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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O diamante que liberta aroma





Uma das melhores coisas das nossas vidas são as memórias. E o mais impressionante de tudo é a forma como alguns sabores e cheiros conseguem despertá-las.

Debaixo de terra, soterrados entre 10 a 15 centímetros abaixo de camadas de matéria orgânica morta, no meio da humidade da floresta, estão diamantes brancos raros. O aroma que libertam é tão específico, tão crucialmente irresistível, que são precisos cães especialmente treinados para os encontrar. Não são pedras estes diamantes, são trufas brancas, um dos ingredientes mais raros e cobiçados do mundo.
Cerca de dois mil quilómetros separam-nos de Alba, na região de Piemonte no norte da Itália, e esta é uma distância pequena, tendo em consideração que todos os anos centenas de pessoas se deslocam até lá vindos dos locais mais longínquos do planeta – e não é porque é nesta pequena cidade que está a fábrica da Ferrero. O leilão de trufas brancas em Alba é o motivo pelo qual deve sentar-se ao volante do Crossland X e tentar chegar lá antes de algum magnata de Xangai.




A viagem será certamente confortável graças aos assentos ergonómicos, e acaba por servir de antevisão à experiência que nos aguarda: estamos a caminho de um dos maiores símbolos de luxo, e é apenas lógico que o façamos sentados num automóvel em que os materiais da melhor qualidade foram moldados de forma exímia, com acabamentos que “gritam” premium, ainda que de uma forma sóbria.

Mas não vale a pena ir em qualquer altura. As trufas brancas só são colhidas durante um ou dois meses, no final do outono, depois dos tais cães de caça especiais os farejarem. Costumavam ser porcos a ter esta honra, mas eles demonstraram não conseguir controlar a gula na altura da descoberta. A colheita é feita durante a noite e com recurso a ferramentas desenhadas de propósito para o efeito, os cavadou, para garantir que as trufas não são danificadas. Depois de serem limpas, as trufas são pesadas, catalogadas e guardadas num cofre até ao leilão, tudo isto sob vigilância policial.




A forte presença de Carabinieri durante o período do leilão é fácil de explicar. Afinal o preço médio das trufas brancas ronda os 130€... por grama. Não é o tipo de produto que se possa simplesmente comprar numa mercearia dizendo “meta aí um ou dois quilos no saco”, mas também não precisa de uma quantidade (obscena) como essa.
O preço médio das trufas brancas ronda os 130€ por grama
Umas pequenas raspas de trufa branca são suficientes para tornar um prato numa experiência marcante e uma das melhores coisas que pode ter na sua lista de conquistas de vida é conduzir até Alba, comprar um pouco de trufa branca, pedir ao seu assistente OnStar que indique o restaurante mais indicado para depositar esse diamante branco em mãos experientes e, finalmente, saborear.




Seja num risotto, numa pasta ou num puré, o mais certo é que as suas papilas gustativas o transportem para uma memória relacionada com terra acabada de ser arada, uma chuva leve num bosque, uma brincadeira de infância, um amor perdido. E é nessa altura que vai perceber que levar o Crossland até aos belos montes de Piemonte (perdoe-nos a diácope) e gastar centenas de euros em pouco mais do que uns gramas daquilo que é, no fundo, um cogumelo (perdoe-nos o delapidar do seu património), faz mais sentido do que qualquer diamante de pedra poderá alguma vez fazer.

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