AVISO

OS COMENTÁRIOS, E AS PUBLICAÇÕES DE OUTROS
NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO ADMINISTRADOR DO "Pó do tempo"

Este blogue está aberto à participação de todos.


Não haverá censura aos textos mas carecerá
obviamente, da minha aprovação que depende
da actualidade do artigo, do tema abordado, da minha disponibilidade, e desde que não
contrarie a matriz do blogue.

Os comentários são inseridos automaticamente
com a excepção dos que o sistema considere como
SPAM, sem moderação e sem censura.

Serão excluídos os comentários que façam
a apologia do racismo, xenofobia, homofobia
ou do fascismo/nazismo.

domingo, 6 de abril de 2014

HISTÓRIA DA GUERRA COLONIAL - 16ª PARTE - OS FUZILEIROS NA GUERRA EM ÁFRICA- VÍDEOS - IMAGENS - DEPOIMENTOS - OPERAÇÕES - OPERAÇÃO MAR VERDE

FUZILEIROS NA GUERRA COLONIAL


          No ano em que se comemora os 53 anos da criação da Escola de Fuzileiros, eis uma resenha redigida com o objectivo de recordar a Guerra Colonial, tendo em linha de conta que como acontecimento histórico do passado recente da Nação, traduziu-se na prática no 1.º "teste de fogo" aos ensinamentos ministrados na Escola de Fuzileiros e ao seu produto, as gerações de militares que desde 1961 ostentam a Boina dos Fuzileiros. 

GUERRA COLONIAL


Guiões das unidades de Fuzileiros

DÉCADA DE 60
          Os Fuzileiros participaram activamente com 12.255 militares durante toda a Guerra Colonial (1961 a 1974), nos três TO - Teatros de Operações onde se desenrolou o conflito bélico:
• Angola: - Rio Zaire, Dembos, Rio Lungué-Bungo, Rio Zambeze, Rio Cubango; - 17 DFE's e 22 CF's destacados;
• Guiné-Bissau: - Bissau, Rio Cacheu, Cacine, Cumbijã; - 27 DFE's e 12 CF's destacados;
• Moçambique: - Cabo Delgado, Niassa, Tete, Lourenço Marques; - 19 DFE's e 12 CF's destacados.

          Foram das principais forças militares portuguesas mobilizadas para o combate de contra-guerrilha, criando-se para o efeito 3 tipo de unidades de combate:
• DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais: 13 unidades metropolitanas e 3 africanas, cada uma inicialmente com 75 e a partir de 1967 com 80 efectivos (4 Oficiais, 6 Sargentos, 14 Cabos, 32 Marinheiros e 24 Grumetes), divididos em três grupos de assalto vocacionados para missões de combate ofensivo de limitada duração e penetração na orla costeira (golpes de mão) e realização de operações conjuntas com os outros ramos das FA's;
• CF - Companhias de Fuzileiros Navais: 12 unidades, cada uma com 140 efectivos (7 Oficiais, 8 Sargentos, 13 Cabos, 36 Marinheiros e 76 Grumetes), divididos por três pelotões de atiradores e uma formação de comando, composta pela secção de comando e uma secção de quartéis.           Dispunham ainda de uma secção de abastecimento, secção de secretaria, secção de comunicações e secção de saúde, competia-lhes a missão de patrulhamento, escolta de comboios fluviais de embarcações mercantes, desempenhar o serviço de Polícia Naval e montar segurança a navios, aquartelamentos e Comandos Navais;
• Pelotões Independentes: 4 unidades, cada uma com 43 efectivos (2 Oficiais, 2 Sargentos, 4 Cabos, 13 Marinheiros e 22 Grumetes), tratou-se de unidades destacadas para o Ultramar e integradas no dispositivo local da Marinha, nomeadamente no Arquipélago de Cabo Verde.





          De salientar que por regra cada Fuzileiro cumpria duas comissões de serviço no Ultramar, integrado num DFE ou CF, existindo inclusivo diversos militares, nomeadamente entre as classes de Sargentos e Praças, que cumpriram até 4 comissões, cada uma de 2 anos de serviço.
          Tal particularidade justifica-se em virtude de todas as unidades de Fuzileiros, nesta época serem formadas por militares do Quadro Permanente e Voluntários, o que traduzia-se num determinado número de militares com experiência de combate, que por inerência contribuia para o aumento do desempenho operacional da respectiva unidade.
          Finda a comissão de serviço no Ultramar, a unidade de Fuzileiros regressava a Portugal, sendo os seus efectivos rendidos na totalidade, no entanto mantinha o mesmo n.º de designação como unidade militar, que após nova constituição orgânica, destacava novamente para África em comissão de serviço, somente a Marinha de Guerra Portuguesa dos 3 ramos das FA's adoptou este sistema de rendição de unidades militares.



Guarnição do DFE n.º 2 destacado em comissão de serviço em Angola entre 1965-1967 (Foto cedida por SAJ Afonso Brandão / FZE e Mergulhador-Sapador)

          Em 10 de Novembro de 1961, após concluir a instrução e formação em Portugal, parte para Angola num DC6 da FAP a primeira unidade de Fuzileiros, o DFE n.º 1 [Portaria n.º 18 774 de 13 de Outubro de 1961], composta por 2 Oficiais, 4 Sargentos, 9 Marinheiros e 60 Grumetes, iniciando a sua comissão no âmbito das operações de reocupação militar do Norte de Angola.
          Em Junho de 1962, desembarca na Guiné-Bissau o DFE n.º 2, com o escopo de reforçar o dispositivo militar, participa juntamente com o DFE n.º 7 e DFE n.º 8 na «Operação Tridente» na ilha do Como, e nas buscas para localizar o Sargento Lobato, Piloto de um avião T6 da FAP que caiu após embate com o respectivo "asa", sobrevivendo à queda do aparelho e seria feito prisioneiro pelo PAIGC.
          Em Outubro de 1962, desembarca a Moçambique a CF n.º 2, tendo por missão garantir a defesa e segurança do Comando Naval de Moçambique em Lourenço Marques (actual Maputo), tendo um dos seus pelotões destacado para Metangula, no Lago Niassa.




