Há 14 anos raptaram um estudante na Argentina que nunca mais apareceu. Vieram, ninguém sabe como, para a Europa. Especializaram-se em roubar bancos em Portugal com vários nomes falsos. A PJ apanhou-os
Quando foi detido, a PJ pensava estar perante José Luis Guevera Martinez, como atestavam os documentos de identificação. De nacionalidade guatemalteca, Martinez estava evadido de uma cadeia búlgara há dois anos, onde cumpria uma pena por roubo à mão armada e homicídio. Suspeito de vários assaltos a bancos em Portugal, Martinez ficou em prisão preventiva na cadeia de alta segurança do Monsanto. Só três meses depois, a PJ viria a descobrir a sua verdadeira identidade: o homem que tinha detido em novembro de 2016 era, afinal, o argentino Rodolfo Lohrmann, o criminoso mais procurado na Argentina que andava fugido há já 14 anos.
E não estava sozinho. Naquele dia 16 de novembro de 2016, foi também detido o seu braço direito — igualmente fugido há 14 anos e procurado na América do Sul — José Horácio Maidana. Também ele usava uma identidade falsa, de nome Jairo Casanova, e refugiara-se nos últimos anos em Portugal. Na operação foram detidos três outros suspeitos, só um português. Como disse uma fonte próxima do processo ao Observador, saíu o “jackpot” à Polícia Judiciária.
O último crime que terão cometido em terras argentinas terá sido a 21 de setembro de 2003, quando Lohrmann, Maidana e dois outros assaltantes já detidos sequestraram o filho de um empresário, Christian Schaerer, um promissor estudante de direito de 21 anos, na província de Corrientes, perto da fronteira com o Paraguai. O empresário paraguaio, Juan Pedro Schaerer, seria o alvo. Como não conseguiram agarrá-lo viraram-se para o filho, contou o empresário recentemente a um jornal argentino. Juan foi contactado por Maidana e conseguiu reunir 277 400 dólares (mais de 230 mil euros) de resgate. Mas os suspeitos nunca libertaram Schaerer e o que lhe aconteceu continua envolto num mistério.
O último crime que terão cometido em terras argentinas terá sido a 21 de setembro de 2003. Sequestraram o filho de um empresário, Christian Schaerer, um promissor estudante de direito de 21 anos. O empresário paraguaio, Juan Pedro, seria o alvo. Como não conseguiram agarrá-lo viraram-se para o filho. Os suspeitos nunca libertaram Schaerer e o que lhe aconteceu continua envolto num mistério.
Na altura as autoridades argentinas emitiram um alerta com a oferta de 100 mil dólares a quem localizasse José Rodolfo Lohrmann. Houve várias notícias de aparições que não se confirmaram. Os jornais chegaram a escrever que Rodolfo tinha feito uma operação plástica para não ser reconhecido. Três anos depois as suspeitas viraram as autoridades para o Brasil. Havia indicação de que os suspeitos do sequestro estariam escondidos naquele país. Os jornais brasileiros deram então conta de um anúncio do Ministério do Interior da Argentina, em que oferecia 70 mil dólares a quem os localizasse. Nem assim.
As autoridades desconhecem qual foi o verdadeiro percurso de Lohrmann e Maidana, antes de atravessarem o Atlântico rumo à Europa. Mas os documentos falsos com que Lohrmann se identificou depois de deixar a América Latina foram feitos na Guatemala. Fonte próxima do processo explicou ao Observador que o cartão de identificação do suspeito foi aqui produzido com cédulas de nascimento verdadeiras, mas de outra pessoa. Assim, Lohrmann identificava-se como José Luis Guevara Martinez — uma identidade usurpada, mas no cartão de identificação constavam as suas impressões digitais. Na Guatemala, Lohrmann terá mesmo mantido um relacionamento amoroso, alegando trabalhar num navio e, por isso, ter necessidade de se ausentar. Esse relacionamento terá sido com a mãe de Manuel –o arguido também detido pela PJ e que estava evadido de uma cadeia espanhola onde cumpria pena por tráfico de droga.
