"Acho que todos temos direito a manifestar-nos. Mas daí a recorrer à violência?", diz Márcia Neves ao Observador, depois de ter sido atacada quando deixava uma cliente em Campanhã. Não foi caso único.
O tipo de carro e a passageira no banco de trás permitiram aos taxistas identificar Márcia como condutora Uber
Márcia Neves, condutora da Uber, foi vítima da fúria de alguns motoristas de táxi esta sexta-feira à tarde. Em dia de protesto nacional “contra a ilegalidade da Uber”, entre seis e 10 homens esperavam nas traseiras da estação de comboios de Campanhã, no Porto, por veículos de transporte particular que não os táxis. “Tinham caixas de ovos”, conta ao Observador, mas acabaram por partir-lhe o vidro traseiro do carro com uma pedra.
“Eu passei com uma cliente no banco de trás, vi que eles estavam lá e não parei, fui até ao fim da rua. Quando a deixei, começaram a correr na minha direção e a atirarem ovos”, diz Márcia Neves. Um dos homens atirou uma pedra que acabou por lhe partir o vidro traseiro e a condutora apresentou queixa na polícia.
Condutora da Uber desde dezembro, esta não é a primeira vez que tem problemas com motoristas de táxi. É por isso que já nem pára na entrada principal da estação de Campanhã, onde existe uma praça de táxis. Mas o tipo de carro, um Nissan Híbrido branco, e a passageira no banco de trás, terão denunciado Márcia Neves, num dia em que os nervos estão à flor da pele, com protestos anti-Uber no Porto, Lisboa e Faro.
“Acho que todos temos direito a manifestar-nos. Mas daí a recorrer à violência? Isso é que não. Também estou a tentar ganhar a vida”, lamenta.
Márcia não sofreu ferimentos. Já Pedro Sardinha não conseguiu escapar. O condutor da Uber estava a transportar um casal de australianos que tinha apanhado no aeroporto no Porto, na zona de chegadas. Quando chegou à Praça da Batalha, perto do local de concentração dos manifestantes, nos Aliados e na Sé, foi surpreendido com um objeto que lhe atiraram ao carro. Pensou tratar-se de uma pedra. Estava a deixar o casal de australianos na praça da Batalha, perto do Teatro de São João, quando resolveu sair do carro para perceber o que se passava. Percebeu que, afinal, tinha sido um ovo. No momento em que sai do carro, vê três indivíduos a dirigirem-se a ele “a correr”, contou ao Observador durante a tarde de sexta-feira.
Pareciam malucos. Começaram a agredir-me com socos e pontapés e eu comecei a correr, sem parar. Eles continuavam sempre atrás de mim, eu desci, voltei a subir, passei outra vez no carro e consegui tirar o casaco e a mochila. Eles continuaram a correr atrás de mim e eu consegui refugiar-me no Hotel Mercure”, explicou.
O motorista da Uber contou ao Observador que os três indivíduos eram bem constituídos, como se fossem seguranças. “Pareciam brutamontes. Eu tive sorte porque corro muito. Se eu não corresse o que corro, eles tinham-me desfeito”, adiantou, sem revelar a identidade ou a profissão dos agressores.
Quando chegou ao hotel, chamou a polícia e, depois, dirigiu-se ao Hospital da CUF, também Porto, para tratar um golpe na testa e outro na mão. Apresentou queixa e identificou os agressores. O carro foi encontrado no mesmo local pelos agentes da PSP, intacto.
Também na Praça da Batalha, uma cliente disse ter sido agredida por um grupo de “20 ou 30 taxistas”. Ana Calado Pereira disse que o grupo de motoristas começou a apedrejar nas pernas as pessoas que passavam na rua e que estavam a sair dos automóveis da Uber. Apresentou queixa junto do Comando Metropolitano do Porto e garantiu que nunca mais vai recorrer aos serviços de táxi: “É uma classe que não merece respeito nenhum. Tenho direito a escolher o serviço que quero e não tenho de ser atacada por isso.”
A concentração de taxistas começou às 08h00 de sexta-feira no Castelo do Queijo e, às 19h50, várias dezenas de motoristas de táxi ainda se encontra concentrados na Avenida dos Aliados.
socoelho@observador.pt
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