- OS MEIOS UTILIZADOS
          No que concerne à dotação orgânica de material, a Marinha de Guerra Portuguesa atendendo à guerra de guerrilha que ocorria nos TO's, apetrechou as unidades de Fuzileiros com meios ligeiros de baixo custo, fácil operação e manutenção.
          Ao longo do conflito, os meios adoptados pouco evoluiram e as unidades de Fuzileiros adequavam casuisticamente os meios empregues conforme a missão a executar.
          Tendo por exemplo a guarnição de um DFE, esta era equipada com os seguintes meios:

ARMAMENTO:
Armas individuais:
- Lapiseira-pistola .22¹ (3);
- Pistolas WALTHER P-38 de 9mm (13);
- Espingardas .22 (2); caçadeiras de 12mm (2);
- Espingardas HK G3A2 m/963 de 7,62mm com bipé (8);
- Espingardas HK G3A2 m/963 de 7,62mm (63 + 9 de reserva).

Armas de apoio:
- Lança-chamas MARAÑOZA² (1);
- Metralhadoras-ligeiras MG-42 mod.59 de 7,62mm (2);
- Lança-Rockets ARMADA 69 ou OGMA de 37mm (2 + 12 granadas SNEB);
- LGF INSTALAZA 58-B "BAZOOKA" ou LGF FIRESTONE H/29 A1 B1 de 88,9mm (2 + 12 granadas);
- Morteiros pesados TAMPELLA 120mm³ (2 + 36 granadas);
- Morteiros médios ECIA 81mm (2 + 36 granadas);
- Morteiros ligeiros M2M/52 de 60mm (2 + 36 granadas);
- Morteirete 60 mm (2 + 36 granadas);
- Peça OERLIKON Mk2 de 20mm³;
- Peça BOFORS de 40mm.












Peça Bofors de 40mm na Pedra do Feitiço - Angola

Armamento explosivo:
- Granadas de mão ofensivas SPEL m/962;
- Granadas de mão defensivas SPEL m/963;
- Granadas de mão BIVALENTE PRB 423;
- Granadas de mão de fumo SPEL;
- Granadas incendiárias;
- Granadas armadilhas;
- Cordão detonante²;
- Dilagramas M26A1 "ALG" ou ARMADA 64 (24).

¹ Defesa pessoal de Oficiais;
² Parte da dotação mas pouco utilizado;
³ Utilizado na defesa de instalações
(TAMPELLA na Vila Cacheu - Guiné-Bissau / OERLIKON na Tabanca Grande - Guiné-Bissau).

• COMUNICAÇÕES:
- Apitos (5);
- Transreceptor AN/PRC-6 ou AN/PRC-10 (2);
- Transreceptor HF 156 (2);
- Transreceptor AN/PRC-116 (20);



Marinheiro C "radiotelegrafista" do DFE n.º 9 no Mágué velho

(A partir dos finais da década de 60)
- Transreceptor AN/PRC-216 ou AN/PRC-236 B (2);
- Emissor / receptor RACAL TR-28 B2 HF (2).

• MEIOS TERRESTRES:
- Jipes 4x4 LAND ROVER (3);
- Mercedes UNIMOG 401 / 404;
- Berliet TRAMAGAL;
- Camião de carga SCANIA VABIS ou BEDFORD (1).

• MEIOS ANFÍBIOS:
- Botes pneumáticos ZODIAC ou ZEBRO III (12);
- Motores MERCURY de 50cv (12);
- Botes de fibra de vidro (sintex) "MARUJO".

 
Bote de fibra de vidro (sintex) "MARUJO"

• FARDAMENTO:
- Fato de combate camuflado padrão "LAGARTO" de 2 peças, acolchoado nos joelhos, cotovelos e ombros, dispondo de 16 bolsos e fechos Zippo; fato de macaco de 1 só peça;
- Botas de combate em cabedal "Botas de Fuzileiro" (estanques e resistentes) ou de lona;
- Meias de enchimento;
- Poncho camuflado com capuz; - Rede mosquiteira de pescoço;
- Cinturão.

EQUIPAMENTO DIVERSO:
- Máquina fotográfica de 16mm (2);
- Máquina de escrever (1);
- Binóculos (4);
- Bússolas SILVA (10);
- Relógios à prova de água AQUASTAR (10);
- Lanternas estanques (10);
- Filtros para água CATADIN (12),
- Algemas (3);
- Lápis dermográfico;
- Lapiseira de sinais;
- Kit sanitário;
- Faca de combate;
- Cantil de 1 litro
- Very-lights.

CÃES DE GUERRA: (ler artigo)

- OFICIAIS FUZILEIROS DA RESERVA NAVAL
          Paralelamente no mesmo período temporal e com o início do conflito colonial a carência de Oficiais aumentará substancialmente, deste modo a partir do 4º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval (6 de Outubro de 1961) em diante, a Reserva Naval também contribuiu com Oficiais Subalternos para as unidades de Fuzileiros [Portaria 18 393 de 12 de Abril de 1961].
          Os Cadetes que frequentavam o Curso de Oficial da Reserva Naval na Escola Naval eram oriundos de mancebos com frequência universitária ou já detentor de Curso Superior Universitário que se voluntariavam ou eram convocados a cumprir o SMO, observando o disposto na Portaria n.º 18 393 de 18 de Abril de 1961:
- Escola Superior de Belas-Artes;
- Faculdade de Ciências;
- Faculdade de Direito;
- Faculdade de Economia;
- Faculdade de Letras;
- Instituto Nacional de Educação Física;
- Instituto Superior de Agronomia;
- Instituto Superior de Estudos Ultramarinos;
- Instituto Superior Técnico.




          A Reserva Naval registou inclusivo maiores taxas de integração de Oficiais Subalternos nas unidades de Fuzileiros, por regra integrando como Imediato, 3.º e 4.º Oficial, que os Oficiais Subalternos oriundos do Quadro Permanente: - 82 Oficiais da RN em 139 Oficiais integrados nos DFE, correspondendo a 56%; - 217 Oficiais da RN em 328 Oficiais integrados nas CF, correspondendo a 66%;
          De destacar que diversos Oficiais oriundos da RN, após ingresso nos QP's da Armada, comandaram DFE's e CF's.
          A título de exemplo o 4º CFORN forneceu 9 Oficiais que integraram as CF n.º 1 e n.º 2, destacadas respectivamente para Angola e Moçambique.