Já Maidana tinha uma identificação venezuelana, usando o nome Jairo Henry Ramirez Casanova. No debate instrutório, que decorreu em dezembro no Tribunal de Loures sob apertadas medidas de segurança (o Observador foi impedido de assistir por questões de segurança), Maidana justificou à juíza que tinha sido adotado em criança e que era por esse nome que era conhecido. Passara os últimos anos em Portugal, antes teria estado em Espanha.
Quem são os cinco detidos
O Ministério Público português não terá conseguido perceber, contudo, qual o verdadeiro percurso dos suspeitos nos últimos anos, mas afirma que os “arguidos Lhormann e Maidana são ambos argentinos e conhecem-se entre si há pelo menos 20 anos”, altura em que começaram a cometer crimes juntos. Lohrman conheceu Christian na prisão, na Bulgária, onde cumpriu pena entre 2009 e 2011 e acabou por fugir. Quando Lohrmann escapou da prisão foi ter com Christian a sua casa em Espanha e apresentou-lhe Maidana. Já Manuel terá telefonado a Lohrmann a pedir-lhe ajuda mal fugiu da cadeia espanhola. Aqui estão os cinco homens detidos:
José Rodolfo Lhormann, 53 anos, argentino, usava uma identificação falsa com o nome José Luis Guevara Martinez, de nacionalidade guatemalteca. Fugiu de uma cadeia da Bulgária em 2014, onde cumpria uma pena de cadeia por roubo agravado pelo uso de arma e homicídio sob o nome de Jose Luis Guevara Martinez. É com esse nome falso que pende sobre ele um mandado de detenção europeu e, agora, um pedido de extradição. No entanto, o Tribunal da Relação decidiu só entregar Lohrmann quando o processo em Portugal estiver resolvido. Quando foi detido, a 16 de novembro de 2016, Lohrmann ainda se apresentou à PJ como Luis Grisalez. Tinha, aliás, um passaporte falso com esse nome. No dia seguinte, quando foi presente ao juiz e este o advertiu que devia responder com verdade, disse que se chamava Jose Luis Guevara Martinez. Só quase três meses depois as autoridades perceberam que, afinal, o suspeito não era nenhum daqueles homens. Era sim Rodolfo Lohrmann, o homem procurado há 14 anos pelas autoridades argentinas por sequestro de um estudante, que nunca mais tinha sido encontrado. O Ministério Público acusa-o de cinco crimes de roubo qualificado, um deles na forma tentada, um crime de associação criminosa, sete crimes de furto qualificado. É ainda acusado de falsificação de documentos, crime de falsas declarações e de falsidade de declaração, um crime de branqueamento de capitais, condução sem habilitação legal e um crime de detenção de arma proibida. Como pena acessória, o Ministério Público quer se seja expulso do País.
José Horacio Maidana, 58 anos, argentino, usava uma identificação venezuelana com o nome Jairo Henry Ramirez Casanova. Tinha pendente uma ordem de detenção da Argentina (pelo um crime de sequestro cometido com Lohrmann), que já pediu a sua extradição — e cujo processo corre termos no Tribunal da Relação. Tinha ainda outro mandado de detenção pendente em Espanha, sob o nome Gustavo Veloso Dias. Quando foi detido disse chamar-se Nikola Georgiev Petkov, de nacionalidade búlgara. No primeiro interrogatório, em novembro de 2016, disse chamar-se Jairo Henry Ramirez Casanova, nascido na Venezuela. Já no debate instrutório, um ano depois, disse que era assim que era chamado uma vez que José Horacio Maidana era o seu nome de nascença, mas que tinha sido adotado e não se reconhecia como tal. É acusado de cinco crimes de roubo qualificado, um deles na forma tentada, um crime de associação criminosa, sete crimes de furto qualificado. O Ministério Público acusa-o também de falsificação de documentos, de falsas declarações e de falsidade de declaração, um crime de branqueamento de capitais, condução sem habilitação legal e um crime de detenção de arma proibida. Como pena acessória, o Ministério Público quer se seja expulso do país.
