Começa amanhã, quando ribombam os tambores. Na fila costumeira que antecipa a hora, a gente olha-se uns aos outros em absortos sorrisos de aqui termos chegado juntos e alguém pergunta: «A minha primeira festa, sabes onde foi?». E depois, fala-se da poeira do Jamor, dos pedregulhos do Monsanto, das ameaças na Ajuda.
Do que se diz sempre e do que não pode ser dito também. A essência Festa não pode ser descrita porque é o somatório colectivo, compacto e transbordante de experiências tão diferentes que não haveria papel suficiente no mundo para as escrever num livro.
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Que outro lugar no mundo congrega, ao mesmo azimute, a música do mundo inteiro com um espaço para as crianças, a literatura com as multidões de adolescentes, o teatro com tantos idosos, a ciência com os casais de namorados, o desporto com os artistas e as belas-artes com as famílias inteiras?
E de tal maneira aperta-se-nos tanto o estômago e arrepia-se-nos tanto a nuca, que mesmo nós, comunistas, filosoficamente materialistas e logicamente cépticos, nos perguntamos, o que maravilha é esta que criámos. É que vemo-los chegarem cansados aos portões da festa, saídos do trabalho, para logo entrarem refeitos da fadiga e restabelecidos de uma energia antiga como as canções do povo e há muito esquecida.
Há uma razão pela qual, ao longo da minha vida, nunca conheci ninguém que não tivesse gostado da Festa do Avante! É que para perceber que esta pequena bolha de três dias é mesmo um mundo mais justo e que os seus obreiros são movidos por ideais belos, não é preciso ser comunista, basta ser honesto.
A Festa do Avante, não é só a maior efeméride da cultura portuguesa, é o único lugar deste país moribundo em que é possível misturarmo-nos numa multidão sem estarmos sozinhos, falarmos de política sem medo que o patrão nos oiça e percebermos, cristalinamente, do que afinal é feito este Partido Comunista Português.
Via: Manifesto 74
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