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terça-feira, 17 de setembro de 2019

O Genocídio dos Índios Nativos Norte Americanos

Fatos Históricos Estimava-se em mais de 25 milhões o número de índios da América do Norte e a cerca de 2 mil os idiomas falados. No fim das chamadas “guerras indígenas”, eram apenas 2 milhões, menos de 10% do total. 

O genocídio dos índios foi um processo claramente controlado e impulsionado pelo governo dos Estados Unidos, recusando-se a assimilar qualquer conceito diverso de seus paradigmas e cultura e a acatar outros saberes. 

As políticas expansionistas tiveram o apoio declarado dos setores que deslumbravam a possibilidade de lucros com o extermínio generalizado dos índios e sua substituição por áreas integradas ao sistema de comércio, o que renderia dividendos a banqueiros, industriais das ferrovias, implementos agrícolas e outros capitalistas. 

Para tal, em 1830 o “Indian Removal Act”, a política de remoção dos índios, obrigou os nativos a deslocarem-se para os “Territórios Indígenas” ou “reservas” que eram zonas reduzidas específicas, destinadas às comunidades índias na tentativa de erradicar as suas práticas, as suas estruturas de pensamento diferentes da cultura predominante, condição sine qua non para poder obter a cidadania americana. 

A preponderância da cultura “superior” legitimava apenas as práticas da mesma. É de notar que o próprio nome dado à lei é, per si, muito depreciativo, “remove-se” um objeto e não um ser humano. A remoção dos índios fazia-se de forma muito penosa, distâncias enormes eram percorridas a pé, essas marchas forçadas incluíam crianças ao colo, idosos, enfermos, chegavam a atravessar quatro estados até chegar aos chamados “Territórios Indígenas” (atual Estado de Oklahoma), grande número de índios ficava pelo caminho devido às más condições da viagem. A “Trilha ou Caminho das Lágrimas” foi o nome dado pelos nativos às viagens de recolocações impostas pelo governo dos Estados Unidos. Em Democracy in America, o filósofo francês Alexis de Tocqueville, testemunhou a remoção da tribo Choctaw em Memphis (1831) (tradução aproximada):




5 Fatos Históricos Estimava-se em mais de 25 milhões o número de índios da América do Norte e a cerca de 2 mil os idiomas falados. No fim das chamadas “guerras indígenas”, eram apenas 2 milhões, menos de 10% do total. 


O genocídio dos índios foi um processo claramente controlado e impulsionado pelo governo dos Estados Unidos, recusando-se a assimilar qualquer conceito diverso de seus paradigmas e cultura e a acatar outros saberes. As políticas expansionistas tiveram o apoio declarado dos setores que deslumbravam a possibilidade de lucros com o extermínio generalizado dos índios e sua substituição por áreas integradas ao sistema de comércio, o que renderia dividendos a banqueiros, industriais das ferrovias, implementos agrícolas e outros capitalistas. 

Para tal, em 1830 o “Indian Removal Act”, a política de remoção dos índios, obrigou os nativos a deslocarem-se para os “Territórios Indígenas” ou “reservas” que eram zonas reduzidas específicas, destinadas às comunidades índias na tentativa de erradicar as suas práticas, as suas estruturas de pensamento diferentes da cultura predominante, condição sine qua non para poder obter a cidadania americana. 

A preponderância da cultura “superior” legitimava apenas as práticas da mesma. É de notar que o próprio nome dado à lei é, per si, muito depreciativo, “remove-se” um objeto e não um ser humano. A remoção dos índios fazia-se de forma muito penosa, distâncias enormes eram percorridas a pé, essas marchas forçadas incluíam crianças ao colo, idosos, enfermos, chegavam a atravessar quatro estados até chegar aos chamados “Territórios Indígenas” (atual Estado de Oklahoma), grande número de índios ficava pelo caminho devido às más condições da viagem. 

