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domingo, 28 de janeiro de 2018

“Toma este texto; lê-o em voz alta; diz-me o que compreendeste.”


por Amato
Sou da opinião que, em vez de se fazerem exames para seriar os alunos para o acesso ao ensino superior, deviam ser feitos exames para averiguar o que os alunos realmente sabem quando saem da escolaridade obrigatória. Deviam ser sujeitos a exercícios pragmáticos do género:

“Toma este texto; lê-o em voz alta; diz-me o que compreendeste.”

Com isto não tenho intenção em defender qualquer tese. Esqueçam qualquer controvérsia.

Há coisas para as quais não é necessário grandes ciências. Basta observar, ter olhos na cara e cabeça para pensar. No dia-a-dia, na prática quotidiana, as observações empíricas e o bom senso ganham de goleada a qualquer ciência e a qualquer pseudociência. Estas últimas escudam a sua incapacidade e inépcia gritantes em números mais ou menos manipulados e em interpretações estatísticas grosseiras e enviesadas. Nós não precisamos desses números, nem de qualquer estatística. Temos olhos na cara. Temos cabeça para pensar.

“Toma este texto; lê-o em voz alta; diz-me o que compreendeste.”

“Não sabes? Não consegues ler duas palavras seguidas sem titubear as sílabas, sem engasgar nessa palavra que nunca viste numa sms?”

“E diz-me, o que compreendeste? Sim, o que retiraste disso que te dei? Não sabes? Ah...”

“Tens 18 anos já, ou vais fazê-los antes que o ano acabe, e não sabes ler, nem sabes compreender um texto. Quer dizer: sabes gaguejar as letras, és proficiente na escrita de mensagens de texto e a comentar no facebook ou no twitter. Mas não sabes compreender um parágrafo de texto simples, escrito em português simples. Não é um poema de António Nobre. É uma prosa simples. Proficiente! Quer dizer: hábil ou capaz! Já consegues perceber com estas palavras? São mais fáceis de entender? Também não sabes quem é António Nobre? Pois não. Desculpa, foi erro meu pensar o contrário.”

“Sabes que já podes ou que poderás votar em breve? E que poderás escolher o governo e as políticas deste país? Sabes que o teu voto valerá tanto quanto o meu? E, todavia, não sabes ler este texto que te dei... Pelo menos já sabes o que significa a palavra proficiente. Eu sei, eu sei... Eu sei que a política é uma seca e não queres saber dela para nada. A questão é que a política é feita de pessoas como tu que se servem de pessoas como tu, que não sabem ler, nem conhecem António Nobre ou o significado da palavra proficiente, apesar de terem doze anos de escolaridade, ou mais...”

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