Guerrilha e contraguerrilha
O confronto armado entre Portugal e os movimentos de libertação de Angola, Guiné e Moçambique desenrolou-se no quadro que as doutrinas militares e políticas ocidentais classificam de actos violentos da «luta subversiva», nelas incluindo não apenas as suas acções militares típicas, mas também operações tácticas de grande envergadura em ambiente de guerrilha.
Embora de um lado se encontrasse um exército regular e do outro guerrilheiros, na prática ambos os contendores acabaram por realizar o mesmo tipo de acções. Pode, no entanto, dizer-se que a actividade militar destes últimos tentou atingir os seus objectivos principalmente através da interdição de vias de comunicação, ataques a aquartelamentos e emboscadas. Utilizou com frequência e intensidade minas de todos os tipos, e as emboscadas foram principalmente dirigidas contra colunas de viaturas ou patrulhas apeadas. Para o final da guerra, levou a cabo ataques de maior envergadura, como foram os assaltos coordenados às posições de Guidage e Guilege, uma no norte e outra no sul da Guiné.
As acções militares da contraguerrilha efectuadas pelas forças portuguesas, embora se considerasse que podiam resumir-se a adoptar táctica semelhante à da guerrilha, foram sobretudo condicionadas pela maior ou menor capacidade de resistência dos militares ao terreno e ao clima. Por isso, as operações mais vulgares foram quase sempre de curta duração, raramente excedendo os quatro dias e levadas a efeito por unidades de tipo pelotão/grupo de combate de trinta homens ou, mais raramente, por uma companhia reduzida (três grupos de combate), que actuava dentro de uma área à sua responsabilidade, a zona de acção (ZA).
Por norma, estas operações constavam de um plano de actividade operacional (PAO), e podiam ser dos seguintes tipos:
- Defesa de pontos sensíveis;
- Protecção de itinerários;
- Patrulhamentos (nomadização);
- Batida (com eventual apoio numa acção de cerco);
- Limpeza de povoação;
- Golpe de mão;
- Emboscada;
- Interdição de fronteira.
O confronto armado entre Portugal e os movimentos de libertação de Angola, Guiné e Moçambique desenrolou-se no quadro que as doutrinas militares e políticas ocidentais classificam de actos violentos da «luta subversiva», nelas incluindo não apenas as suas acções militares típicas, mas também operações tácticas de grande envergadura em ambiente de guerrilha.
Embora de um lado se encontrasse um exército regular e do outro guerrilheiros, na prática ambos os contendores acabaram por realizar o mesmo tipo de acções. Pode, no entanto, dizer-se que a actividade militar destes últimos tentou atingir os seus objectivos principalmente através da interdição de vias de comunicação, ataques a aquartelamentos e emboscadas. Utilizou com frequência e intensidade minas de todos os tipos, e as emboscadas foram principalmente dirigidas contra colunas de viaturas ou patrulhas apeadas. Para o final da guerra, levou a cabo ataques de maior envergadura, como foram os assaltos coordenados às posições de Guidage e Guilege, uma no norte e outra no sul da Guiné.
As acções militares da contraguerrilha efectuadas pelas forças portuguesas, embora se considerasse que podiam resumir-se a adoptar táctica semelhante à da guerrilha, foram sobretudo condicionadas pela maior ou menor capacidade de resistência dos militares ao terreno e ao clima. Por isso, as operações mais vulgares foram quase sempre de curta duração, raramente excedendo os quatro dias e levadas a efeito por unidades de tipo pelotão/grupo de combate de trinta homens ou, mais raramente, por uma companhia reduzida (três grupos de combate), que actuava dentro de uma área à sua responsabilidade, a zona de acção (ZA).
Por norma, estas operações constavam de um plano de actividade operacional (PAO), e podiam ser dos seguintes tipos:
- Defesa de pontos sensíveis;
- Protecção de itinerários;
- Patrulhamentos (nomadização);
- Batida (com eventual apoio numa acção de cerco);
- Limpeza de povoação;
- Golpe de mão;
- Emboscada;
- Interdição de fronteira.