Manuel Ruben Garcia, 31 anos, guatemalteco, filho de uma ex-companheira de Lhormann, identificava-se como Angel Ivanov Borisov, búlgaro. Era conhecido por “Mani”. Estava fugido de uma cadeia espanhola desde 18 de março de 2016, quando saiu em precária e não voltou. Cumpria uma pena de seis anos e um dia por tráfico de droga, porque no dia 27 agosto de 2013 trouxe da Colômbia para Madrid 3.980 gramas de cocaína. Foi apanhado no aeroporto. Segundo o despacho de acusação, Manuel viveu em Portugal entre março e novembro de 2016. Tinha pendente um mandado de detenção, mas as autoridades espanholas já pediram a sua extradição. Chegou a usar o nome de Boris Neykov Kracholov, búlgaro, irmão da mulher do arguido Christian. Identificou-se à PJ, quando foi detido, como Angel Ivanov Borisov. Manteve a versão em primeiro interrogatório judicial. É acusado de um crime de associação criminosa, dois crimes de falsificação, um crime de falsas declarações e um crime de falsidade de declaração, um crime de recetação, um crime de branqueamento de capitais. As autoridades também pedem que seja expulso do País.
Jaime Jorge Maia Chastre Fontes, 33 anos, é o único português do processo e era também procurado pelas autoridades para cumprir uma pena de cadeia por tráfico de droga, mas em Portugal. Tratavam-no por “Fábio”. Usava documentos falsificados em nome de Marin Marinov. É acusado de crime de associação criminosa, dois crimes de falsificação, um de tráfico de droga, um de tráfico de armas e um de posse de arma proibida. Neste momento está preso à ordem do processo de tráfico de droga. Quando foi intercetado pela PJ, fugiu com o filho de quatro anos dentro do carro e ainda abalroou o carro da polícia. Foi detido mais tarde, já mais calmo. Relativamente aos seus documentos de identificação, diz o MP que “apesar de alegadamente emitidos pelas autoridades da República da Bulgária, não o foram, uma vez que os respectivos impressos são autênticos, contudo, os seus itens de preenchimento foram adulterados (…) foram obtidos através do arguido Christian que os entregou ao arguido Jaime, para este os usar como fosse a sua identidade e de modo a ocultar perante as autoridades do seu verdadeiro nome”.
Christian Velasco Gomez, conhecido por “Doido” ou por “Gordo”, 35 anos, espanhol, casado com uma cidadã búlgara, usou o nome Elias Neftali Lainez Ortiz, guatemalteco, bem como a identidade do irmão Angel Velasco Gomez, quatro anos mais novo, e com o nome de Eleazar Velasco. Foi condenado a seis anos de prisão na Bulgária e cumpriu pena entre abril de 2009 e novembro de 2013 por crime de roubo com arma de fogo. Foi na prisão que conheceu Lohrmann. E terá sido através dele que conseguiu uma identidade guatemaleca falsa. Os documentos que apresentou foram emitidos sem autorização das autoridades guatemaltecas “usando jacto de tinta policromático e a dita fotografia de Christian, aí fez constar o nome Elias Neftali Lainez Ortiz, a nacionalidade guatemalteca, a data de nascimento 14 de janeiro de 1985, o local de nascimento Guatemala e o número de identificação” e após também a fotografia do arguido, a sua assinatura, “criando um documento inverídico”, diz o Ministério Público. Fez o mesmo com a carta de condução. É acusado pelo Ministério Público de cinco crimes de roubo qualificado, um na forma tentada, um crime de associação criminosa, quatro crimes de furto qualificado, falsificação, crime de uso de documento de identificação alheio, um crime de falsidade de declaração, branqueamento de capitais, posse de arma. Caso seja condenado, o Ministério Público pede que seja expulso do País após cumprir pena. Christian seria perito em furtar carros, mas em dois dos assaltos teve que pedir ajuda a Lohrmann para conseguir pôr o carro a trabalhar e abandonar o local do crime.
