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quarta-feira, 11 de setembro de 2019

COISAS QUE VOCÊ TALVEZ NÃO SAIBA SOBRE A DITADURA DE PINOCHET



Há 45 anos, no dia 11 de setembro de 1973, um general de voz de falsete, Augusto Ramón Pinochet, dava um golpe militar no Chile, inaugurando uma sanguinária ditadura de 17 anos de duração


1 Terrorista em Washington
 O ditador chileno Augusto Pinochet,  derrubou o presidente Salvador Allende em 1973. 
Em 1976 Pinochet ordenou o assassinato do ex-chanceler de Allende, Orlando Letelier – que estava no exílio – com uma bomba sob seu carro a menos de 20 quarteirões da Casa Branca, no Sheridan Circle, em Washington. Na explosão também morreu a secretária de Letelier, Ronni Moffit.

2 Miliares e mulheres
A ditadura de Pinochet foi especialmente cruel com as prisioneiras: a Comissão Nacional sobre Prisão Política e Tortura, indicou que, de um total de 3.621 mulheres detidas, 3.399 foram estupradas de forma individual ou colectiva pelos militares. Destas, pelo menos treze mulheres ficaram grávidas. E delas, seis deram à luz os filhos indesejados de seus torturadores. Os militares chilenos também colocaram ratos vivos dentro das vaginas das prisioneiras. Além disso, utilizaram cachorros (pastores alemães e mastins) para violar as prisioneiras.

3 A rede de pedofilia nazista autorizada por Pinochet
Em 1961 o alemão Paul Schaefer, um pregador evangélico pedófilo que havia integrado o partido nazista em Sieburg nos anos 30 e 40, fugiu da Justiça alemã e migrou para o Chile, onde, acompanhado por dezenas de seguidores, criou a "Sociedade Beneficente Dignidade" na região de Maule. Schaefer fez da "Colônia Dignidade" seu feudo pessoal, uma espécie de pequeno país-igreja que continha em seus 17 mil hectares uma escola, padaria, um hospital, moradias, áreas de plantação, cinco empresas (que funcionaram fora da legislação trabalhista e tributária do Chile durante décadas), além de uma rede secreta de túneis e bunkers. A colónia, protegida por cercas de arame farpado, havia ficado de fora de todos os censos realizados no Chile. Os habitantes tinham um contato mínimo com o exterior e eram doutrinados constantemente. As relações sentimentais estavam controladas por Schaefer e só podiam acontecer após sua autorização. Crianças dos camponeses da área de fora da Colónia eram entregues a Schaefer, que prometia a seus pais que seus filhos teriam "educação gratuita". Mas, em vez de educação, eram sodomizados pelo ex-cabo nazista. A partir do golpe de 1973, protagonizado pelo general Augusto Pinochet, amigo de Schaefer, o lugar transformou-se em um centro clandestino da DINA (o serviço secreto do regime). Ali foram detidas e torturadas centenas de prisioneiros. O estabelecimento também foi usado para a fabricação clandestina de gás sarin, que a ditadura utilizava em pequenas doses para realizar atentados contra exilados políticos no exterior. Em 1990 o governo Pinochet acabou e também a protecção de Schaefer, que anos depois foi julgado e condenado à cadeia
4 VIOLAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS
Em 2010 – durante o primeiro governo de Sebastián Piñera – a Comissão Valech determinou que entre 1973 e 1980 o regime de Pinochet deteve e torturou pelo menos 40.018 civis. Desse total, segundo o relatório, 3.065 civis foram assassinados.

5 Genocida cultural
Pinochet ordenou a queima de dezenas de bibliotecas, acção que nos últimos anos os historiadores começaram a classificar de "genocídio cultural". O próprio regime, em 1988, admitiu a queima de 15 mil livros, mas especialistas sustentam que foi muito mais. Um dos casos mais emblemáticos foi a queima de livros sobre o estilo da pintura "cubismo", pois os militares achavam que tinha a ver com a "Cuba comunista".