15 de Março - O dia do terror
A manhã de 15 de Março de 1961 surgiu clara na região dos Dembos, distrito angolano do Cuanza-Norte, mas no horizonte divisavam-se já as nuvens que, da parte da tarde, encharcariam as espessas matas de cafezais.
As estradas e as picadas ficaram lamacentas e quase intransitáveis, porque, embora o Governo tivesse gasto milhares de contos na via que liga Luanda a Carmona, nenhuma delas tinha o piso alcatroado. Que importa, se em meados de Maio começa a época do «cacimbo», que secará os lamaçais e alisará os trilhos por onde o precioso ouro correrá em quantidades sempre maiores para o sôfrego porto de Luanda, deixando nos cofres da província perto de dois milhões de contos?
A ninguém pareceu estranho que, logo às sete da manhã, grupos de negros estacionassem às portas das «cantinas» da povoação de Quitexe. Todos eram «contratados», fregueses conhecidos e obrigatórios que pagavam com café as dívidas que faziam. Os comerciantes sempre tinham confiado na sua própria acção e nas autoridades para que assim fosse. O posto administrativo estava agora instalado num edifício moderno, alinhado pela estrada nova, pois Quitexe progredia de ano para ano.
Nessa manhã, cerca das seis horas, o gerente da fazenda Zalala fez o chefe do posto levantar-se, para lhe comunicar que, na véspera, haviam fugido mais de cem homens da sua propriedade e ele notava agitação invulgar entre os que ficaram em Nova Caipemba. O gerente regressou à sua fazenda e o chefe decidiu percorrer algumas roças da região. Tudo parecia em ordem e lembrou-se da pequena demarcação que um colono fizera recentemente nas terras que viriam a produzir mais café. Era a última da área.
O funcionário do Governo não queria acreditar no que via: o colono, um empregado e a mulher deste jaziam num charco de sangue, cortados à catanada. Voltou apressadamente ao posto, alertando de passagem as outras fazendas, mas, ao cruzar-se com uns brancos que vinham do Quitexe, estes avisaram-no que não fosse ao posto, pois não ficara lá ninguém vivo.
E a sua mulher? E os seus filhos? Ninguém sabia.
A manhã de 15 de Março de 1961 surgiu clara na região dos Dembos, distrito angolano do Cuanza-Norte, mas no horizonte divisavam-se já as nuvens que, da parte da tarde, encharcariam as espessas matas de cafezais.
As estradas e as picadas ficaram lamacentas e quase intransitáveis, porque, embora o Governo tivesse gasto milhares de contos na via que liga Luanda a Carmona, nenhuma delas tinha o piso alcatroado. Que importa, se em meados de Maio começa a época do «cacimbo», que secará os lamaçais e alisará os trilhos por onde o precioso ouro correrá em quantidades sempre maiores para o sôfrego porto de Luanda, deixando nos cofres da província perto de dois milhões de contos?
A ninguém pareceu estranho que, logo às sete da manhã, grupos de negros estacionassem às portas das «cantinas» da povoação de Quitexe. Todos eram «contratados», fregueses conhecidos e obrigatórios que pagavam com café as dívidas que faziam. Os comerciantes sempre tinham confiado na sua própria acção e nas autoridades para que assim fosse. O posto administrativo estava agora instalado num edifício moderno, alinhado pela estrada nova, pois Quitexe progredia de ano para ano.
Nessa manhã, cerca das seis horas, o gerente da fazenda Zalala fez o chefe do posto levantar-se, para lhe comunicar que, na véspera, haviam fugido mais de cem homens da sua propriedade e ele notava agitação invulgar entre os que ficaram em Nova Caipemba. O gerente regressou à sua fazenda e o chefe decidiu percorrer algumas roças da região. Tudo parecia em ordem e lembrou-se da pequena demarcação que um colono fizera recentemente nas terras que viriam a produzir mais café. Era a última da área.
