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sexta-feira, 13 de setembro de 2019

UM ‘NEW DEAL’ VERDE PARA A EUROPA OU A PSEUDO-ECOLOGIA AO SERVIÇO DOS GRANDES MONOPÓLIOS


UM ‘NEW DEAL’ VERDE PARA A EUROPA OU A PSEUDO-ECOLOGIA AO SERVIÇO DOS GRANDES MONOPÓLIOS
Ao tomar posse do seu cargo no mês de Julho passado, a nova presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, atacou a Rota da Seda, colocando como alternativa “o caminho europeu”. Em que consiste esse caminho? Ela esclareceu: “Quero que a Europa se torne no primeiro continente neutral quanto às emissões de CO2 do mundo até 2050” Proporei um ‘New Deal’ verde para a Europa dentro dos primeiros 100 dias do meu mandato”. (1)
É importante que os amantes da ciência leiam a nota de rodapé onde vem o discurso, porque não é a resenha de jornal generalista mas do oráculo da ciência moderna, a «Nature», uma vez que nestes assuntos estamos sempre a meio caminho entre a ciência e a política económica.
Há 75 anos o ‘New Deal’ foi a política económica que os monopólios estado-unidenses puseram em prática para travar a grande crise e agora o novo ‘New Deal’ é exactamente o mesmo, qualquer que seja a sua cor. Caso haja alguma dúvida, deve-se acrescentar que, se a antiga falhou, a actual também falhará.
Desde o seu aparecimento na Guerra Fria, as ideologias climáticas contemporâneas foram mudando o seu registo subtilmente, começando pelo “aquecimento”, para continuar pela “alteração climática”, para acabar na “crise climática”, que é o slogan recém-cozinhado nos Estados Unidos que se começa a utilizar agora. Como qualquer outra ideologia, a dita crise climática esconde a crise do capital monopolista. Obviamente a crise actual não é climática mas económica.
A política económica implementada para sair da crise está centrada, para além das reformas financeiras, no sector energético porque é o coração da produção capitalista e confere um carácter hegemónico, ou seja, é uma tentativa das grandes potências imperialistas para manter a dominação monopolista sobre os mercados mundiais com a criação de novas técnicas “limpas” que, também, são mais eficientes, consomem menos combustível e proporcionam mais lucros.
Como esperado, o Estado moderno é um componente essencial dessa reestruturação, de onde provém a sua contraposição tópica aos mercados, como se fosse uma alternativa a eles, o mesmo que aos países emergentes que baseiam a sua decolagem económica em energias “contaminantes”, que são um sinal de “atraso”. Daqui provêm também os demagógicos ataques ao “neoliberalismo” como origem da crise e “o público” como algo diferente dos estreitos interesses privados do capital, personificados em Espanha no charlatanismo sobre a enteléquia do Ibex 35 [principal índice de referencia da bolsa espanhola].
Tal como há 75 anos, para travar a crise, o capital tem de mobilizar gigantescos recursos, tão grandes que só o Estado monopolista pode realizá-lo. Naturalmente que a actual crise é gigantesca comparada com a de 1929 exigirá a centralização de muitos outros recursos e deverá ter uma escala global. É por isso que as abordagens pseudo-ecologistas não se referem a um ou a outros países, mas a todo o planeta. É por isso que recorrem à ONU e a outras organizações internacionais e é por isso que as suas campanhas demagógicas têm a mesma dimensão internacional.
Um dos pseudo-ecologistas mais conspícuos é o Príncipe Carlos, herdeiro da Coro britânica, que recentemente se reuniu com os dirigentes de 18 países da Commonwealth para consolidar as novas medidas contra a “crise climática”, que foram aprovadas rapidamente pelos parlamentares britânicos e canadianos. No final da reunião, o Príncipe Carlos alertou: temos “18 meses para salvar o mundo da mudança climática”, pelo que devemos “aumentar o financiamento do sector privado para apoiar o desenvolvimento sustentável em toda a Commonwealth”.
Nas grandes metrópoles o capital financeiro reorienta os fundos de investimento para projectos ecológicos, que não são diferentes das mercadorias verdes que vemos em qualquer supermercado. A pseudo-ecologia é uma marca comercial e publicitária que vende por si mesma. Todos compramos mercadorias amigas do meio-ambiente, ainda que custem um pouco mais. Do mesmo modo, os especuladores compram “títulos verdes”, apesar de renderem um pouco menos porque se trata disso: todos nos devemos esforçar para salvar o planeta da extinção.
Temos que começar a esquecer o jargão tradicional do mercado de acções: Ibex 35, Dow Jones, Nasdaq, S&P, Dax, Psi-20, Cac 40, Euro Stoxx... Do CO2 já não falam só os químicos mas também os economistas. É um mercado só por si, criado do nada. Mais de metade dos bancos alemães já implementou o índice Ecológico, Social e de Governabilidade (ESGI). Os banqueiros que apoiam o ESGI, como Mark Carney, presidente do Banco de Inglaterra, disseram que querem mobilizar mais 6,5 mil milhões de euros com o novo índice, que actualmente tem um valor aproximado de 160.000 milhões de dólares.
Em 2015 Carney, um antigo cabecilha da Goldman Sachs, criou um grupo de trabalho sobre o clima dentro do Conselho de Estabilidade Financeira que no ano seguinte inaugurou a iniciativa Financiamento Verde, uma ferramenta para o mesmo de sempre: orientar as correntes internacionais de capital para as tecnologias verdes.
Em Julho deste ano o grupo de trabalho publicou para o governo britânico um Livro Branco com o sugestivo título de «Estratégia financeira verde: transformar as finanças para um futuro verde». O Livro Branco propõe “consolidar a posição do Reino Unido como centro mundial de financiamento ecológico e situar o Reino Unido na vanguarda da inovação e dos dados e análises financeiras ecológicas… apoiadas por instituições que representam 118 mil milhões de dólares em activos em todo o mundo”.
Chega a era do sonho dourado: um capitalismo sustentável e uma especulação sustentável. A Goldman Sachs também criou um Índice Verde para especular na bolsa com a consciência da mesma cor. Inclui dois novos índices, denominados CDP Environment EW e CDP Eurozone EW (2), com o mesmo fim: orientar os capitais para infraestruturas verdes. O acrónimo CDP provém de Climate Disclosure Project (Projecto de Divulgação sobre o Clima), um centro de estudos com sede em Londres que desenvolveu o programa da Goldman Sachs. Em 10 de Julho Marine Abiad, da Goldman Sachs, disse que “as finanças sustentáveis permitem aos mercados financeiros desempenhar um papel virtuoso na economia”.
Notas:

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