DÉCADA DE 70
          É de realçar que a durante o conflito colonial, a Guiné-Bissau e Moçambique foram os TO's onde as unidades de Fuzileiros foram colocadas mais à prova, no que concerne à capacidade operacional e resistência física e psicológica, devido às particularidades sui generis do terreno, clima, organização e capacidade de combate da guerrilha do PAIGC (poder de fogo e "fornilhos") e FRELIMO (implantação de minas A/P e A/C).
          No caso da Guiné-Bissau, no início da guerra os Fuzileiros estavam aquartelados na cidade de Bissau e subordinados ao Comando de Defesa Marítima da Guiné (criado pelo Decreto-lei 41 990 de 3 de Dezembro de 1958 e activado em Maio de 1959), actuando na razão de um DFE por bacia hidrográfica (Cacheu, Geba / Corubal e Buba / Cacine).


Fuzileiros em operações em zona de tarrafo da Guiné-Bissau

          No entanto, com o evoluir da guerra, meios de combate e efectivos nas unidades PAIGC, que se materializou numa quase transformação de guerra de guerrilha para convencional, foi necessário ajustar o dispositivo e os Fuzileiros também foram destacados para junto das fronteiras Norte e Sul, sendo atribuídos a um COP - Comando Operacional ou CAOP - Comando de Agrupamento Operacional, nomeadamente para reforço das acções de contra-penetração de guerrilheiros do PAIGC vindo do Senegal ou da Guiné Conakry.
          Em Moçambique, os Fuzileiros operaram nos distritos de Cabo Delgado, Tete e Niassa, sendo este último juntamente com o seu Lago Niassa o cenário por excelência, com bases em Metangula e Coubé, cada uma com um DFE destacado, este distrito era também denominado de "Estado de Minas Gerais" pelas forças portuguesas, em virtude da profusão de minas A/C e A/P colocadas pela FRELIMO.

- OS DESTACAMENTOS DE FUZILEIROS ESPECIAIS AFRICANOS
          Atendendo ao esforço em termos de recursos humanos que Guerra de Ultramar necessitava e dentro da política de africanização do conflito, são constituídos somente na Guiné-Bissau a partir de Abril de 1970, no Centro de Instrução e Preparação de Fuzileiros Especiais Africanos em Bolama, os únicos DFE africanosDFE 21 [21 de Abril de 1970], DFE 22[16 de Novembro de 1971] e DFE 23 [1 de Julho de 1974].
          No entanto o DFE 23 nunca chegou a ser formalmente activado, sendo os 3 DFE's africanos desactivados em 25 de Agosto de 1974.
          Tratou-se de unidades guarnecidos por Oficiais, Sargentos e algumas Praças metropolitanos (Comandante, Imediato, quartel-mestre, radiotelegrafista [telefuzo], enfermeiro, etc), sendo as restantes Praças recrutados entre voluntários da população nativa da província, regra geral dando-se preferência aos assalariados do Comando de Defesa Marítima, de Serviços da Marinha, guias de unidades de Fuzileiros, estivadores e pessoal oriundo de companhias de milícias ou caçadores nativos.


Guiões dos DFE's Africanos 21, 22 e 23

          A 22 de Novembro de 1970, o DFE n.º 21 (Africano) participou na «Operação Mar Verde», na Guiné-Conakry, competindo-lhe a missão de atacar a prisão “La Montaigne”.

- BAIXAS ENTRE OS FUZILEIROS
          Segundo a Comissão COLOREDO, durante todo o conflito, os Fuzileiros tiveram 185 baixas mortais, sendo que entre os feridos, 50% dos mesmos foram vítimas do efeito de minas A/P, A/C ou "fornilhos":
• Angola: [57 mortos] 13 em combate; 34 por acidente e 10 por doença;
• Guiné-Bissau: [99 mortos] 55 em combate; 35 por acidente e 9 por doença;
• Moçambique: [29 mortos] 13 em combate; 10 por acidente e 6 por doença.
          O único Oficial que faleceu em combate foi um 2TEN FZ da Reserva Naval da CF n.º 1, oriundo do 18.º CFORN, em Junho de 1973, no Chilombo - Leste de Angola.
          Findo o conflito do Ultramar e extinção dos Comandos Navais e de Defesa Marítima das ex-colónias em 1975, com a finalidade de uniformizar de modo mais profícuo procedimentos operacionais e administrativos, tornou-se necessário estruturar em Batalhões as Companhias de Fuzileiros existentes, criando-se os Batalhões de Fuzileiros n.º 1, 2, 3 e 4 [Portaria n.º 258/75 de 16 de Abril].

barcoavista.blogspot.pt


Fuzileiros 

As alterações na política de defesa nacional, visíveis após 1959 com a atribuição da primeira prioridade de intervenção aos territórios africanos, também teve consequências na Marinha, com a criação dos comandos navais de Angola e Moçambique e do Comando da Defesa Marítima da Guiné, e ainda com a constituição de unidades de infantaria, designadas como de desembarque, de assalto ou anfíbias, que estiveram na origem das que vieram a ser conhecidas como fuzileiros. 
Em Outubro de 1960, a Marinha enviou a Inglaterra o tenente Pascoal Rodrigues, acompanhado por três marinheiros, para frequentarem um curso nos Royal Marines, familiarizando-se com as técnicas e práticas de actuação daquele corpo de tropas. 
Foi com os conhecimentos então adquiridos, e seguindo o modelo inglês, que se formaram os fuzileiros em Portugal. 
Os primeiros cursos foram ministrado por aqueles militares, no Corpo de Marinheiros, a pessoal oriundo das fileiras da Armada. Foi com estes efectivos que o Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º1 (DFE 1) partiu para Angola, em Novembro de 1961. 
Desde então, a instrução começou a ser ministrada em Vale de Zebro, onde passou a funcionar a Escola de Fuzileiros. 
Em Junho de 1962, o DFE 2 partiu para a Guiné com fuzileiros já formados naquela escola, seguindo-se outras unidades, companhias e destacamentos para os três teatros de operações de Angola, Guiné e Moçambique. 
O destacamento de fuzileiros especiais era a unidade de elite da infantaria da Marinha, vocacionada para o combate em terra, com um efectivo de 80 110 homens organizados em três grupos de assalto. Na sua orgânica final, o DFE dispunha de quatro oficiais e seis sargentos, sendo a restante guarnição formada por praças, das quais uma elevada percentagem pertencia aos quadros permanentes, completada por marinheiros e grumetes recrutados como voluntários. 