O funcionário do Governo não queria acreditar no que via: o colono, um empregado e a mulher deste jaziam num charco de sangue, cortados à catanada. Voltou apressadamente ao posto, alertando de passagem as outras fazendas, mas, ao cruzar-se com uns brancos que vinham do Quitexe, estes avisaram-no que não fosse ao posto, pois não ficara lá ninguém vivo.
E a sua mulher? E os seus filhos? Ninguém sabia.
Norte de Angola
A reocupação do Norte de Angola pelas autoridades portuguesas foi condicionada pela debilidade do dispositivo militar em todos os territórios ultramarinos. Em Angola, em 1960, os efectivos militares eram inferiores a cinco mil homens, mal armados, mal equipados e mal instruídos.
Na «Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África», documento oficial do Exército sobre a guerra, afirma-se: «Após a independência do Congo ex-Belga, a 30 de Junho de 1960, em virtude das facilidades concedidas por este novo país, os movimentos político-subversivos tornam-se mais activos, vindo a confirmar os indícios técnicos que as autoridades portuguesas possuíam de que se aproximava uma fase violenta em Angola (...) Perante o perigo, o dispositivo militar de Angola é reforçado - ainda em 1960 - com tropas metropolitanas: três companhias de caçadores especiais.»
É este «reforço» de quatrocentos homens que as autoridades portuguesas consideram adequado face à situação que evolui, aparentemente, sem causar mais preocupações ao Governo português.
A «contaminação» do Congo leva a que uma publicação oficial da época resuma a situação da seguinte maneira: « ( ... ) a actividade desenvolvida no nosso território, no final de 1960, dava os seus frutos, no Norte de Angola, pois já se notavam ali sinais de menos respeito e até de insubordinação entre alguns trabalhadores indígenas.» (Cadernos Militares, «O Caso de Angola»).
Em Janeiro de 1961 ocorrem os acontecimentos da Baixa do Cassange e, em 4 de Fevereiro, a Casa de Reclusão Militar, a Esquadra de Polícia Móvel e a Cadeia de São Paulo são assaltadas por um grupo de guerrilheiros. Estes acontecimentos motivam a seguinte conclusão da referida resenha: «Os efectivos militares da capital, na sua maioria formados por tropas nativas, eram muito reduzidos para manter a ordem ... »
Em 15 de Março do mesmo ano, a UPA/FNLA assalta e queima povoações e fazendas no Norte, sendo de notar que em nenhuma das localidades existia guarnição militar.
É, pois, com os efectivos existentes desde Junho de 1960, incluindo o reforço das três companhias de caçadores especiais - colocadas em Cabinda, Toto e Luanda - que se inicia a reocupação do Norte e se procura garantir a segurança das pessoas e bens.
Finalmente, em 13 de Abril, perante a evidente gravidade da situação e a necessidade de medidas militares de maior amplitude, Oliveira Salazar, que passara também a ocupar a pasta da Defesa Nacional, após a tentativa de golpe de Estado que pretendia afastá-lo (golpe Botelho Moniz), ordenou o envio rápido e em força de expedições militares para Angola, saindo os primeiros contingentes de Lisboa em 19 (via aérea) e 21 (via marítima) desse mês - o primeiro contingente militar, para Angola, por via marítima embarca a bordo do navio Niassa, em 21 de Abril, os soldados embarcam com o uniforme de caqui, capacete e equipamento de campanha.
Os primeiros efectivos militares chegam, assim, a Angola, em 1 de Maio:
- dez meses após a independência do Congo ex-Belga;
- quatro meses após os acontecimentos da Baixa do Cassange;
- três meses após o assalto às prisões de Luanda;
- mês e meio após o início das acções da UPA/FNLA no Norte de Angola.
