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terça-feira, 29 de setembro de 2015

Crónicas na Corda Bamba: É por isto que vou votar no PCP


Catarina Beato
MARTA DREAMAKER
28/09/2015  Dinheiro Vivo


Tinha 14 anos e, como qualquer adolescente, considerava-me detentora da razão e da verdade absoluta. Cresci numa casa onde se ouvia música de intervenção e se lia o Avante e o Diário. O meu pai, um militante calmo, e a mãe sempre activista. Ainda assim, os dois contra o meu insistente pedido para me juntar à JCP (Juventude Comunista Portuguesa). O argumento era muito simples: a escola era o mais importante.
Naquela idade, ligeiramente irritante, em que os meus pais eram uns chatos e os meus avós uns velhos, achei que contrariá-los e juntar-me à JCP era o melhor dos dois mundos.
Quando temos 14 anos achamos que sabemos tudo, mas somos também ligeiramente parvos. Naquela tarde de setembro pensei que, se ninguém me visse a chegar à concelhia, a minha mãe não saberia que me tinha inscrito na JCP.
Da mesma forma que vivi uma vida inteira a achar que tirava notas de 500 escudos ao meu pai sem que ele desse por isso (contou-me a rir, antes de morrer, que se não passasse de 1000 escudos por mês não me dizia nada), acreditei, durante alguns meses, que pertencia a uma juventude partidária em segredo.
Cheguei à JCP adolescente, com a mania que sabia tudo e os mais velhos coisa nenhuma.
E foi na JCP que aprendi que os mais velhos sabem sempre mais do que eu e que, para ter certezas absolutas, tinha que estudar muito.
Foi na JCP que aprendi a ouvir cada palavra que os camaradas tinham para me contar e a agradecer a luta para que vivêssemos numa democracia.
Guardo, para sempre, a imagem da mão da Maria, a quem faltavam os dedos perdidos na guilhotina guardada à pressa com a PIDE a bater à porta.
Foi na JCP que aprendi a argumentar cada frase e ter verdadeiras certezas antes de as tornar afirmações próprias.
Foi na JCP que aprendi a não ter medo de dizer o que penso, mesmo que as minhas ideias fossem diferentes daquelas que estavam sobre a mesa.
Foi na JCP que conheci pessoas brilhantes, com capacidades de trabalho e entrega únicas.
E foi na JCP que consolidei as certezas da casa em que cresci: era aquele o partido em que queria votar.
Há neste partido dois problemas inegáveis: é duro para qualquer comunista eleito ter uma vida pessoal - trabalha-se muito, estuda-se muito, há muitas pessoas para ouvir e dossiers para consultar antes de afirmar seja o que for. Não há política de secretária, nem de vez em quando.
Pior ainda: nenhum comunista chega a rico, não é esse o objetivo daquilo que faz (tenho que conseguir escrever este texto sem dizer "tarefa").
Não sou militante, chamam-me "comunista emocional", mas voto PCP com certezas absolutas de adulta. Voto PCP pelos valores, pela capacidade de trabalho e pela honestidade daqueles que o meu voto irá eleger. Com certezas tão fortes como uma adolescente irritante, mas devidamente fundamentadas.
E que cada um, com as suas histórias, os seus valores, as suas certezas, zangas e esperanças, vá votar no próximo domingo.
Escritora e autora do blog Dias de Uma Princesa

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