O tempo de serviço destes militares era de seis anos para os voluntários e de quatro para os oriundos de recrutamento, pelo que muitos deles cumpriam duas comissões de serviço operacional. Este facto melhorava o desempenho em operações das unidades, fruto da experiência de número apreciável dos seus elementos. 
As unidades de fuzileiros eram formadas na Metrópole e durante toda a comissão, de dois anos, apenas eram feitos os completamentos das baixas então sofridas. No regresso, procedia-se à rendição de todos os efectivos, e a mesma unidade, com o mesmo número mas com guarnição totalmente renovada, tornava a partir para nova comissão em qualquer dos teatros de operações de África. Este sistema era diferente do utilizado pelo Exército, que optou por mobilizar unidades para comissões de dois anos, que se extinguiam após o regresso, e também distinto do da Força Aérea, que rendia o seu pessoal individualmente, mesmo nas unidades de pára-quedistas. 
As companhias de fuzileiros navais destinavam-se a montar segurança nos aquartelamentos e nos comandos navais, a destacar pelotões para apoio de unidades em situação de isolamento e a escoltar comboios de embarcações que utilizassem os rios como vias de acesso ao interior dos territórios. À semelhança dos destacamentos, também as companhias cumpriam missões de serviço de cerca de dois anos. 



As unidades de fuzileiros estavam organizadas em equipas de quatro ou cinco homens (Angola e Moçambique) ou em esquadras de três homens (Guiné). Cada uma destas equipas/esquadras era formada por um chefe e pupilos, podendo ter à sua responsabilidade uma arma de apoio, que era operada pelo chefe, apoiado pelos seus pupilos, que o defendiam e municiavam, armados de G-3. 
As esquadras/equipas eram reunidas em secções as quais, por sua vez, se repartiam em grupos de assalto e/ou grupo de combate, comandados por um oficial. O destacamento podia operar como um todo ou dividido por grupos de assalto, ou até em secções, caso a situação o permitisse. 
Estas unidades deslocavam-se em meios muito ligeiros - botes pneumáticos Zodiac, no início, posteriormente Zebro III e por vezes botes de fibra, ou lanchas -, podendo ainda ser lançadas de helicóptero (Alouette III e Puma SA330). Geralmente, as operações de assalto e golpes de mão iniciavam-se a meio da noite, sendo os percursos feitos através de rios ou lagos, com desembarques antes da alvorada. 
Os fuzileiros realizavam, além das operações típicas da contraguerrilha, patrulhamentos ao longo dos rios e das costas, normalmente de noite. Para tal, organizavam-se em esquadras/equipas de três ou quatro homens por bote, procurando impedir que os guerrilheiros utilizassem aquelas vias de comunicação de fácil acesso para os seus movimentos tácticos e logísticos. 
A G-3 foi a arma individual utilizada pelos fuzileiros durante toda a guerra. 
Como armas de apoio utilizaram o LGF 8.9 (bazuca), o LGF 37 mm (Iança-roquetes), os morteiros 60 e 81, bem como as ALG (dilagramas) e as metralhadoras MG e HK-21.





Fuzileiros em Angola 

Em Novembro de 1961, desembarcou em Luanda o Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º1 (DFE 1), a primeira unidade de fuzileiros criada pela Marinha para actuar em África, a qual iniciou a sua comissão no âmbito das operações de reocupação militar do Norte de Angola, após os acontecimentos de 15 de Março. 
Executou missões de patrulha no rio Zaire, emboscando as margens e as ilhas daquele rio, nomeadamente Bulicoco, Quissanga, Lucala, Quitembe,região de Chichianga, Ponta Puelo e Lué Pequeno, cooperando com o Exército no Congo-Iala, a sudoeste da Pedra do Feitiço, de modo a impedir o movimento de guerrilheiros entre Angola e o Zaire. 
Em Junho de 1962, chegou a Luanda a Companhia de Fuzileiros Navais n.º 1 e, em Agosto, o DFE 3. Até 1965, o dispositivo da Marinha foi aumentando, atingindo quatro destacamentos de fuzileiros especiais e duas companhias de fuzileiros navais. Com a evolução do conflito, a composição das forças foi alterada, reduzindo-se os DFE para dois e aumentando para quatro o número das CF, situação que se manteve até 1975. 
O rio Zaire foi o cenário por excelência dos destacamentos de fuzileiros especiais durante os primeiros anos da guerra, tendo dois deles base em Santo António do Zaire. 
O destacamento estacionado em Luanda realizava operações na zona dos Dembos, como unidade de intervenção do Comando-Chefe, em igualdade de situação com os comandos do Exército e os pára-quedistas. Posteriormente, o dispositivo foi alterado, fixando-se os três DFE no rio Zaire. 
Estas três unidades foram divididas em secções, guarnecendo postos isolados ao longo do rio; um destacamento com secções em Macala (onde se encontrava o posto de comando) outra no Puelo e a terceira no Tridente; o segundo tinha a base em Santo António do Zaire e o terceiro guarnecia os postos da Quissanga e Massábi, em Cabinda. Estas secções executavam patrulhas em botes de borracha e faziam algumas incursões para o interior. 
A abertura da frente leste provocou o deslocamento para aquela região dos destacamentos que se encontravam no Zaire e a sua substituição por companhias de fuzileiros navais (CF). A Marinha abriu a sua frente sul, instalando uma CF em Vila Nova da Armada, na região do Cuango-Cubango, as «Terras do Fim do Mundo». As companhias passaram a patrulhar os rios, enquanto os destacamentos deslocados do Norte executavam operações como unidades de intervenção no Leste. 


O primeiro DFE instalou-se no Chilombo, na margem do rio Zambeze, sendo este rio e o Luena a sua principal zona de acção. 
Utilizavam botes pneumáticos ou de fibra e contavam com o apoio de uma LDP e da lancha de fiscalização Caripende. No Leste de Angola, foi ainda colocado um segundo destacamento de fuzileiros especiais, no Lungué-Bungo. Estas duas unidades participaram no conjunto de acções das forças portuguesas contra a progressão do MPLA, pela chamada «Rota Agostinho Neto».