Apesar de tudo, como o citado texto oficial da história das campanhas realça, «as Forças Armadas não foram surpreendidas pela decisão do Governo: havia mais de um ano que vinham estudando a reorganização e o reforço das forças no Ultramar, com prioridade para Angola».
Depois da resposta dada pelas forças presentes em Angola vai iniciar-se a reocupação do Norte, agora por forças militares portuguesas expedicionárias.
Em 1 de Maio de 1961, chegou no navio Niassa o primeiro grande contingente militar a Luanda e, em meados desse mês, as colunas militares destas forças, constituídas por unidades do tipo batalhão e companhia de caçadores, começaram a deslocar-se para Nordeste. A fase de reocupação fora iniciada.
A prioridade do comando militar é impedir, ou no mínimo dificultar, a ligação dos guerrilheiros às bases no Congo, cortando-lhe as linhas de reabastecimento através da fronteira.
Os batalhões de caçadores 88 e 92, desembarcados do Niassa, recebem a missão de ocupar, respectivamente, Damba e Sanza Pombo, no recém-criado Sector Operacional 2, com sede no Negaje, e destacam companhias para junto da fronteira: Maquela do Zombo e Santa Cruz.
O Batalhão de Caçadores 156, ocupa São Salvador e tem uma companhia em Cuimba. Para atingir as regiões a este dos Dembos, é necessário utilizar o longo itinerário de Luanda para o Negaje por Catete, Salazar e Lucala, o único que os guerrilheiros ainda não dominavam. Uma companhia do Batalhão de Caçadores 88 demorou dezoito dias de Luanda a Maquela do Zombo, tendo de remover dois mil abatises e mais de trezentas valas que cortavam os itinerários. O batalhão de Ambrizete instala uma companhia em Santo António do Zaire e outra em Nóqui.
Forças da Marinha, desembarcadas em Ambrizete, ocupam Tomboco e Quinzau, em 14 de Junho.
O dispositivo de interdição da fronteira está montado no início de Julho, o que permite iniciar a fase de reocupação do interior dos Dembos, que vai durar cerca de quatro meses e cujos pontos mais significativos serão a tomada de Nambuangongo - Operação Viriato - , de Quipedro, da serra da Canda e da Pedra Verde, o último refúgio .
A reocupação do Norte de Angola pelas autoridades portuguesas foi condicionada pela debilidade do dispositivo militar em todos os territórios ultramarinos. Em Angola, em 1960, os efectivos militares eram inferiores a cinco mil homens, mal armados, mal equipados e mal instruídos.
Na «Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África», documento oficial do Exército sobre a guerra, afirma-se: «Após a independência do Congo ex-Belga, a 30 de Junho de 1960, em virtude das facilidades concedidas por este novo país, os movimentos político-subversivos tornam-se mais activos, vindo a confirmar os indícios técnicos que as autoridades portuguesas possuíam de que se aproximava uma fase violenta em Angola (...) Perante o perigo, o dispositivo militar de Angola é reforçado - ainda em 1960 - com tropas metropolitanas: três companhias de caçadores especiais.»
É este «reforço» de quatrocentos homens que as autoridades portuguesas consideram adequado face à situação que evolui, aparentemente, sem causar mais preocupações ao Governo português.
A «contaminação» do Congo leva a que uma publicação oficial da época resuma a situação da seguinte maneira: « ( ... ) a actividade desenvolvida no nosso território, no final de 1960, dava os seus frutos, no Norte de Angola, pois já se notavam ali sinais de menos respeito e até de insubordinação entre alguns trabalhadores indígenas.» (Cadernos Militares, «O Caso de Angola»).
Em Janeiro de 1961 ocorrem os acontecimentos da Baixa do Cassange e, em 4 de Fevereiro, a Casa de Reclusão Militar, a Esquadra de Polícia Móvel e a Cadeia de São Paulo são assaltadas por um grupo de guerrilheiros. Estes acontecimentos motivam a seguinte conclusão da referida resenha: «Os efectivos militares da capital, na sua maioria formados por tropas nativas, eram muito reduzidos para manter a ordem ... »
Em 15 de Março do mesmo ano, a UPA/FNLA assalta e queima povoações e fazendas no Norte, sendo de notar que em nenhuma das localidades existia guarnição militar.
