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quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Não nos mandem calar

Inês Cardoso




"Não me mande calar!" A voz irada de uma mulher ouve-se em fundo numa reportagem televisiva, enquanto a comitiva de responsáveis políticos, encabeçada pelo presidente do Governo Regional da Madeira, atravessa o Largo da Fonte, onde a queda de um carvalho de grande porte matou 13 pessoas. A raiva da população foi ontem evidente, com vários moradores a testemunhar que se pede há uma década uma intervenção no local mais visitado na freguesia do Monte.

O Ministério Público já está a investigar o acidente e haverá, em devido tempo, apuramento de responsabilidades. Debaixo de fogo, o presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo, convocou os jornalistas para esclarecer que a árvore em causa não estava sinalizada nem integrava a correspondência trocada com a Junta de Freguesia, alertando para o risco de acidentes. Sublinhou ainda que o carvalho caiu da encosta, de um terreno da diocese.

Há, no entanto, perguntas difíceis de contornar. Estando em causa um dos principais pontos turísticos da ilha, não deveria a vistoria das árvores em risco ter merecido outro cuidado, não apenas no largo, mas na área envolvente? Tendo havido alertas da Junta de Freguesia feitos no passado dia 5 e avisando precisamente para o risco de incidentes durante a romaria, não se exigiria uma atuação proativa dos serviços camarários? A proteção civil existe para identificar e minimizar riscos, não apenas para acudir em caso de tragédia. Em Portugal, infelizmente, há uma cultura pouco enraizada no que diz respeito à prevenção.


Ao chegar à Madeira, para levar a "solidariedade do povo português" às famílias das vítimas, o presidente da República recusou alimentar polémicas e disse ser hora de encarar a dor e não de falar de responsabilidades. Mas uma coisa não exclui a outra. Começa a tornar-se um hábito evitar o tema da responsabilidade, como se as palavras de conforto fossem suficientes para silenciar dúvidas e críticas.

Não cabe a Marcelo Rebelo de Sousa, claro, imiscuir-se em assuntos da competência da Câmara do Funchal. Mas o grito de revolta da mulher citada acima faz todo o sentido. Quando 13 pessoas morrem em circunstâncias que tudo indica poderiam ter sido evitadas, é imperativo exigir total rigor à investigação. Os serviços públicos e os seus titulares existem para cuidar das populações, não para vir bater-lhes no ombro em momentos de tragédia. Que nunca se peça silêncio a quem tem motivos para a revolta.

SUBDIRETORA

www.jn.pt

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