FUZILEIROS NO LAGO DO NIASSA

ATENÇÃO ! COPIE O LINK ABAIXO COM O RATO E COLOQUE NO MOTOR DE BUSCA GOOGLE +ARA TER ACESSO A ESTE VÍDEO.


http://www.guerracolonial.org/index.php?content=2241








Fuzileiros na Guiné 

Em Junho de 1962, partiu para a Guiné o Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 2, para reforçar o dispositivo militar ali instalado. Seguiram-se os DFE 7 e 8, que, em conjunto, participaram na Operação Tridente, realizada para reocupar a ilha do Como, assim como nas buscas para localizar o sargento Lobato, piloto da Força Aérea que sobreviveu à queda do seu aparelho e seria feito prisioneiro pelo PAIGC. 
A Guiné foi o teatro de operações onde os fuzileiros mais foram postos à prova, devido às particulares dificuldades do terreno, clima e inimigo. Neste teatro de operações, a Marinha sofreu cerca de sessenta mortos em combate, cinquenta e cinco dos quais eram fuzileiros. 
Foi ainda na Guiné que se constituíram os dois únicos destacamentos de fuzileiros especiais africanos, os DFE 21 e 22, compostos por pessoal recrutado e instruído na Guiné, dentro da política de africanização da guerra. 
No início da guerra, os DEF tiveram base em Bissau, subordinados ao Comando da Defesa Marítima da Guiné. Cada um deles actuava numa bacia hidrográfica (Cacheu, Geba/Corubal e Buba/Cacine), realizando golpes de mão anfíbios e exercendo a fiscalização com secções apoiadas numa LDM. 



O evoluir da guerra obrigou a alterar este dispositivo e os destacamentos foram colocados junto das fronteiras norte e sul, atribuídos a um Comando Operacional (COP) ou a um Comando de Agrupamento Operacional (CAOP), sendo utilizados essencialmente em acções de contrapenetração a grupos vindos do Senegal ou da República da Guiné. 
O pequeno número de efectivos dos destacamentos (oitenta homens) e a falta de elementos de apoio de serviços limitou a sua capacidade para viver autonomamente numa base em terra e para combater como um todo. Estas limitações tornaram-se mais nítidas com a evolução dos meios de combate do PAIGC e dos efectivos das suas unidades. À medida que a guerra na Guiné se aproximou da acção militar convencional, exigindo o empenhamento em combate de maiores efectivos das forças portuguesas e durante mais tempo, os destacamentos de fuzileiros viram as suas possibilidades fortemente condicionadas. 
No relatório de comissão do DFE 8 na Guiné, o comandante da unidade escrevia em Maio de 1973: «Dois anos foram já passados e, durante esse tempo, uma constante no dia-a-dia: as estruturas orgânicas de um destacamento não estão de forma alguma adaptadas às situações reais em que têm de actuar.» 



A limitação do emprego operacional dos destacamentos, resultante de nunca se terem constituído em batalhões e de não disporem de apoio de serviços, permitiu, contudo, o seu emprego autónomo no controlo das bacias hidrográficas e foi este conceito que levou o comandante-chefe da Guiné a colocar um DFE no Norte, no Cacheu, outro na «Bapat» (base de patrulhas) de Ganturé, junto a Bigene; e no Sul, um em Cacine e outro no rio Cumbijã, de modo a dificultar a movimentação dos guerrilheiros entre a fronteira e o interior do território. Também dentro da política de africanização da guerra foi criada, em Bolama, uma Escola de Fuzileiros da Guiné, instalando-se aí um centro de instrução, onde foram preparados os fuzileiros africanos. 
Além dos DFE, a Marinha manteve na Guiné duas companhias de fuzileiros, que garantiam a segurança das instalações navais de Bissau (INAB) e participavam na escolta aos comboios de batelões que navegavam nos rios. 
Até 1970, operaram quatro DFE na Guiné. Em Abril desse ano, foi criado o DFE 21, a primeira unidade de fuzileiros africanos, onde apenas os oficiais, sargentos e algumas praças eram metropolitanos. Nos finais de 1971, reduziram-se as unidades metropolitanas a três DFE, mas foi activado o segundo destacamento africano, o DFE 22. 
Em 25 de Abril de 1974, encontrava-se um terceiro destacamento em formação no Centro de Bolama, que ainda foi activado em Julho de 1974, com a designação de DFE 23.






Fuzileiros em Moçambique 

Em Outubro de 1962, foi enviada para Moçambique a Companhia de Fuzileiros Navais n.º 2. Esta primeira unidade ficou baseada em Lourenço Marques, sendo-lhe confiada a segurança do Comando Naval de Moçambique, enquanto um pelotão era destacado para o lago Niassa, em Metangula. 

Em Novembro de 1964, chegou a Moçambique o Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 1 e, em 1967, o dispositivo contava com quatro destacamentos e duas companhias, mantendo-se essas forças até Abril de 1973, data em que foram reduzidos os destacamentos para três e se juntou mais uma companhia às duas já existentes no território. Estes efectivos mantiveram-se até Abril de 1974, tendo actuado nas zonas do lago Niassa, de Cabo Delgado e Tete. 

O lago Niassa foi o primeiro cenário da participação dos fuzileiros, que tiveram bases em Metangula e Cobué, cada uma com um destacamento, actuando autonomamente até ao limite das águas territoriais em operações realizadas em lanchas ou botes. 

Em Cabo Delgado, os fuzileiros instalaram a sua base em Porto Amélia, realizando operações nas zonas da serra do Mapé, lago Chai, lago Neguri e também nas regiões de Mocímboa da Praia e Palma, tendo ainda participado na Operação Nó Górdio, no interior do Planalto dos Macondes. 

Com a abertura da frente de Tete, os fuzileiros ocuparam posições a montante e jusante de Cahora Bassa, com um destacamento no Magué e outro em Tchirase.

Os nossos fuzileiros na guerra de África 


O primeiro destacamento partiu em 1961 para o Ultramar. Regressaram em 1974 com o orgulho do dever cumprido e muitas estórias paralelas que agora são desvendadas. Ficheiros secretos. 12 de Novembro 2006, 00h00Nº de votos (0) Comentários (1) Por:Sofia Rato   A Guerra de África foi impulsionada quando, a 4 de Fevereiro de 1961, uma revolta na cidade de Luanda, liderada pela União dos Povos de Angola (UPA), incluiu ataques à Casa de Reclusão, ao quartel da Polícia de Segurança Pública (PSP), e à Emissora Oficial de Angola. Foi o início da luta armada em Angola e o princípio de um conflito que se estendeu à Guiné e a Moçambique e que durou 13 longos anos. 