A “Trilha ou Caminho das Lágrimas” foi o nome dado pelos nativos às viagens de recolocações impostas pelo governo dos Estados Unidos. Em Democracy in America, o filósofo francês Alexis de Tocqueville, testemunhou a remoção da tribo Choctaw em Memphis (1831) (tradução aproximada): E-REI: Revista de Estudos Interculturais do CEI 6 “Pairava no ar um sentimento de ruína e destruição, o fim dos atraiçoados e um inexorável adieu; ninguém poderia assistir aquilo sem sentir um aperto no coração. Os índios estavam quietos, sombrios e taciturnos. A um deles que falava inglês eu perguntei porque os Chactas estavam deixando suas terras. "Para ser livre," o nativo me respondeu. Nós... assistíamos era à expulsão... de um dos mais famosos e antigos povos americanos.” Mapa da colocação das 5 tribos no “Território Indígena” (reservas). Essa ideologia da imposição de uma cultura dita “superior” leva-nos ao encontro de Jüngen Habermas, que defende que uma cultura majoritária, no exercício do poder político, ao impingir às minorias sua forma de vida, nega aos cidadãos de origem cultural diversa uma efetiva igualdade de direitos, e o direito, por intervir em questões ético-políticas, toca a integridade das formas de vida dentro das quais está enfronhada a configuração pessoal de cada vida, pois os cidadãos não são indivíduos abstratos, amputados de suas relações de origem.

Nem todas as tribos aceitaram essas medidas impostas, o que deu origem a conflitos e iniciaram-se as “guerras indígenas”. Tribos lutaram até ao fim para defender a sua liberdade e evitar que suas terras – planícies – que eram o sustento de suas famílias lhes fossem retiradas em detrimento do progresso económico. Uma das batalhas mais conhecidas deu-se a 25 de junho de 1876, conhecida por “Batalha de Little Bighorn’ em que os líderes e grandes chefes guerreiros “Sitting Bull” (Touro Sentado) e “Crazy Horse” (Cavalo Louco) das tribos Sioux e Cheyenne se juntaram e derrotaram o 7º regimento da cavalaria do General Custer. 


O último, e considerado o pior massacre contra as populações nativas deu-se a 29 de dezembro de 1890, conhecido por “Massacre de Wounded Knee” (Joelho Ferido). Por ocasião do aniversário deste trágico acontecimento (passaram-se 132 anos) o site americano “History”, dedicou no passado dia 29 de dezembro de 2012 uma página à tragédia que ocorreu há mais de 100 anos, (tradução): Durante a tragédia do capítulo final das longas “guerras indígenas”, a cavalaria dos Estados Unidos matou 146 índios “Sioux”, em Wounded Knee, no sul do Dakota. As tensões já se vinham a agravar na reserva de Pine Ridge, no sul do Dakota pelo motivo da popularidade crescente de um novo movimento espiritual conhecido como “Dança fantasma”. 

Muitos dos índios Sioux tinham sido colocados há pouco tempo nas confinadas reservas após muitos anos de resistência, viviam com o coração partido, em condições muito precárias, e “morriam de tédio” nesses espaços reduzidos. A “Dança fantasma” dizia que os índios tinham sido contrariados e colocados nas reservas por terem feito os deuses zangar-se ao abandonar as suas práticas quotidianas nas planícies. Muitos Sioux acreditavam que se praticassem o ritual da “Dança fantasma” e rejeitassem as práticas dos brancos, os deuses criariam um mundo novo, destruiriam os incrédulos e trariam de volta os índios assassinados juntamente com as imensas manadas de búfalos. 

No final de 1890, Washington D.C. foi avisada de que os índios estavam a dançar na neve e que estavam selvagens e loucos e que por isso era necessária proteção. Enquanto esperava pelos reforços, o agente Mc Laughlin tentou prender “Touro Sentado”, famoso chefe Sioux, pensando (por engano) que era apoiante da dança que estava a alastrar cada vez mais. O chefe guerreiro acabou por ser morto, o que piorou ainda mais a situação. No dia 29 de dezembro de 1890, o Coronel James Forsyth (do 7º regimento da cavalaria) ordenou que o grupo de índios que estava a praticar a E-REI: Revista de Estudos Interculturais do CE

