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sexta-feira, 6 de maio de 2011
Parece que foi ontem…Em 1971 uma primeira experiência – o Teatro Laboratório de Lisboa – OS BONECREIROS, um espectáculo para a infância e juventude, encenado por João Mota, dezenas de representações em Lisboa e mais de 30 localidades em todo o país. Um Prémio da Crítica com o Melhor Espectáculo para a Infância e Juventude. Apesar do êxito, a ruptura: o João Mota, a Manuela de Freitas, O Carlos Paulo, O Melim Teixeira e o Francisco Pestana decidimos sair e levar mais longe a aventura de um Teatro colectivo, onde os actores assumiam a total responsabilidade pelo seu trabalho.
No dia 1 de Maio de 1972 nascia a COMUNA – TEATRO DE PESQUISA num 2º andar da Rua Pedro Nunes, em Lisboa. O nome foi escolhido por votação dos ouvintes de um programa de Rádio – a Rádio Renascença – a quem propusemos duas hipóteses: ou OS CÓMICOS ou COMUNA sempre com o subtítulo de TEATRO DE PESQUISA. Queríamos ter o nome do que defendíamos: o actor primordial, o artesão, em permanente mudança ao encontro dos públicos afastados do teatro, a procura de novos espaços, OS CÓMICOS e também a comunidade natural dos criadores sem escalões diferenciados no salário, nas responsabilidades, uma relação frontal com a outra comunidade, os espectadores – A COMUNA.
O público escolheu e nós avançámos com o primeiro espectáculo baseado em textos do primeiro autor do teatro português – GIL VICENTE – com o título de “PARA ONDE IS?” – pergunta que sempre quisemos presente no nosso caminho. Chamámos para o nosso lado actores vindos do teatro profissional, do teatro universitário e jovens recém-saídos do Conservatório Nacional. De cinco passámos a 14 a ensaiar em ginásios de escolas, salas de colectividades, em casa de uns e outros … E cinco meses depois estreámos – no dia 22 de Outubro – dia de anos do João Mota, o nosso encenador, numa garagem transformada em Teatro, na Praça José Fontana, em frente ao liceu Camões, alugada pelo empresário teatral Vasco Morgado, que nos emprestou também os panos com que forrámos as paredes, a estrutura da bancada do público, e alguns projectores. Os bilhetes tinham o preço único de 20 escudos e ali ficámos a esgotar 150 lugares por noite, durante quase meio ano. O primeiro subsídio veio da Fundação Gulbenkian, 160 contos, já que ao Estado desde logo nos recusámos a pedir subsídios. Dali passámos, por oferta de Manuel Vinhas para a Sociedade Central de Cervejas na Avenida Almirante Reis, numa antiga sala de fabricação, entre ratos, chuva, caves alagadas e cargas policiais a estudantes na vizinha Praça do Chile. Ali nos mantivemos até Março de 1975 em que na companhia de cento e tal espectadores ocupámos o Casarão Cor-de-Rosa da Praça de Espanha, antigo Colégio Alemão e Lar de Mães Solteiras da Misericórdia e abandonado há vários anos. E aqui estamos há 30 anos, bem vividos em convívio permanente com a cidade e o público.
O resto é como as histórias que ainda não têm fim: a Casa da Criança, o Centro Cultural, os Projectos de Alfabetização, o Clube dos Amigos da Comuna, os Cursos de Teatro, as Exposições, os Concertos, os Debates, a abertura de 4 salas permanentes divididas com dezenas de outras companhias, e os Espectáculos de Teatro, mais de 90 criações de espectáculos destinados a todo o tipo de público: crianças, jovens, adultos e ainda a experiência inovadora do Café-Teatro e depois ainda a Palavra dos Poetas, criadas por Carlos Paulo.
Desde 1973 o nosso caminho também se fez pelos caminhos do mundo. Actuámos nos principais festivais de Teatro de todo o mundo, em mais de 19 países, dezenas de cidades, milhares de pessoas na Europa, na América e em África. Alcançámos um prestígio internacional único para uma companhia portuguesa e sobretudo resistimos aos habituais complexos de inferioridade com que teimosamente continuamos a querer olhar-nos. Fomos uma Companhia de referência do teatro mundial nas décadas de 70 e 80 e connosco vieram trabalhar actores oriundos de França, Venezuela, Suiça ou Alemanha.
Também percorremos Portugal de lés-a-lés, participando regularmente nos principais Festivais de Teatro que se realizam no nosso país, para lá de termos actuado em dezenas de cidades, vilas e aldeias.
Fomos ainda os pioneiros nas famosas Campanhas de Dinamização Cultural do MFA realizadas em 1974 e 75 levando o teatro a sítios onde nunca se tinha assistido a uma representação.
Também a dramaturgia portuguesa, a par dos grandes textos clássicos e contemporâneos do teatro mundial, foi para nós a preocupação primeira – representámos os grandes clássicos portugueses e demos a conhecer os jovens dramaturgos que o 25 de Abril permitiu crescer.
Pela nossa casa passaram mais de uma centena de actores, para lá das dezenas que formámos e dos quais alguns hoje são nomes importantes do teatro português.
Temos sido fiéis àquilo que nos propusemos em 1972 ao nosso primeiro manifesto apesar dos governos (tantos) dos ministros (mais do que a conta) das políticas culturais (quais?) das modas, das televisões, das capelinhas, dos ódios de estimação, a COMUNA orgulha-se de estar viva e de continuar a ser um espaço permanente de Pesquisa de um Teatro Vivo, dramaturgia de ruptura, espaço de nascimento e crescimento de novos actores e autores, um laboratório permanente em consonância com um público que conhecemos já em terceira geração, e que sabe que cada vez que vem à nossa Casa é para partilhar um espaço que também lhe pertence, pois a nossa história é também a Vossa história. Porque só assim o Teatro tem sentido para nós!!
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