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sexta-feira, 6 de maio de 2011

UMA MULHER NA LUTA CONTRA A VIOLÊNCIA SOBRE A MULHER - A MULHER COMO PRODUTO DE CONSUMO





quinta-feira, 5 de maio de 2011


A mulher como produto de consumo...

As estratégias de comunicação em geral, vinculadas ao mercado e à necessidade de vender produtos, geraram uma relação muito direta entre consumo, prazer e poder. E a mulher aparece aí quase que como o próprio produto de consumo.

É assim que se vende cerveja, é assim que se vende carro, é assim que se vendem máquinas de lavar roupa - por motivos óbvios -, se vende qualquer coisa a partir da figura feminina, especialmente a partir do corpo da mulher..

O que acontece no caso da menina que imita a dança do tchan e um determinado comportamento de um artista que representa esse símbolo de sexualidade, é que ela está jogando de forma simbólica, está brincando com isso, e pensando sobre ela adulta.

Mas os adultos que a vêem produzindo isso dessa forma constroem sobre ela circunstâncias de poder, de sexualização precoce e de violência.

Por outro lado, também trabalha com um aspecto muito poderoso que é a formação de uma cultura de violência sobre as mulheres, sobre as crianças, algo que, em geral, fica impune, que não é considerado como algo relevante ao ponto de se mobilizar de verdade os setores públicos para o enfrentamento.

Então, esse tema interage majoritariamente com o tema das mulheres e o das crianças, desprovidas de qualquer poder. Frente a esse contexto, eu avalio que conseguimos fazer uma importante mobilização da sociedade brasileira, dar ao tema uma dimensão nacional e romper estereótipos importantes no sentido de compormos uma idéia de que se trata de um fenômeno presente em todas as regiões do país, com as suas diferenças regionais e seus determinantes culturais e econômicos, mas presente em todo o Brasil. 

Ou seja, a exploração sexual se dá por diferentes vias, diferentes formas. As rodovias passam a ter importância neste tráfico e passam a ter importância também no acobertamento dessa atuação criminosa, porque a criança explorada, a adolescente explorada - menina em geral, mas também meninos -, levadas de um lugar a outro pela rodovias, são praticamente invisíveis aos olhos das autoridades.

A internet também passou a ocupar um papel relevante. E mesmo ao falarmos de turismo sexual, nós podemos falar do Nordeste, sim, mas, quando observamos essa região, temos que falar do Sertão nordestino, do interior nordestino, bem como do Norte do país, do turismo de caráter ecológico, do Pantanal mato-grossense, das grandes capitais litorâneas. Ou seja, mesmo no caso do turismo, precisamos falar de todos esses segmentos.

Então, a forma como ele é dimensionado no Norte e no Nordeste é diferente do modo como é tratado no Sul. Isso, em termos de pesquisa social, acaba não permitindo nenhuma quantificação e essa é uma fragilidade que nós temos. 

Outro estereótipo que se rompeu, e que esteve muito presente nestes dez anos, é a idéia do empobrecimento, da situação econômica, como único fator determinante do engajamento na exploração sexual.

É um fator determinante, com certeza, mas não é o único. Existem fatores relacionados a gênero, à cultura, à expectativa, aos papéis sexuais diferenciados, à exposição das mulheres na mídia. Todos esses fatores concorrem muito fortemente.

Além disso, existem os padrões de consumo exigidos da juventude e impossíveis de serem sustentados na prática.

Tanto que encontramos, ao lado de uma menina completamente empobrecida, sendo explorada sexualmente para ter acesso a crack, outras de padrão social médio que, ao serem entrevistadas foram acompanhadas de suas próprias mães - a quem também sustentam com a situação de exploração sexual em que vivem - e nos disseram que o que elas buscam é passar na frente de uma vitrine e poder comprar o que está ali, o seu desejo de consumo.

Elas se apresentam, normalmente, como sendo casadas com algum estrangeiro, namoradas de algum estrangeiro, que paga mensalmente uma soma para que elas fiquem a sua disposição, tanto em viagens para a Europa, quanto ficando aqui no Brasil a disposição deles.

O que, em geral, não é cumprido por elas, porque elas mantém uma série de programas, mas todas com o mesmo nível social em hotéis de luxo das cidades de qualquer lugar do Brasil.

Então, o crime aqui não é só o crime do submundo, é o crime do lucro, da transformação de corpos em mercadorias realmente, em todos os sentidos e para todos os consumidores, com todos os preços imagináveis, desde ‘mercadorias’ de baixíssimo valor até aquelas do mais alto valor. Nos dois casos, assistimos à transformação do corpo humano em nada mais do que um objeto.

De fato, não sei se o que houve, em termos de comunicação, foi planejado, ou se os setores que decidem sobre ela avaliaram alguma vez os efeitos dessa coisificação da mulher.

Sem falar da fragmentação do próprio corpo feminino que vem ocorrendo já há muito tempo. 

Desde grupos musicais até programas de televisão, os meios de comunicação de massa em geral construíram uma idéia da mulher a partir de partes do seu corpo. É um bum-bum assim, é um seio desse ou daquele jeito, etc., ou seja, absolutamente fragmentando cérebro e corpo.

De uma certa forma nós cultuamos a velha idéia do ‘é bonita e burra’.

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