“Dança fantasma” pousasse as armas. “Big Foot” (Pé Grande) e os seus seguidores não tinham qualquer intenção de atacar mas desconfiavam dos oficiais americanos e receavam ser atacados caso entregassem as suas armas. Houve um desentendimento entre um oficial e um índio e um tiro terá disparado, não se sabe por parte de quem, e então, iniciou-se o mais cruel dos massacres contra os índios, indefesos e de longe, menores em número do que os soldados. (…) 


Embora este massacre seja referido como uma “batalha”, é considerado pela maior parte das pessoas como um massacre trágico e que podia ter sido evitado. (…) Alguns historiadores especulam que os soldados que tinham pertencido ao 7º regimento da cavalaria ter-se-iam vingado da batalha que tinham perdido em Little Bighorn em 1876. Seja qual for o verdadeiro motivo, o massacre acabou com o movimento da “Dança fantasma” e foi o maior confronto contra os índios das planícies. Após a leitura desse artigo apercebemo-nos dos perigos das consequências que pode ter a interpretação de práticas diferentes por parte de outras estruturas de pensamento, neste caso, a cultura dominante, dita “padrão”, “superior” sentiu-se ameaçada ao ver que a dança estava a alastrar e decidiu exterminar os praticantes do ritual. 

Esse comportamento é comparável com a ideologia do ditador alemão através da dita “raça pura”, da mesma forma que queria exterminar todos os judeus, o governo americano queria eliminar os índios, reação que denota, sem dúvida, a recusa de assimilar qualquer conceito diverso dos seus paradigmas. Há registos de testemunhos de índios que escaparam ao massacre de Wounded Knee, como o de ”Louise, Pele de Doninha”, índia sioux, que narra o massacre de sioux pelo exército americano, em 29 de dezembro de 1890: “Tentámos correr, mas eles nos alvejavam como se fôssemos búfalos. Sei que há alguns brancos bons, mas os soldados deviam ser maus, para disparar contra crianças e mulheres. Soldados índios não fariam isso contra crianças brancas” Louise, “Pele de Doninha”, índia sioux

Depois da informação que foi mencionada até agora, torna-se imprescindível saber um pouco mais acerca dos hábitos dos índios. Assim, proponho apresentar a tribo Sioux que era conhecida por ter uma ligação muito forte com a Natureza, e como já referido anteriormente, por ser a tribo que mais se destacou na luta pelos seus direitos, assim como dois dos grandes chefes guerreiros que tiveram um papel de destaque nos confrontos com as armadas do governo. Práticas Culturais e Chefes Guerreiros Famosos 

A tribo “Sioux” É considerada uma das mais ricas civilizações da América do Norte. Ganhou o nome “Siuks” dos outros índios que habitavam os Estados Unidos. A palavra significa homens-búfalo e virou “Sioux” na versão dos colonos franceses. O búfalo fazia parte ainda dos mitos dessa tribo, tinham importância fundamental na cultura. Os “Sioux” acreditavam que, no início dos tempos, o povo vivia no centro da terra com os búfalos e que quando vieram para a superfície, “Wakan Tanka”, o “Grande Espírito”, ordenou aos animais que servissem de alimento para a tribo. Mas advertiu os últimos que não deveriam caçar de forma desenfreada, pois no dia em que os animais desaparecessem da face da terra, os Sioux também se extinguiriam. 

Uma índia só era considerada uma “boa mulher” se soubesse esquartejar um búfalo, extrair a carne sem danificar a pele e ainda preparar uma iguaria com esta. Já para os homens, a caça ao búfalo era um ritual de passagem da adolescência para a idade adulta. Antes da conquista do oeste, os “Sioux” viviam em paz com a natureza e com os búfalos que dominavam aquelas planícies, caçadores nómadas, desfrutavam de total comunhão com os animais. Comiam a sua carne e usavam a pele para confecionar tendas, chamadas “teepees”. Tradicionalmente vestiam com toucados de penas, couro com franjas, missangas e mocassins.



A Dança do Sol A “Dança do Sol” era um dos mais sagrados rituais dos Sioux e de todos os índios americanos. Acontecia no solstício de verão e durava até oito dias. 

A tribo acreditava que a dança purificava e renovava suas almas. Durante este período, era comum os guerreiros serem possuídos por visões. “Touro Sentado”, por exemplo, viu muitos soldados americanos mortos. E a sua visão impulsionou os guerreiros em Little Bighorn (batalha de 1876), quando o general Custer foi morto. A relação com o mundo onírico era tão importante para os Sioux que os seus nomes vinham de sonhos. Até aos 16 anos, um índio sioux não tinha exatamente um nome. 

Os jovens eram nomeados de acordo com suas características físicas. Apenas quando atingiam a idade certa podiam aventurar-se nas Colinas Negras, onde permaneciam por dias em busca de sua visão. Era a montanha que lhes daria um nome.



Chefes guerreiros famosos “Touro Sentado” - Tatanka Yotanka (na língua índia nativa), nasceu no que é agora conhecido por Dakota do Sul, em março de 1831 e faleceu a 15 de dezembro de 1890.

Filho do famoso guerreiro chamado “Returns-Again”, matou o primeiro búfalo com 10 anos e tinha quatorze anos quando participou na primeira batalha, ganhando fama de corajoso. Em 1865 combateu contra o exército americano pela primeira vez e deram-lho nome de “Touro Sentado”. É provavelmente o mais famoso dos chefes indígenas Sioux Lakota Hunkpapa. 

Os confrontos com os soldados americanos tiveram início depois de se descobrir ouro nas terras cujo Tratado de Laramie em 1868 tinha acordado como pertencendo às tribos Sioux, o que após a descoberta não se verificou – o governo não cumpriu o que tinha prometido aos indígenas e declarou guerra a quem se opusesse às novas condições, o que enfureceu “Touro Sentado” que recusou obedecer às novas regras. Dizem que durante 36 horas dançou a Dança do Sol e que no fim, teve uma visão de que ganhavam aos americanos.




Dias depois ganhou a batalha de Rosebud. Em 1876, a sua tribo, junto aos Cheyenne, aos Arapaho e aos Sioux Lakota Oglala de “Cavalo Louco”, participou na batalha de Little Bighorn, da qual saíram vitoriosos. Em 1877, refugiou-se no Canadá (sob a proteção da rainha Vitória com algumas condições) e voltou aos Estados Unidos em 1881. 

Quando “Touro Sentado” voltou para as reservas sioux, em 1881 (onde viveu preso até 1883), já se tinha tornado uma lenda tanto para os índios como para os homens brancos. A sua popularidade era tanta que foi convidado para o evento de inauguração da ferrovia transcontinental Northern Pacific. 

Ao chegar lá, acompanhado de um intérprete, não honrou o convite. Falou na sua língua e terá dito o seguinte contra a multidão: "Odeio toda a gente branca. Vocês são ladrões e mentirosos. Roubaram nossa terra e tornaram-nos párias". O intérprete, claro, não traduziu à letra. E a multidão explodiu em aplausos, conforme narra o historiador Dee Brown no clássico Bury my heart at Wounded Knee.




“Touro Sentado” e Buffalo Bill Após o evento,” Touro Sentado” entrou no “Wild West Show” de Buffalo Bill (cow-boy conhecido) com um contrato de 50 dólares por semana, um bónus de 125 dólares e 1,5 dólares por cada foto sua assinada, foi levado a 15 cidades americanas, como um animal em exibição. 

O governo queria que ele passasse o maior tempo possível longe das reservas indígenas para evitar rebeliões. Viajou durante 4 meses nos Estados Unidos, mas logo quis voltar para a tribo. Ficou chocado com a pobreza que viu e com o ódio que lhe era dirigido por alguns membros da plateia nos espetáculos. 

O racismo era o sentimento existente para com os índios por parte de grande número de americanos. Dizia que preferia morrer como um índio do que viver como um branco. Bill deu de presente a “Touro Sentado” um sombreiro e um cavalo branco. Regressou para perto do local onde tinha nascido e rejeitou o cristianismo honrando a sua forma de vida. Foi preso e assassinado com um tiro na cabeça. Em 1953, os seus restos mortais foram trasladados para o Dakota do Sul, em Mobridge.