A História desta guerra foi escrita e contada várias vezes e sob perspectivas diferentes mas, até agora, não existia bibliografia que narrasse a visão dos fuzileiros neste cenário difícil. Ou pelo menos, de um fuzileiro. Esta é a proposta do Capitão-de-Fragata Fuzileiro Luís Sanches Baena, que na passada sexta-feira, lançou – no âmbito do 45.º aniversário da primeira unidade de Fuzileiros (que originou a escola) e simultaneamente a partida do primeiro destacamento para o Ultramar – ‘Factos e Feitos na Guerra de África’ (edições Inapa), uma colecção dividida em quatro volumes e onde desfilam controversos documentos oficiais que estiveram selados até 2004. Durante dois anos, Sanches Baena dedicou-se exclusivamente ao livro e, na recolha e análise de documentos, acabou por ser surpreendido: “Tive algumas surpresas porque para nós, jovens tenentes e segundos tenentes que estivemos naquele teatro de operações, a realidade limitava-se a umas milhas para jusante e outras para montante do rio ou aos palcos de acção pelo que, o que se passava nos bastidores era desconhecido”, confessa. O teatro de operações dos Fuzileiros no Ultramar era, por excelência, a Guiné-Bissau: “Estamos a falar de um país sulcado de rios e os fuzileiros integram a Marinha que trabalha habitualmente com água”, explica Sanches Baena. 







No entanto, os nossos fuzileiros também desempenharam missões em Angola e em Moçambique, apesar dos fracos recursos orgânicos e logísticos. “Em Angola, por exemplo, os grandes transportes de pessoal a longas distâncias não podiam ser feitos de bote, tinham que se socorrer de outros meios de transporte, às vezes com o apoio do pessoal civil”, diz. REVELAÇÃO A maior revelação para este fuzileiro centra-se na antiga colónia da Guiné, cenário onde viveu nos anos quentes, entre 1972 e 1974 e prende-se com as tensas e complexas relações entre o Comando Chefe das Forças Armadas e o Governador Geral – António Spínola – e o Comando da Marinha. Recorde-se que Spínola assumiu a liderança na Guiné entre 1968 e 1973: “Na realidade, apesar de ter sido surpreendido, não posso afirmar que esta tensão me cause estranheza, uma vez que nós sentíamos estas complexidades e o comando chefe da Marinha foi difícil, ou seja, em certos períodos existiram conflitos graves”, acrescenta Sanches Baena. O percurso dos fuzileiros no Ultramar poderia, possivelmente, ser definido com um ‘Antes de’ e um ‘Depois de’ Spínola. Mas não é, nem os fuzileiros gostam de manifestar – dez anos decorridos sobre a morte do brigadeiro – livremente a sua opinião. “Muitas vezes nos cenários longínquos como Angola e Moçambique havia dificuldades crescentes dos comandos da Marinha com os comandos dos fuzileiros. Penso que houve dificuldade em digerir tensões, mas na Guiné, onde eu estive, acho que estas questões foram rapidamente ultrapassadas”, recorda o Capitão-de-Fragata. Sobre a sua experiência pessoal sentida no Ultramar, Sanches Baena, revive com ênfase o aparecimento, em Março de 1973, dos mísseis terra-ar ‘Strella’ que retiraram supremacia aérea às forças portuguesas. Enquanto se estudavam novas tácticas e se buscava um antídoto para o míssil, a Força Aérea ficou sem meios, o que dificultou a actividade operacional dos homens que em terra necessitavam de apoio: “Os mísseis abateram num curto espaço de tempo várias aeronaves nossas o que obrigou a repensar toda a estratégia e empenhamento do pessoal. 






Nós íamos para o mato e tínhamos o controlo e o domínio do ar e estávamos seguros mas, a partir daí, as coisas complicaram-se. Confrontamo--nos com uma dificuldade grande, que, tal como as outras, debatemos”. Só em Dezembro, volvidos 9 meses, se restabeleceu por completo a confiança nos meios aéreos uma vez que era conhecida a táctica para minimizar o efeito dos mísseis ‘Strella’. No curso das várias tensões que durante anos subsistiram em Angola, e num dos embustes que ocorreram em Agosto de 1968 na curva do Rio Chifumage, o vice-almirante Roboredo e Silva, então Chefe do Estado Maior da Armada, envia uma mensagem para as forças especiais dos fuzileiros, onde se lê: “(...) Causou-me grande mágoa pois suponho ser a primeira vez que forças fuzileiras são emboscadas sofrendo baixas sem as causar ao inimigo. Ficam-me dúvidas sobre se o desembarque se efectuou durante o dia, o que será totalmente condenável e terá de ser proibido rigorosamente pois a vulnerabilidade do desembarque de botes só é praticável durante a noite...” Nas palavras do autor destes livros, “muitas vezes em Angola existiam dificuldades entre os comandos da Marinha e os comandos dos Fuzileiros.” Estas complexidades não impediram, porém, os fuzileiros de seguir a sua missão. “Penso que todos os fuzileiros que estiveram no Ultramar sentem a satisfação do dever cumprido e nós éramos novos, tínhamos inclusivamente voluntários nas unidades com 17 ou 18 anos”, afirma Sanches Baena. 





A propósito de Angola, nos seus documentos, o fuzileiro também recorda episódios pouco conhecidos sobre o transporte de lanchas e desembarque em largos quilómetros de picadas até aos rios do Leste de Angola, que, durante a maior parte do ano não tinham água. A propósito do número de óbitos dos fuzileiros, Sanches Baena realça o código de honra destes oficiais: “Vivos ou mortos trouxêmo-los todos, nós não deixávamos camaradas para trás, embora, quando algum de nós sucumbia às correntes fortes dos rios, o trabalho fosse difícil porque só conseguimos recuperar os corpos que dois ou três dias depois vieram à tona, muitas vezes presos nas margens”. Apesar do orgulho do dever cumprido, no regresso a Portugal, Sanches Baena sentiu a segurança que lhe escapara durante dois anos da sua juventude: “Todos tínhamos medo, quem não tinha, era louco mas sabíamos controlar os receios e ir para a frente”, confessa. E prossegue: “É evidente que quando atravessávamos um campo que sabíamos que estava minado e que o nosso próximo passo podia ser o último, havia receio, mas não deixávamos de o atravessar por causa disso”. 



