CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA POLÍTICA DO DISTRITO: O PCP DE ÉVORA NA CLANDESTINIDADE (1933-1973)
José Frota (*)
De fora na primeira reorganização
A ilegalização do Partido Comunista em 1927 e a sua passagem à clandestinidade determinou igualmente o desmantelamento da Comuna de Évora e das células que lhe estavam associadas (1) A tentativa de reorganização do Partido, iniciada em 1929 pelo novo secretário-geral, Bento Gonçalves, obedeceu a um completo alinhamento com a Internacional Comunista (IC) , aceitando a liderança da URSS e o papel de Moscovo no controlo e fiscalização do Partido. Este passava a organizar-se agora, sim, de acordo com o rígido e dogmático modelo bolchevique.
Mas essa reorganização não passou por Évora. Em 1933 morria Joaquim Nogueira, que havia sido o secretário-geral da Comuna de Évora. Este facto e a vigilância exercida sobre José Maria Neto, o mais popular dos comunistas locais de então, o qual contava já com 57 anos, provocou um bloqueio quase total da actividade do Partido no concelho e no distrito. Os poucos militantes restantes desse período agiam de forma desconexa, sem orientação responsável. E os novos elementos, que iam sendo recrutados, aqui e além, também não estavam a par do trabalho colectivo, pois a informação não circulava, agindo, as mais das vezes, por impulsos de grupos de dois ou elementos num claro sinal de voluntarismo desnorteado. Esta situação era aliás extensiva, ainda que de forma menos acentuada, ao Baixo Alentejo.
O Partido vai, no entanto, tentar mascarar este falhanço da recuperação da sua influência na região, ainda que sem o conseguir, no VII Congresso da Internacional Comunista em 1935. Nesse ano a delegação portuguesa a Moscovo, composta pelo secretário-geral do PCP, Bento Gonçalves e pelos dois outros elementos do secretariado, José de Sousa e Francisco de Paula Oliveira, mais conhecido por Pavel (2) apresenta o PCP como possuindo 1200 aderentes.
Estes números não convencem a IC, que sempre desconfiada com o rumo de actuação do PCP, quanto à sua orientação, organização e métodos, faz reunir a 4 de Abril de 1936, o seu Secretariado Latino para análise da chamada «questão Portuguesa». Todavia no decurso desse intervalo de tempo, Bento Gonçalves e José de Sousa, entre outros membros da direcção tinham sido presos e enviados para o Campo do Tarrafal, acabado de inaugurar.
De imediato Pavel vê-se confrontado com informações entretanto recolhidas pela IC, tarefa da qual fora incumbida a búlgara Stela Blagoeva (3) ,chefe da Secção de Quadros, recorrendo à multiplicação de contactos pessoais que possuía em Portugal, como aliás no resto da Europa, que desmentiam categoricamente os números recentemente apresentados. Prevenido, porém, sobre o motivo da convocatória, Pavel assume que «os efectivos do partido são neste momento 500 aderentes» e quando questionado sobre o que era feito dos outros 700 é obrigado a reconhecer que houve um exagero argumentando que se os números não correspondem à realidade « é porque também não há meios suficientes para a fiscalização e eles são estabelecidos por estimativa »
Mesmo assim em relação aos 500 militantes assumidos eles eram claramente fantasiosos isto se tomarmos em consideração que 250 estavam atribuídos a Lisboa, 200 ao Alentejo, 70 ao Barreiro e 10 a outros locais. No tocante ao Alentejo a distorção era verdadeiramente escandalosa dado que não ultrapassariam os 60.
Pavel, que na altura funcionava como representante permanente do PCP na IC é mandado para Portugal a fim de tomar conta da situação, investido na condição de secretáro-geral interino. Os seus esforços no sentido de fazer eleger uma nova direcção ou um novo secretariado serão no entanto baldados. Será preso novamente em 1938, conseguindo no entanto evadir-se rapidamente. A rapidez dos acontecimentos levanta suspeitas em Moscovo pelo que a Internacional Comunista decide expulsar o PCP da organização (4). Álvaro Cunhal compreenderá e reconhecerá mais tarde que depois da prisão de «Bento Gonçalves e de todo o Secretariado seguiu-se um período (1935-39) em que os militantes mais responsáveis que ficaram em liberdade não conseguiram encontrar soluções para a eleição duma nova direcção»(5).
Ainda assim e apesar de não existirem ordens cimeiras para o exercício de acções colectivas parece ter havido uma acção concertada de militantes comunistas para infiltração na Legião Portuguesa (6) a que lhes atanazava a existência e lhes cerceava o exercício da actividade conspirativa. Numa depuração efectuada no ano de 1938, depois de uma aceitação em massa de aderentes, a Legião Portuguesa procedeu à eliminação de 871 elementos. No distrito de Évora foram banidos 20 elementos por suspeitas diversas entre as quais a de serem comunistas. Em Beja foram banidos 22 e em Portalegre 16, «indivíduos de porte político e social suspeito» (7). Em 1939, ano em que finaliza a Guerra Civil de Espanha com o triunfo da direita, fortemente apoiada pela Itália fascista de Mussolini e Alemanha nazi de Adolf Hitler, a Legião contava no distrito 13 núcleos e 1470 efectivos que controlavam tudo e todos .
O Partido em Évora segundo Dias Lourenço
Em Junho de 1942, em consequência de uma segunda reorganização, começada a ser preparada dois anos antes e concretizada em função da morte de Bento Gonçalves no Tarrafal e na qual Álvaro Cunhal assume papel preponderante, António Dias Lourenço é nomeado coordenador da organização para todo o Alentejo. Tinha então 27 anos e era um elemento estranho à região. Natural de Vila Franca de Xira, apresentava-se como operário metalúrgico (torneiro mecânico), profissão que havia exercido nos alvores da juventude nas oficinas de aviação em Alverca e na Soda Póvoa (Póvoa de Santa Iria). Aderira ao PCP com 16 anos e passara à clandestinidade em 1941.
Na cidade de Évora foi encontrar «um núcleo de trabalhadores de elevada consciência das realidades, que desde os anos 30 erguia a bandeira da luta contra o fascismo e foi exemplo de uma acção esclarecida nas primeiras iniciativas de natureza social, cultural e política para os anos que aí vinham» (8). Nesta evocação, feita em 1997, destaca os nomes de Joaquim Rolim, José Rêpas da Mata e Joaquim Silva, mas comete algumas imprecisões, provavelmente por estar a citar de memória e não com base em informação certificada.
A Joaquim Silva, atribui um valoroso trabalho cultural de massas, desenvolvido na Sociedade Operária Joaquim António de Aguiar e uma movimentação e agitação junto dos seus companheiros na «Metalúrgica dos Caeiros» (9) , a qual não é possível identificar com segurança e credibilidade, o que não significa que estejamos perante uma inverdade.
Quanto ao segundo dos elementos nomeados trata-se, certamente, da deturpação involuntária, do apelido de Manuel José Rêpas de Matos, e não da Mata, operário de construção civil, dirigente do Comité Regional de Évora e que viria a ser um dos 19 participantes no III Congresso no PCP, I na ilegalidade, realizado em 1943, na “ Vila Arriaga” , propriedade situada no Monte Estoril, a qual fora alugada para o efeito. Rêpas de Matos era dirigente sindical e veio a ser mesmo o grande agitador e animador da grande concentração que os trabalhadores eborenses organizaram em Setembro de 1944, em frente à delegação regional do Sindicato Nacional da Construção Civil, numa acção concertada de operários e dirigentes que juntou mais de trezentas pessoas, veio para a rua exigir o aumento dos salários.
