A Arábia Saudita levou a cabo vários ataques aéreos, este domingo, contra uma prisão na província de Dhamar onde eram mantidos prisioneiros de guerra, matando mais de 100 pessoas.
O número de mortos, apontado pelo Ministério iemenita da Saúde e pelo Comité Internacional da Cruz Vermelha, pode chegar aos 150, uma vez que muitos corpos se encontram ainda sob os escombros, disse um representante do Ministério ao Middle East Eye (MEE).
A mesma fonte precisou que os caças sauditas realizaram sete ataques aéreos contra os três edifícios de uma antiga escola transformada em prisão, onde o movimento Huti Ansarullah tinha sob custódia 185 prisioneiros, incluindo alguns que iriam ser libertados no âmbito de um acordo alcançado com as forças da coligação agressora.
«Foram atingidos os três edifícios, em cujo interior se encontravam 185 prisioneiros, e todos foram mortos ou feridos», disse ao MEEuma fonte ligada aos serviços de saúde em Dhamar, no Sudoeste do Iémen, acrescentando: «Quando os sauditas atacam um edifício, é certo que todos lá dentro se tornaram baixas.»
A mesma fonte revelou que, entre os mortos e feridos, se encontram os guardas prisionais, e, referindo que o número de mortos confirmados já superava os 100, disse esperar que «o número suba para 150 nas próximas horas, uma vez que há feridos em estado crítico que não podem receber o tratamento necessário em Dhamar ou Sana’a».
«A destruição do sistema de saúde é outro crime saudita, porque as pessoas feridas não têm possibilidade de receber tratamento adequado», frisou.
Quando os sauditas alegam que os ataques destruíram um local de armazenamento de drones e mísseis em Dhamar, a fonte ligada à saúde sublinhou que é do conhecimento público que esta prisão não era uma infra-estrutura militar e que este ataque constitui «um crime contra a humanidade».
ONU: «Riade tem de prestar contas pelo ataque»
«Espero que a coligação inicie uma investigação sobre este incidente e que prevaleça a responsabilidade», disse este domingo Martin Griffiths, enviado especial das Nações Unidas para o Iémen, num comunicado conjunto com a coordenadora humanitária das Nações Unidas para o Iémen, Lise Grande.
Defenderam que «os iemenitas merecem um futuro de paz» e instaram ao fim do conflito, tendo ainda a coordenadora revelado o envio em curso de material cirúrgico e médicos para o local do massacre.
Por seu lado, o líder do movimento popular iemenita Ansarullah, Abdul-Malik al-Huti, condenou o «terrível crime» cometido pela Arábia Saudita, sublinhando que «os crímes contra prisioneiros de guerra revelam o ódio e a decadência moral do inimigo saudita e evidenciam o desconcerto da coligação agressora para escapar do beco sem saída na guerra do Iémen», informa a HispanTV.
Num discurso transmitido pela TV, o dirigente Huti destacou o facto de o «regime de Riade [...] assassinar até o pessoal dos seus próprios aliados».
Guerra de agressão desde Março de 2015
Com apoio dos EUA e do Reino Unido, a Arábia Saudita, liderando uma aliança que incluía países como os Emirados Árabes Unidos, o Egipto e o Sudão, lançou uma grande ofensiva militar contra o mais pobre dos países árabes, em Março de 2015, declarando serem seus objectivos esmagar a resistência do movimento popular Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade.
De acordo com a estimativa mais recente da ACLED (Armed Conflict Location & Event Data), a guerra de agressão provocou mais de 91 mil mortos no Iémen nos últimos quatro anos e meio. Por seu lado, o ministro iemenita da Saúde, Taha al-Mutavakel, disse na passada quarta-feira que, desde o início da guerra, foram mortos no Iémen mais de 140 mil civis.
Os ataques da coligação liderada pelos sauditas a zonas residenciais e infra-estruturas civis tem sido uma constante. Hospitais, escolas, fábricas, sistemas de captação de água e centrais eléctricas foram destruídas, e tanto casamentos como cerimónias fúnebres foram alvo dos seus caças.
De acordo com um relatório das ONU publicado em Dezembro de 2018, mais de 24 milhões de iemenitas necessitam de ajuda humanitária urgente, incluindo dez milhões que são «severamente afectados pela fome».
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