É, pois, com os efectivos existentes desde Junho de 1960, incluindo o reforço das três companhias de caçadores especiais - colocadas em Cabinda, Toto e Luanda - que se inicia a reocupação do Norte e se procura garantir a segurança das pessoas e bens.
Finalmente, em 13 de Abril, perante a evidente gravidade da situação e a necessidade de medidas militares de maior amplitude, Oliveira Salazar, que passara também a ocupar a pasta da Defesa Nacional, após a tentativa de golpe de Estado que pretendia afastá-lo (golpe Botelho Moniz), ordenou o envio rápido e em força de expedições militares para Angola, saindo os primeiros contingentes de Lisboa em 19 (via aérea) e 21 (via marítima) desse mês - o primeiro contingente militar, para Angola, por via marítima embarca a bordo do navio Niassa, em 21 de Abril, os soldados embarcam com o uniforme de caqui, capacete e equipamento de campanha.
Os primeiros efectivos militares chegam, assim, a Angola, em 1 de Maio:
- dez meses após a independência do Congo ex-Belga;
- quatro meses após os acontecimentos da Baixa do Cassange;
- três meses após o assalto às prisões de Luanda;
- mês e meio após o início das acções da UPA/FNLA no Norte de Angola.
Apesar de tudo, como o citado texto oficial da história das campanhas realça, «as Forças Armadas não foram surpreendidas pela decisão do Governo: havia mais de um ano que vinham estudando a reorganização e o reforço das forças no Ultramar, com prioridade para Angola».
Depois da resposta dada pelas forças presentes em Angola vai iniciar-se a reocupação do Norte, agora por forças militares portuguesas expedicionárias.
Em 1 de Maio de 1961, chegou no navio Niassa o primeiro grande contingente militar a Luanda e, em meados desse mês, as colunas militares destas forças, constituídas por unidades do tipo batalhão e companhia de caçadores, começaram a deslocar-se para Nordeste. A fase de reocupação fora iniciada.
A prioridade do comando militar é impedir, ou no mínimo dificultar, a ligação dos guerrilheiros às bases no Congo, cortando-lhe as linhas de reabastecimento através da fronteira.
Os batalhões de caçadores 88 e 92, desembarcados do Niassa, recebem a missão de ocupar, respectivamente, Damba e Sanza Pombo, no recém-criado Sector Operacional 2, com sede no Negaje, e destacam companhias para junto da fronteira: Maquela do Zombo e Santa Cruz.
O Batalhão de Caçadores 156, ocupa São Salvador e tem uma companhia em Cuimba. Para atingir as regiões a este dos Dembos, é necessário utilizar o longo itinerário de Luanda para o Negaje por Catete, Salazar e Lucala, o único que os guerrilheiros ainda não dominavam. Uma companhia do Batalhão de Caçadores 88 demorou dezoito dias de Luanda a Maquela do Zombo, tendo de remover dois mil abatises e mais de trezentas valas que cortavam os itinerários. O batalhão de Ambrizete instala uma companhia em Santo António do Zaire e outra em Nóqui.
Forças da Marinha, desembarcadas em Ambrizete, ocupam Tomboco e Quinzau, em 14 de Junho.
O dispositivo de interdição da fronteira está montado no início de Julho, o que permite iniciar a fase de reocupação do interior dos Dembos, que vai durar cerca de quatro meses e cujos pontos mais significativos serão a tomada de Nambuangongo - Operação Viriato - , de Quipedro, da serra da Canda e da Pedra Verde, o último refúgio .