Entretanto no ano anterior o novo Comité Central do Partido tinha aprovado a sua «viragem para os camponeses» preconizada e exigida desde há algum tempo por Júlio Fogaça (10) que com Bento Gonçalves integrara o Secretariado em 1935 sendo igualmente deportado para o Tarrafal e libertado em 1942, à pala de uma amnistia. Essa viragem para o sector camponês «para ser efectiva e não meramente retórica, implica, segundo o seu proponente, o sancionamento dos responsáveis das organizações rurais que não procuram materializar as directivas do Partido e se mantenham aferrados a um trabalho sectário no meio comercial e pequeno-burguês, sem contactarem com a classe camponesa». Fogaça atribuía essa subestimação à sobrevivência no seio do Partido dos conceitos oportunistas e esquerdistas da social-democracia e do anarquismo- sobretudo do último».
Em obediência a estas consignas Dias Lourenço, Júlio Fogaça e Pedro Soares, este natural de Beja, vão correr todo o Alentejo num trabalho de sapa e agitação que não tardará a colher os seus frutos para isso beneficiando também do rápido esvaziamento da Legião Portuguesa. Manuel Braga da Cruz, em análise à conjuntura de então, virá a dizer: «Com a sorte do conflito (II Guerra Mundial) traçado, o frenesim e o ardor nacionalistas começaram a esfumar-se para além de que a organização não se tinha revelado a agência de empregos que muitos vaticinaram. Nos anos de 1942 e 1943 registou-se um abandono em massa das sua fileiras». E prossegue : «mais do que milícias armadas do que se precisa agora, é de novo de uma organização política activa capaz de enfrentar a concorrência política das oposições que começam a manifestar-se. A importância da política vai regressar» (11).
A PVDE (futura PIDE) instala-se em Évora via Governo Civil
Salazar pressente o perigo e procede a uma remodelação governamental entregando a pasta do Interior ao general Júlio Botelho Moniz, ainda fidelíssimo ao ditador e crente nas virtualidades do Estado Novo. Apercebendo-se do ambiente de sedição que lavra no sector operário e do crescimento do partido nas zonas rurais Botelho Moniz nomeia para governador civil do distrito, em comissão de serviço, o major Maia Mendes, ex-sidonista, antigo subdirector da PVDE e chefe da Secção de Vigilância e Política Social, função que continua a manter apesar de deslocado para Évora em comissão de serviço.
Maia Mendes, que é promovido a Tenente Coronel, toma posse a 26 de Outubro de 1944, ou seja, um mês depois da referida manifestação do Sindicato da Construção Civil e não descansa enquanto não vibra um golpe profundo neste que é o sector mais activo do partido e ameaça com a contestação nos meios urbanos, cidade e vila de Montemor-o-Novo., incluídas. Tem-se como provável que Álvaro Cunhal, através de Dias Lourenço, tenha alertado os comunistas eborenses para o perigo que consistia a presença de Maia Mendes, uma vez que tinha sido ele, enquanto capitão, quem dera ordens directas para o seu espancamento e tortura quando da sua primeira prisão quando ainda era estudante, pelo que não olhava a meios para obter os seus fins.
Os acontecimentos acabam por correr a favor de Maia Mendes quando a 20 de Maio de 1945 cerca de dois mil trabalhadores se juntam em frente ao Grémio da Lavoura em Montemor-o-Novo para reclamarem contra a fome que grassa nos campos alentejanos, reclamando melhores salários e fornecimento suplementar de géneros. O Partido havia lançado um apelo aos vários sectores para se juntarem ao protesto. É nesta condição que Germano Vidigal, operário da construção civil, colega de Rêpas de Matos na direcção regional do Sindicato e responsável da 1ª. Comissão Local de Montemor-o-Novo do PCP. se junta aos manifestantes.
Alertado para os acontecimentos o governador civil dá ordem a que uma força especial da GNR de Évora para restabelecer a ordem. Chegado ao local o contigente paramilitar carrega com brutalidade sobre os manifestantes e acaba por deter a maior parte deles levando-os os para a Praça de Touros onde os mantém por várias horas durante as quais procede à sua identificação entre ameaças, insultos e algumas bastonadas.
È no decurso desta acção que a GNR de Évora descobre Germano Vidigal. Enquanto os outros são detidos são libertados, o capitão Maia Mendes, informado da situação, ordena que Germano Vidigal seja levado para o posto da GNR de Montemor para ser interrogado por dois agentes da PVDE.
Vidigal recusa-se a fornecer quaisquer informações sobre a orgânica regional do partido, os seus responsáveis e os respectivos contactos, pelo que é seviciado e torturado. Segundo o relato de quem teve conhecimento do que se passou, « cortaram –lhe as costas a cavalo-marinho, aplicaram-lhe golpes socos violentes no estômago e no fígado, esmagaram-lhe os testículos, espezinharam-no, projectarem-no violentamente contra as paredes da sala, provocando-lhe extensas e profundas feridas na cabeça (12).
Vítima de todo este barbarismo Germano Vidigal viria a falecer oito dias depois, a 28 de Maio, curiosamente na data em que se completavam 28 anos sobre o golpe que levaria a direita ao poder. A PVDE não deixara os seus créditos por mãos alheias, Maia Mendes confirmara a sua aura de sinistro torcionário e o PCP de Évora ganhara o seu mártir e o seu herói.
O PCP de Évora e o MUD
Segundo o historiador Rui Ramos na tarde de 9 de Maio de 1945 os estudantes oposicionistas de Lisboa, ao tomarem conhecimento da rendição da Alemanha, invadiram e interromperam as aulas na universidade e nos liceus e dirigiram-se para as embaixadas dos países Aliados para dar vivas à «democracia» (13) . No dia 18, Oliveira Salazar acabou por reconhecer que a guerra tinha sido ganha pelas potências sob a bandeira da democracia.
Pressionado pelos acontecimentos e sentindo que era necessário fazer alguma coisa para limpar a cara ao regime, o ditador que sob a capa de uma neutralidade enganadora sempre mostrara a sua afeição em relação à Alemanha, a qual se traduzia num apoio efectivo às pretensões e posições germanófilas, procurou a todo o transe reencontrar o comboio da história .e garantir a sua sobrevivência política. Em Agosto vai prometer a realização de «eleições tão livre como na própria Inglaterra».
Enceta então uma série de políticas aparentemente liberalizadoras para simular que o regime até está disponível para uma democratização controlada. Avança então para uma revisão constitucional , que permite alterações na legislação eleitoral, a qual consagra o regime de círculos eleitorais em vez da habitual lista única nacional e dissolve a Assembleia Nacional anunciando a convocação de eleições legislativas para Novembro.
O PCP que estava numa fase de efectiva expansão, tendo contribuído inclusivamente no ano anterior de forma decisiva para a criação do MUNAF (Movimento Nacional de Unidade Anti-Fascista) foi apanhado de surpresa num momento delicado pois a estava ainda a recuperar do efeito da prisão de alguns elementos do Comité Central por parte da PVDE
Daí que perante as perspectivas abertas pela decisão governamental tivesse sido a oposição democrática, composta por antigos republicanos e por muitos independentes que exigiam o fim do Estado Novo, a tomar a decisão de convocar uma reunião para o velho Centro Republicano Almirante Reis, perto do Martim Moniz para estudarem e definirem as circunstâncias em que poderia concorrer às eleições. Dessa sessão pública que teve lugar a 8 de Outubro e se saldou por um enorme êxito, saiu o MUD (Movimento de Unidade Democrática) que pretendia ser considerado legal, de natureza essencialmente cívica e que representaria toda a oposição.
