Milhares de anos atrás, uma pequena civilização de caçadores migraram para as regiões costeiras do sudeste da Ásia. Essas pessoas evoluíram para uma tribo generalizada de viajantes do mar. Até hoje eles permanecem como um povo sem Estado, sem nacionalidade e sem infra-estrutura consistente, às vezes vivendo a quilômetros de distância da terra. No entanto, essas pessoas constituem uma das poucas civilizações cuja vida coletiva tem sobrevivido por tanto tempo através da história humana. Eles são chamados de Badjao, e possuem qualidades surpreendentes que nos ensinarão sobre a arquitetura.
Enquanto a imagem pública de arquitetura é muitas vezes fixada no indivíduo, o povo Badjao considera o projeto uma prática comum. As casas para os Badjao (para aqueles que não vivem em seus barcos) são construídas quase inteiramente por troncos e restos de cidades costeiras de todo o Sudeste Asiático. Quando uma tempestade atinge uma casa ou comunidade, o vizinhos Badjao pouparão tanto material quanto for possível para ajudar a fortalecer casas danificadas. Suas casas são construídas sobre palafitas cuidadosamente colocadas entre rochas costeiras e recifes de coral. Esta atividade é um esforço comum, de modo a garantir que a vida selvagem não seja prejudicada.
A crítica arquitetônica pode ser enviesada com base em quem desenhou um edifício, independentemente da qualidade ou aparência. Em uma comunidade onde todos os membros contribuem para o trabalho do outro, a estabilidade surge sob a forma de apoio estrutural e cultural.
O termo "capacidade de adaptação" foi utilizado para o mundo da arquitetura como parte do crescente movimento "verde". No entanto, o resultado comum da mensagem tem sido eficiência de energia e eletrodomésticos eco-friendly que estão sendo acrescentado ao projeto de uma forma imutável. O que poderiam ser componentes fundamentais para a natureza do projeto são muitas vezes uma checklist no final do processo de concepção. A solução, então, não pode vir de nosso processo projetual, mas de nós mesmo. Os Badjao mostram como é possível os seres humanos adaptarem-se de forma produtiva aos seus ambientes.
Depois de milhares de anos se deslocando através das águas do sudeste da Ásia, os Badjao adaptaram-se ao seu ambiente de diferentes maneiras e não apenas através das construções. Um integrante Badjao pode, sem treinamento, prender a respiração por até dois minutos e mergulhar a uma profundidade de 60 pés (18 metros) sem perder o foco ou agilidade. Eles também podem ver tão bem debaixo d'água quanto da superfície. Estas características foram enraizadas em seus físicos para que permanecessem com eles desde a infância até a velhice. Eles tornaram-se flexíveis em sua própria natureza, para serem capazes de se movimentar e agir em uma dança constante com os elementos. Se as mentes arquitetônicas forem reconsiderar suas próprias relações com as variáveis ecológicas, sociais e culturais, o projeto então, pode seguir este exemplo.
Fragilidade é uma palavra que é, muitas vezes, combatida na arquitetura hoje. Nós, geralmente, aspiramos solidez, construções massivas e máxima fortificação. Isso resulta em uma oportunidade para nossa infra-estrutura falhar. O oceano, sendo um lugar naturalmente tumultuado, fez com que os Badjao acostumarem-se a afrouxar as rédeas em sua construção, por assim dizer. Eles constroem em curto prazo e vivem a longo prazo. Isto é bastante contraditório se considerarmos as noções modernas de satisfação e segurança imediata. Quando cada casa e ponte é construída para o fortalecimento das outras pontes e casas, então não há se quer um vez em que alguma infra-estrutura verdadeiramente falhou.
4. Prestar atenção no nosso meio ambiente tem resultados positivos para nós e para nossos legados arquitetônicos.
A metrópole de hoje orgulha-se de uma fortificação contra os elementos, e as tribos nômades, como os Badjao orgulham-se de um estilo de vida com os elementos. Aprendendo com eles é possível criar oportunidades para prevenir desastres, quando confrontados com as intempéries e os fenômenos naturais. Em 2004, o terremoto do Oceano Índico e o tsunami causaram uma destruição em todo o sul da Ásia. O que foi menos destacado na cobertura de notícias deste fenômeno natural eram os Badjao. Com seu profundo conhecimento do entorno natural, os Badjao transladaram suas comunidades, estabelecendo-se em áreas que acabaram não sendo drasticamente afetadas pelo tsunami. Esta não era uma questão de especulação cosmológica ou agenda política - os Badjao estavam dispostos a mudar a forma como eles viviam em resposta aos fatos incontestáveis sobre seu ambiente.
Os Badjao são fundamentalmente conectados à todos os aspectos da vida desde fluxos e forças que afetam o mar. O tempo é marcado pela maré, em vez de horas e minutos. A maioria dos Badjao não pode localizar uma data específica ou mesmo o ano em que eles nasceram, mas qualquer criança pode recordar os níveis médios do mar desde quando eles nasceram, ou em qualquer outro momento significativo em suas vidas. Quando projetamos edifícios, espaços ou iniciativas urbanas, é fácil se deixar levar por variáveis relativas ao lucro, horário e consumo de material. O que os Badjao nos ensinam é que existem camadas mais profundas das forças e informações que são igualmente (se não mais) dignas da nossa consideração como arquitetos.
"Nômade" é considerado por muitos como um termo de condescendência. Ele está associado com o vagabundo, viajante, andarilho. Se alguma coisa pode ser aprendida com os povos Badjao é que a concepção da vida em movimento é um dos métodos que temos para integrarmos novamente aos sistemas mais abertos e naturais. A arquitetura no mundo desenvolvido é uma competição do capital, apoiada por egos e tendências. Isso não quer dizer que a arquitetura não contribuiu, ocasionalmente, para moldar sociedades para melhor. Mas em vez disso, podemos aprender com aqueles que vivem uma vida menos estável, entendendo que sua fragilidade e capacidade de adaptação são mais benéficas do que se pode imaginar.
Todas as imagens dos Badjao via Shutterstock.com
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