Ao olhar para uma taxa de desemprego no nível mais baixo desde Fevereiro de 2009 não sei se fique semi-alegre se fique semi-triste. Isto porque ainda me lembro da inesperada crise económica que se seguiu em 2010-2014 fazendo disparar o desemprego.
Alguns alertam que esta descida da taxa de desemprego é sazonal, relacionada com a necessidade de resposta à época alta do turismo. Assim o parece ser, com este sector ainda não saciado a procurar mais cinco mil trabalhadores só no Algarve.
Seria um orgulho para todos nós que o agora fulcral sector do turismo fosse exemplar nas suas práticas laborais e não um predador das presas fáceis condicionadas ao habitat da precariedade. Infelizmente o contentamento nacional satisfaz-se com o despregar da bandeira do crescimento. É verdade que em 2016 o turismo algarvio proporcionou um extra-ordinário crescimento de 20% dos lucros, num bolo total perto dos mil milhões de euros! Em contrapartida aumentam os contratos a termo com baixa remuneração.
Bem sei que ainda não há muito tempo existia uma grande crise, até no turismo, o que nos deveria levar a valorizar o ter emprego como uma grande melhoria face à sua recente inexistência. É uma ideia que tem a sua força, até falarmos presencialmente com algarvios, tristonhos, desapontados, derrotados, que apontam este trabalho sazonal, pesado física e psicologicamente, com carga horária exigente, mal pago, como sendo o grilhão que os mantém numa vida perto da simples subsistência, sem margem financeira para meras saídas sociais quanto mais para eles próprios praticarem o turismo noutras zonas de Portugal. São rodas de um perpétuo movimento circular, trabalhar arduamente uns meses, receber um parco subsídio de desemprego nos restantes, sem qualquer estabilidade, sendo ruminados ao sabor dos empregadores.
Aproveitando a saúde e importância do sector o Governo deveria focar-se na empregabilidade do turismo, promovendo a justiça social nas remunerações e condições de trabalho. Imediatamente pôr fim a estágios não remunerados, definir ratios de contratos com e sem termo, promover a criação de salários de base fixa com componente variável indexada à facturação mensal ou à época (baixa/média/alta), criar outras medidas que incentivem e garantam a qualidade dos serviços através de uma maior taxa de retenção, motivação e contínua formação dos profissionais do turismo (a cargo dos empregadores e não dos centros de emprego). O Governo deveria proteger o sector da sua própria ganância já que a desqualificação e desmotivação dos seus colaboradores tem impacto directo na qualidade de um serviço que tanto depende de uma atenciosa relação com o público.
Como português fico bastante incomodado sempre que sou servido por pessoas sem qualquer qualificação para o atendimento ao público ou quando o sou por pessoas qualificadas visivelmente esgotadas a trabalhar nos limites. Fico-o porque sei que podemos dar mais e melhor serviço desde que Gestão de RH signifique Gestão de Recursos Humanos e não Gestão de Resíduos Humanos.
O sector do turismo tem muita margem de melhoria para demonstrar que as pessoas não devem ser o meio para uma economia saudável mas sim que a economia é o meio para o melhorar das condições de vida, bem estar e felicidade das pessoas. Todas as pessoas, não apenas clientes e patronato.
Deveria ser mais do que suficiente que os lucros crescessem apenas 10%, ou mesmo 5%, até que fosse atingida a justiça laboral, sem que os trabalhadores do turismo continuassem a ser também turistas do emprego.
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