Se falhar a maioria absoluta, Costa pode revisitar Guterres, jogar numa ‘geringonça’ informal ou agarrar o PAN. Ele escolhe a primeira
FRIO
Geringonça II
Repetir a fórmula destes quatro anos está fora de causa. Por vontade do primeiro-ministro e dos líderes do PCP e do BE. Jerónimo de Sousa confirmou-o ao Expresso, quando disse que o Parlamento deve voltar ao seu “funcionamento normal” e que uma ‘geringonça’ nos moldes da atual “não é repetível”. Catarina Martins concorda: “Não há renovação do que já foi feito.” O primeiro-ministro contribuiu para este caldo, ao repetir que faltam novas zonas de convergência substancial. E Marcelo Rebelo de Sousa ajudou, ao deixar claro que, ao contrário do que Cavaco fez há quatro anos, não exigirá acordos escritos para garantir estabilidade. O retrato das assinaturas a três vai passar à história.
GELADO
ACORDO SÓ COM O BE OU SÓ COM O PCP
Mais surreal ainda seria Costa escolher comprometer-se para a próxima legislatura apenas com um dos parceiros que o suportaram nestes quatro anos deixando o outro de fora. O BE gostaria de ir para o Governo mas Costa já eliminou a hipótese de fazer coligações. E a escolher um dos dois, o primeiro-ministro já deixou perceber que até acha os comunistas mais fiáveis do que os bloquistas, mas nunca aceitaria governar apenas dependente do PCP, quando a sua aposta é, ao contrário, moderar postura e discurso, falar para a direita e não ceder na cartilha das contas certas. Além do mais, fazer um acordo formal com um dos dois partidos de esquerda e deixar o outro à porta era comprar um plus de oposição. Para quê?
MORNO
À MESA COM O PAN
É rara a entrevista em que António Costa não lembra que, embora tendo governado com o apoio do PCP e do BE, isso não o impediu de fazer acordos com o PAN, que até lhe aprovou Orçamentos do Estado. O primeiro-ministro não regista este dado por acaso. Há sondagens que antecipam o PAN com cinco ou seis deputados, um número mágico se o PS falhar por pouco a maioria absoluta. André Silva tem dito que não quer ir para o Governo, que se revê mais em Costa do que em Rio e que está aberto a acordos parlamentares, o que o torna um parceiro irresistível com a vantagem de ser ideologicamente neutro. Há quem anteveja que Costa começará por aqui.
GELADO
ACORDO PARLAMENTAR COM RUI RIO
Não está fácil a relação com o PSD e a incerteza sobre o que acontecerá no partido de Rui Rio após 6 de outubro complica. António Costa tem aproveitado a pré-campanha para manter o canal aberto com o maior partido da oposição com quem admite negociar e de quem sabe poder vir a precisar em caso de crise económica, mas há um fosso entre as condições que Rio lhe coloca — pactos para reformas estruturais — e o que Costa está disposto a aceitar — nada de reformas estruturais nem acordos preferenciais. Se Rio cair nas diretas marcadas para janeiro e vier um líder mais feroz, as coisas pioram. E estando essa possibilidade em aberto, não há razões para o primeiro-ministro privilegiar este interlocutor. A sua aposta é mais caçar votos entre os ‘laranjinhas’ frustrados.
QUENTE
GOVERNAR À GUTERRES, SEM ACORDOS
É a verdadeira escolha de Costa. Como se explica neste texto, o primeiro-ministro assume que quer negociar com todos, aberto a acordos pontuais ora com uns ora com outros, ora escritos ora não escritos, como o próprio admitiu esta semana em entrevista à Antena 1. Além do mais, tirando o CDS que insiste em assumir-se como 'o' partido da oposição, todos os outros admitem conversar. Tenha ou não tenha maioria absoluta, António Costa já percebeu que vai ser fácil. Para quê complicar?
A AQUECER
MAIORIA ABSOLUTA
António Costa diz que não faz chantagem mas arranjou a sua fórmula para pedir maioria absoluta: “Quem não pede o melhor resultado possível?” Se a tiver, garante a legislatura de quatro anos e mais estabilidade na condução do país. Mas, como dizia Marques Mendes na SIC, a maioria absoluta também tem contras, a começar para o próprio Governo, que perde álibis e terá seguramente mais oposição, tornando-se muito mais difícil o sonho do primeiro-ministro de manter o canal aberto com todos. Mesmo assim, qual é o político que não sonha com a maioria de que “os portugueses não gostam”?
expresso.pt
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