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quinta-feira, 19 de maio de 2011

SEM PUDOR - DONA LUCIDA - O CONTO

Quinta-feira, 19 de Maio de 2011

Dona Lúcida - O Conto

A casa de Dona Lúcida é muito, muito grande e toda ela é a sua casa que cuida com muito cuidado e imaginação, a porta de entrada é tão alta quanto a sua casa que é tão alta quanto o "Soluções", assim chama ao investigador de soluções que é feliz na casa da Dona Lúcida por ser o único lugar onde se sente pequenino. É tão bom sentir-se pequenino num lugar onde se pode ser quem se é e deitar-se no grande sofá cor da terra com cheiro a alfazema e receber o seu preciso colinho.

Alí deitado no sofá conseguia ver o rio, é que na casa da Dona Lúcida a casa é virada para o horizonte e não para a televisão, onde tudo é vidro desde o tecto ao chão, sala e cozinha sem paredes pelo meio e no verde da paisagem, ao azul do rio, ao quente do laranja Sol que entrava pela sala, nascia um fumo cheiroso, cheiroso de saboroso que abria os prazeres às narinas do Soluções.

- Bolo de cenoura com ervas novas... anís?... cravo?... nózes?... e chá de erva cidreira, acertei? Perguntou Soluções com voz de criança curiosa a espera do seu prémio.

- Claro que acertaste Soluções e depois de comer vais ainda descobrir mais coisas, há muito que não me visitavas mas já viste que calhou estar a cozinhar um dos teus bolos preferidos, parecia estar a tua espera para lanchar, pega na tua chavena querido, está na temperatura que tu gostas. - A doce voz de Dona Lúcida era calma e serena num corpo nem tanto gordo, nem tanto magro, assim com curvas certas de uma mulher que já teve muitos filhos mas sempre se manteve direita, a idade não lhe trouxe peso mas sim, sabedoria, toda ela simples e elegante com grandes olhos castanhos e cabelos brancos brilhantes.

Soluções e Dona Lúcida beberam o chá e comeram em silêncio como era hábito e fechavam ainda os olhos quando o sabor era imenso. Dona Lúcida sentou ao lado de Soluções e colocou a sua cabeça no seu colo e afagou o seu cabelo.

- Quem te anda a preocupar "Soluças", gosto muito das tuas histórias meu querido amigo, já tinha saudades tuas. - Dona Lúcida falava agora como o vento que deixa voar as palavras para junto do sentimento.

- Conheci duas crianças brilhantes que me fizeram viajar como nunca nenhuma outra sabes, foi como mergulhar num mundo tão profundo que mais ninguém que não Eu pudessemos lá estar, e já estava com tantas saudades do Eu que quando o senti outra vez lembrei-me que talvez o esqueci. E fiquei ali preso a algo descobri que tinha perdido através da criação daquelas crianças maravilhosas filhas de um Coleccionador de Problemas.

Dona Lúcida passou com um dedo ao de leve na pequena gota que caia de um olho do "Soluças".

- Trouxe os problemas num baú para que o mar os levasse e quando estava bem lá no alto do penhasco a atirar os problemas ao mar, senti um vento lento e quente e só pensava que aqui me apetecia aninhar, senti-me pesado e triste como nunca antes, e lembrei-me que os problemas podem não desaparecer no Mar, podem ficar eternamente a navegar...

- Estas triste porque ficaste preso no Eu ou por ter perdido o rastro aos problemas?

- Estou triste porque descobri que não tenho soluções para tudo e que há crianças com capacidades que Eu nunca tive... e fugi... feliz da minha tristeza, fugi... há muito que não sabia o que era estar triste e foi o Eu, foi o Eu que me fez olhar novamente para mim...

- A alma de uma criança é muito mais pura e muito mais densa, não tem filtros, não tem tantas memórias, é livre porque tem asas para voar por dentro. E os problemas. Os problemas apesar de longe nunca deixam de existir, fizeste o que havia para ser feito. Agora tens de olhar bem pelo teu Eu, se o encontraste preso é porque há muito não te encontras com o Amor, onde anda o Amor?

- Filho desnaturado, anda sempre onde não posso estar, diz sempre onde esteve e nunca para onde vai, anda muito fugidio e atarefado... mas eu eduquei-o para ser livre, não quero cobrar-lhe nada, nem devo, sabes bem que o Amor é de aparecer de repente...

- Mas já lhe disseste que o querias ver?

- Sim.

- Então ele há-de aparecer, um bom filho a casa torna.

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