Lohrmann, o líder
O Ministério Público acredita que, ao comando do grupo criminoso, estava Lohrmann e que o seu braço direito seria Maidana, também conhecido por “Gu, Gugu, Irmão, Gonçalo e Alexandre”. Os arguidos não faziam vida em Portugal e só entrariam no País para os assaltos. Os crimes terão sido pensados por Lohrmann, que recrutou “outras pessoas” para o auxiliarem nas tarefas que estavam “bem definidas”, acreditam as autoridades.
Aliás, terá sido Lohrmann quem procurou e contratou alojamento para ele e para os restantes. Foi em agosto de 2014 que o homem mais procurado na América do Sul se alojou num quarto em Santa Iria da Azóia, concelho de Loures. Identificou-se como Luis Henrique Garcia Aldana. Um mês depois pediu um quarto para o amigo Angel Velasco Gomes, que era, afinal, o arguido Christian. E foi ali que ambos passaram algumas temporadas durante o ano seguinte. Lohrmann ainda tentou alojamento para Manuel, mas não havia quartos. Manuel acabaria por ir viver para Odivelas, mas era Lohrmann quem pagava a renda.
Normalmente Christian fazia o reconhecimento dos alvos. Deslocava-se ao interior das dependências bancárias, "aprendendo a sua rotina e apurando as horas em que existiam elevadas quantias em dinheiro no seu interior", nomeadamente a hora a que os funcionários contabilizavam o dinheiro no banco. As autoridades acreditam que Lohrmann o contratou por ser per ser perito em furtar carros. No entanto, em dois dos assaltos de carros, Christian acabou por telefonar a Lohrmann para o ajudar, porque não conseguia pôr os carros a trabalhar para fugir
Normalmente, Christian fazia o reconhecimento dos alvos. Deslocava-se ao interior das dependências bancárias, “aprendendo a sua rotina e apurando as horas em que existiam elevadas quantias em dinheiro no seu interior”, nomeadamente a hora a que os funcionários contabilizavam o dinheiro no banco. As autoridades acreditam que Lohrmann o contratou por ser perito em furtar carros. No entanto, em dois dos assaltos de carros, Christian acabou por telefonar a Lohrmann para o ajudar, porque não conseguia pôr os carros a trabalhar para fugir. Depois de planeado o dia e a hora do assalto ao banco — normalmente Christian ficava nas imediações para garantir que não havia polícia — Maidana arrombava a porta de segurança dos bancos com uma marreta e entrava com Lohrmann.
Os arguidos atuavam sempre disfarçados com capacetes, máscaras, perucas e óculos, que seriam fornecidos pelo arguido Jaime. Entravam nos bancos armados com caçadeiras e pistolas, intimidavam os funcionários e obrigavam-nos a entregar o dinheiro. Jaime guardava, também, o material dos furtos nos carros, também lhe cabia a tarefa de mudar as viaturas de sítio e deixá-las nos locais onde eram necessárias para consumar os crimes e era ele que trocava as divisas estrangeiras por euros. Manuel “zelava” pela viatura que Lhormann tinha adquirido em Portugal quando ele não estava.
A investigação apurou que os suspeitos primavam pelos contactos pessoais para não serem apanhados e trocavam mensagens via internet para não serem detetados. E até falavam por códigos:
Irmã: Pessoa próxima
Virgindade: Morada na Lapa da Serra usada por Lohrman
Avó: Carrinha de transporte de valores
Amigo: Lohrmann
Rapariga: Caixa ATM
Vacina: Levantamento ATM
11 agosto de 2014. Os arguidos rondam as instalações do BBVA da Avenida das Acácias, em Odivelas, para perceberem quais as rotinas dos funcionários. Três dias depois, esperam pelas 15h00 para atacar. Christian ficou perto da entrada para garantir que não havia polícia por perto. As câmaras de videovigilância registam a imagem de três outros suspeitos disfarçados com capacetes — só dois foram identificados: Lohrmann e Maidana.
