Mulher inteligente, com uma personalidade muito forte, é uma “vencedora” face ao modo de valorização individual da sociedade desequilibrada donde é oriunda, e desde há muito figura referencial.
Quis ouvi-la na distinção que os Golden Globe lhe proporcionaram. Estava militantemente vestida de preto. Começou poderosa e assertiva, lembrando a menina pobre que assistia extasiada à atribuição do primeiro Óscar concedido a um actor negro, o inesquecível Sidney Poitier.
De palavra fácil, oradora experimentada, foi bom ouvi-la na 1ª metade do discurso. Foi baixando o nível na questão demagógica da preocupação do assédio feminino. Nunca falou dele do ponto de vista que interessa abordar, o do poder. Nunca questionou as forças em presença que constroem e acicatam este “way of life” da masturbação cinematográfica de “deusas” em apuros.
Sempre com uma plasticidade discursiva envolvente, num misto de revolta (mas originada por “maus”…) e de blá, blá, terminaria garantindo que este poder abusivo dos homens poderosos tinha terminado. E é falso. Naquele manicómio que fez a sua mãe ser escrava da limpeza do lixo de outros por ser preta, não é uma reunião sumptuosa de meninas ricas que resgatará a honra e a dignidade da Mulher face ao homem predador, face ao sistema político desumanizado, face, no topo da exploração dos corpos das mulheres e dos homens, ao poder ilimitado dos capitalistas de exercerem os meios mais despóticos que tenham à mão de semear por um estalar de dedos.
“Não vás mais longe”… Neste mesmo momento que a importante mulher estadunidense assim falava, mulheres “rohyngyas” acantonadas em campos de concentração no seu próprio país (Birmânia ou Myanmar), são violadas, vendidas, presas, prostituídas e mortas nos próprios campos em que sobrevivem, pelos militares ou pelo seu povo masculino.
O que é que a Oprah Winfrey terá feito garantir que após a denúncia hollywoodesca, no âmbito de uma elite glamourosa e frutada, tudo passará a ser diferente quanto ao crime cruel de assédio sexual às mulheres?
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