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sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

O Diabo não mora na Coreia do Norte



A mentira do ano é o perigo da Coreia do Norte.
Agora é que é. A Coreia do Norte lançou um míssil que caiu no mar do Japão. As sirenes japonesas soarem e os japoneses abrigaram-se com os telemóveis. Qualquer dia os coreanos nortenhos acertam na ponte de São Francisco, ou nos Óscares de Hollywood, ou num casino de Las Vegas. Os coreanos estão cada vez com mais alcance, potência e precisão nos disparos. Descobriram um Viagra nuclear! Temos um problema com a Coreia do Norte, anuncia a Casa Branca.
O problema da Coreia do Norte. Há algum problema com a Coreia do Norte? Se há, quem tem problemas com a Coreia do Norte que se acuse! Fraco mundo que não teve problemas com 2 guerras mundiais, nem com destruição do Iraque, do Afeganistão, da Siria, da Palestina, da Ucrânia, da Líbia, do Mali, do Congo, mas tem agora, por debaixo da trunfa de Trump, a Coreia do Norte como problema principal! O Trump está a ver a Coreia do Norte com os binóculos ao contrário e com o cabelo dentro do crânio.
O problema da Coreia Norte é o problema de ter Trump como presidente dos Estados Unidos. Se não existisse Trump na Casa Branca não existia problema com a Coreia do Norte. Logo, o problema Coreia do Norte é, afinal, o problema Trump. O problema não é a pistola. É o paranóico que ameaça pegar fogo ao bairro onde vive o tipo que tem uma pistola. Alguém, na América, tem de ensinar o Trump a usar uns binóculos!
O grupo de generais que governa os Estados Unidos desde o Verão tem um problema com Trump como presidente dos Estados Unidos. Não podem fazê-lo desaparecer em Guantanamo, nem numa das prisões que a CIA gere em outsourcing pelo mundo, como faz aos doidos islâmicos, nem pode estar à mercê dos seus humores e efabulações para além da obtenção de licenças de construção civil para Torres Trump.
A solução clássica num caso de problemas internos difíceis é encontrar um inimigo externo e ampliar a sua perigosidade. Os pais utilizam o truque do papão que vem de fora para fazer mal aos meninos se eles não se portarem bem, isto é, se não aceitarem obedecer. Os generais americanos, que ocupam agora todos os lugares chave da administração Trump, conhecem a história. Para eles, Trump é o infante inconsciente e irresponsável, o puto das birras.
Para o bom andamento dos negócios do complexo militar industrial e de Wall Street é indispensável um elevado grau de previsibilidade na política interna e externa dos EUA. Ter uma bicha de rabiar num paiol não favorece os investimentos. O Trump espirra caspa da cabeleira e pode carregar no botão do disparo dos misseis enquanto coça o coiro cabeludo.
Agora, que o documento-guia da estratégia dos EUA para os próximos anos está já aprovado, o problema da Coreia do Norte saiu das páginas dos jornais e dos ecrãs de televisão. Já não surgem , ou raramente aparecem imagens de foguetes a brilharem nas pantalhas escuras da noite. O problema Coreia do Norte desapareceu. Mantém-se o problema Trump. O verdadeiro problema.
A Coreia do Norte não representou, nem representa perigo para ninguém, a não ser para os coreanos que morrem de fome e de doenças.
Quem está em perigo com Trump no poder são os 50 milhões de pobres, de ultra-pobres, nos Estados Unidos que vão ficar ainda mais desprotegidos, mais castigados pelo pecado de serem pobres, mais expostos à doença, ao desemprego, à fome. Estão também em perigo, mas eles andam tão felizes, os médios investidores em Wall Street, que correm o sério risco de se verem numa situação idêntica à de 1929! E com eles todos os que andam pelas bolsas nacionais com as suas poupanças e esperanças a ler os sinais do Dow Jones.
Os misseis da Coreia do Norte nunca fariam tantos mortos como a política social e económica de Trump causará, nem com tanta certeza. Para esconder esta quase inevitabilidade é necessário amplificar até ao absurdo a mentira do perigo dos foguetões e “missiliões” coreanos. Kim Jong-un está apenas a salvar a pele com a exibição dos seus obsoletos foguetes russos reaparafusados, mais ou menos como os Cadillacs dos anos 50 que os cubanos modernizam. Os anquilosados foguetes são o seguro de vida de Kim Jong-un, a granada que mantém no bolso enquanto diz aos que assassinaram o Saddam e o Khadafi: não me fazem o mesmo, porque se fizerem vão uns tantos comigo. Ninguém quer ir com o rapaz — e o Trump ainda menos que todos. Por outro lado os chineses e os russos consideram útil o Kim Jong-un. Daí que, não haja problema com o coreano, mas se mantenha o problema Trump.
Sendo assim, nem o jovem com cabelo em estilo de piaçaba, nem o velho com o cabelo em alcatifa de bordel vão disparar mais do que latidos de chimpanzés, um porque tem a supremacia ameaçada, o outro porque está com a vida em perigo.
A ameaça contra a América vem da própria América: das tensões resultantes do aumento da desigualdade social e étnica, da pauperização da classe média, em particular a branca, que se sente ameaçada e tenderá para a prática de acções progressivamente mais violentas. A ameaça da América provem ainda da especulação financeira, da dificuldade, que será cada vez maior, para manter o exclusivo da emissão do dólar como moeda de troca no mercado mundial.
A ameaça da América virá do seu enfraquecimento como ator principal no planeta, de potência determinante, resultante do isolacionismo em políticas fulcrais para o futuro como a do ambiente, a desvalorização do multilateralismo, a saída dos grandes fóruns de concertação como a ONU e outros organismos multilaterais que possibilitam o diálogo e o esfriamento de tensões.
O perigo para a América não está nos lança foguetes e nas ogivas do Kim Jong-un, está na Casa Branca, no Capitólio, no Pentágono, não está em Pyongyang mas em Washingon DC.
Nós, os povos do planeta, sofremos os mesmos perigos da América, mas não elegemos o Trump

medium.com

1 comentário:

Corvo Negro disse...

Notável este texto do Cor. Matos Gomes.