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segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Cada jornada de futebol movimenta 340 milhões em apostas

A oferta de dinheiro a atletas para viciarem resultados é preocupação mundial. Match fixing terá chegado aos mais jovens
Cada jogo do principal campeonato de futebol em Portugal (a Liga NOS) gera apostas no valor médio de 32 milhões de euros. Ou seja, por jornada, as casas de apostas online recebem prognósticos de todo o mundo no valor de 288 milhões. E no caso de um desafio entre as principais equipas nacionais - Benfica, FC Porto e Sporting - pode chegar aos cem milhões. Já na II Liga (Ledman LigaPro) a média por encontro ronda os cinco milhões. Ou seja, cada ronda de futebol profissional chega aos 340 milhões em apostas. No Campeonato de Portugal, o dinheiro envolvido é reduzido: 122 mil euros/jogo. Estes valores foram fornecidos às entidades oficiais (desportivas e policiais) pela Sportradar, empresa de monitorização de apostas que trabalha para a FIFA e que identifica situações que indiciem viciação de resultados.
São verbas elevadas em investimentos sem que seja controlada a sua origem, abrindo, assim, a possibilidade de haver grupos interessados em manipular resultados - o chamado match fixing.
Uma realidade que, tal como a dificuldade que existe em conhecer os proprietários de algumas sociedades desportivas, está no centro das preocupações das diversas entidades com responsabilidades no desporto, nomeadamente no futebol.
Portugal não escapa ao fenómeno do suborno a jogadores para combinar resultados - para 22 de fevereiro está marcado o início do processo Jogo Duplo, em que 27 pessoas, entre atletas, dirigentes de clubes, empresários, estão acusadas de associação criminosa em competição desportiva, corrupção ativa e passiva e apostas à conta de base territorial fraudulentas - e é por isso que a Liga Profissional de Futebol, o Sindicato dos Jogadores e a Federação Portuguesa de Futebol têm vindo a efetuar sessões de esclarecimento junto dos atletas de modo a que estes não aceitem verbas que, eventualmente, lhes sejam propostas para ajudar a que um jogo tenha determinado resultado.
Também o governo está preocupado com a situação, tendo sido anunciado em dezembro, num seminário organizado pelo Comité Olímpico de Portugal, que iria montar uma plataforma para permitir a troca de informação de todos os agentes desportivos no combate à manipulação de resultados.
Futebolistas jogam, mas não podem
Sessões essas em que o sindicato descobriu uma realidade inesperada: a maioria dos atletas profissionais (os dois principais campeonatos) desconheciam que não podiam apostar em jogos de futebol e que ao fazê-lo incorriam num crime de aposta antidesportiva (com prisão até três anos).
"As ilações que tirámos [das sessões] são de familiaridade com o tema, no sentido de que ninguém desconhece o funcionamento das apostas desportivas e a existência de intermediários de organizações criminosas a oferecer dinheiro e outros benefícios aos jogadores", disse ao DN Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol.
Que, porém, ficou surpreendido com o facto de os atletas não saberem que não podem apostar - seja no Placard (jogo da Santa Casa da Misericórdia), seja nas casas online. "A grande maioria não sabia, o que é básico. Admito que alguns o possam fazer [apostar]", frisou.
Nesta campanha de alerta para os perigos do match fixing, o sindicato, com a FPF e a Liga, criou uma plataforma online onde podem denunciar-se suspeitas. Chama-se Deixa-te de Joguinhos, tem o antigo internacional português Pedro Pauleta como embaixador e, segundo Joaquim Evangelista "já terá recebido denúncias. Porém, não temos acesso a qualquer informação sobre as mesmas pois a plataforma serve para o contacto direto entre o denunciante e as autoridades que investigam, nomeadamente a equipa da Polícia Judiciária ligada ao combate à corrupção desportiva". A PJ, questionada pelo DN sobre quantos processos tem neste âmbito - além do processo Jogo Duplo, foram constituídos arguidos quatro jogadores do Rio Ave numa investigação que visa apurar se receberam dinheiro para perder o jogo com o Feirense, da 20.ª jornada da época 2016-17 - apenas adiantou nada ter a dizer.
Jovens e proprietários
A questão do suborno a atletas para manipularem resultados já está a colocar-se também a nível das camadas mais jovens. "Muitos destes jogos são objeto de apostas no mercado internacional, mesmo em sites ilegais. Os jovens estão a ser muito contactados. Temos de estar muito atentos a este fenómeno. Ninguém pode ficar indiferente, os pais, treinadores, dirigentes. Tem de haver coragem para falar", adiantou.
O advogado Fernando Veiga Gomes destaca a falta de transparência que existe quando se fala dos proprietários das sociedades desportivas. Sócio da Abreu Advogados, é presidente da Comissão de Direito do Desporto da União Internacional de Advogados, entidade que, juntamente com o Centro Internacional para a Segurança no Desporto (onde o português Emanuel de Medeiros é o responsável para a Europa e América Latina), está a efetuar um estudo sobre a integridade financeira e desportiva dos clubes. "Existe uma grande dificuldade em determinar quem são os beneficiários efetivos de alguns clubes de futebol e de saber se estão aptos a assegurar os destinos desses clubes. Por último, a múltipla propriedade dos clubes cria preocupações em termos de integridade das competições, uma vez que podem existir situações de controlo ou influência sobre mais do que um clube que joga na mesma competição", explicou ao DN. Num panorama em que 90% dos clubes europeus não publicam as contas e 77% estão em insolvência, ou perto, Fernando Veiga Gomes frisa que essas debilidades podem dar origem a "investimentos menos transparentes" numa indústria que movimenta anualmente 26,5 mil milhões de euros.
"Outra preocupação tem que ver com a aquisição de clubes de futebol por pessoas em situações de falência ou por criminosos condenados, o que potencia situações de lavagem de dinheiro, de corrupção e resultados combinados. Deve ser produzida legislação e regulamentação que controle os investimentos e os investidores para que situações menos transparentes sejam detetadas e monitorizadas", disse.


www.dn.pt

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