6 Cor de rosa e sem mão esquerda
Durante o governo militar os editores do jornal chileno La Nación iam constantemente à gráfica para verificar se Pinochet sempre aparecia "rosadito" (cor-de-rosinha) nas fotos. Todas as fotos deviam exibir o ditador com boa aparência. Além disso, a paranoia com qualquer sinal de suposta "esquerdice" era tão grande que uma vez retiraram de todas as bancas, às pressas, uma edição que tinha uma foto na qual o ditador aparecia saudando um grupo de simpatizantes com a mão esquerda.  Levantar essa mão, eles consideravam, não ficava bem para um emblema do anti-comunismo.
7 Privatizações para todos (menos para os militares)
Em 1980, Pinochet privatizou as aposentadorias dos chilenos, incluindo a dos funcionários públicos. Pinochet, que além disso havia feito várias privatizações de empresas estatais, despontava como um emblema do neoliberalismo na região. O regime prometia que os aposentados receberiam o equivalente a 70% dos salários que tinham quando ainda estavam em actividade. Mas a realidade é que os aposentados recebem em média 37% dos salários que recebiam antes de aposentarem-se (e por esse motivo, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, a OCDE, as pensões chilenas são uma das mais baixas da região). Pinochet foi neoliberal... "pero no mucho", já que manteve estatizadas as pensões dos militares e dos policiais, que recebem 100% dos seus último salários. Os privatizados civis chilenos se aposentam entre os 35 e 40 anos de contribuição. Os estatizados militares, aos 28 anos de serviço.
Em 1971, Salvador Allende havia estatizado as empresas de cobre, o principal commodity do Chile. Pinochet derrubou Allende argumentando, entre outos motivos, a estatização feita. No entanto, Pinochet manteve a estatização do cobre. E, além disso, unificou todas as estatais desse metal em uma única empresa, a mega-estatal Codelco. E é essa estatal que produz, até hoje, os maiores lucros das exportações chilenas.
8 Falso Doente 
Depois de deixar o cargo de ditador, Pinochet continuou tutelando a democracia chilena como chefe do exército até 1998. Nesse ano, transformou-se em senador vitalício, fato que lhe concedia foro privilegiado. Mas, seis meses depois, em uma visita a Londres, foi detido pela Interpol a pedido do juiz espanhol Baltasar Garzón, que o acusou de crimes contra a Humanidade e terrorismo internacional, propondo o conceito de extraterritorialidade. Pinochet permaneceu 503 dias na Grã-Bretanha, ao longo dos quais parecia que estava ficando em crescente estado senil, sentado em uma cadeira de rodas. Quando os médicos o examinavam para ver se estava realmente senil, o general respondia de forma desconexa, como se estivesse com Alzheimer. Analistas políticos em todo o planeta suspeitavam sobre a acelerada decrepitude que Pinochet exibia e que foi o argumento definitivo de seus advogados para conseguir sua liberação para retornar ao Chile. O ex-ditador finalmente partiu de Londres com a expressão no rosto de que era um vegetal humano. Pinochet desceu do avião em uma grua, sentado em uma cadeira de rodas e com uma bengala na mão. Quando a cadeira chegou ao chão, Pinochet se levantou, abraçou amigos e caminhou rapidamente, pela pista do aeroporto. Os chilenos (e o resto do planeta) observavam a cena boquiabertos. O ex-ditador, longe de estar senil, exibia grande agilidade, enquanto conversava animadamente com os amigos que o recebiam no aeroporto. Os críticos de Pinochet destacaram que ele havia trapaceado a Justiça e a comunidade internacional fingindo que estava senil.
9 Ditadura e futebol
Logo após o golpe de Pinochet, o estádio Nacional transformou-se em uma mega prisão, onde foram detidos 40 mil civis contrários ao novo regime militar. Muitos ali foram torturados e vários foram assassinados. Mas, na repescagem da Eliminatória de 1973, para a Copa da Alemanha, o Chile tinha que jogar contra a União Soviética. O primeiro jogo teria que ser em Moscovo dias depois do golpe no Chile. Pinochet havia proibido que qualquer chileno saísse do país, mas abriu uma excepção para a selecção. O jogo terminou 0 a 0. O segundo tinha que ser em Santiago. O problema para o regime era que o estádio Nacional estava entupido de prisioneiros. Então, começou a eliminação acelerada de civis. Os presos que não foram assassinados foram levados para outros lugares. Mas com o crescimento das denúncias sobre violações a direitos humanos, e mais especificamente a morte de líderes comunistas chilenos, a URSS negava-se a jogar em Santiago e pedia que o jogo fosse em outro país. A Fifa não aceitou o pedido. No dia 22 de novembro, com o estádio vazio, milhares de torcedores foram ver o jogo. Mas os soviéticos nunca desembarcaram em Santiago. No entanto, o jogo aconteceu da mesma forma, com 18 mil torcedores sentados nas arquibancadas onde dias antes haviam sido mortos e torturadas outras pessoas. No campo, os militares tocaram o hino do Chile. 

epoca.globo.com

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