SELECÇÃO DE VÍDEOS - ENFERMEIRAS PARA-QUEDISTAS
VÍDEOS DISPOSTOS DE MANEIRA ALEATÓRIA
FOTOS - ENFERMEIRAS PARA - QUEDISTAS
http://tertuliadogarcia.blogspot.pt/
ESTIMADO(A) VISITANTE - SE QUISER DIMINUIR O TAMANHO DAS IMAGENS
É FAVOR CLIKAR NAS MESMAS
FONTES
blogueforanadaevaotres.blogspot.pt
fotos soltas da net
GUINÉ - OPERAÇÃO VULCANO - ATAQUE A BUBA -
CAPTURA DO CAPITÃO PERALTA (CUBANO)
Efectivamente os cinco bigrupos do PAIGC que pretendiam entrar em Buba (cerca de 300 homens) foram emboscados por um grupo de combate da CCaç 2382, comandado pelo Alf.Mendes Ferreira, e por elementos do Pelotão de Milícia, postados no exterior do aquartelamento para lá da pista de aviação, tendo retirado com baixas e sem atingir o seu objectivo. Nessa retirada utilizaram o largo trilho aberto quando da sua aproximação.
Enquanto isto, a nossa artilharia, 2º.Pelotão/BAC comandado pelo Fur.Mil.Gonçalves de Castro, atingia com eficácia a posição dos morteiros inimigos. Ficaram no local e foram capturadas na madrugada seguinte pelos fuzileiros do DFE7, 158 granadas, das 180 com que contava o Comandante Peralta na sua "Ordem de Fogo" preparando o ataque a Buba.
Entretanto, os dois morteiros 81, guarnecidos pelo Pel.Mort.2138, atingiam a posição ocupada pelo comando do ataque In, instalado na margem direita do Rio Mancamã, junto à foz. No lusco-fusco desse fim de tarde, viu-se, do quartel, a confusão de vultos em fuga, por entre o capim, nessa outra margem do rio. A maré estava baixa. Um frémito percorreu os defensores. Elementos do DFE 7, da CCaç 2382 e da Milícia, sob o comando do Tenente Nuno Barbieri, alcançam a margem do rio Bafatá fronteira à posição dos canhões sem recuo e do comando inimigo. É aí deixada uma base de apoio comandada pelo Alf.Domingos, da CCaç 2382, enquanto o Tenente Barbieri tenta ganhar a margem oposta no comando dos restantes voluntários, actuação esta que fez aumentar a confusão existente no dispositivo inimigo. Uma noite sem lua caíra, entretanto. Foi decidido regressar ao quartel.
O relatório desta acção foi recebido com cepticismo em Bissau.
Porém, quando da captura do Comandante Peralta, pelos Paraquedistas, passados poucos dias, foi constatado que os planos de sua autoria para atacar Buba se ajustavam à descrição por nós elaborada.
Gomes de Araújo
(Cap.Mil.Art)
- Então, comandante, aquele ataque a Buba!... Em Setembro de 1969, não correu bem !
- Não quero falar desse ataque. Não fui apanhado por muita sorte.
Conversa encerrada com o comandante Manecas, o homens dos mísseis Strela.
Relendo o meu Diário:
Empada, 16 de Outubro de 1969: Do pelotão que está em Buba chegam novidades. Há dias houve por lá um terrível ataque com tentativa de assalto. Atacaram do sítio habitual do lado do rio com 10 Canhões, enquanto do lado da pista fazia o desenvolvimento do assalto, procurando apanhar a tropa desprevenida. Segundo dizem os meus colegas eram mais de duzentos, a avançarem em arco para que, se as nossas forças saíssem, as envolverem. Felizmente estava emboscado um Pelotão que os detectou.
Parece que foi um tremendo fogachal, enquanto os Fuzas perseguiam os que atacaram do lado do rio que pretendiam reforçar as forças de assalto. Ao fazer-se o reconhecimento, foi encontrado um rádio, sinal de que o ataque foi bem comandado e o fogo controlado por sentinelas avançadas. Foram descobertas e desenterradas 180 granadas de canhão sem recuo. Foi também ouvido ruído de viaturas.