O impacto em Évora desta reunião não podia ter sido maior, Na sua edição nº. 8429 de 13 de Outubro, a “Democracia do Sul” noticia que «por um grupo de cidadãos (14) foi entregue na segunda-feira (dia 12) no Governo Civil ao Tenente Coronel Maia Mendes um requerimento de autorização para a realização de uma reunião com ordem igual à da recente reunião no Centro Republicano Almirante Reis em Lisboa». Os 22 signatários do documento pertencem praticamente todos aos velhos partidos republicanos com excepção de José Bernardo Alcanena, antes carpinteiro e agora industrial do ofício, que tendo pertencido à Comuna de Évora em 1925 se mantém fiel ao PCP. O pedido de marcação para o dia 15 é deferido mas o local desejado não o é. A Câmara de Évora recusa a cedência do Teatro Garcia de Resende pelo que a reunião para o salão da Sociedade Harmonia Eborense.
A sala abarrota de gente, e as intervenções efectuadas, arrebatadoras e prenhes de esperança no futuro, levam ao rubro o entusiasmo da assistência, principalmente a capitão Boavida Portugal, antigo governador civil republicano. A 24 de Outubro é o próprio director da “Democracia do Sul”, o advogado Vítor Santos que aderindo ao MUD faz publicar uma “ Carta Aberta à Comissão Central do Movimento” «manifestando a sua gratidão, a sua simpatia e grande fé de que o nosso Portugal será sempre grande sob a égide da República e da Democracia, impondo-se ao respeito de todo o mundo culto e civilizado com o qual colaborará.
De aí em diante o jornal passa a ser o porta-voz do MUD eborense, revelando toda uma série de adesões que vai crescendo gradualmente. Nesse dia e no dia seguinte, o diário divulga uma lista de aderentes que entretanto haviam declarado o seu apoio ao movimento, maioritariamente composta por advogados, médicos, professores do Liceu, industriais, pequenos proprietários, escriturários, desenhadores e pequenos funcionários da mais diversa origem, todos eles pessoas bem conhecidas na cidade e no distrito
Refeito da surpresa o PCP dá ordem para que os seus militantes se colem ao MUD. Não é assim de estranhar que do dia 26 em diante a lista de apoiantes cresça desmesuradamente registando-se a entrada em barda de trabalhadores rurais (pastores, seareiros e assalariados indiferenciados) operários da construção civil (serralheiros, carpinteiros, pedreiros e cabouqueiros), corticeiros (nomeadamente da Azaruja), ferroviários ( Évora, Escoural e Casa Branca) e artífices da panificação (padeiros e pasteleiros entre outros profissionais de ofícios diversos, somando num mais de 200 elementos.
De fora apenas ficam os funcionários e outros clandestinos. Só então foi possível ter uma noção de como o recrutamento de militantes para o Partido se tinha processado de forma tão intensa e a um ritmo tão acelerado. O PCP passava a controlar o MUD de Évora e o próprio Maia Mendes , seguindo uma orientação do Governo de 1 de Novembro, extensiva a todo o país, manda apreender as listas de apoio ao MUD por alegadas irregularidades no processo de recolha de assinaturas.
O governador civil está porém muito apreensivo. A 21 de Outubro tinham-se efectuado as eleições para as juntas de freguesia. Os candidatos situacionistas foram os únicos a concorrer com excepção da freguesia de S.Manços, eminentemente rural, onde em 1925 o PCP tinha tido uma célula bastante activa e parte significativa da população depois de odiar a Ditadura Militar e votava os mesmos sentimentos ao Estado Novo e Oliveira Salazar.
A Câmara Municipal aceitara a candidatura e aguardava alguns votos na oposição o que só viria provar a boa vontade do governo em aceitar eleições livres. O facto é que o tiro ia-lhe saindo pela culatra. A contagem dos votos foi demorada e a mesma terá sido viciada pelos fiscais da Câmara, que se deslocaram a Évora, a 16 quilómetros de distância para receberem instruções. No fim os resultados oficiais apresentados deram a vitória aos «salazaristas» pela escassa margem de 81 contra 62 (15) o que permitia a presença de um elemento da oposição entre os três eleitos . Um bom augúrio pensaram os oposicionistas para o sufrágio que se aproximava.
A doze dias das eleições o MUD de Évora volta a solicitar ao governador civil autorização para um nova reunião no dia 11 desta feita no Salão Central Eborense que acabara de reabrir após uma grande remodelação e cuja empresa proprietária colocara à disposição. Maia Mendes proíbe a sua realização alegando que a mesma não tinha sido «superiormente cancelada». De facto, Salazar que tomara as rédeas da Campanha eleitoral do Governo e da União Nacional, decidira suspender os comícios do MUD perante a forte mobilização do campo oposicionista.
Será no dia 11 que o MUD anunciará a sua decisão de não se apresentar às eleições por estas não se poderem realizar com um mínimo de isenção, quer devido à acção da Censura como da PIDE, como ter visto recusado o recurso que enviara para o Supremo Tribunal Administrativo no sentido de serem concretizadas algumas medidas que solicitara ao Governo e ao General Óscar Carmona que em seu entender eram essenciais para concorrer de forma séria ao acto.
Apesar disto o MUD não desmobilizará e o PCP conhece no ano de 1946 o maior número de membros, quer no pais, quer no Alentejo e Ribatejo. António Gervásio, militante comunista de Montemor-o-Novo, que se filiara no PCP aos 18 anos e passaria a funcionário aos 25, virá a reconhecer «que foi a partir dos anos 40, quando se realizaram o 3º. (1943) e o 4º. Congresso (1946) , que o Partido deu um grande salto (...) e implantou em grande força , no campos do Sul, no Alentejo e no Algarve» (16).
A esse Congresso, realizado na Lousã em Julho e rodeado de fortes medidas de segurança, compareceram 44 membros, todos usando o pseudónimo pelo qual eram conhecidos na organização.. Entre os que foi possível identificar em relação ao Alentejo contaram-se o coordenador-geral Dias Lourenço; Francisco Miguel Duarte, de Baleizão, também conhecido pelo Xico Sapateiro; Pedro Soares, já referido e João da Veiga, sem profissão conhecida mas funcionário do Partido no Algarve desde os anos 30 de onde tivera de sair por ser demasiado conhecido e fixara residência. De Rêpas de Matos e de António Gervásio não se encontrou rasto a não ser que estivessem incluídos no rol dos 17 pseudónimos restantes para os quais não foi possível encontrar correspondência (17).
Na informação política do Comité Central ao Congresso, Álvaro Cunhal ufana-se de o PCP ter agora mais de 5.000 manifestantes e 4.000 simpatizantes, um número impressionante para um partido na clandestinidade. Destes 800 são camponeses e estão espalhados pelo Alentejo e Ribatejo. Em 1947 o Partido começa e editar “O Camponês", publicação mensal de 2 páginas, que lhes é especialmente dedicada, a qual sai primeiramente sob a forma copiografada e no ano seja passa a ser impressa numa tipografia de Alpiarça.
Esconjurado o perigo das eleições e conhecida pela lista de adesões ao MUD a grande maioria dos militantes no distrito, a já então PIDE, que a 10 de Outubro de 1945 substituiria a PVDE, muda de estratégia em relação à caça aos comunistas do distrito. A 31 de Maio de 1946 faz regressar à base o Tenente Coronel Maia Mendes e Botelho Moniz nomeia para Governador Civil o latifundiário de Arraiolos José Félix de Mira, de aspecto boçal, pouco dotado intelectualmente ( nunca conseguiu o 5º. Ano liceal), mas com um ódio visceral a comunistas e socialistas, para cuja detecção era dotado de um faro especial.
Com o apoio da GNR e uma brigada móvel da PIDE orientada a partir de Lisboa pelo inspector Fernando Gouveia (18), os terratenentes do distrito tentam pôr cobro a um série de greves que entretanto vão estalando por todo o distrito sem no entanto conseguirem identificar os principais agitadores e activistas. Os seus esforços acabarão por resultar quando em Maio de 1947 numa acção conjunta os trabalhadores de Redondo, Machede, Borba, Estremoz e Vila Viçosa, se lançam numa greve em apoio dos trabalhadores rurais a que dão o nome de «marcha da fome» exigindo o aumento dos salários e contra a falta de géneros.
