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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Passos responsabiliza Menezes pela derrota do PSD em Gaia Líder do partido disse no Conselho Nacional que Menezes lhe pediu carta branca para gerir o processo em Gaia e ele deu.

Passos responsabiliza Menezes pela derrota do PSD em Gaia

Líder do partido disse no Conselho Nacional que Menezes lhe pediu carta branca para gerir o processo em Gaia e ele deu.
Passos avisou o partido para os riscos da situação portuguesa MIGUEL MANSO

Pedro Passos Coelho não perdeu muito tempo da sua intervenção no conselho nacional do PSD com os resultados autárquicos, mas houve um caso em que foi contundente: no da Câmara de Gaia. Num concelho que durante 16 anos foi social-democrata, o presidente do partido deixou claro quem foi o responsável pelo mau resultado. Segundo vários relatos feitos ao PÚBLICO, Passos afirmou que Luís Filipe Menezes lhe pediu carta branca para tratar do processo de Gaia e ele acedeu. Sublinhou que Menezes era um ex-líder do PSD e que foi ele quem conduziu todo o processo.
Já sobre a derrota no Porto, Passos ilibou Menezes. Disse que o ex-autarca de Gaia era um candidato forte e que o seu nome fora aprovado pela concelhia, pela distrital e ratificado pela direcção nacional do partido. A única surpresa foi mesmo o resultado eleitoral (21,06%).
Foi um dos pontos críticos de uma reunião que acabou às 4h da madrugada de desta quarta-feira e que teve vários episódios que sugeriam algum ajuste de contas. José Pedro Aguiar Branco, que liderou a lista de Menezes para a Assembleia Municipal do Porto, foi ao conselho nacional defender a punição de todos os militantes que apoiaram candidaturas adversárias às do partido. O ministro da Defesa não poupou ninguém e censurou aqueles que “estiveram na sombra a apoiar os adversários do partido”, numa alusão a Rui Rio, e os que “escreveram artigos contra a Lei de Limitação de Mandatos”, numa indirecta a Paulo Rangel.
O ex-presidente da assembleia geral do grupo Impresa censurou Rui Rio, Paulo Rangel e Valente de Oliveira por não terem apoiado Luís Filipe Menezes no Porto, que registou a maior derrota do PSD desde 1976. De rajada, Aguiar-Branco nomeou Francisco Pinto Balsemão, Manuela Ferreira Leite, Nuno Morais Sarmento e José Luís Arnaut, criticando-os por dar entrevistas a atacar o Governo sem qualquer consequência.
O rastilho estava lançado e o eurodeputado Paulo Rangel não resistiu à provocação do seu adversário na corrida à liderança do PSD em 2010, de que Pedro Passos Coelho saiu vencedor, acusando-o de ter uma visão “soviética” do partido. Os apupos ouviram-se na sala e sucederam-se à medida que o eurodeputado falava.
Rangel defendeu que não se pode tirar a ninguém o direito de não apoiar um candidato e que, tendo ele defendido a ilegalidade de candidaturas de presidentes de câmara com mais de três mandatos autárquicos, nunca poderia apoiar Menezes.
O clima de crispação levou Passos a pedir alguma contenção. Por essa altura, o porta-voz do partido, Marco António Costa, saiu da sala para falar aos jornalistas. Defendeu o ainda presidente da Câmara do Porto ao dizer que “não houve, da parte de Rui Rio, nenhuma declaração expressa de apoio a outro candidato”. E, ao ser questionado com o facto de Rio ter criticado a candidatura de Luís Filipe Menezes, declarou: “Nós não temos por princípio o delito de opinião”.
O terceiro caso a que Passos Coelho se referiu expressamente foi o de Sintra, para sublinhar que o PSD não podia ficar refém da “chantagem” de Marco Almeida, que se assumiu como candidato quando o PSD ainda não tinha iniciado o processo. Marco Almeida terá dito que, se o partido não o escolhesse, ele seria candidato como independente. Segundo Passos, foi por essa razão que o PSD escolheu Pedro Pinto.
Na intervenção de Paula Teixeira da Cruz, que falou logo a seguir a Passos Coelho, a ministra da Justiça sustentou que não deve haver “caça às bruxas”. Na primeira fila, segundo relatos feitos ao PÚBLICO, Passos Coelho comentava “aqui não há bruxas” e a ministra respondia afirmativamente, dizendo “há bruxas, há”.
Mas foram muitos os que pediram responsabilidades políticas pela derrota de domingo. Luís Rodrigues, conselheiro nacional e candidato por Setúbal, onde o PSD foi muito penalizado, sustenta que a a antecipação do congresso “é uma falsa questão”. “Não acredito que apareçam candidatos contra o Passos Coelho. Já nas listas para o conselho nacional, é diferente”, afirmou.
“Não sou como o Sócrates”
Mas foi a situação do país que arrebatou boa parte do discurso inicial de cerca de 45 minutos. O presidente do PSD referiu que até ao final do ano está em curso a avaliação da execução orçamental em que também se sustenta o sucesso do programa de assistência financeira. Passos Coelho recusou ser “como o Sócrates” e dizer que está tudo bem. Mas não foi pessimista. Disse que, em princípio, “está tudo a correr bem”, salientou os sinais positivos que a economia tem dado, mas a avaliação é permanente.
Os riscos da situação portuguesa voltaram a ser explicados aos conselheiros. A descida do rating da dívida — uma ameaça recente das agências — é considerado um risco para o sucesso do programa, assim como mais chumbos do Tribunal Constitucional. Mas Passos Coelho nunca se referiu directamente a um segundo resgate. Como foi noticiado que tinha voltado a acenar com um segundo resgate, o próprio Passos Coelho gracejou com isso ao final da noite.  

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