TREZE ANOS Ao compilar treze anos de Guerra, Sanches Baena confessa que “foi complicado decidir o que publicar porque a selecção teve que ser rigorosa. Ao mesmo tempo respeitei o facto de algumas pessoas estarem vivas, é preciso muito cuidado com os nomes de quem se fala” e explica assim o porquê da inclusão de certos documentos em vez de outros. O perfil deste homem enquadra-se no de tantos outros: foi para a Marinha porque agarrou um desafio e ali cumpriu o serviço militar obrigatório. Rapidamente ingressou nos Fuzileiros, força de combate que considerava ser das melhores e mais apelativas. Chegou à Guiné por vontade própria, em 1972 e sente que ainda pode ser útil à Marinha Portuguesa e ao seu País. Alheio à polémica e às vozes de discórdia que estes livros – que no fundo simbolizam a voz dos últimos fuzileiros no Ultramar – vão certamente levantar, Sanches Baena mostra-se confiante. E não deixa de ser peremptório: “Tudo o que diga respeito ao Ultramar vai sempre causar polémica; foi um assunto que tocou intimamente e de perto milhares de homens e não existem duas pessoas que vejam as coisas da mesma maneira. Esta é a visão de um fuzileiro e a maneira como os fuzileiros sentiram a guerra. Há aqui opiniões, como é evidente e sei que nem toda a gente concordará...” 







VIDAS PERDIDAS NO ULTRAMAR MORTOS EM CAMPANHA Luís Sanches Baena fez um apanhado dos fuzileiros que perderam a vida em África entre 1962 e 1975, em Angola, na Guiné, Moçambique e também em Cabo Verde. Mais de metade morreu em combate mas outros factos como acidentes ou doença contribuíram para que a Marinha Portuguesa contabilizasse 154 mortos entre os seus fuzileiros, operacionais e voluntários. Quase todos foram enterrados em Portugal. “Só conheço um caso de um oficial que, não sei porquê, está sepultado na Guiné”, diz Sanches Baena. Outros não chegaram a ser enterrados porque não foi possível resgatar os seus corpos perdidos nas correntes fortes que agitavam os rios. LISTAGENS EXAUSTIVAS: COMPANHIAS Luís Sanches Baena procurou aproximar o mais possível da realidade as listagens dos fuzileiros que, durante 13 anos, partiram para o Ultramar uma vez que estes, ao serem substituídos tinham o seu nome riscado da folha original. “Penso que consegui chegar às listagens reais, mesmo com as substituições e os nomes escritos a lápis ou por cima”, diz. Entre estes nomes encontram-se pessoas que hoje ocupam lugares cimeiros na sociedade. “Muitos rapazes que foram para a Guerra, tinham os seus cursos e as suas vidas e no regresso, retomaram-nas, até porque dezenas de voluntários integravam as nossas unidades”. Um dos nomes que aparece é o de Medeiros Ferreira. Entre risos, o fuzileiro explica: “Por acaso é irmão do deputado do PS”.



CM



ATENÇÃO ! COPIE O LINK ABAIXO COM O RATO E COLE NO MOTOR DE BUSCA GOOGLE PARA TER ACESSO A VÁRIOS VÍDEOS COM MUITO INTERESSE SOBRE A GUERRA COLONIAL - IMAGENS QUE NÃO FORAM EXIBIDAS EM PORTUGAL

http://www.tecnet.pt/item/guerra-do-ultramar-guine.html


Os Fuzileiros na Guiné






Em 6 de Junho de 1962 chega a Bissau o primeiro Destacamento de Fuzileiros Especiais, o DFE 2, comandado pelo 2TEN Pedro Manuel Vasconcelos Caeiro.

Numa acção, em Dezembro desse mesmo ano, aquele oficial foi o primeiro a sofrer ferimentos em combate durante a guerra do ultramar, obrigando à sua evacuação e rendição.

Até ao fim da guerra, passaram pela Guiné 24 Destacamentos de Fuzileiros Especiais aos quais devem ser acrescentados ainda três Destacamentos de Fuzileiros Africanos, os DFE 21, o DFE 22 e o DFE 23. Este último não chegou a ser activado.

Durante o mesmo período, integraram ainda o dispositivo militar naquele território, 11 Companhias de Fuzileiros e 3 Pelotões de Reforço.

O Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 2 de partida para a Guiné.

Do total de 74 fuzileiros mortos em combate, durante a guerra, 50 tombaram na Guiné. Assim se compreende bem o significado que este teatro teve e ainda tem para os fuzileiros.

reservanaval.blogspot.pt

DEPOIMENTO DE FUZILEIRO GUINENSE QUE COMBATEU OS SEUS IRMÃOS 
AFRICANOS AO SERVIÇO DAS FA PORTUGUESAS


A Guerra Colonial na Guiné Portuguesa: A Operação Mar Verde


A Operação Mar Verde foi uma operação militar secreta levada a cabo pelo exército português e executada em 22 de novembro de 1970.
VÍDEOS
um saudosista


documentários






Vá nestes links e veja vídeos

https://www.youtube.com/watch?v=TIlaIuWhedI

https://www.youtube.com/watch?v=EE-jGo6zeYU


A operação foi executada pelo destacamento de fuzileiros especiais nº 21 sob o comando direto de Alpoim Galvão e tinha como principal objetivo realizar um ataque anfíbio a Conacri, a capital da República da Guiné-Conacri para libertar vários priosioneiros de guerra portugueses aqui detidos. Como objetivos secundários, a Mar Verde devia destruir as lanchas rápidas que o PAIGC mantinha em Conacri e a deposição do regime do presidente deste país, Sékou Touré e a instalação no poder de um grupo oposicionista local.
A Força Aérea no conflito da Guiné Portuguesa (1963-1974)
As primeiras operações de reconhecimento do território a atacar são realizadas por um avião de patrulha marítima Lockheed P2 V5 Neptune.(Ataque de um comando do PAIGC a um quartel do exército português, na Guiné)
As forças guineenses e portugueses reunidas na ilha guineense de Soga recebem apenas na véspera a informação da natureza da missão para a qual se tinham treinado nas últimas semanas e nem todos recebem bem essa notícia… As forças portuguesas e de insurretos guineenses recebem armas bulgaras compradas no mercado negro pela PIDE e novos uniformes. Os navios portugueses que tomarão parte na operaçao sao pintados de forma a mascarar a sua origem. A frota empenhada na Mar Verde é composta por 4 LFGs (classe Argos), Cassiopeia, Dragão, Hidra e Orion (navio-chefe), e 2 LDGs, a Bombarda (da classe do seu nome) e a Montante (da classe Alfange). Foram as LFGS Dragao e Cassiopeia que recebem as equipas com a missão de atacar os alvos do PAIGC em Conacri.
No total, a força de desembarque ascendia a 400 homens, entre membros dos Comandos Africanos e insurretos guineenses.


