AVISO

OS COMENTÁRIOS, E AS PUBLICAÇÕES DE OUTROS
NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO ADMINISTRADOR DO "Pó do tempo"

Este blogue está aberto à participação de todos.


Não haverá censura aos textos mas carecerá
obviamente, da minha aprovação que depende
da actualidade do artigo, do tema abordado, da minha disponibilidade, e desde que não
contrarie a matriz do blogue.

Os comentários são inseridos automaticamente
com a excepção dos que o sistema considere como
SPAM, sem moderação e sem censura.

Serão excluídos os comentários que façam
a apologia do racismo, xenofobia, homofobia
ou do fascismo/nazismo.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O Amor queria…


O Amor queria…
Eu queria escrever a tristeza que me assola,
Queria poder ter-te desnudada ao pé de mim,
Para me ouvires dizer: – Não é impuro o amor, meu amor...
É como a luz do Sol e a nascente da água cristalina…
É como a chuva deleitosa, caída no árido deserto…
É tudo o que germina e vive além do tempo…
É mais, muito mais, que o tempo do momento,
É um todo o que se imensa por dentro do meu sentir!
Eu queria que escutasses e soubesses,
Que por dentro de mim, por fora de ti, por nós…
São agora os meus sorrisos de água – São lágrimas…
Os teus são de luz silenciosa, que dão a volta aos dias
Desertos e negros que hoje se enlaçam,
Até se fundirem – Oásis florescente sem amor,
Desposado pela ausência dourada do meu sol!
E queria tocar-te e ver-te com meus olhos cerrados,
Para deixares de ser corpo e seres apenas a alma
Acesa, domiciliada em mim, que me ilumina e me incendeia.
Procuro nos teus olhos uma centelha da chama do passado,
Nesta delonga, padeço para cingir o teu olhar calado,
Só então, depois de o prender, sou ditoso e versejo,
É quando o meu ser ressuscita, e se extingue o teu.
E queria respirar em ti para me afogares de mimos,
Matando as palavras em que nado, e com que me forro,
Numa escrita delida, triste, maculada e rasurada,
Sem os odores e o som dos vocábulos que emudeces,
Que não provo, pois calas para mim o seu dizer,
E escondes de ti o sabor a pão dos beijos meus …
E queria caminhar na obscuridade da tua claridade,
Como uma Lua transvertida em Sol que se apaga,
Que invocasse a tua cegueira alvorecida em mim
Para aí me focar, encandear, me ler, me divisar…,
Assim soubesse eu ser tu - quisesse eu sê-lo…,
E, em nostalgia, a tua luz seria a minha escuridão.
E queria que trajasses a minha pele por dentro de ti,
Para que estivesses ainda mais bela, aplacada e nua…
Pois em desvairo, espraio-me na tua cama e sonho,
Quando apenas almejava ser um quente devaneio teu,
Pois só quando te penetro com a merecida avidez,
Então, eu mato a minha imensurável sede de te amar.
Eu queria levitar, voando como a mais bela semente,
Sobre um fértil solo, onde te pudesse semear,
E crescerias como a mais pecaminosa e aromática flor,
Com a memória das pétalas dispersas pelo campo,
Onde, como outrora, eu te voltasse a tomar e a amar.
Era como se os meus lábios ferrassem num ímpeto,
A tua alma plangente e embaciada de mim,
Que de novo se abriria num aroma divino imaculado.
Eu queria que este sonho, e neste novo amanhecer,
Ver os teus olhos iluminar os meus de alacridade,
Acendendo a labareda desta vida, já sem leito de cetim.
Só então, aí, galgaria as cercaduras do meu rio, até ser mar…,
Onde, amar, amar o mar, só por amar, e nada dar, é fantasia,
E o mesmo mar, do meu amar, que só se vê depois de amar,
Como se as mil mãos do vento, afagassem o meu corpo,
Acendendo a chama do meu dormente vulcão em sigilo.
Eu queria…, Eu quero, mas não sei!
Maia, 8 de maio, de 2016
Albano Sousa

Sem comentários: