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quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Guatemala: vulcão, selva tropical, ruínas y otras cositas más


 F
Guatemala convida a uma viagem pelos sentidos.
Primeiro, apure os ouvidos. A sonoridade começa pelo adjetivo-pátrio – “gua-te-mal-te-co” – e segue pelos 22 dialetos mayas falados pelo país afora.
Seus olhos vão se perder em cores vivas e vibrantes. O vermelho se sobressai sempre! No topo do Vulcão de Fogo, ele está lá, na cor assustadora das lavas que há pouco meses explodiram e deixaram um rastro de morte e destruição. E, lado a lado com os tons rubros, estão verde, amarelo, roxo e azul em roupas, bordados e adereços de cabeça. Até os autocarros são verdadeiras aquarelas, uma estratégia para ajudar o 1,2 milhão de analfabetos (13% da população) a se orientarem no transporte público.


O olfato vai se perder por entre a fumaça das cerimónias mayas em cemitérios. Os mercados trazem o cheiro das frutas frescas e das tortillas de milho na chapa.
O tato vai se impressionar com esculturas em alto e baixo relevo nas ruínas das milenares Pirâmides de Tikal, berço da civilização maya na América Central.
E o paladar… hummm… Condimentos mexicanos, ingredientes exóticos e influências de todas as partes do mundo criam uma rica culinária local.
Depois de passar rápido com nosso motorhome pelas inseguras Nicarágua, Honduras e El Salvador, finalmente respiramos aliviados na Guatemala. Nossa primeira parada foi em Antigua, fundada pelos espanhóis em 1543 e declarada Património Mundial da Humanidade pela Unesco. Três vulcões – de Água, de Fogo e Acatenango – dominam a paisagem como sentinelas nos arredores de Antigua. E, no Centro Histórico, uma infinidade de casarões coloniais, igrejas, conventos e ruínas datadas de 1773, quando a cidade foi arrasada por um terremoto e deixou de ser a capital do país.
Apesar da força e truculência espanholas durante a colonização terem arruinado o Império Maya na Guatemala e América Central como um todo, as influências da cultura indígena pré-colombiana permanecem viva entre os guatemaltecos. No mercado municipal, na rodoviária e na praça central de Antigua, homens e mulheres com vestimentas típicas, adereços de cabeça, dentes cobertos de ouro e um colorido encantador são a prova de que a herança maya fixou raízes nos dias atuais.
E se essa cultura é pulsante em Antigua, imagine no interior!
Nas margens do Lago Atitlan, a 144 quilómetros de Antigua, povoados indígenas preservam hábitos e tradições milenares. San Juan La Laguna é a aldeia dos artistas. Murais ornamentam todo o lugarejo e o pintor Andrés Mendoza, conhecido como Aliix, se destaca ao pintar telas com duas famosas técnicas: vista de pássaro (reproduzindo o que as aves devem contemplar lá de cima, ao sobrevoarem plantações de milho e café) e vista de formiga (com imagens agigantadas, assim como esses insectos devem enxergar o mundo acima de suas cabeças). No ateliê ao lado, a jovem Mirna Ujpan trabalha com outras 35 tecelãs da Cooperativa La Casa del Jaspe para fazer fios de algodão, tingi-los com pigmentos extraídos de sementes, folhas, cascas de árvores, raízes e insetos e, finalmente, transformá-los em lindos tecidos.

No povoado de San Pedro La Laguna, salta aos olhos o sincretismo religioso: dentro dos templos católicos estão altares reservados para as cerimónias mayas; e no altar lateral das igrejas, há sempre a imagem de Cristo com a pele bem morena (quase negra) – uma estratégia para catequizar os índios com uma figura fisicamente parecida a eles e afastar qualquer semelhança do Todo Poderoso com os branquelos conquistadores espanhóis.
Para finalizar o passeio pelo Lago Atitlán, uma parada em Santiago La Laguna, onde as mulheres andam pelas ruas com um curioso adereço de cabeça, o tocoyal, formado por mais de 20 metros de fita.
A cultura das 22 tribos maya guatemaltecas se encontra, todas as quintas-feiras e domingos, no Mercado de Chichicastenango, considerada a maior feira indígena da América Central. Roupas, sapatos, bolsas, lenços, comidas, animais… Tudo está à venda nas centenas de bancas montadas nas ruas que partem da Igreja San Tomás. Mas é no cemitério do Cerro Pascual Abaj que mora o verdadeiro encanto de Chichicastenango. No meio dos túmulos pintados de um colorido vivo, sacerdotes mayas conduzem cerimónias e rituais com muito fogo, fumaça e oferendas. São preces para os antepassados, homenagens aos mortos e pedidos de bênçãos para os vivos feitas em dialectos locais, diante de pessoas ajoelhadas e sempre muito emocionadas.

VULCÕES

Dona de 288 vulcões, a Guatemala também convida os turistas a escaladas ao topo desses gigantes da natureza. Nós enfrentamos a dura subida do Vulcão Acatenango, em dois dias de expedição. No primeiro dia, foram 6 horas de caminhada para chegar ao acampamento-base, de onde se tem uma vista espectacular – e assustadora – do Vulcão de Fogo, que entrou em erupção no início de junho deixando 116 mortos, mais de 300 desaparecidos e milhares de desalojados em Escuintla, nos arredores de Antigua.
Lá do alto, se vê com nitidez o rastro das lavas vulcânicas e o vale soterrado pelo fluxo piroclástico (uma mistura de gases quentes, cinzas e fragmentos de rochas). O vermelho incandescente das lavas do Vulcão de Fogo ainda brilha em seu topo e, para apreciá-lo melhor, é preciso encarar mais de 3 horas de subida íngreme até o cume do Acatenango. Frio de 5 graus negativos, ventos fortes, algumas explosões do vulcão e vários tombos no terreno coberto de areia e cinzas fazem parte do passeio, mas todo o esforço é recompensado pelas lindas paisagens.

TIKAL

A selva tropical esconde, em meio ao verde exuberante e animais exóticos no Norte da Guatemala, as ruínas da capital do Império Maya: Tikal. Pirâmides, templos, tumbas, praças de jogos e palácios revelam a grandeza do assentamento indígena que começou a se formar por volta do ano 1.000 a.C., teve seu apogeu entre os anos 200 e 900 d.C. com mais de 50 mil habitantes vivendo ali e foi abandonada em 950 d.C, provavelmente por causa da superpopulação e de uma forte seca que comprometeu as actividades agrárias na região.

Um detalhe curioso é que Tikal não foi descoberta pelos colonizadores espanhóis e só há registos de visitas ao sítio arqueológico em 1848, já depois da Independência da Guatemala. Hoje tombada como Património da Humanidade pela Unesco, Tikal é visita obrigatória para os amantes da história e da cultura.

guaja.cc

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