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quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Marinho e Pinto diz adeus à política

Marinho e Pinto - PDR - Eurodeputado «Na altura própria, se for caso disso, farei as avaliações e ponderações que essa possibilidade exigirá», garantiu

A despedida está marcada para o próximo mês - se as sondagens se confirmarem e Marinho e Pinto não for eleito, o líder do PDR garante que sai da política. À VISÃO, o ex-eurodeputado ataca a classe. "Há políticos que não sabem o que é pagar o próprio telemóvel porque o partido sempre assumiu esse custo, não sabem o que é pagar um almoço porque sempre usaram o cartão do Estado"




O discurso corre carregado de críticas que vão formando um retrato negro do estado a que a democracia portuguesa chegou. “Isto está cada vez pior, cobram-se mais impostos, as clientelas são cada vez mais vorazes, há políticos que o são desde os 14 anos e que, provavelmente, não sabem o que é pagar o próprio telemóvel porque o partido sempre assumiu esse custo, não sabem o que é pagar um almoço porque sempre usaram o cartão do Estado, e a comunicação social foi corrompida de alto a baixo”, desfia Marinho e Pinto. O advogado, candidato pelo Partido Democrático Republicano às próximas legislativas, diz que é apenas realista. “Olho para o que está à minha volta e faço a minha análise”, explica à VISÃO, depois de assumir que, a 6 de outubro, cumprirá o seu quarto e último desafio eleitoral. “É a última vez que concorro a qualquer coisa, já passei do prazo, estou fora.”
Independentemente do resultado, a decisão está tomada. “Se não for eleito, é a ultima vez que concorro a uma eleição”, diz Marinho e Pinto, que logo a seguir acrescenta: “Se for eleito também é a última vez, porque não me candidato seja ao que for daqui a quatro anos.” À partida, a idade seria a principal razão do afastamento. “Já tenho quase 70 anos, há muito que devia ter deixado a política.” Mas há outras razões para o afastamento.
Marinho e Pinto bate com a porta cinco anos depois de ter regressado à política. Logo depois de ser eleito para o Parlamento Europeu, em 2014, nas primeiras eleições que disputou – e as únicas que venceu –, Marinho e Pinto ainda tentou conquistar um lugar na Assembleia da República. Ficou 14 mil votos atrás do PAN e falhou o objetivo.
Em maio deste ano, tentou a reeleição para Bruxelas, mas os menos de 16 mil votos que obteve deixaram-no longe desse lugar e o PAN voltou a ganhar essa corrida. Agora, o ex-bastonário da Ordem dos Advogados, e ex-eurodeputado eleito pelo Movimento Partido da Terra (MPT), é cabeça de lista pelo círculo eleitoral do Porto nas legislativas de outubro, pelas listas do Partido Democrático Republicano, que fundou depois de romper com o MPT.
“Só temos uma estratégia e uma tática: apontar o que está mal num país em que não há espaço para a cidadania, onde ninguém pode ser candidato se não for por um dos partidos [tradicionais]”, diz Marinho e Pinto. “A vida política transformou-se numa coisa degradante.” É essa, percebe-se, a razão de fundo para a despedida. "Lutei quando era difícil, mas se soubesse que era para isto não o teria feito. A politica atrai os piores", defende, sem esconder a completa desilusão.
"Acreditei que era possível mudar as coisas pela vida democrática, mas já percebi que não. O país não tem mudança", diz ainda. E, neste ponto, o discurso radicaliza ainda mais. "Há de vir aí um ditador", garante, à medida que percorre vários centros do poder do mundo atual. "Trump, Bolsonaro, Orban, Salvini, o Vox aqui ao lado, a [Marine] le Pen, em França - nada disso são epifenómenos, é o resultado de opções de eleitores desiludidos com a democracia". Será só uma questão de tempo até esses movimentos chegarem ao extremo oeste da Europa, sugere. "O sistema democrático em Portugal perdeu a superioridade moral que tinha em relação à ditadura", vaticina.
Quando se aventurou nas europeias de 2014, tinham passado quarenta anos desde os seus últimos tempos de militância político-partidária. Em 1971, o então estudante universitário foi preso pela polícia do regime, a PIDE, pela atividade que desenvolvia no Movimento Democrático Estudantil. Pouco depois, ainda durante o Estado Novo, aderiu à Juventude Comunista Portuguesa. A atividade partidária ficou para trás quando entrou nas redações e, mais tarde, quando começou a sua atividade como advogado. Só depois de terminar o segundo mandato como Bastonário da Ordem dos Advogados, em 2013, voltou à política. Até outubro ou até 2023, tudo depende do desfecho da noite eleitoral.

visao.sapo.pt

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