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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O FALSO FEMINISMO DAS MARCHAS ANTI TRUMP


Um texto escrito com indignação, e talvez com excessiva exigência face à realidade dos EUA. Realidade politicamente bloqueada que tivera no cenário de pesadelo das eleições presidenciais a mais grotesca expressão: escolher entre Hillary Clinton e Donald Trump. E o bloqueio prossegue no próprio “movimento anti-Trump,” esteja ele refém de questões “de género” ou de quaisquer outras.
Marchas de feministas pró-Hillary Clinton. Não é necessário ter muito discernimento para saber que estas manifestações são manipuladas e que têm interesses que nada têm a ver com os direitos de género. Entretanto, entendo a genuinidade da decisão de muitas em participar e não vou generalizar.
Toda a mulher que creia que Hillary Clinton é feminista não entendeu a menor coisa do feminismo, e pior ainda é que a apoie e lhe dê o seu voto. E é o que sucedeu nos Estados Unidos com a vaga de mulheres jovens que se deixaram levar pela emoção e o discurso anti género de Trump. E satanizam Trump quando têm um exemplar a cada dois metros de distância: nas suas casas, nas escolas, na sua comunidade, no seu trabalho; porque os homens como Trump são produto do sistema, como o é um falso Obama que resultou mais kukluxklan que o mais caucásico dos racistas. Obama é um negro pró-sistema. E que se disfarce e que as pessoas acreditem nele é outra coisa, tal como o faz Clinton com o feminismo.
¿Porque é que estas feministas que marcham contra Trump não marcharam contra Obama durante o seu mandato, quando morreram centenas de meninas, adolescentes e mulheres sírias e iemenitas, em resultado da intervenção estado-unidense nesses países? ¿Porque é que não tomaram as ruas quando soldados estado-unidenses violaram pelo menos 53 meninas colombianas? ¿Acaso estas meninas, adolescentes e mulheres não importam tanto como as nascidas nos Estados Unidos? ¿Porque é que estas mulheres feministas não se interessam pela política exterior do seu país, antes a ignoram, calando ou justificando que o seu país a única coisa que faz é defender-se de ataques terroristas e intenções de invasão?
¿Porquê apoiar uma mulher como Clinton, que representa igual ou pior perigo para a política exterior dos Estados Unidos que o próprio Trump? E pior ainda, tomá-la como referente do feminismo e instar a que mulheres jovens a sigam. ¿Porque é que feministas anti sistema se têm empenhado em apoiá-la e a convertê-la numa plataforma anti-Trump? Para não ir mais longe, ¿porque é que estas multidões de mulheres não formam uma frente anti-deportações de indocumentados? Seria uma plataforma sólida e com uma mensagem clara para o mundo.
¿Acaso importam mais os direitos de género de cidadãs ou residentes estado-unidenses que os direitos humanos daqueles que são os mais atingidos do sistema por não terem documentos? Qualquer feminista sabe que os direitos de género são direitos humanos, por conseguinte uma feminista verdadeira jamais iria manifestar sem exigir direitos para as minorias; porque encarando a questão pelo lado do género também há meninas, adolescentes e mulheres indocumentadas. Há famílias que estão sendo separadas e não pela administração Trump, isto vem desde a administração Obama.
Porque muitas destas falsas feministas que abarrotaram as ruas dos Estados Unidos têm mulheres indocumentadas trabalhando nas suas casas, limpando-as, cuidando dos seus filhos enquanto elas frequentam a universidade ou vão para o trabalho, enquanto elas conseguem desenvolver-se profissionalmente. E não lhes convém que tenham os direitos laborais que elas exigem para si mesmas, porque então isso as prejudica como empregadoras, não poderiam aproveitar-se mais de quem trabalha, por migalhas, trabalha para elas. 
Aqueles que cuidam dos seus jardins são indocumentados, aqueles que semeiam e colhem as frutas e verduras que elas comem todos os dias, são indocumentados. Aqueles que limpam os sanitários nos centros comerciais, nas escolas, nas universidades são indocumentados. Dos indocumentados se aproveitam todos, porque quem quisesse que tivessem direitos laborais teria que lhes pagar conforme a lei.

¿Porque é que estas feministas pró-direitos humanos, se então sabem o perigo que famílias inteiras correm pelas deportações, não formam uma frente e exigem uma Reforma Migratória Integral? Seria um exemplo claro e humano de querer mudar o sistema. Sem necessidade de andar a bater no peito ou de se autoproclamar feministas. O feminismo demonstra-se na acção, não em cantorias nem festas.

As violações sexuais que, fora do país, meninas, adolescentes e mulheres sofrem por parte do exército estado-unidense são tão importantes como as que sofrem mulheres nascidas nos Estados Unidos, vivendo dentro do país.
¿Porque é que estes milhares e milhares de mulheres não protestaram pela insolência de Trump face à Palestina? A resposta é fácil: porque as mulheres palestinas não lhes importam nem lhes importa o que possa suceder a outras mulheres, em qualquer lugar do mundo, por responsabilidade do governo estado-unidense.
É dessa dimensão a sua moral dupla e o seu falso feminismo.
¿Porque é que estas mulheres indignadas que se autoflagelaram nas marchas não pediram que cesse o bloqueio a Cuba? ¿A devolução de Guantánamo? ¿Porque é que não pediram que cesse a invasão dos Estados Unidos a outros países? Porque o que suceda às pessoas de outros países, seja qual for o género a que pertençam, a elas não lhes importa. ¿Qual feminismo então?
Existe uma confusão bárbara quanto ao conceito de feminismo entre as mulheres jovens estado-unidenses. Porque nenhuma feminista de verdade apoiaria que uma Clinton dirija uma invasão estado-unidense de países como a Venezuela, como já vimos quando em Miami prometia derrubar o “ditador” Maduro ao tempo das guarimbas, que eles mesmos armaram. Ou que uma feminista de verdade apoie as deportações de crianças e adolescentes que chegaram ao país sem companhia, como o fez Clinton quando Obama decidiu acabar com o programa temporário que eles mesmos montaram para justificar a militarização do México e do triângulo norte da América Central.
Ou uma Clinton que deu continuidade à construção do muro entre México e Estados Unidos, que o seu esposo iniciou. Trump é o homem típico da sociedade e este falso feminismo também o é.
Como vemos, ser feminista não é apenas algum artesanato decorativo, o feminismo vive-se com as acções quotidianas, não com pancartas, festas e fotos para as redes sociais.
Estamos a anos-luz de um feminismo consequente, irreverente e humano. Antes de tudo humano. É certo que alguém dirá: “antes isto que nada…” Justificar dizendo antes isto que nada são truques de advogado. E desculpem as flores se lhes faço murchar uma pétala, mas é necessário chamar as coisas pelo seu nome.
Blogue da autora: https://cronicasdeunainquilina.com/2018/01/22/el-falso-feminismo-de-las-marchas-anti-trump/
Rebelión publicou este artigo com autorização da autora mediante uma licença de Creative Commons, respeitando a sua liberdade para o publicar em outras fontes.

www.odiario.info

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