A brigada móvel andava por perto identifica e prende em Vila Viçosa José António Rosado, organizador local da greve e mais três trabalhares rurais, entre os quais António José Patuleia (19) que viria a ser falecer dez dias depois na sede da PIDE depois de te sido torturado por Fernando Gouveia e pelo chefe de brigada. Mário Silva. Mas Rosado não se conseguiu aguentar e confessou que deveria comparecer daí a dias a um encontro com funcionários do PCP. É assim que a PIDE vem a prender em Borba o já citado João da Veiga e José António Pombeiro.. Com João da Veiga, porém, Gouveia, agiu de forma diferente logo que se apercebeu que este, embora tivesse declinado que era natural de Albufeira, se resolveu a revelar o local da sua residência. Gouveia teve a percepção que estava na perspectiva de encontrar uma das famosas «Casas do Partido» que o PCP alugava para manter funcionários seus na clandestinidade.
Daí que o tenha feito permanecer durante cerca de um mês num dos seus gabinetes onde o foi torturando de forma lenta, sistemática e diária até lhe quebrar a resistência. Por outro lado Veiga pensou que a mulher e os outros camaradas, perante a sua prolongada ausência e presumindo a sua detenção já tivessem abandonado a casa, que se situava em Évora., no pequeno bairro de Escusa-Sacos, actualmente Santa Maria (20) e a tivessem esvaziado de quaisquer indícios comprometedores.
Estes, contudo, tinham resolvido aguardar mais uns dias e estavam a preparar-se nesse momento para desaparecer quando Gouveia, acompanhado de mais três agentes chegou à cidade, deteve a sua mulher Mertilina Veiga e Francisco Miguel Duarte, o sapateiro intelectual de Baleizão (21) que se havia tornado o responsável pelo Algarve e tinha sido destacado para fazer a limpeza do imóvel. Os efeitos serão devastadores para o partido: Ainda por esses dias a PIDE detivera em Montemor-o-Novo o trabalhador rural António Vicente Calção, o “cara lavada”(22).
Animada com os êxitos alcançados em 1948 a polícia política aperta o cerco aos principais elementos enquanto muitos militantes e simpatizantes o caminho de deserção. O governo ilegaliza o MUD enquanto Cunhal vai até Moscovo regularizar e reatar as relações com o PCUS (Partido Comunista da União Soviética) para vencer o isolamento internacional a que o PCP estava sujeito desde 1938. Aí chega a 2 de Fevereiro e por lá vai permanecer dois meses. No regresso passa por Belgrado e Paris e só reentra em Portugal em data imprecisa, mas seguramente já no início da segunda metade do ano.
O quadro que vem encontrar não é o melhor. O número de prisões e também de algumas delações desferira um rude golpe na organização do partido, permitira um melhor conhecimento dos seus métodos de actuação e uma identificação do perfil do membro clandestino quanto ao modo como se instalava em vilas e aldeias para se tentar passar por um trabalhador normal à procura de ocupação e habitação.
Os revezes então sofridos na zona industrial de Lisboa, Ribatejo, Alentejo e Algarve, tal como no Norte do país, levam o Secretariado a concentrar-se na zona região Centro do país , de onde podiam desenvolver com alguma facilidade os contactos entre si para realizar o trabalho colectivo e acudir com relativa celeridade a problemas quer a norte quer a Sul.
Mas a PIDE não abrandava nos seus esforços de atingir o coração de partido. Através de informadores, a quem pagava com alguma generosidade, e de denúncias proveniente de gente que odiava os comunistas, assim como da colaboração da GNR, acabou por localizar um palacete antigo no Luso, nas imediações de Coimbra, com dois pisos e elevado números de quartos, que acoitava o grosso do Secretariado e o próprio Álvaro Cunhal. Na madrugada de 25 de Março de 1949 a PIDE numa operação conjunta de grande envergadura, entram de roldão na casa , depois de arrombada a porta e apanham toda a gente a dormir. Álvaro Cunhal, Militão Ribeiro, ambos pertencentes ao secretariado da Direcção e ao Comité Central, José Augusto Martins e Sofia Ferreira que como antiga criada de servir governava a casa. são de imediato detidos e levados para o Porto para serem interrogados. Todo o importante arquivo do Partido é igualmente apreendido.
Ás detenções na casa do Luso sucederam-se outras nos dias seguintes. De posse do valioso arquivo partidário a PIDE enceta uma acção de grande dimensão desmantelando instalações clandestinas em barda e prendendo funcionários a esmo. Mais elementos importantes na organização são retirados da circulação e engrossam as celas prisionais. Entretanto no mês de Abril, Cunhal, Militão e Martins são transferidos para a Penitenciária de Lisboa onde ficam debaixo de rigorosas medidas de segurança a aguardar julgamento.
As condições de isolamento, incomunicabilidade, a deficiente alimentação e a falta de assistência médica regular começam a provocar danos irreparáveis Só Cunhal consegue manter-se relativamente estável. Ao fim de pouco tempo Militão Ribeiro começa a dar sinais de forte instabilidade psíquica passando os dias e as noites em estado de grande agitação, gemendo e gritando permanentemente. Num estado de grande confusão mental entra em greve de fome da qual se recusa terminantemente a sair. Morrerá a 3 de Janeiro de 1950, após nove meses e meio de cativeiro. Tinha 53 anos e pesava apenas 37 anos de tal modo estava consumido pelos meus tratos, pela doença e a recusa em se alimentar.
Com José Martins as coisas passaram-se de forma quase idêntica mas tiveram um desfecho diferente. Também entrou em descompensação mental agravada por sofrer de síflis hereditária. Teve de ser transportado para o Hospital Júlio de Matos, onde Fernando Gouveia apercebendo-se de que o seu problema era menos de ideologia e mais de ordem passional, devastado que estava pela ausência da sua companhia, explorou habilmente a situação, fazendo com que falasse,.conduzindo à denúncia de diversas casas e tipografias. À sua «traição» o PCP respondeu com a expulsão do partido, tornada pública dois meses depois da morte de Militão Ribeiro que tanto também o tinha atormentado e deprimido.
No interior do PCP começava uma espécie de caça de bruxas. As prisões na Casa do Luso e o desmoronar de grande parte da organização clandestina haviam provocado o acumular de desconfiança e suspeição entre muitos dos elementos responsáveis admitindo o cometimento de erros conspirativos, menor vigilância e mesmo de traições impensáveis, entre as quais a de Mário Mesquita, membro do próprio Comité Central.
Acantonado e sem grandes possibilidade de romper o cerco nos tempos mais próximos o partido fechou-se sobre si e procedeu a «uma diminuição temporária da actividade partidária, espaçamento de reuniões, redução do trabalho de agitação, isolamento e corte com todos aqueles que estavam referenciados pela PIDE e redução das publicações partidárias entre as quais o “Avante!...” . De emergência foram chamados novos militantes para colmatar o impedimento dos detidos. No Secretariado José Gregório e Manuel Guedes passarão a estar acompanhados por Sérgio Vilarigues e Júlio Fogaça . No caso deste último trata-se de um regresso após um exercício de autocrítica. Sucedem-se as expulsões., algumas deserções e segundo muitos, também algumas execuções. Pelo menos o assassinato de três elementos clandestinos do partido ( sem a mínima interferência da PIDE ou de forças policiais ou ainda militares), durante o curto espaço de oito meses, assim o pareceram indiciar (23).
Em termos de Évora, os comunistas que já tinham visto António Gervásio ser encarcerado, vão ficar ainda mais abalados com a prisão de Dias Lourenço, o coordenador do Comité Central, encontrado pela PIDE a viver numa casa clandestina, situada em Monte de Moraventos, concelho de Palmela, com Georgette Ferreira, outra funcionária do Partido. Esta conseguiria fugir tempos depois na sequência de uma consulta externa a que fora, no Hospital dos Capuchos, em Lisboa.
As estatíticas apontam para que o Partido tenha perdido entre 1947 e 1948 quase metade dos camponeses seus militantes que de 808 passaram para 450, No Alto Alentejo, com 242 militantes e 338 simpatizantes, quase todos se concentravam em Évora e nos concelhos adjacentes uma vez que no distrito de Portalegre a fuga para a emigração já começava a fazer-se notar. Na década que se iniciava o contigente de assalariados neste distrito iria cair abruptamente de 75 para 42 por cento no total da sua população rural activa 22 Prevendo e reconhecendo a inevitabilidade do esvaziamento da sua influência naquele distrito o PCP faz deslocar para a função de seu controleiro em Évora, Álvaro Cid, natural de Monforte, que já tinha feito propaganda no seu concello e também nos de Arronches e Campo Maior.
Filho de um antigo comerciante republicano, Cid, militante na legalidade, exercia a profissão de viajante que lhe permitia deslocar-se com bastante facilidade por vilas e aldeias sem despertar grandes suspeitas. Em Évora, para onde veio morar, empregou-se como funcionário da Casa Camillo Alves, produção, comércio e distribuição de vinhos. A PIDE já lhe andava no encalço, por denúncias anónimas que à sua actividade profissional estava associado o activismo político, pelo que o prendeu na sua residência em 1951. Foi parar ao Aljube onde foi torturado e seviciado Sentenciado a 14 meses de cativeiro, cumpriu-os na prisão (24).
Foi mais um rude golpe para o PCP de Évora, a juntar a outro que o viria a afectar sobremaneira.. Sucedeu que no decurso de uma acção repressiva sobre o MUD Juvenil (não desactivado) a polícia política veio a prender 22 dos seus elementos desse grupo fazendo parte Dinis Fernandes Miranda, jovem trabalhador agrícola, natural de Montoito, concelho de Redondo e grande agitador das massas rurais que era militante do partido desde 1946, tinha então 17 anos.
Este será selvaticamente espancado durante três dias e três noites mas resistirá i com incrível estoicismo e não falará, ele que até pertencia ao Comité Central do MUD/J e ao seu executivo sem que a PIDE o soubesse. A organização dos respectivos processos foi demasiado lenta o que veio a contribuir para que cinco meses após as prisões à maioria dos detidos fosse fixada uma caução e pudessem aguardar em liberdade o julgamento. Dinis Miranda veio a estar entre eles (25).
Mas as condições de trabalho e escravidão impostas pelos latifundiários eram tão duras que os trabalhadores rurais, mesmo sem grandes orientações partidárias, se reuniam em massa e desafiavam a brutalidade dos agrários, mormente nos concelho de Montemor-o-Novo (lugares de Escoural, S.Cristóvão,.Lavre e Cortiçadas), Redondo (sede do concelho, Santa Susana e Montoito) e Évora (S. Manços e Machede).
A luta travava-se agora mais nas «praças de jorna» que na realização de greves continuadas. E o que eram as praças de jorna. O escritor Soeiro Pereira Gomes que chegou a pertencer ao Comité Central, definiu-as «como um mercado de mão-de-obra, a que vão assalariados e proprietários rurais ( ou os seus delegados, os capatazes ) e em que os primeiros, como vendedores, oferecem a sua força de trabalho, e os segundos, como compradores, oferecem o salário ou jorna, que é a paga de um dia de trabalho (26)».
A pouco e pouco os trabalhadores foram percebendo que estas se poderiam num poderoso instrumento de luta pelas suas reivindicações se se unissem contra a vontade dos patronato agrícola que era quem ditava leis no processo de contratações, oferecendo salários de miséria. Assim os “servos da gleba” criaram as Comissões de Praça”, as quais definiam o valor das jornas ou dos salários a reivindicar mantendo-se os trabalhadores unidos face à prepotência dos latifundiários ou à repressão da GNR.
Ninguém dava um passo em frente para ir trabalhar por um preço abaixo do estipulado pela Comissão de Praça, ainda que nesse dia ou semana as dificuldades aumentassem ainda mais. E a firmeza dos trabalhadores mantinha-se irredutível apesar das ameaças e por vezes de algumas cargas policiais com que os procuravam atemorizar. E se os proprietários não cediam quanto ao valor das jorna era certo e sabido que esta subiria na semana seguinte.
Com o PCP ainda dilacerado por questões internas, que não vem aqui ao caso (Fogaça tenta impor-se como o grande ideólogo aproveitando a ausência de Cunhal na prisão) mas a tentar recompor-se das purgas, das deserções e das traições para ganhar alguma estabilidade e unidade, a sua situação no distrito de Évora melhora significativamente com o regresso de António Gervásio e a fuga de Dias Lourenço que em 1955 reassume as suas funções como coordenador do Alentejo.
Nesse mesmo ano o operário corticeiro Manuel Amador de Deus, de Évora, entra no Partido como funcionário do Organismo do Margem Sul. e rapidamente vai trepando posições na estrutura do Partido.
Amador de Deus, de pseudónimo Borges, será um dos 53 participantes no V Congresso do PCP que reunirá de 8 a 15 de Setembro de 1957, num grande imóvel no Monte Estoril, na altura desocupado e que é alugado por preço elevadíssimo a Júlio Fogaça, o qual se apresentou vestido como um homem rico, vestido a preceito e de postura sofisticada , figura que a sua origem de classe ajudava a compor sem levantar suspeitas. No final do Congresso Dias Lourenço perde a sua condição de coordenador do Alentejo. No decurso do mesmo, o activo operário corticeiro eborense será promovido ao Comité Central.
Manuel Amador de Deus, foi preso no mês de Março de 1959 a que se juntaram ainda nesse mês e nos seguintes uma série de dirigentes e funcionários do PCP. Se a maioria não falou o mesmo não com outros entre os quais, Manuel Amador que traiu o Partido, causando o desmantelamento das Organizações da Margem Sul e do Alto e Baixo Alentejo (27). Dois meses depois a PIDE prendia numa rua de Lisboa Joaquim Rolim (José Joaquim Mautempo Rolim), militante eborense desde de meados dos anos 30, conforme menção feita acima, de acordo com Dias Lourenço. Libertado e de novo preso sete dias depois, Rolim, foi submetido a cerrados interrogatórios de seis dias em seis dias. Resistiu « cortando numa ocasião a língua, com um bocado de lâmina porque, apesar de saber que não prestaria declarações, temeu ficar louco e comprometer alguém» (28). Entretanto, conhecedor da traição de Amador, o PCP expulsava-o do seu seio.
O declínio nos anos 60
Mas no dia 3 de Janeiro de 1960 o PCP consegue uma grande vitória sobre a PIDE ao conseguir que 9 dos seus dirigentes principais responsáveis, entre os quais o próprio Álvaro Cunhal, fujam do forte de Peniche onde estavam encarcerados. A 4 de Dezembro de 1961, quase dois anos depois, um outro grupo de comunistas de topo consegue escapar-se da prisão de Caxias, utilizando caricatamente o Chrisler blindado de Salazar, que fora oferecido por Adolf Hitler. Entre eles estão Domingos Abrantes e António Gervásio. O sucesso desta nova fuga será um tanto ofuscada pela detenção quinze dias depois, de um novo grupo de dirigentes importantes do PCP nele estando incluídos Pires Jorge, Américo de Sousa e Octávio Pato.
Em Maio de 1962 os trabalhadores rurais alentejanos conseguem obter, depois de múltiplas greves durante meses seguidos, o direito à jornada de trabalho de oito horas de trabalho, uma velha aspiração sua. Nessa luta estarão envolvidos muitos militantes comunistas e outros que o não eram ou já haviam deixado de o ser. De qualquer forma o PCP reivindicou abusivamente o mérito da conquista como sua e incorporou-a na história oficial do partido.
Mas a 3 de Abril de 1964 o Partido sofre novo duro e sério revés no Alentejo e em particular no distrito de Évora do qual não virá a recompor-se até Abril de 1974. Joaquim Augusto dos Santos, que substituíra na direcção regional do Alentejo, António Gervásio, ausente em Moscovo, após a sua fuga é preso em Pinhal Novo na casa clandestina que o Partido aí mantinha, depois de opor resistência á PIDE que teve de o desarmar (29) . José Augusto dos Santos era um militante relativamente recente pois ingressara no PCP em 1958 e passara à clandestinidade dois anos depois, tendo frequentado um curso na União Soviética. A sua rápida promoção vem confirmar a dificuldade que o PCP já tinha em encontrar dentro dos seus quadros elementos mais antigos para controlar e dirigir a organização.
Curiosamente esta detenção havia sido proporcionada pela detenção três anos antes de José Inácio Miguel, o “Lambanas”, natural de Aldeia Nova de S.Bento e membro suplente do Comité Central do PCP, operário agrícola., que havia participado no V Congresso em 1956. Tanto ele como a mulher Francisca Serejo, natural de Vale Vargo, operavam ente Vendas Novas e o Couço, uma pequena vila de características híbridas encravada entre o Ribatejo e o Alentejo, no concelho de Coruche. Ezte hibridismo era acentuado pelo facto de Coruche pertencer administrativamente ao distrito de Santarém mas religiosamente pertencer à Arquidiocese de Évora, situação que ainda hoje se mantém.
No Couço, o partido estava organizado desde 1943 e era dominante entre os mais de 5.000 habitantes. Nas eleições presidenciais de 1958 as autoridades do regime negligenciaram este facto e acabaram por ver Humberto Delgado um dos seus triunfos. Como retaliação os latifundiários resolveram baixar substancialmente o preço da jorna.(30). A resposta dos trabalhadores é a greve. Não cabe aqui o relato doa acontecimentos sequentes que levaram a incidentes, lutas, fugas, agressões, bastonadas, tiros e prisões numa refrega que veio a terminar com a morte do rural José Adelino dos Santos. Na condução da revolta terá desempenhado papel de relevo, o “Lambanas “ que a PIDE quis aprisionar sem no entanto o conseguir, dado que era ele quem controlava o Comité Local do Couço.
Para o retirar da zona e evitar a sua captura o Partido desviou-o para o controlo da organização do Algarve entregando-lhe a responsabilidade pelo Comité Local de Silves, a sua principal praça na região. José Miguel é preso juntamente com a mulher em Setúbal em Fevereiro de 1961 e confessa abertamente toda a sua actividade entregando arquivos e documentação que possui provocando danos nas organizações do Alentejo que bastante afectadas tinham sido pela deserção de Amador de Deus. Dois meses depois de ter sido detido é posto em liberdade e em princípios de Julho ele e a mulher vão viver para o lugar de Alto das Flores, no concelho de Almada. Passa então a trabalhar como servente de pedreiro sob a protecção da PIDE (31) .
Começa a sentir-se perseguido por antigos camaradas e chega a solicitar uma arma para sua defesa pessoal. Parecia estar a adivinhar a sorte que lhe estava destinada. Decorrido pouco mais de um mês é encontrado morto a tiro no Vale das Flores, perto de sua casa. Se bem que não tenham sido encontradas quaisquer provas sobre o autor ou autores da sua eliminação a Polícia Judiciária terá atribuído o crime a Joaquim Gomes (um dos fugitivos da cadeia de Peniche e simultaneamente dos mais antigos membros da Direcção) e Lopes Baptista, ambos do Comité Central do PCP, que por essa altura andavam «a monte»
Na PIDE os resultados da investigação foram mal digeridos pois considerou-se que não havia sido prestado o apoio devido ao “Lambanas” o que dissuadiria qualquer outro “arrependido” de tomar atitude. No PCP fez-se um silêncio absoluto sobre o caso (32) ainda que posteriormente alguns militantes do Couço tivessem admitido que dentro do Partido havia quem tivesse motivos dele para o matar.
Após a sua fuga de Peniche, Álvaro Cunhal ainda se manteve em Portugal, vivendo em casas clandestinas em Sintra, Ericeira, Amadora, Coimbra e Porto. Em 1961 em reunião do Comité Central é eleito secretário-geral do Partido, lugar não preenchido desde a morte de Bento Gonçalves e na qual é aprovada a resolução por si apresentada sob o título “ O desvio de direita do Partido Comunista Português nos anos de 1956-1959. Cunhal detestava Nikita Krustshev na mesma medida em que idolatrava Estaline.que morrera em 1953.
Cunhal atribuiu esse desvio de direita a Júlio Fogaça que defendia o derrube do regime fascista pela via pacífica e pede a sua expulsão porque a sua condição de homossexual é altamente comprometedora uma vez que se vale das casas e das viaturas partidárias para as suas aventuras amorosas (33). O Comité Central apoia Cunhal e aplaude o banimento de Fogaça que não está presente por ter sido preso, no ano anterior, numa pensão da Nazaré, quando se encontrava em companhia de um amante (34).
Afastado Fogaça, Cunhal parte em 1962 para a URSS com a missão de aí preparar o VI Congresso do PCP dado que é urgente a sua realização para definir uma nova orientação para o partido e em Portugal não existem condições para a sua realização. Este vem a realizar-se em Setembro de 1965 nos arredores de Kiev (35) e contará apenas com a presença de funcionários do partido em número que a investigação efectuada não conseguiu apurar mas na qual se verificou que todas as despesas de deslocação e estadia foram custeadas pela URSS onde Leónidas Brejnev havia desbancado Nikita Krustshev.
Ao certo sabe-se que Cunhal foi reeleito secretário-geral e que o novo Comité Central passou a ser constituído por 26 membros entre efectivos e suplentes. E que nele o secretário-geral fez aprovar o seu relatório “ Rumo à Vitória” escrito em 1964 e no qual propunha a luta armada contra o regime, uma tese que fora derrotada em 1946 no decorrer do IV Congresso. E para justificar a opção pela luta armada Cunhal diria:: « O fascismo mantém-se no poder pela força e só pela força poderá ser derrotado». Mas a reunião da «nomenklatura» do partido na União Soviética, rodeada de benesses e mordomias, caiu muito mal entre aqueles que por cá continuavam a dar o corpo ao manifesto. Em 1966 Cunhal abandona Moscovo e vai viver para Paris onde se manterá até 30 de Abril de Abril de 1974.
«Alentejo-de bastião comunista a deserto»
É com esta frase que J. A.da Silva Marques, um ex-militante (36) descreverá em «Relatos da Clandestinidade» a quase total perda de influência do PCP no Alentejo. Mais concretamente ele escreverá que «o Alentejo, em meados da década de 60, de grande bastião da organização do PCP, transformou-se num deserto».Um esvaziamento consequência da guerra colonial, da emigração para as cidades ou para o estrangeiro que irá implicar «uma nova conjuntura sócio-económica e contribuirá para liquidar o Partido».
No concelho de Évora, predominantemente urbano, a população conheceu durante a década de 50 um acréscimo de 13.700 pessoas (37). No próprio concelho de Montemor, as freguesias rurais de Cabrela, Lavre e Escoural perdem entre 1955 e 1965 cerca de 2.000 pessoas A implantação das fábricas de automóveis em Vendas Novas e as necessidades de mão de obra para a construção civil sentidas por Évora, em fase de crescimento acelerado, muito contribuem para o êxodo dos campos. Mas a grande sangria migratória faz-se em direcção à cintura industrial de Lisboa que recebe milhares de alentejanos, pois as condições e horários de trabalho são outros e os salários muito superiores.
