Vital Moreira(ver publicação abaixo) é naturalmente incapaz de encontrar explicações para o reconhecido declínio da social-democracia europeia que não passem pela identificação de processos supostamente irreversíveis e consequentemente é incapaz de pensar em como reverter tal declínio.
É que pensar a reversão é ir contra o essencial do que Vital Moreira passou a pensar como desejável: da Terceira Via blairista e das suas engenharias mercantis à economia política ordoliberal, inscrita na constituição informal europeia de matriz tão pós-democrática quanto anti-keynesiana e que foi desenhada precisamente para destruir a social-democracia, como por várias vezes por aqui e por ali defendi. Na medida em que as ideias contam na história, intelectuais como Vital Moreira são também responsáveis pelo declínio.
Já agora, e no que ao PS diz respeito, é de notar que é de facto uma das excepções, com os trabalhistas britânicos de Corbyn, convém lembrar, que confirma a regra. Ao contrário destes, não ocorreu por cá qualquer recomposição ideológica, protagonizando o mesmo PS uma solução governativa limitada, mas necessária, fruto da derrota das classes populares nos anos de chumbo da troika, da qual também está dependente. Eles que pensem no bloco central, ou que ajam muitas vezes como se estivessem no bloco central, o que Vital Moreira certamente prefere, e pode ser que passem a fazer parte da regra. A esquerda, por sua vez, não deve ter medo, antes orgulho, de ser acusada de populista pela sabedoria convencional.
ladroesdebicicletas.blogspot.pt
Irreversível o declínio da social-democracia?
É que pensar a reversão é ir contra o essencial do que Vital Moreira passou a pensar como desejável: da Terceira Via blairista e das suas engenharias mercantis à economia política ordoliberal, inscrita na constituição informal europeia de matriz tão pós-democrática quanto anti-keynesiana e que foi desenhada precisamente para destruir a social-democracia, como por várias vezes por aqui e por ali defendi. Na medida em que as ideias contam na história, intelectuais como Vital Moreira são também responsáveis pelo declínio.
Já agora, e no que ao PS diz respeito, é de notar que é de facto uma das excepções, com os trabalhistas britânicos de Corbyn, convém lembrar, que confirma a regra. Ao contrário destes, não ocorreu por cá qualquer recomposição ideológica, protagonizando o mesmo PS uma solução governativa limitada, mas necessária, fruto da derrota das classes populares nos anos de chumbo da troika, da qual também está dependente. Eles que pensem no bloco central, ou que ajam muitas vezes como se estivessem no bloco central, o que Vital Moreira certamente prefere, e pode ser que passem a fazer parte da regra. A esquerda, por sua vez, não deve ter medo, antes orgulho, de ser acusada de populista pela sabedoria convencional.
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Irreversível o declínio da social-democracia?
1. Os números do quadro acima - retirado daqui - não enganam: é evidente o declínio eleitoral dos partidos social-democratas europeus nas últimas duas décadas, traduzido em pesadas perdas nas eleições parlamentares desde 2000 em muitos países, algumas delas devastadoras (Grécia, França), com apenas duas exceções (Bulgária e Noruega). E em vários países do Leste europeu, a social-democracia praticamente não existe
Perdendo apoio eleitoral e representação parlamentar a social-democracia perde naturalmente poder governamental. Há vinte anos, os governos socialistas detinham a maioria no Conselho da União Europeia; hoje estão em reduzida minoria. As próximas eleições italianas podem trazer mais uma perda.
As perdas eleitorais dos partidos social-democratas têm beneficiado não somente os partidos à sua esquerda mas também os partidos populistas, incluindo a direita nacionalista.
2. Entre as razões geralmente apontadas - na já vasta literatura sobre o declínio da social-democracia - contam-se a recomposição económica social no países europeus, com redução acentuada do trabalho manual e da filiação sindical, base social tradicional dos principais partidos social-democratas, e a incapacidade da social-democracia tradicional para captar o apoio das novas classes médias (profissionais liberais, quadros médios e técnicos, etc.).
Há talvez outro fator não menos importante. A social-democracia cresceu politicamente na fase da luta pela edificação do Estado social na Europa (direitos dos trabalhadores e direitos sociais gerais, nomeadamente o direito à saúde, à educação, e a segurança e proteção social), de que foi protagonista. Hoje o Estado social está na defensiva, sob o desafio da sua sustentabilidade financeira. Por isso, os partidos social-democratas, quando no Governo, são levados a restringir os níveis de satisfação dos direitos sociais, contrariando a sua herança política e ideológica, o que provoca o afastamento do seu eleitorado tradicional, cativado pelo ativismo protestatário das esquerdas alternativas ou pelas ilusões salvíficas das forças populistas.
Não admira que algumas da maiores perdas foram registadas pelos partidos social-democratas que tiveram de gerir programas de austeridade ou de contenção financeira a seguir à crise da dívida pública de 2009 (Grécia, Espanha, Irlanda), como aqui se assinalou, ou que levaram a cabo reformas a favor da flexibilidade laboral e da competitividade económica (caso da Alemanha).
3. Vítima da recomposição social e da crise do Estado social, a social-democracia tarda em adaptar o seu discurso e prática política a um nova configuração social (pluriclassismo e mobilidade social) e a novas agendas políticas socialmente transversais, onde sofre a competição de outras forças políticas (ambiente e mudanças climáticas, segurança alimentar, igualdade de género, mobilidade e qualidade de vida urbana, imigração e multiculturalismo, globalização e sua regulação, etc.).
Vivemos durante muitas décadas no pressuposto de que a social-democracia era a alternativa de governo natural à direita. Hoje, porém, em muitos países, a social-democracia está inexoravelmente afastada da luta pelo poder e da governação. Ponto é saber se esse declínio é reversível...
Adenda
A posição do PS português é relativamente singular. Embora também tenha reduzido o seu score eleitoral no período assinalado, o PS foi poupado à ordália política de ter de gerir o programa de assistência financeira externa que o seu próprio Governo negociou em 2011 (cortesia da coligação entre a direita e a extrema-esquerda que o afastou do poder pouco antes...), tendo depois voltado ao governo em 2015 já com o programa de austeridade orçamental concluído e com a retoma económica iniciada e o desemprego a diminuir, apoiada no dinamismo da economia da União e em especial dos nosso principais parceiros comerciais. Eis uma conjunção astral favorável de que nenhum outro partido da família socialista beneficiou.
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