AVISO

OS COMENTÁRIOS, E AS PUBLICAÇÕES DE OUTROS
NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO ADMINISTRADOR DO "Pó do tempo"

Este blogue está aberto à participação de todos.


Não haverá censura aos textos mas carecerá
obviamente, da minha aprovação que depende
da actualidade do artigo, do tema abordado, da minha disponibilidade, e desde que não
contrarie a matriz do blogue.

Os comentários são inseridos automaticamente
com a excepção dos que o sistema considere como
SPAM, sem moderação e sem censura.

Serão excluídos os comentários que façam
a apologia do racismo, xenofobia, homofobia
ou do fascismo/nazismo.

segunda-feira, 9 de maio de 2011



imagens de arquivo


A NATO afirmou hoje que vai investigar a denúncia, feita pelo jornal britânico The Guardian, da morte de 61 migrantes africanos, que foram deixados à sua sorte no Mediterrâneo, depois de alertarem a Guarda Costeira italiana e terem passado por um porta-aviões da NATO.
Lampedusa tem sido o destino de muitos migrantes que tentam escapar à instabilidade no Norte de África Lampedusa tem sido o destino de muitos migrantes que tentam escapar à instabilidade no Norte de África (Antonio Parinello/Reuters)
Segundo o diário, a embarcação com 72 passageiros, incluindo mulheres, crianças e refugiados políticos, tinha saído de Trípoli, Líbia, para a ilha italiana de Lampedusa quando se viu em apuros. Fizeram soar alarmes, pediram ajuda da guarda costeira italiana e tentaram contactar um helicóptero militar e um navio da NATO... mas não houve qualquer tentativa para os socorrer.

Depois de 16 dias, 68 dos ocupantes do navio estavam mortos. Onze chegaram a terra, mas dois morreram pouco depois. Nove sobreviveram para contar a história. “Todas as manhãs acordávamos e encontrávamos mais corpos. Deixávamo-los no barco durante 24 horas, e depois atirávamo-los ao mar”, contou Abu Kurke, um dos sobreviventes. “Nos últimos dias, já não nem sabíamos quem éramos.. Todos estavam a rezar, ou a morrer.”

Lei marítima obriga a ajuda

“Houve uma renúncia da responsabilidade qu elevou àmorte de 60 pessoas”, acusou Moses Zerai, um padre eritreu em Roma que dirige uma organização de refugiados e que esteve em contacto com o navio pelo telefone satélite da embarcação, enquanto a bateria deste durou. “Isto é um crime, e um crime não pode ficar sem castigo só porque as vítimas eram migrantes africanos e não turistas num cruzeiro.”

A lei internacional marítima, sublinha o "Guardian", obriga a qualquer navio, incluindo unidades militares, a prestar auxílio a outras embarcações em dificuldades sempre que possível. Uma porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os refugiados pediu mais cooperação dos navios comerciais e militares. “O Mediterrâneo não se pode tornar no Wild West”, comentou Laura Boldrini. “Os que não ajudam as pessoas não podem continuar impunes.”

As revoltas e instabilidade em países do Norte de África levaram a um aumento do número de pessoas que tentam chegar à Europa de barco – nos últimos quatro meses, acredita-se que 30 mil migrantes tenham tentado atravessar o Mediterrâneo de barco. Muitos morreram.

Ninguém admite contacto com barco

Este barco tinha saído de Trípoli a 25 de Março levando 47 etíopes, sete nigerianos, sete eritreus, seis ganeses e cinco sudaneses. Havia 20 mulheres e duas crianças pequenas – uma delas tinha apenas um ano.

No caminho para Lampedusa, quando estava no mar há apenas 18 horas, a embarcação começou a ter problemas e a perder combustível.

O “Guardian” reconstruiu a história com base em testemunhos dos sobreviventes e pessoas que estiveram em contacto com o barco. Os migrantes começaram por contactar o padre Zerai, que alertou a guarda costeira italiana – que lhe assegurou que tinha dado o alarme e que as autoridades estavam a par da situação.

Um helicóptero militar apareceu pouco depois e forneceu pacotes de bolachas, água, e deu indicações de que o barco deveria manter-se na sua posição até chegar um navio de ajuda. Mas nenhum país admite ter mandado este helicóptero.

Itália diz ter avisado Malta para o barco, Malta nega ter tido qualquer contacto com os migrantes.
O capitão ganês, não vendo sinais do navio de auxílio prometido, decidiu que poderia chegar a Lampedusa com os 20 litros de combustível que ainda tinha. Mas dois dias depois de ter partido da Líbia tinha perdido o rumo, ficado sem combustível, e estava ao sabor da corrente.

O porta-aviões da NATO

A corrente levou-o para perto de um porta-aviões da NATO, tão perto que seria impossível não terem sido vistos. O “Guardian” tentou descobrir que navio da NATO seria este, e descobrindo que o Charles de Gaulle operava no Mediterrâneo nestas datas, tentou obter comentários. Recebeu uma resposta dizendo que o porta-avião francês não estava no local. Confrontado com notícias que falavam da presença do Charles de Gaulle na região na altura, um porta-voz da NATO recusou-se a fazer comentários. Entretanto, a organização já anunciou que está a investigar a denúncia.

Sobreviventes contam mesmo que dois aviões saíram do porta-aviões e sobrevoaram o seu barco. Alguns mostraram os bebés esfomeados, tentado despertar a atenção de alguém. Mas não houve resposta. As correntes levaram de novo o barco para longe do porta-aviões. E sem combustível, comunicações ou comida, as pessoas começaram a morrer. “Guardámos uma garrafa de água para os bebés, e continuámos a alimentá-los depois da morte dos pais”, contou Kurke, um etíope de 24 anos, que fugia do conflito étnico no seu país, e sobreviveu bebendo a própria urina e comendo pasta de dentes. “Mas depois de dois dias os bebés acabaram por morrer, porque eram tão pequeninos”.

O barco acabou por chegar a uma praia na costa da Líbia, perto de Misurata, com onze sobreviventes. Um morreu quase de imediato ao chegar a terra, outro morreu pouco depois na prisão – os sobreviventes foram detidos pelas forças de Khadafi e ficaram na prisão durante quatro dias.
Os últimos nove sobreviventes estão agora escondidos na casa de um etíope na capital líbia. E consideram tentar, de novo, chegar à Europa. Por barco.

Sem comentários: