Via Rebelión
Hedelberto López Blanch (*)
Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti
Quando sopram na América Latina ventos extremos de neoliberalismo que impõem desemprego, privatizações e redução de programas sociais, a Bolívia aparece como um farol de luz para as grandes maiorias da região.
Incentivadas pelos EUA com pleno apoio do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial, das oligarquias nacionais e os meios de comunicação capitalistas, a América Latina tem sofrido nos últimos anos um significativo retrocesso no processo de integração regional em detrimento das pessoas menos favorecidas.
Grandes programas de austeridade têm sido adotados por vários governos, como os do Brasil, Argentina, Honduras, Paraguai e Guatemala, que elevam os índices de pobreza e de fome entre a população, enquanto são favorecidas as minorias endinheiradas do país e as empresas multinacionais.
Por isso, se torna notório o caso da Bolívia, que a partir de 2006, quando o primeiro mandatário indígena na sua história alcançou a presidência, tomou uma série de medidas para nacionalizar empresas e riquezas produtivas, minerais e serviços, com o objetivo de melhorar as precárias condições de vida da população.
Desde então, a situação da nação andina deu um giro de 180 graus, pois anteriormente suas características eram a pobreza, a fome, carências na área educacional e de saúde da população, enquanto que a economia sofria o saqueio por parte das multinacionais, com o resto dos capitais ficando nas mãos de um pequeno grupo de indivíduos da nação.
A economia da Bolívia é a de maior crescimento nos últimos cinco anos, e se transformou na mais sólida e estável da América Latina.
A Bolívia cresceu 4,2% em 2017, e em 2018, se forem mantidos os preços do gás e de seus outros produtos de exportação, poderá alcançar 4,5%.
As conquistas da Bolívia não se devem somente à estabilidade dos preços das matérias primas, mas também ao esforço da população, à contribuição do setor produtivo e à política de nacionalização implementada para recuperar os recursos naturais e as empresas estratégicas do país.
Em uma resumida síntese, resultaram nacionalizados ou renegociados os leoninos convênios que tinham sido assinados por governos anteriores com empresas estrangeiras, entre as quais aparecem às ligadas à madeira, ao ouro, à aviação, às telecomunicações, eletricidade, telefonia, transporte público, minerações, hidrocarbonetos e metalurgia.
Essa política resultou em uma mudança radical do sistema neoliberal que existia anteriormente, que mantinha essa nação, segundo organismos internacionais, como o terceiro país mais atrasado e pobre da América Latina.
Segundo o ranking anualmente publicado pelo FMI, a Bolívia se situava em 2005 em 117º lugar em relação a seu Produto Interno Bruto (PIB) entre as nações, e agora aparece em 75º lugar. Ou seja, avançou 42 posições em somente 11 anos. Em 2006, seu PIB era de aproximadamente 6 bilhões de dólares, e agora é de 37 bilhões.
Também a adoção de uma política financeira inteligente permitiu-lhe aumentar suas reservas monetárias de 700 milhões de dólares para 20 bilhões de dólares.
Por toda a nação andina surgem novas fábricas de papel, papelão, tintas, de processamento de sal, de amêndoas e de derivados; a agricultura contribui com soja, açúcar, milho e quinoa, e são construídas estradas, pontes e armazéns, o que faz com que o país tenha uma das taxas de desemprego mais baixas da América Latina, de somente 5,1%.
Antes da chegada de Evo Morales ao poder, nove em cada dez bolivianos de origem camponesa se encontrava na extrema pobreza, sem ter acesso à água potável, eletricidade, saúde, educação e alimentação.
Dados de organismos financeiros internacionais assinalam que o governo conseguiu diminuir a pobreza moderada de 59% para 28% da população entre 2005 e 2016, e o coeficiente Gini de desigualdade baixou de 0,60 para 0,41.
Fundamentalmente, foram os programas político-sociais instaurados pelo Estado Plurinacional os que possibilitaram esses avanços.
Com a utilização do método cubano Sim, eu posso, o analfabetismo foi eliminado ao aprenderem a ler e a escrever nada menos que 850 mil bolivianos, que hoje estudam para alcançar o equivalente à 6ª. Série.
Estabeleceu-se o pagamento de pensões vitalícias no valor de entre 1800 e 2400 pesos para a população com mais de 60 anos (Renda Dignidade), auxílios de 1820 pesos para mulheres grávidas e parturientes (Bonus Juana Azurduy) até quando seus filhos completem dois anos, o que auxilia na diminuição dos índices de mortalidade infantil e de gestantes.
Com o objetivo de que as crianças não sejam obrigadas a trabalhar desde cedo, foram criados programas sociais para elas, através dos quais o Estado disponibiliza 200 pesos por ano para 1,7 milhões de estudantes da 1ª à 8ª séries, o que fez caírem os índices de abandono escolar no país.
No plano estipulado até 2020, foram estabelecidos cinco eixos principais: elevar os investimentos no setor petrolífero, exportar energia elétrica, desenvolver a petroquímica, expandir o setor agrário e industrializar o lítio, onde o setor privado e os investimentos estrangeiros estão sendo chamados para desempenhar um importante papel.
Como poucos países da região, a nação andina está solucionando em apenas 11 anos uma dívida social de 500 anos, da qual padecia devido a séculos de colonialismo, neocolonialismo e neoliberalismo.
(*) Hedelberto López Blanch, jornalista, escritor e pesquisador cubano, especialista em política internacional.
http://gilsonsampaio.blogspot.pt
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