“Cavalo Louco” - Ta-sunko-witko (na língua nativa) o "Seu-Cavalo-é-Louco", nasceu em 1840 e faleceu a 5 de setembro de 1877. Quando nasceu recebeu nome Cha-O-Ha (Na Selvajaria ou Entre as Árvores”). 

A mãe chamava-lhe "Encaracolado" ou "Cabelo Claro" como tinha o cabelo encaracolado e claro como o da mãe. Recebeu este nome porque teve a visão de um cavalo negro debatendo-se furiosamente. Era descendente de “Búfalo Negro” (também o nome de sua primeira esposa, Mulher-Búfalo Negro), um dos índios que pararam uma das expedições exploratórias. Era líder militar da tribo dos Sioux Lakota Oglala e lutou com o seu povo contra o governo federal dos Estados Unidos para preservar as terras e tradições dos dacotas, durante a segunda metade do século XIX, nas chamadas “Guerras Indígenas”.




Foi, juntamente com “Touro Sentado”, o símbolo da resistência Sioux aos brancos, participou nas vitoriosas batalhas Fetterman, Rosebud e Little Bighorn. 

Atraído para uma cilada em 16 de setembro, foi assassinado com um golpe de baioneta. Em 1947 iniciou-se a construção do monumento em homenagem a “Cavalo Louco” situado no monte Thunderheade em Custer no Dakota do Sul, pelo escultor Korezak Ziolkowski, no local escolhido por ele e pelo filho de “Cavalo Louco” em 1940, o monumento tem 170 metros de altura e 195 de comprimento e representa “Cavalo Louco” no seu cavalo.


7ª Arte e Imagem do Índio Como mencionado na introdução, as personagens de origem índia que apareciam em produções cinematográficas tinham sempre conotação negativa, o desenho animado do qual já falei anteriormente, “Tom Sawyer” tinha uma personagem do índio Joe (que a maior parte de nós temia e ainda hoje muitas crianças temem) e os westerns passavam uma imagem com conotação pejorativa, enquanto na realidade lhes foi imposto um tratamento de choque. Houve, durante muitos anos, uma espécie de “lavagem de cérebro” junto do grande público acerca dos índios. 

É possível verificar essa ideologia nos westerns realizados por John Ford, que retratavam a conquista do oeste, são o exemplo típico da presença do poder do ser “superior”, neste caso os americanos como seres “civilizados” versus o índio, ser “inferior” ou “selvagem”, “incivilizado”. Em todas as produções de westerns, a ideia subjacente era de que se tratavam de seres “selvagens”, “fora de lei”, “assaltantes de comboios ou de diligências”, “alcoólicos”. Era patente o racismo que emanava dessas produções onde se podia ver que os índios eram retratados como desprovidos de qualquer valor humano. 

Parece-me pertinente relembrar os críticos da cultura de massa, nomeadamente Queenie Dorothy Leavis e Frank Raymond Leavis que se opunham ao cinema. Em Fiction and the Reading Public (1932), Q. D. Leavis, defendia que a leitura de ficção popular era “uma forma de toxicodependência que podia levar ao hábito de fantasiar, o que causaria um desajuste com a vida real”1 . F. R. Leavis, em Mass Civilization and Minority Culture (1930), atacava o cinema, porque os “filmes sujeitavam o espectador à recetividade hipnótica de apelos emocionais básicos”2 . 

Para estes críticos culturais, o conceito de cultura implicava a distinção entre (verdadeira) cultura e cultura de massas, uma dicotomia na qual o segundo termo significava sempre uma forma de cultura inferior e sem qualquer fundamento intelectual, associada à influência nefasta das indústrias mediáticas dos Estados Unidos. Essa influência verificou-se em relação à opinião que transmitiu acerca dos índios, estava criado o estereótipo de que os índios não passavam de “selvagens” e “maus”. 

Em Racism In the Western, Jean-Jacques Sadoux atribui importância ao ano de 1958, em que os representantes de sessenta e duas tribos nativas americanas
 protestaram pela forma como o cinema manipulava a sua imagem. 

