by claracastilho
A propósito do Dia Internacional do Livro Infantil e da edição fac-similada, que saiu com o Jornal “Público”, da primeira obra de Maria Cecília Correia, “Histórias de minha Rua”, com ilustrações de Maria Keil, falemos um pouco desse livro.
A colecção agora divulgada é assim apresentada: “Uma montra de grandes obras literárias com algumas das mais belas e icónicas capas de livros criadas pelos mais notáveis capistas portugueses do séc. XX. Esta colecção pretende homenagear estes autores e todos aqueles que alguma vez, olhando um escaparate, se deixaram seduzir pelo irresistível desenho da capa de um livro. É composta por 12 volumes em edição fac-similada, com selecção de Rita Gomes Ferrão a partir da colecção de Jorge Silva. É a nova colecção da Bela e o Monstro com o jornal Público.” Podemos assinalar também os livros de Erich Maria Remarque, José Rodrigues Miguéis, John Steinbeck, Colette, João Gaspar Simões, Vitor Hugo e Ana Harteley.
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Mas voltemos ao livro “Histórias da Minha Rua”, editado no ano de 1953, Foi galardoado com o Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho. Num artigo publicado no jornal de dia 17 de Março, escreve Luís Gomes, livreiro antiquário:
“Lindíssimo volume que reúne dez histórias que nos remetem para o imaginário de uma Lisboa onde o rural se entretecia na malha urbana… Intemporal como qualquer bom livro, este conta (e faz-nos lembrar) dos cheiros, as cores, dos sons, da rua da nossa infância, da rua do nosso bairro, espaço antigo de liberdade – eu, apesar de público, era uma extensão da casa de cada um – tomado de assalto por gerações de gaiatos que, apropriando-se dele, verdadeiramente aí reinavam…. Experimentávamos limites e alargávamos os horizontes para lá da nossa rua. E, assim, íamos aprendendo da vida e, algumas vezes, mais do eu aquelas de que me quero lembrar, da morte… devagar…aos poucos…amigos de brincadeiras esfumaram-se pelas esquinas da rua e da vida.
… não é para despertar a imaginação do leitor, fazer pensar e sonhar que se escrevem livros? – e ainda mais quando eles são para crianças.”
E escreve Rita Gomes ferrão, historiadora de arte:
“Com as ilustrações de “Histórias da Minha Rua” (1953), a artista inaugura a afirmação de uma linguagem pessoal, livre dos constrangimentos da década anterior, onde a linha ganha vida e o fulgor cromático se materializa na utilização de contrastes de cores complementares, como por exemplo a combinação encarnado/verde.
No entanto, é na capa que “Histórias da Minha Rua” surpreende pela antevisão do trabalho azulejar de maria Keil. De facto, a rede gráfica unificadora da superfície parece desejar já o pano de parede revestido a azulejo, cujos primeiros projectos conhecidos datam do ano seguinte. Como é sabido, a artista será responsável por uma profunda renovação operada na produção azulejar portuguesa, decorrente sobretudo da sua apetência para as artes gráficas, conjugada com um especial entendimento das relações entre azulejo e arquitectura.
…já a rede gráfica da capa de “Histórias da Minha Rua” é concebida de modo a produzir a ilusão de movimento, alinhada com as pesquisa formais internacionalmente realizadas pelos artistas da Arte Pop, criando um efeito óptico ondulante que enquadra a figura da menina, sentada no chão, perdida nas suas leituras. Esta rede faz eco das experiências pictóricas de maria Helena Vieira da Silva, na década de 1930, em pinturas como “O quarto dos azulejos”, antecipando o padrão do painel azulejar “O Mar” (1956-58), na Avenida Infante Santo, em Lisboa, momento maior da obra de Maria Keil”.
Os originais dos desenhos de Maria Keil encontram-se na Biblioteca Nacional e puderam ser apreciadas na exposição organizada pelo Museu da Presidência em Cascais, em Fevereiro de 2014.
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