nos é imposto é de 3% e não é de 5 ou de 2? Até hoje ninguém soube explicar.

jornaleconomico.sapo.pt

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