Acresce que este fenómeno abrange mesmo alguns dirigentes. Cite-se o caso de Dinis Miranda que em 1957 decide abalar para o Porto, ainda que continue ao serviço do Partido. Empregando-se no sector têxtil passa a integrar e a liderar mesmo a respectiva Comissão partidária do sector na Organização do Porto (38), numa altura em que o Alto Alentejo está entregue a Júlio Fogaça, a Gui Lourenço (39) e António Gervásio. Preso em 1959 Dinis Miranda acabará por evadir-se da Cadeia Central do Norte, em Paços de Ferreira, para ser recapturado mais tarde (40).
A falta de mão de obra nos campos originará a subida dos salários na agricultura e terão contribuído para a obtenção da velha reivindicação das oito horas de trabalho em 1962, aqui já referida. O PCP é penalizadísimo com esta situação no Alentejo ainda que engrosse as fileiras em concelhos como Setúbal, Almada, Barreiro e Seixal. Na zona de Évora os militantes ficam reduzidos a partir daí a meia dúzia de profissionais liberais, raramente incomodados, alguns tipógrafos, meia dúzia de operários, pequenos comerciantes e alguns trabalhadores rurais já velhos e alquebrados.
A situação é tão grave que o PCP em Évora se quer apresentar no âmbito do MDP/CDE uma lista às legislativas de 1969 com elementos da sua área de influência, durante a chamada «primavera marcelista», têm que se encostar aos chamados «católicos progressistas» que são aliás quem transmite alguma credibilidade à lista (41). Pior só mesmo em 1973 quando recorre a pessoas de fora de Évora, de perfil desgastado e ligadas ao período atroz do estalinismo. Entretanto António Gervásio tinha sido novamente preso em 1970 indo fazer companhia em Caxias a Dinis Miranda (42), que recapturado cumpria uma pena de 9 meses e meio de prisão mais medidas de segurança. Ambos seriam libertados a 26 de Abril de 1974.
Notas
1-Cf. José Frota, “ A Primeira Vida do PCP de Évora (1921-1933)” em “A Cinco Tons” e Alentejo em Linha”, 5 de Março de 2014.
2- Francisco Paula de Oliveira, era natural de Lisboa, onde nascera a 29/8/ 1908 sendo filho de pais anarquistas. Ingressou como operário serralheiro nas fábricas do Arsenal da Marinha mas os seus interesses iam para as línguas, a literatura, para as artes e, naturalmente, para a política...Como todo o anarquista de então era um autodidacta. Pertenceu às Juventudes Sindicalistas, mas a partir de 1927 encetou um processo de aproximação ao Partido Comunista de que se torna militante em 19329 e no interior do qual vai organizar e liderar a Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas. Passa à clandestinidade em 1932 e adopta então pseudónimo de Pavel., nome que vai buscar à personagem central do romance “A Mãe” de Maximo Gorki, Algum tempo depois é preso indo para o Aljube onde é dado como tuberculoso. Enviado para a enfermaria da cadeia do Limoeiro, surpreender tudo e todos ao aprender russo, sozinho, durante os sete meses que ali permanece. Consegue evadir-se com a cumplicidade de um emfermeiro. Faz depois duas viagens à União Soviética até ser incorporado como representante português permanente junto da IC sob o nome de Fernando Queirós . Isto depois de ter frequentado a escola de quadros leninista onde conheceu e se apaixonou pela jovem russa Zina Faneva, com quem passou a viver e da qual quem virá ter um filho. Era o segundo descendente pois em Portugal já tinha deixado outro, fruto do seu casamento com uma portuguesa.
3- Stela Dimitrova Blagoeva nascida na Bulgária em 1887 fugiu para a União Soviética em 1926 após um fracassado golpe comunista no seu país liderado por seu pai. Muito culta, professora universitária e de aspecto masculinizado, políglota emérita (falava fluentemente seis línguas), foi trabalhar para a Internacional Comunista ( Cominform) onde era responsável pela recolha de informações e pela ligação aos partidos comunistas de outros países. Dissolvido o Cominform em 1943 voltou ao seu país em 1945 para regressar quase de imediato como embaixadora da Bulgária. Faleceu em Moscovo em 1954.
4- Caluniado, Pavel refugia-se em Paris após a sua fuga..Será abandonado pela IC e ostracizado pelo próprio PCP que a partir de 1940 começara a desenhar uma nova direcção da qual ele não fazia parte. Vivendo em condições dificílimas acaba por receber ajuda do Partido Comunista Espanhol, onde possuía vários amigos. Assume então a identidade de António Rodriguez Diaz, um revolucionário morto durante a Guerra Civil de Espanha e vai viver como exilado para o México. Inteligentíssimo, aprofunda aí os seus conhecimentos sobre arte e frequenta os meios progressistas e artísticos que o acolhem de braços abertos. Torna-se um grande jornalista e escritor, crítico da Arte, professor e o maior especialista mundial em Muralismo Mexicano. Em 1968 o seu livro “ El Hombre em Llamas” recebeu o prémio de melhor livro de arte na Feira do Livro de Frankfurt. Morreu a 11 de Agosto de 1993 sem renegar os seus ideais de juventude. Mas sobrou-lhe a mágoa de o PCP não ter querido ouvi-lo sobre a sua fuja da prisão em 1938. Álvaro Cinhal nunca lho consentiu. O seu nome não consta hoje da história oficial do partido apesar de ter sido seu Secretário Geral, ainda que interino, durante dois anos.
5, Álvaro Cunhal , “ O Partido Com Paredes de Vidro” , Edições “Avante”, Lisboa 1985
6. A Legião Portuguesa foi uma milícia civil., armada, de filiação voluntária e subordinada ao Exército criada pelo regime salazarista, « para combater a agitação oposicionista e a propagação e disseminação das ideias comunistas que visavam corroer a resistência moral da Nação». Cf. Decreto-Lei 27058 de 30/9/1936. Curiosamente os seus dois primeiros comandantes, Coronel João Nepuceno Namorado de Aguiar e o General Casimiro Vítor de Sousa Teles eram eborenses tendo sido alunos do respectivo Liceu.
7. Luís Nuno Rodrigues, “ A Legião Portuguesa- A Milícia do Estado Novo (1936-1944), Editorial Estampa, Lisboa, 1966. Estas infiltrações de comunistas na Legião Portuguesa são aliás citadas de passagem num relatório de Francisco Paula de Oliveira/Pavel enviado para a IC antes da sua expulsão.
8. António Dias Lourenço, “ Alentejo-legenda e esperança I “ Editorial Caminho, 1997, edição patrocinada pela Câmara Municipal de Évora.
9- Não se encontrou qualquer menção a esta empresa, quer procurando pelo nome social ou pelo dos proprietários, na obra de referência da autoria de Paulo Eduardo Guimarães, “Elites e Indústria no Alentejo (1890-1960)” , Edições Colibri e CIDEHUS-UE, Lisboa, 2006
10. Júlio de Melo Fogaça era natural de Alguber, concelho de Cadaval onde viu a luz do dia no ano de 1907. Filho de pais abastados tinha tido uma educação esmerada. Cedo porém se deixou seduzir pelo ideário comunista. Duas vezes preso e enviado para o Tarrafal e outras tantas amnistiado, foi eleito para o Comité Central durante o V Congresso (1946)-
11. Manuel Braga da Cruz, “ O Partido e o Estado no Salazarismo”, Editorial Presença, Lisboa, 1988.
12. Cf. Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, “História de Portugal”, A Esfera dos Livros, 2009..
13. Irene Flunser Pimental, “A história da PIDE”, Círculo dos Leitores, Mem Martins, 2007.
14. Assinaram a petição Alberto Jordão Marques da Costa, Domingos Rosado, Agostinho Felício Caeiro, os irmãos José Dordio e Fernando Rebocho Pais, Joaquim da Silva Nazareth, Armando Boino de Azevedo, José Inácio Calhau, Rogério Ramalho Prego, Filipe dos Santos, Cláudio Percheiro, Francisco Calhau Júior, Estevão de Oliveira Fernandes, José Leal Tojo, Celestino Costa, Francisco da Silva Júnior, Augusto Alves Leal, António Manuel Pascoal, José Bernardo Alcanena, José Xaveiro Calhau, Gabriel Augusto Mendes e Francisco Peres de Sales.