Através dessas manifestações, os índios nativos visavam o racismo que era projetado pela indústria cinematográfica e que ajudava a criar estereótipos acerca dos índios. Também explica que o facto de nos westerns os índios serem massacrados em grande número desencadeava animosidade por parte do público para com os nativos americanos (p. 30) Mas esse ataque à comunidade índia começou a desvanecer devido a vários fatores que contribuiram cada vez mais para que a má imagem do índio na grande tela e no ecrã fosse diminuindo. 

Ciências interligadas entre si, tais como a etnologia, a antropologia e a linguística, começaram a evoluir através de estudos cada vez mais numerosos realizados junto de comunidades índias e cujos resultados se revelaram altamente importantes para a humanidade. Tiveram um papel considerável na forma de encarar esses povos como detentores de uma enorme riqueza cultural, que foi ao longos de vários séculos desperdiçada e considerada sem qualquer tipo de valor. Essas ciências permitiram um novo olhar e uma tomada de consciência do valor que estes povos representavam. 

A tomada de consciência começou a invadir aos poucos as produções cinematográficas, que começaram a mudar os guiões, alterando dessa forma a imagem dos índios para uma conotação cada vez menos negativa. 

Um exemplo dessa mudança de ideologia está patente no filme Devil´s Doorway, 1950 (O Caminho do Diabo) de Antony Mann que inovou ao colocar o índio como indivíduo consciente e vítima do processo de ocupação do oeste, e não mais como um “selvagem”, “ingénuo” ou “cruel”. Os estúdios da MGM mostraram-se relutantes em lançá-lo, mas quando o fizeram, o filme causou impacto e polémica. Como era de esperar, tentar inculcar uma ideia oposta nas estruturas de pensamento já formatadas iria causar divergências

Outro western, Broken Arrow,1950 (Flechas de Fogo) do realizador Delmer Daves, que apresenta um ex-soldado que salva a vida de um índio Apache e que começa a compreender os nativos, foi indicado ao óscar de Melhor Ator, Melhor Fotografia e Melhor Roteiro, notável por ser um dos primeiros westerns a retratar os índios americanos de forma mais simpática e equilibrada. É interessante mencionar que o próprio John Ford, realizador conhecido pelos seus westerns, em 1965, realizou o seu último filme, Crepúsculo de uma Raça, como um mea culpa por, segundo ele próprio, “ter matado mais índios que o General Custer” e também para ajudar financeiramente um grupo de nativos de uma reserva que eram seus amigos. 
O cineasta admitiu a injustiça sofrida pelos indígenas numa famosa entrevista a Peter Bogdanovich: “Vamos enfrentar a verdade: nós tratámo-los muito mal. É uma mancha que carregamos. Trapaceámos, roubámos, matámos, assassinámos, massacrámos, e tudo o mais, mas se eles matassem um homem branco, Deus, lá vinham as tropas.” Essa mudança de ideologia também era apresentada nos filmes através da possibilidade de haver “salvação” para esses seres “selvagens ”, era possível adotarem as práticas da cultura proeminente e tornarem-se americanos, era possível a hibridização, a aculturação, como demonstra o papel da atriz Audrey Hepburn no filme The Unforgiven, 1960 de John Huston, em que encarna o papel de uma índia raptada por uma família branca e totalmente acostumada às práticas da cultura americana. Neste filme também está explícito o racismo para com os índios e as pessoas das quais se suspeitava que tinham sangue índio. A temática da possibilidade da hibridização também está patente no filme The Savage, 1952 (Trágica Emboscada) de George Marshall, no qual Charlton Heston interpreta um homem branco criado pelos índios Sioux. Também papéis de índios interpretados por atores brancos começaram a ser representados por verdadeiros índios em várias produções, o que demonstrou que já se começava a considerar os índios como seres humanos com direitos como os demais americanos.


Um fator que teve peso muito importante foi o crescente apoio de muitas celebridades a favor dos direitos dos índios, como foi o caso, em 1968 da atriz Jane Fonda, que protestou a seu favor. É importante mencionar que na década de 1960 a palavra “índio” passou a ser substituída por “nativo americano” por ter conotação menos negativa. 

