Mas, ao menos, o Turismo e as Autarquias podiam oferecer amendoeiras para os proprietários plantarem ao longo das suas terras
Uma associação de Castro Marim promove uns passeios para ver as amendoeiras em flor. Que saudade!! Já lá vai o tempo em que vinham até ao Algarve excursões de todo o País, para ver aqueles campos de amendoal florido, que era parte da idiossincrasia, da alma e da imagem do Algarve e dos algarvios.
A perda de valor comercial da amêndoa veio completar o quadro de abandono da pequena e média agricultura que ocorreu a partir da altura em que, sob as ordens da Comunidade Económica Europeia, os Governos portugueses começaram a entregar subsídios aos pequenos produtores…para não produzirem, para abandonarem as suas explorações.
Tudo começou nos Governos do Primeiro Ministro Cavaco Silva, que, no entanto, se vangloriou sempre de ser com ele que a agricultura portuguesa evoluiu e se adaptou aos tempos. Lá adaptar, adaptou… Criaram-se grandes empresas agro-industriais, mas o “miolo” da pequena agricultura foi-se.
Nem com ele, nem com os que lhe sucederam houve capacidade e visão políticas que permitissem pensar que, para manter vivo o interior, era necessário incentivar a pequena e média agricultura,- e já nem era o remoto âmago das terras do sertão beirão ou transmontano, não senhor – foi aqui também nesta pequena fatia, quase toda litoral, do território algarvio, onde o barrocal e a serra foram sendo abandonados.
Outros países europeus, como a França, aproveitaram sempre e ainda hoje os proventos da PAC para manterem as suas pequenas explorações, que são até um verdadeiro consolo para quem deambula pelo mundo rural francês e pode adquirir produtos frescos directamente do produtor.
O peso social e político dessa vasta camada de pequenos agricultores ainda hoje faz sentido em França.
Em Portugal, extinguiram-se os Serviços de Extensão Rural, que eram fundamentais para motivar os agricultores do interior a evoluírem nas suas explorações; e retiraram poder e meios de acção às Direcções Regionais de Agricultura, reduzindo-as praticamente a gabinetes administrativos para a papelada do subsídios europeus.
E os técnicos florestais, que eram um complemento funcional e lógico dos técnicos agrícolas (antigamente, as tutelas ministeriais sabiam estes rudimentos, hoje não sabem…), foram coçar-se para as áreas protegidas, onde não eram precisos, desmotivados, acantonados, talvez até que os lugares de extingam! Que miséria…
O caso do Algarve, que todos conhecemos melhor, não é certamente diferente do resto do País. Os bons técnicos e investigadores estão mais ou menos nas prateleira e deixaram de ser motivados para apoiarem no terreno os agricultores. As terras estão abandonadas.
Quando eu cheguei ao Algarve, há cerca de 30 anos, todas estas terras aqui no barrocal eram intensivamente cultivadas e havia famílias a viverem do seu rendimento, Hoje já nem as amendoeiras subsistem.
Uma política prioritária de uma Direcção Regional de Agricultura, a quem a tutela desse liberdade para actuar, deveria dar prevalência, entre outras, à cultura da amendoeira. É que, se a amêndoa que chega das EUA é bem cotada, então a nossa não é porquê?
A par da produção, seria preciso apoio à comercialização – mas isto deve ser areia de mais para a carroça destes políticos que temos lá por cima.
Mas, ao menos, o Turismo e as Autarquias podiam oferecer amendoeiras para os proprietários plantarem ao longo das suas terras, nas bermas de caminhos e estradas. Era apenas uma medida de cosmética, é verdade, mas podia ao menos deixar recordar a imagem icónica das estradas do barrocal, floridas com amendoeiras. Que belo voltaria a ser o Algarve nesta época do ano!
www.sulinformacao.pt
Autor: Fernando Santos Pessoa é engenheiro silvicultor e arquiteto paisagista…e escreve com a ortografia que aprendeu na escola.
Sem comentários:
Enviar um comentário