Quando os Fuzas voltaram ao quartel, foram seguidos pelo IN que os atacou muito perto de Buba. Assim caíram entre dois fogos, o do IN e o de Buba que reagiu a um possível ataque sem saber que o fogo era destinado ao grupo de fuzas. No dia anterior tinha havido uma coluna a Nhala ,onde apenas foi encontrada uma A/P com dispositivo anti-levantamento eléctrico que felizmente não funcionou por ter as pilhas gastas. Nesta minha havia uma mensagem escrita; Esta é para Alferes Gonçalves. Infelizmente este furriel e não alferes, já está em Lisboa devido a um estilhaço que apanhou noutro ataque a Buba.
Insisto:
- Mas, comandante, vocês queriam mesmo entrar. O quartel e povoação foi cercado do lado da pista, como já o tinham feito em uns meses antes.
- Essa missão competia à infantaria. Eu estava no posto de controlo da artilharia. Tudo estava a correr mal. O levantamento do local tinha sido feito com a maré cheia e atacamos com maré vasa. Não foi possível colocar as armas nos locais previstos. Por outro lado a terra estava mole, os canhões enterraram-se e as granadas caíram quase todas no Rio. Preocupado com a orientação do fogo, não reparei e não fui apanhado por pouco. Foi um dia para esquecer.
E mais não disse o comandante.
Bem... Fui buscar um texto que me pareceu interessante ao blogue Luís Graça § Camaradas da Guiné (P2676) da autoria do Zé Teixeira que foi 1º.Cabo Enfermeiro da Ccaç 2381, companhia "irmã" daquela que comandei, A CCaç 2382. Consegui fazer a "copy" do texto mas... falhou a identificação do autor. Aqui fica, portanto.
(Outro comentário interessante, desta vez de Carlos Fabião, que fui buscar ao blogue "Batalhão de Caçadores 2885", marcador 4006).
Operação «Jove» 16 a 19 de Novembro de 1969
O «Corredor de Guileje» constituía a principal linha de infiltração do PAIGC na Guiné. Na realidade, tratava-se de um trilho de terra batida aberto na floresta, que vinha de Kandianfara, na República da Guiné-Conacri, e penetrava no território pela região do Quitafine, no Sul. Em Novembro de 1969, os serviços de escuta portugueses captaram a informação da passagem de uma importante coluna com material de guerra, na qual se deslocaria Nino Vieira, ao tempo o mítico comandante da Frente Sul, tendo o Comando-Chefe das forças portuguesas na Guiné atribuído ao Batalhão de Caçadores Pára-Quedistas n.º 12, a missão de interceptar os guerrilheiros.
Duas companhias de páras foram transportadas, em 16 de Novembro, por avião, de Bissau para Aldeia Formosa, no Sul, e a partir deste quartel os homens foram colocados no terreno por helicóptero.
A emboscada foi montada em 17 de Novembro, com setenta homens numa base recuada, trinta e ciinco em apoio e outros trinta e cinco sobre o trilho do «Corredor de Guileje».
Em 18 de Novembro, após progressão difícil pela mata e pouco depois de os 35 elementos deste grupo de assalto terem instalado o dispositivo, ouviram-se vozes e surgiram na picada dois homens armados, um branco e um negro. O pára-quedista apontador da metralhadora abriu fogo, matando o guerrilheiro negro e ferindo o branco, tendo este último conseguido fugir para o interior da floresta, tentando dissimular o rasto de sangue, mas, após perseguição difícil, os pára-quedistas encontraram o ferido completamente exausto pelo sangue perdido. Foram-lhe prestados os primeiros socorros e num interrogatório sumário identificou-se como sendo Pedro Rodriguez Peralta, capitão do exército cubano, de 32 anos, nascido em Santiago de Cuba. Seria evacuado por helicóptero para Bissau e dali para Lisboa, sendo libertado após o 25 de Abril de 1974.