Se muitas figuras públicas já demonstravam a sua revolta com a desumanização do índio, um acontecimento bombástico ocorreu no ano de 1973. Aquando da cerimónia de entrega dos óscares, o ator Marlon Brando recusou o óscar de melhor ator e mandou a índia Sacheen Little Feather (Pequena Pena), da tribo Apache como forma de protesto ao tratamento dado aos nativos americanos. Ela anunciaria diante de toda a plateia de Hollywood que Marlon Brando recusa essa honra devido ao tratamento reservado aos indígenas nos filmes, na televisão e em Wounded Knee. O discurso que Sacheen devia supostamente ter lido na íntegra, em nome de Marlon Brando, está visível no link que se segue na edição do New York Times: http://www.nytimes.com/packages/html/movies/bestpictures/godfather-ar3.html A cidade de Wounded Knee tinha sido invadida e ocupada por cerca de 200 nativos americanos armados que exigiam que o governo do estado desse maior atenção aos problemas enfrentados pelas tribos nativo-americanas nas reservas. A cidade foi ocupada 71 dias, sendo que diversos tiroteios ocorreram entre os nativos americanos e tropas militares, onde dois nativos americanos que protestavam morreram. Como é possível verificar, ao visualizar o vídeo, o apresentador Roger Moore, estrela de diversos filmes da série James Bond, tentou entregar a estatueta a “Pequena Pena”, mas ela afastou-a com o braço dizendo que Brando não poderia aceitar o prémio. Leu trechos de uma declaração escrita pelo ator, cujo inteiro teor foi depois publicado pela imprensa, inclusive pelo The New York Times: “(…)

A comunidade da indústria cinematográfica tem sido igualmente responsável por degradar o Índio e ridicularizar seu caráter, descrevendo-o como selvagem, hostil e malvado." Várias produções continuaram a defender a causa dos nativos, mas na década de 1990 Dances With Wolves, que desmistificava a imagem de homens selvagens ao mostrar um povo digno e honesto, dirigido, coproduzido e protagonizado pelo próprio Kevin Costner, foi nomeado para doze óscares, ganhando sete, dois dos quais entregues ao próprio Kevin Costner, o óscar de melhor realizador e o de melhor filme, traduzindo-se assim no maior sucesso cinematográfico de Kevin Costner. 
O facto de figuras públicas revelarem a sua descendência nativa americana, como a cantora Cher, o vocalista dos Aerosmith, Shanaya Twain e muitos outros - incluindo Johnny Depp que sempre disse ter descendência Creek ou Cherokee por parte de uma tetravó e que foi recentemente “adotado” por uma tribo, ficando com o nome de "Mah Woo May", que significa "aquele que muda de forma", tem contribuído para que os direitos dos nativos americanos sejam cada vez mais reconhecidos.

Conclusão 

Por mais estranho que pareça, os Estados Unidos, apesar do genocídio do qual foram palco, não deixaram de se apresentar como o melting-pot, uma controvérsia….Desde os anos 60, o ativismo a favor dos direitos dos nativos americanos tem-se multiplicado e tem dado origem à construção de infraestruturas culturais e a um maior reconhecimento. Criaram-se jornais independentes, o primeiro canal de televisão nativo americano, o ” FNX” (2011), escolas comunitárias assim como museus (regionais e nacionais) e programas de linguagem tribal. Muitas universidades lecionam estudos sobre os nativos americanos. Nos dias que correm, é notória a importância da preservação das tradições dos povos que vivem no planeta, pois as diferenças culturais representam uma riqueza que beneficia ciências que têm interesse no seu estudo

“De todos os caminhos desta vida, existe um que realmente importa. É o caminho para o verdadeiro ser humano.” “Pássaro Esperneante”, em ”Dancing with the Wolves” Bibliografia Habermas, J. A inclusão do outro: estudos de teoria política. Edições Loyola, São Paulo, 2002 E-REI: Revista de Estudos 


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Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular: Estudos Interculturais, lecionada pela docente Dr.ª Clara Sarmento Maria José de Sousa Gomes - Turma R31D - 2100155 Porto / janeiro 2013


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