15. “Democracia do Sul”, nº. 8438 de 18/10/1945.
16. Entrevista de Carlos Júlio, “ Diário do Alentejo” , 11/03/2011
17. José Pacheco Pereira, “Álvaro Cunhal- uma biografia política” , Volume 2 (1941-1949) «Duarte», o Dirigente Clandestino, Temas e Debates -Actividades Editoriais, 2001.
18. Fernando Gouveia, “Memórias de um Inspector da Pide- 1. A organização Clandestina do PCP”, Editorial Delvaux, Lisboa
19. António José Patuleia era natural de São Romão Vila Viçosa e morreu no Aljubea a 21 de Junho de 1947.
20. No Bairro de Santa Maria ainda hoje existe a Rua do Escusa-Sacos, ao tempo a sua artéria principal e que lhe dava o nome.
21. Francisco Miguel Duarte, natural de Baleizão, onde nasceu a 18/12/1907 era filho de camponeses. Em adolescente foi para Serpa tomando o ofício de sapateiro. Em 1930 é eleito para s respectiva Associação de classe. Dois anos decorridos ruma a Lisboa e ingressa no PCP. Desde logo dá nas vistas pela sua capacidade intelectual e pela sua propensão para a escrita. Aprimora estas qualidades na Escola Leninista em Moscovo para onde é enviado em 1935. Regressa em 1937 e passa à clandestinidade ficando responsável pela Direcção da Organização Regional de Lisboa. Ainda nesse ano é cooptado para o Comité Central e entra para o respectivo Secretariado. Em 1946 recebe a tarefa de dirigir a actividade partidária no Alentejo. Dados biográficos colhidos em “O Militante”, nº. 2291, Nov/Dez 2007.
22. Arquivo Nacional/Torre do Tombo ( AN/TT) , PIDE, Serviços Centraia, Registo Geral de Presos, Livro 89, Registo 17.679. António Vicente Calção entrou para o PCP em 1945 e foi preso em 1947 por «aliciamento às greves», libertado dias depois, a 14/ 6, e novamente preso, quase de seguida, sendo devolvido à liberdade em 1956.
23. Idem 13. Foram os casos de Aurélia Celorico ( Junho de 1950), Manuel Vital (Novembro de 1950) e Manuel Domingues (Maio de 1951). Nos dois primeiros casos tratou-se de funcionários de que havia suspeitas de desejarem abandonar o Partido e entregarem-se à polícia. No caso de Manuel Domingues tratava-se de um anterior membro do Comité Central que havia sido cooptado em 1943. Revolucionário da Marinha Grande,tnha sido companheiro de Pavel, com ele emigrara para França onde fizera boas amizades tal como em Espanha e havia passado a integrar a rede internacional. Em 1949 foi acusado de vários erros conspirativos enquanto via o seu estado de saúde agravar-se padecendo de uma úlcera estomacal. Depois de operado em Lisboa para onde viera desde logo ficou a saber que não recuperaria a saúde se continuasse na clandestinidade. O PCP retirou-o do seu quadro de funcionários. Domingues reagiu mal e começou a procurar uma saída para a situação que passava pela ida para o estrangeiro. Terá então em contacto com a PIDE a quem terá revelações muito comprometedoras para o Partido A partir de 1950 passou a ser encarado com traidor e espião e expulso da organização. Apareceu morto sem que os autores da sua eliminação tenham sido encontrados. Ver também José Pacheco Pereira, “Álvaro Cunhal-Uma Biografia Política” Vol. III “O Prisioneiro 1949-1960”, Temas e Debates-Actividades Editoriais, Lda.. Lisboa 2005.
24. António José Pascoal in “ Estudos sobre o comunismo- Os movimentos radicais de esquerda e a oposição ao Estado Novo” em 30/7/2005.
25. Pedro Ramos de Almeida ,” MUD Juvenil e a repressão fascista”
26. Soeiro Pereira Gomes, “Praça da Jorna, Agosto de 1946, edição dos Técnicos Agrícolas da DORL do PCP,1976, citado por Lino de Carvalho “Reforma Agrária -Da utopia à realidade”, Campo das Letras, Porto,2005.
27. AN/TT, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, Livro 109, Registo 21.716 . Ver igualmente José Pacheco Pereira, Idem 21.
28. AN/TT, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, Livro 120, Registo 23.901.Ver também Irene Flunser Pimentel .Idem 13.
29. Irene Flunser Pimentel, Ibidem .
30. José Pacheco Pereira, Ibidem 21.
31. Irene Flunser Pimental,,Ibidem.
32. Questionado vários vezes sobre o assunto, já depois de 1974, Álvaro Cunhal negou sempre que a Direcção do Partido tivesse dado ordens para a eliminação de qualquer dos seus membros que o haviam traído mas admitiu que alguns dos seus funcionários pudesse ter agido nesse sentido por iniciativa pessoal.
33. Informe político ao Comité Central segundo o qual Fogaça não tinha cuidados conspirativos de clandestinidade. Estas acusações terão servido para justificar a sua expulsão por divergência política dado sempre a sua homossexualidade desde sempre tinha sido conhecida no interior do Partido e nunca ninguém a tinha usado para denegrir a sua imagem. O seu nome é riscado da história oficial do Partido.
34 São José Almeida , “ Os Homossexuais no Estado Novo”, Sextante Editora,L.da, 2010. Júlio Fogaça segundo o processo judicial, autónomo em relação ao processo político, é descrito como «um pederasta passivo e habitual na prática de vícios contra a natureza». Na altura da sua detenção estava acompanhado pelo operário fabril António Joaquim Gonçalves, seu parceiro amoroso dos últimos anos.
35. Francisco Lopes, “ O Militante” nº. 308 Set/Out. 2010.
36 . Estudante de Direito, José Augusto Santos Silva Marques, fez parta da direcção estudantil comunista e esteve preso na Delegação da PIDE do Porto de onde se conseguiu evadir em 6 de Agisto de 1962. Passou em seguida à clandestinidade como funcionário. Viria a romper com o Partido decidindo continuar os estudos acabando por se licenciar. Aderiu ao PPD e escreveu em 1976 o livro “Relatos da Clandestinidade- O PCP visto por Dentro” em edição do jornal Expresso Sojornal. Ver também AN/TT , PID, Registo Geral de Presos, Livro 126, Registo 25.142
37. População Residente nos Recenseamentos de 1864 a 1970 por freguesias- Instituto Nacional de Estatístca, Lisboa 1973 .
38. José Pacheco Pereira, Ibidem 21
39. Gui Lourenço era um operário da Cimentos Tejo que primava, ao contrário de muitos dos seus camaradas, pela boçalidade e estupidez. Abrutalhado de maneiras e meio tonto era particularmente chamado para tarefas musculadas..Militante desde 1942, passou à clandestinidade em 1944 sendo preso no ano seguinte e libertado em 1946. Foi um dos principais suspeitos de ter assassinado Aurélia Celorico e de ter procedido de igual modo em relação a Manuel Domingues.
40. Irene Flunser Pimentel , Ibidem.
41. José Frota “Os Católicos Progressistas” nos blogs “A cinco tons” e “Alentejo em Linha” , 23/12/2013
42. Dinis Miranda tinha sido fnalmente promovido ao Comitè Central em 1967.
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