Foi Maidana quem arrombou a porta de segurança com uma marreta. Atrás de si, estavam os outros dois suspeitos. Um deles obrigou um funcionário a deitar-se no chão e a dizer-lhe onde estava o dinheiro. Nesse momento, a funcionária da limpeza saiu da casa-de-banho, mas foi obrigada a regressar e acabou trancada lá dentro. Maidena saiu da porta, pegou em dois sacos de hipermercado e recolheu o dinheiro: o banco falou em 49.910 euros roubados. Tudo aconteceu num minuto.
O próximo ataque, acreditam as autoridades, seria registado mais de um ano depois, a 19 de outubro de 2015, no Millenium BCP de Vale Figueira, São João da Talha. Lohrmann esperou no carro, Christian, de capacete, aguardou no exterior da dependência bancária, enquanto Maidana, com uma máscara facial fornecida pelo arguido Jaime, dirigiu-se a uma caixa ATM. Mas quando fingia estar a fazer um levantamento de multibanco, para perceber se podia entrar, foi abordado por um cidadão que lhe perguntou o que fazia ali. Acabou por abandonar o local sem fazer o assalto.
Assim que viram a funcionária da limpeza a sair, Maidana saiu do carro e correu em direção à porta e zona de ATM. Na primeira porta passou um cartão multibanco, na segunda deu um pontapé, obrigando a funcionária a permanecer nas instalações. Lohrmann ao entrar chamou Christian para a porta. Apontou uma pistola às duas funcionárias e ordenou que abrissem o cofre. Mas elas não tinham chave. Então Maidana aproximou-se de uma outra funcionária e roubou-lhe as caixas onde estava o dinheiro depositado naquele dia
Um mês depois, nova investida no BCP da Rua Manuel Arriaga, na Ramada, Odivelas, já depois das 17h00. Os três arguidos, Lohrmann, Maidana e Christian, traziam armas, perucas, capacetes e marretas. Christian permaneceu na rotunda junto ao banco em modo de vigia, usando uma peruca de cabelo comprido e um boné. Lohrmann estava de capacete colorido e luvas pretas, Maidana de máscara, gorro e óculos tipo graduados. Assim que viram a funcionária da limpeza a sair, Maidana saiu do carro e correu em direção à porta e zona de ATM. Na primeira porta passou um cartão multibanco, na segunda deu um pontapé, obrigando a funcionária a permanecer nas instalações. Lohrmann ao entrar chamou Christian para a porta. Apontou uma pistola às duas funcionárias e ordenou que abrissem o cofre. Mas elas não tinham chave. Então Maidana aproximou-se de uma outra funcionária e roubou-lhe as caixas onde estava o dinheiro depositado naquele dia. Como a caixa se rompeu, ordenou-lhe que pusesse o dinheiro no saco:
— “Ajuda, põe o dinheiro, vá, acabo com a tua vida”, terá dito “num tom de voz ríspido” Maidana, segundo a acusação.
Ela colocou 82.755 euros no saco. Ao saírem, os assaltantes ainda se cruzaram com outro funcionário:
— “Quieto, calado, não fala não fala”, terão dito.
22 fevereiro 2016, 01h00, Stand Olival Car, em Olival Basto. Mais um roubo. Um deles partiu o vidro de uma janela e entrou. Conseguiu a chave de um BMW, mas como não foi capaz de o ligar, escolheu um Fiat no valor de 6 mil euros e estacionou-o numa rua. Depois voltou a pé ao local do crime e furtou um Ford de 15.300 euros. Ainda levou iPads, portáteis, máquinas forográficas, telemóveis, ferramentas, tudo no valor de 16 mil euros. Lohrmann e Maidana deram-lhe 600 euros pelo serviço. As matrículas e o seguro dos carros foram mudados.
Já em março de 2016 e com novos disfarces, os arguidos deslocaram-se à CGD da Ramada. Lohrmann ficou ao volante de um Mercedes furtado enquanto Maidana arrombava a porta. Entraram os dois armados. Maidana ameaçou um dos funcionários de morte e empurrou um outro. Depois foram para a zona da tesouraria, onde se encontravam duas funcionárias a contar o dinheiro dos depósitos, e colocaram o dinheiro dentro de um saco de desporto preto. Levaram 38.135 euros.
Um mês depois foi no Millenium BCP da Guia. Eram 18h00 quando Christian foi apanhado pelas câmaras de vigilância daquele banco em Cascais. Minutos depois regressou com Lohrmann, armado com uma metralhadora, e Maidana, com uma pistola. Lohrmann empurrou uma funcionária para a zona do cofre. Ou abria, ou morria. Maidana abordou dois funcionários e recolheu o dinheiro junto a eles. Uma funcionária ainda o alertou para o facto de estar grávida. Ele não quis saber e até lhe deu um “estalo”. Levaram 62.245 euros.
Sairam de Portugal e a PJ já andava atrás deles
Christian regressou em outubro de 2016 a Portugal e alojou-se numa pensão em Lisboa. Trazia um passaporte falso, em nome de Elias Neftali Lainez Ortiz. E, por indicação dos arguidos, começou à procura de novos alvos. Pelas 8h00 do dia 15 de novembro, os três fizeram-se à estrada. Mas a PJ já estava de olhos neles. Lhorman conduziu o Renault Scenic que comprou em Portugal, mas que manteve em nome de um português. Os ouros dois arguidos conduziram, cada um, um Ford furtado, com matrículas e seguros também furtados.
Instalaram-se num apartamento na Barra, em Aveiro, e começaram a planear o ataque. Desta vez: carrinhas de transporte de valores. A PJ ainda os viu a fazerem uma ronda junto à estação de comboios e a acompanharem os movimentos de uma carrinha. Acabaram por abordá-los antes de consumado o crime. Os três foram detidos em Aveiro. Nesse mesmo dia, a 16 de novembro, Jaime foi também abordado pela polícia na Ericeira, ao volante de um Chrysler. A mulher seguia no banco do lado e o filho de quatro anos atrás. Mesmo assim, Jaime ofereceu resistência e ainda embateu no carro policial para conseguir escapar. Acabou detido minutos depois na zona da Terrugem. Já Manuel foi detido num apartamento em Odivelas.
Na casa em Aveiro foram apreendidos vários telemóveis, roupa, sacos e um talão de multibanco com um levantamento de 40 euros. O saldo dessa conta era de 119.025,20 euros. Num dos carros apreendidos havia armas. Na residência em Odivelas havia, por exemplo, um cartão de embarque em nome de Luis Enrique Grisalez com destino a Amesterdão e Madrid. Era uma das identidades usadas por Lohrmann. Foi também apreendido um passaporte com esta identificação e com a fotografia dele — emitido pela República Bolivariana de Venezuela. Junto a este documento, havia uma cédula de nascimento, uma licença e um certificado médico para conduzir.
A polícia recuperou ainda numa casa na Carvoeira (Mafra) as perucas usadas nos assaltos, assim como o passaporte em nome de Jairo Casanova, a falsa identidade de Maidana, e o passaporte com que Christian se alojou numa pensão em Lisboa. Foram apreendidas armas, carregadores, uma balança de precisão e uma máscara de borracha.
No total, os suspeitos roubaram 235 mil euros em dinheiro, cinco carros, matrículas e documentos. O Ministério Público acusa os arguidos de, depois dos roubos, terem feito “esforços” para parte desse dinheiro ser enviado para o estrangeiro e aí ser usado por eles ou por familiares. Foram registados vários movimentos de Lohrmann para contas suas na Guatemala e na Colômbia — contas abertas com as identidades falsas. Christian enviou dinheiro, em nome do irmão, para Bélgica, Bulgária, Espanha, Guatemala e Colômbia — “sendo que parte desse dinheiro se destinava ao arguido Lohrmann”. Christian chegou a pedir a um cidadão português que fizesse uma transferência de 2500 euros. As autoridades sul americanas acreditam que este dinheiro possa ser usado por grupos criminosos que ali operam.
O julgamento dos cinco arguidos começa a 12 de março, no Tribunal de Loures. Estão previstas apertadas medidas de segurança.
Texto de Sónia Simões, ilustração de Maria Gralheiro.
observador.pt
1 comentário:
Muito bom trabalho desta policia, mas cá também tinha que fazer com os nossos manhosos.
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