(Os Comandos Africanos)
A operação começaria pela destruição das lanchas, de forma a obviar qualquer tipo de reação contra a frota portuguesa, após a qual seriam tomados vários pontos essenciais da capital e destruídos os MiG que se esperavam estar estacionados no aerodromo de Conacri e que em virtude da quase nula capacidade anti-aerea da frota portuguesa lhe poderiam
constituir uma seria ameaça.
A primeira equipa a tocar em terra é a VICTOR que com 14 fusileiros e um guia da FLNG larga da Orion. Quando chegam a terra julgam reconhecer a silhueta de uma fragata soviética, mas esta primeira má notícia não se confirma: eram afinal duas lanchas sobrepostas. Pouco depois todas as lanchas do PAIGC seriam destruidas a granada pelos comandos não sem terem que enfrentar dura oposição das suas tripulacoes e de alguns guardas. Cumpridos os seus objetivos, a VICTOR regressa de bote pneumático à Orion. No total, a equipa sofrera apenas um ferido ligeiro tendo destruído 6 lanchas e provocado cerca de 20 baixas no inimigo. Quando os primeiros comandos regressavam à Orion, já todos os restantes elementos do grupo de desembarque estavam em Conacri.
A equipa OSCAR é formada por 40 militares, comandos africanos e revoltosos guineenses desembarca junto ao quartel da guarda republicana, a elite do exército guineense. Embora esta tenha oposto resistencia inicialmente, rapidamente se mete em fuga ou é abatida. Pouco depois, serão aqui libertados mais de 400 opositores aqui detidos. A força evacua mas deixa no local 20 membros dos revoltosos guineenses.
Simultaneamente, as equipas INDIA e MIKE saiem da Montante para terra mas os homens da FLNG nao querem sair e apenas depois dos Comandos Africanos darem o exemplo é que saiem todos. A INDIA com 10 comandos e um guia da FLNG têm como objetivo a central elétrica onde eliminam duas sentinelas e desligam a energia, cortando a eletricidade a toda a capital.
A equipa MIKE com os seus 15 comandos africanos e 35 elementos da FLNG parte para o campo militar de Samory, a 1 km de distancia com a missao de capturar um importante arsenal do exercito guineense. A guarda do campo reage mas o fogo dos comandos anula-a e o campo é tomado sem dificuldade. As forças invasores apossam-se assim de 15 blindados ligeiros de reconhecimento, 50 jipes e de mais de uma centena de camioes. Varias armas ligeiras sao capturadas no arsenal, que seriam essenciais ao golpe militar que a FLNG queria montar. Praticamente logo depois da tomada das instalações começam a chegar forças da Guiné Conacri e a equipa MIKE é obrigada a responder ao fogo num tiroteio que se prolonga durante mais de 3 horas. As forças governamentais perdem aqui mais de 30 militares mas as forças da FNLG mostram a sua inabilidade militar demonstrando que o objetivo de fazer tombar o regime de Sékou Touré só muito dificilmente poderá ser cumprido… os comandos sofrem 2 baixas (no total, a Mar Verde traria 3 mortos às forças portuguesas). Cumprida a sua missão, as forças portuguesas retiram e deixam no campo as forças da FNLG e mais de cem mortos das forças governamentais.




A equipa ZULU, formada por fuzileiros e comandos africanos chega a terra e divide-se em 3 grupos. Um deles dirige-se à prisão onde estao detidos os 26 prisioneiros portugueses que sao rapidamente libertados e que após uma caminhada de 400 metros embarcaram nas lanchas pneumáticas não sem terem sido atacados por militares de Conacri, que são repelidos.
O segundo grupo da equipa ZULU é formado apenas por comandos africanos e tem como missão atacar o quartel general do PAIGC. Vários elementos do PAIGC sao mortos no assalto. O terceiro grupo ZULU alinha com 21 fuzileiros e um guia da FLNG e deve tomar a Villa Silly, uma das residencias do presidente da Guiné Conacri com o objetivo de o eliminar fisicamente. As sentinelas sao abatidas e o complexo tomado sem que seja vistos traços do presidente. As casas são destruídas e equipa retira e desloca-se para o Campo da Milícia Popular, a situado a cerca de 100. Alguma oposição é aqui encontrada e vencida sem baixas havendo várias dezenas de baixas entre os guineenses.
A equipa HOTEL larga da LDG Bombarda e tem como missao capturar a mais importante radio da capital. Mas desorienta-se e fica na praia atée receber ordem de reembarque.
Através de duas vagas distintas, a Bombarda coloca em terra as restantes equipas: ALFA, BRAVO, CHARLIE, DELTA, ECHO, FOXTROT e GOLF. Formadas por comandos africanos e elementos das FLNG têm como objetivo a tomada de instalacoes governamentais que sao tomadas com relativa facilidade, encontrado fraca resistencia.



A operação foi um sucesso, mas Sékou Touré manteve-se no poder porque estava fora do país e o esperado levantamento popular que as forças oposicionistas na FLNG esperavam não ocorreu devido à resistência das forças do PAIGC na capital contra o ataque português e da FLNG e depois, pela chega de forças fiéis do interior e à presença de um destacamento cubano. Sékou Touré exerceu uma severa e cruel repressão após a tentativa falhada de golpe, apoiada pelo exército português.
Uma vez estabilizado o país o regime de Conacri protesta formalmente nas instancias internacionais. Perante esta reação, o governo português optou pela via da negação mas não consegue evitar 2 resoluções do Conselho de Segurança condenando a Operação Mar Verde e a Nigéria chega a oferecer o envio de tropas para dissuadir novos ataques portugueses. A União Soviética – principal aliado internacional de Conacri – envia 3 navios de guerra para a capital. Até os EUA ficam furioso tendo Kissinger dito: “Esta porcaria desta ditadura só nos traz problemas!” O próprio Spínola viria aliás expressar a sua frustacao para com os resultados da operacao: “o Calvão actuara como para realizar um golpe de mão, sem ter percebido que o fundamental ali era o golpe de Estado”.
Do ponto de vista estritamente diplomático, a Mar Verde é um desastre. O país fica mais isolado do que nunca e as relações com o mais importante aliado internacional – os EUA – nunca irão recuperar. O PAIGS aproveita o escândalo internacional para aumentar as importações de armas soviéticas e chinesas. Em particular, a Marinha do PAIGC sofreu um aumento substancial: para o lugar das 6 lanchas Komar recebeu 6 lanchas P6 e mais outras 6 lanchas de patrulha costeira.





Sem comentários: