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sábado, 14 de setembro de 2019

António Costa propõe “uma coligação” com as empresas - “Se for bom para Portugal, espero que o senhor ganhe”, disse-lhe o presidente do International Club of Portugal, vaticinando uma possível maioria absoluta


Primeiro-ministro almoçou no hotel Ritz, em Lisboa, com empresários e gestores. Distribuiu e recebeu elogios, em lua de mel com uma direita que parece preferir um PS com maioria absoluta do que dependente do PCP ou do BE. “Se for bom para Portugal, espero que o senhor ganhe”, disse-lhe o presidente do International Club of Portugal, vaticinando uma possível maioria absoluta

António Costa propôs esta quinta-feira "uma coligação" entre o Governo e as empresas, para a subida dos salários dos trabalhadores na próxima legislatura. Tinha à sua frente diversos parceiros dessa putativa coligação para os próximos quatro anos: não o BE, nem o PCP, nem o PAN, mas empresários, gestores, banqueiros e outros membros do International Club of Portugal, reunidos para almoçar com o primeiro-ministro no Hotel Ritz, em Lisboa.
A sala estava completamente cheia - mais de duzentos comensais -, contrastando com o muito espaço que ficou por ocupar há poucos dias, num outro almoço em Lisboa, com Rui Rio, promovido por outra entidade ligada ao patronato. E, caso se fizesse uma sondagem à boca das mesas, era bem provável que o PS vencesse ali com maioria absoluta - se há uma direita que prefere ver Costa a governar sozinho em vez de ter de dar contas ao BE ou ao PCP, muita dela estava no salão do Ritz.
Se havia entre os participantes quem pensasse nisso, o presidente do International Club of Portugal - o gestor e empresário Manuel Ramalho - disse-o em voz alta, quando fez as honras da casa no final do almoço: "Estamos a poucas semanas de mais um importante ato eleitoral para o nosso país e o que é que eu, como responsável máximo por uma instituição isenta e independente como o ICP, posso desejar? Tudo indica que o seu partido vai ganhar as próximas eleições, consta que provavelmente por maioria absoluta, só posso dizer que se for bom para Portugal desejo que o senhor ganhe." Não era o único, a julgar pelos apertos de mão, palmadas nas costas, selfies e outras simpatias que os comensais dedicaram ao líder socialista.
Costa também não se poupou a esforços para seduzir a audiência. Assumindo a máxima "Em Roma sê romano", atribuiu às empresas portuguesas o principal mérito na recuperação da economia nacional ao longo desta legislatura. O primeiro-ministro não saiu do guião que tem seguido nesta pré-campanha - a apresentação dos sucessos económicos da legislatura: o crescimento, o emprego, a redução do défice e da dívida, mas também a reposição dos rendimentos das famílias -, e apresentou as grandes prioridades para os próximos quatro anos: resposta às alterações climáticas, transição para a sociedade digital, combate às desigualdades e resposta aos desafios da demografia.

“TEMOS DE NOS AJUDAR UNS AOS OUTROS”

Em todos os pontos em que se deteve piscou o olho ao patronato e deu garantias de previsibilidade e contas certas, tudo valores em alta para aquele público. Costa valorizou a centralidade dada à concertação social para as grandes decisões da próxima legislatura, e reconheceu várias vezes o papel dos privados na trajetória recente da economia. "Crescemos sobretudo graças ao investimento privado e às exportações", reconheceu Costa, o que equivale a dizer que "não crescemos sobretudo graças ao investimento público".
Por outro lado, fez a apologia da estabilidade como condição para o sucesso do país. "Para que a trajetória se mantenha é absolutamente essencial podermos manter a estabilidade. E não falo só da estabilidade política, mas da estabilidade das políticas, de modo que possamos de modo sustentado, sem ruturas sociais, manter prolongadamente um ciclo de saldos primários positivos, que permitam continuar a a reduzir a dívida pública no conjunto do Produto Interno Bruto", sublinhou.
E até as mudanças que promete fazer na próxima legislatura - como a nova aposta no investimento público - vêm temperadas com um discurso de cautelas. "O investimento público tem de crescer? Tem, mas para aumentar o investimento público, temos de o continuar a fazer de forma que seja sustentável do ponto de vista macroeconómico. Porque se descarrilamos relativamente ao défice ou relativamente à trajetória da dívida, não só pagamos isso imediatamente na subida da taxa de juro, como se a tal crise que dizem que pode vir aparecer mesmo, nós estamos menos protegidos."
Por fim, não faltou o tal apelo à "coligação" com as empresas, para conseguir um dos objetivos traçados pelo PS para o próximo ciclo governativo - o aumento, não apenas do salário mínimo, mas de todos os níveis salariais, de forma que Portugal possa atrair e reter mão de obra qualificada. "Temos que nos ajudar uns aos outros, porque sabemos bem qual o esforço que as empresas têm de fazer para acompanhar uma melhor política de rendimentos, mas também todos conhecemos as limitações que o Estado tem para, por via das transferências não monetárias, contribuir para o rendimento das famílias, como tem feito".
Ajudar uns aos outros, ou, dito por outras palavras: "Temos de fazer todos uma coligação para podermos em conjunto contribuir para melhorar o nível de rendimento, sem que isso afete a competitividade das empresas e a estabilidade macroeconómica em Portugal."
A sala parece ter apreciado. Mira Amaral, ex-ministro de Cavaco, ainda indagou Costa sobre a aparente falta de ambição de um Governo que fica satisfeito por crescer acima da média europeia, ao mesmo tempo que é todos os anos ultrapassado por economias mais débeis. Mas antes da crítica, deixou um elogio ao primeiro-ministro. "Eu sou daqueles que valorizam muito positivamente a sua determinação no controlo do défice público. Sei da minha experiência governativa como é importante para um ministro das Finanças o apoio político de um primeiro-ministro".
Confirma-se: há mesmo uma direita que gosta de Costa. E Costa retribui.

expresso.pt

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