É uma das ilhas mais paradisíacas do planeta, com praias que fazem capa de qualquer revista e temperatura da água a conjugar-se na perfeição com a do corpo. Mas não pode ser só isso. Ir a Zanzibar é também descobrir um passado de glória.
Foram muitas as culturas que passaram por esta ilha de especiarias e de escravos, a meio caminho entre África e a Ásia, na rota de corsários, comerciantes e conquistadores. Assírios, sumérios, egípcios, fenícios, indianos, chineses, persas, portugueses, omanitas, holandeses e ingleses quiseram, ao longo dos séculos, tomar conta de Zanzibar. Conseguiram-no, mas sempre a prazo.
Hoje, o arquipélago formado pelas ilhas de Zanzibar (Unguja, no original) e Pemba é uma região semiautónoma da Tanzânia, mas o desejo independentista não morreu no coração dos seus habitantes. Principalmente dos mais antigos. Falam-nos do sonho de voltarem a ter um país só seu, como aconteceu até 1964, quando a Tanzânia anexou o arquipélago. Falam-nos das riquezas da ilha. Das actuais e das de antigamente. Hoje, a praia e os resorts chamam visitantes de todo o mundo, tal como as especiarias e os escravos serviram de chamariz noutros tempos. E quando se está a chegar a Stone Town, a capital, percebe-se melhor esta ligação eterna entre mar e história. É na cidade que tudo se passa. O mercado de Darajani é um local a que não se pode fugir, mas atenção: a área dedicada a peixe e carne não é aconselhável a visitantes mais sensíveis. Já na fruta e nas especiarias, os momentos podem ficar devidamente recordados a cores, nas fotografias, e pelo cheiro, na mente. Do outro lado da estrada fica a principal estação rodoviária, a Dala-dala, outro ponto de encontro, cujo nome vem da denominação das carrinhas que todos os dias transportam os habitantes pela ilha.
A cidade foi classificada pela UNESCO como Património da Humanidade em 2000. Uma visita ao Forte Árabe e à Casa das Maravilhas confirma-o, apesar de apenas cerca de 15% dos edifícios de Stone Town estarem em boas condições para visitas. Os restantes estão em ruína ou degradados. O forte foi construído em 1780 pelos árabes que vieram de Omã, pensado como ponto de defesa para os ataques oriundos do continente, mas já serviu também de prisão e de quartel. Dentro das suas muralhas existem ainda vestígios de uma antiga igreja portuguesa. Esta fortificação é o espaço escolhido todos os anos para o Festival de Música de Zanzibar, um dos maiores eventos de música étnica à escala mundial – o Sauti za Busara (Sons da Sabedoria, numa tradução livre) decorre em Fevereiro e junta artistas africanos das mais variadas proveniências, numa demonstração de vitalidade cultural.
A viagem pela história de Zanzibar continua mesmo ali ao lado, na Casa das Maravilhas, Beit-el-Ajaib, mandada construir pelo sultão Bargash em 1883. Ganhou o nome por ter sido a primeira casa do arquipélago a usufruir de iluminação eléctrica e o primeiro edifício da África Oriental a possuir um elevador eléctrico. É a maior construção da ilha, por isso não é difícil de encontrar. A torre do relógio, virada para o mar, e a enorme varanda em estilo colonial são outras das suas imagens de marca. Vagueando pelo centro é fácil entender o passado de entreposto da ilha. Aqui todos podemos ser mercadores e regatear até à exaustão em busca de recordações que passam pelos tecidos, pelas especiarias, pelas pinturas, por chás ou ímanes de frigorífico. Há de tudo. Até boas surpresas, como a de uma casa que passa despercebida, restaurante à primeira vista e local de culto para muitos melómanos de todo o mundo. Na Rua Kenyatta nasceu, a 5 de Setembro de 1946, Farouk Bulsara, filho de pais de origem indiana imigrantes em Zanzibar. Farouk viveu aqui até aos 9 anos, altura em que se mudou para a Índia. Foi estudar e nunca mais voltou. Chegou a Londres nos anos 1970 e formou uma banda que viria a deixar marcas na música contemporânea. Por esses anos, Farouk já respondia por outro nome: Freddie Mercury. A casa não é um local glamoroso, como poderia pretender o vocalista dos Queen, mas faz parte da história da música e é mais um dos muitos pontos de interesse de uma cidade peculiar onde 51 mesquitas, duas igrejas católicas e seis templos hindus coexistem de forma pacífica. E onde se encontra sempre algum tempo livre para um banho persa nos tradicionais hammams.O ponto de – indiscutível – interesse que leva mais gente a voar até Zanzibar é a praia. Fica difícil passar para palavras a visão de sonho que se tem no primeiro encontro com a costa do Índico. A maré baixa permite andar centenas de metros mar adentro até haver profundidade suficiente para um mergulho como mandam as regras. Até que se chegue a esse ponto, há uma longa caminhada entre corais e vegetação subaquática, rochas e areia branca como farinha. A água, essa, é quente. Suficientemente quente para não se sentir diferença. Os barcos tradicionais de madeira, com velas triangulares, passam junto à costa em busca dos melhores locais para a faina.Dá-se um e outro mergulho, umas braçadas contra a corrente e fica-se a ver o céu azul e, em terra, as palmeiras que balançam. É um daqueles momentos em que não apetece estar noutro local senão na praia Bwejuu, já considerada uma das trinta melhores do mundo. O apelo do mergulho e do snorkeling em Zanzibar é uma realidade. Este é um dos melhores destinos mundiais para quem não passa sem o fundo do mar. Há peixes de todas as cores à mistura com corais de dimensões espantosas. O barco de apoio é todo em madeira e os conselhos dos instrutores são seguidos à risca. Não tocar, não pisar, não trazer nada para o barco. É como se estivéssemos num museu, mas cheio de vida. Ao fim do dia, a temperatura ainda é alta, a rondar facilmente os trinta graus. O Sol baixa a uma velocidade impressionante, formando a tal bola de fogo alaranjada de que se fala quando se pensa em África. Mas Zanzibar é muito mais do que África, é um ponto de encontro do mundo.
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