Rosa Serra
Alf.Paraqª.
Parede
Ten.Paraqª
Legenda:Durante o 32º Encontro dos Especialistas da BA 12,em Vouzela, no dia 29.5.2009,o Victor Barata entregando uma lembrança à Enfª.Céu Pedro. Este acto foi extensivo a todas as enfermeiras Páraqª.presentes,simbolizando uma simples mas significativa homenagem às nossas "Mulheres de Guerra".
Foto:José Teixeira(direitos reservados)
Fez no passado dia 12 de Outubro um mês que a minha colega e amiga de todos nós, Maria Zulmira, nos deixou fisicamente. Todavia, nos nossos corações ela permanecerá, e não a esqueceremos tão depressa.
Além de ser a minha grande amiga, camarada, e comadre considerava-a como irmã, o que aumenta a minha saudade e tristeza por não a ter-mos entre nós.
A morte faz parte da vida de todos. Aos poucos e conforme Deus quer, vai levando uns e outros e ao nosso grupo o mesmo acontece sem que nada possamos fazer.
São essas as razões porque a memória dos Homens, anda por vezes distraída mas enquanto a minha não se ausentar totalmente quero, não só recordar mas ainda para que fique para a história, pelo menos como registo neste blogue, quem foi a Enfermeira Pára-quedista que assistiu e tratou o Capitão do Exército Cubano ao serviço do P.A.I.G.C. – Pedro Rodriguez Peralta, ferido e evacuado da zona do Guileje.
Sempre que se fala da captura do Capitão Peralta, fico muito triste e decepcionada.
Na recente publicação pelo Jornal Correio da Manhã, intitulada “As grandes Operações Militares da Guerra Colonial “ e até noutras publicações anteriores por outros órgãos de comunicação social, são referidos os nomes dos oficiais que planearam e executaram a “Operação Jove” realizada em 18 de Novembro de 1969 pelas Tropas Pára-quedistas na zona do Guileje. Foi nessa operação que foi ferido e capturado o referido oficial cubano e mais não dizem ficando a narrativa incompleta.
A enfermeira iria fazer o que sempre fez aos feridos em situações semelhantes, mas a carga emocional foi grande pelo tom imperativo que envolveu a recomendação.
No fundo não fez mais do que fazia habitualmente; a carga emocional é que foi muito maior, porque ela sentiu o peso da importância daquela vida para os militares envolvidos na operação, a importância para a própria organização militar e logicamente para o país, dadas as características do prisioneiro ferido. Só começou a aliviar o seu stress depois de o entregar no Hospital Militar de Bissau, vivo e em condições para novas intervenções só feitas a nível hospitalar.
Parece que a enfermeira não teve importância nenhuma, muito menos mérito nenhum em toda esta história
Nós éramos tão poucas, não seria difícil aos investigadores e autores dos artigos informarem-se dos nomes da enfermeira, do piloto e eventualmente do mecânico, que tal como a enfermeira passaram por níveis acrescidos de stress na missão deste acontecimento muito especial e que foi sem dúvida com grande mérito para as nossas tropas, tendo ficado por esse facto, na história da guerra da Guiné.
Tenho pena de não referir os nomes do piloto e do mecânico porque na questão de evacuações, éramos um todo, cabendo a cada um a sua tarefa específica, complementávamo-nos para que a missão fosse bem sucedida. Mas também eu desconheço quem foram eles.
Não é bem assim minha amiga e agora que já não estás entre nós, tomo esta atitude para honrar a tua memória, pela pessoa boa que sempre foste, pelos amigos que fizeste, pelo extraordinário desempenho profissional e com espírito de missão que sempre puseste ao serviço de todos.
Grata pela oportunidade de dar a conhecer este pormenor da “Operação Jove” e da importância que a Enfermeira Zulmira André teve na vida do Capitão Peralta e na projecção do êxito da mesma captura pelas tropas pára-quedistas.