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terça-feira, 15 de agosto de 2017

UMA PARVA QUE PARA DESPERTAR A ATENÇÃO E VENDER ESCREVE UM LIVRO COM O TÍTULO "A DIETA DE AUSCHWITZ" ONDE SE MORRIA DE FOME



"Vou defender sempre o título do meu livro"


Após ter lançado "A Dieta de Auschwitz", Emília Pinheiro foi 
arrasada pela crítica. Numa entrevista por email, a autora justifica 
à SÁBADO a razão do título e revela
 que é descendente de judeus
Autora de A Dieta de Auschwitz:

Por que razão escolheu aquele título?
Conforme está escrito logo no início do livro, o título mostra de forma clara o real motivo da sua escolha. Basta abrir e ler. Julgo que não é pedir muito: ler e depois, caso necessário, fazer os devidos comentários. Todos serão bem-vindos. Ofensas, repudio veementemente. 

Mas não considera um título de mau gosto?
Não creio, sinceramente. Ofensivo, jamais. Também vivi uma guerra sangrenta, em Outubro de 1975, na capital de Angola, Luanda, onde morava na época. Bombas, granadas, o terror dos assassinatos em plena luz do dia, muitas balas perdidas, amigos morrendo, outros fugindo, ainda hoje não sei para onde. E a fome? Também convivi com ela, de perto. Eu, meus filhos, meus familiares. Ainda hoje sofremos sequelas daqueles tempos difíceis.
Qual era a sua ideia ao referir-se a Auschwitz?
Quando resolvi "abrir os portões" de Auschwitz, sessenta anos depois, foi com a intenção de levar o leitor a recordar que, "o acto de nos alimentarmos de forma correcta é soberano e essencial à vida, para que – tal como lá - não sejamos passivamente aprisionados e exterminados, aqui, pelos nossos próprios vícios". Fiz questão de apresentar um livro com um título, a meu ver, corajoso, "um livro que não nos deixa esquecer, de forma absolutamente dramática, que o acto de nos alimentarmos é uma das necessidades mais importantes do corpo humano" - assim escrevi no prefácio.
Não pensou que um livro com o título "A Dieta de Auschwitz", publicado pela "Editora Ariana", pudesse chocar algumas pessoas? Foi surpreendida?
Senti-me verdadeiramente chocada com a profunda distorção das minhas palavras, referentes ao título e às minhas justificações, como ficou patente nos últimos ataques verbais que tenho sofrido nas redes sociais. Relativamente ao nome da editora, quero esclarecer que a pessoa que se apresentou a mim sempre o fez através de e-mails em que constava o nome de "Contra-margem", nunca se referindo a "Ariana Editora". O que fez para resolver essa situação?
Entrei em contacto com a mesma pessoa que se apresentou a mim e pedi esclarecimentos, tendo ficado acertado que meu segundo livro não seria editado por essa editora. Ainda assim, quase dois anos depois, o meu livro foi lançado pela "Ariana Editora" e, até hoje, não possuo nenhum exemplar dessa obra.

Se fosse hoje teria escolhido outro título?
Não, teria optado apenas por outra editora, sem dúvida. Vou defender sempre o meu livro e seu título, pode crer. Na edição brasileira, que sairá em breve, será colocado na capa um esclarecimento para que não haja margem para dúvidas.
  1. Alguma vez esteve em Auschwitz?
Não, nunca estive. Vi e vivi a guerra sangrenta em Angola, grávida, com mais dois filhos gémeos pequenos, passei fome e privações de todo o tipo, fui para a maternidade durante o recolher obrigatório, debaixo de uma chuva de balas vindas e de granadas, aterrorizada pelo medo de não conseguir chegar à maternidade para ter o meu bebé, que nasceu no corredor daquela que havia sido a melhor maternidade de Luanda. Um mês depois consegui fugir para Portugal.

  1. Li que é descendente de famílias judias. 
  2. É verdade, por parte de minha mãe. Desde pequena sentia um orgulho enorme, já adulta pesquisava tudo que se referia ao meu sobrenome "de Oliveira" e sua comprovada descendência judia. Aos 17 anos, ao ler a colectânea de todos os livros do pós-guerra nazi, escritos por Christian Bernadac, senti uma profunda tristeza e revolta por todas as atrocidades cometidas e jurei um dia fazer algo que pudesse, de alguma forma, "fazer jus" à tremenda injustiça imposta, não só ao povo judeu como a tantos outros... Escrever o livro "A Dieta de Auschwitz Versus O Pão Nosso de Cada Dia" foi a forma que eu encontrei - ainda que, quase 48 anos depois  - de trazer à lembrança aqueles milhares de prisioneiros exterminados sumariamente, sem direito a qualquer tipo de julgamento e de justiça e me solidarizar com todos aqueles que, tal como eu, sobreviveram aos difíceis tempos de guerra e seus horrores. Este é o meu julgamento acerca do meu livro. Essa é a minha absolvição, definitivamente.
  3. Nasceu nos Açores e vive actualmente em Curitiba. Quando começou a trabalhar na área da saúde e nutrição?
Nasci na Ilha Terceira, nos Açores, meu pai era militar na base aérea americana. Após meu nascimento, foi transferido para Angola, onde morei até os 17 anos tendo mudado, já casada, para Moçambique. Com a Revolução dos Cravos regressei a Angola e, em 1975, fomos forçados a voltar para Portugal. Em 1977, por ocasião do falecimento de um de meus filhos, decidimos vir para o Brasil e aqui vivo há 38 anos. Sou pesquisadora independente de assuntos relacionados à nutrição celular, dedicando-me desde 1999 à prática terapêutica ortomolecular holística. Não sou médica ou nutricionista, atendo como terapeuta ortomolecular holística, focada em saúde quântica e especialista em Dieta do Tipo Sanguíneo (Nutrigenética). Além de organizar workshops e palestras dirigidas aos profissionais de saúde e ao público em geral, sou autora do livro "Dieta Pelo Tipo Metabólico e Sanguíneo".


www.sabado.pt

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