Desde que o desemprego começou a cair a sério que se nota maior capacidade das famílias em tirar, no mínimo, uma semana de férias fora de casa. Mas o país compara mal com o resto da Europa, sobretudo com os países do Norte
Quase metade dos portugueses inquiridos para um estudo do Eurostat, cerca de 47%, diz não ter dinheiro para passar uma semana de férias fora de casa. Esta realidade já foi mais agreste. A proporção chegou a superar 64% do total em 2008. Seja como for, o país tem comparado sempre mal com a esmagadora maioria dos pares da zona euro. Portugal aparece como o terceiro pior caso, sendo superado no ranking por Grécia (53,6%) e Chipre (53,5%).
O grau de "capacidade" orçamental das famílias portuguesas para fazer uma semana de férias sem ser em casa tem sido sempre inferior à média europeia. A boa notícia é que, hoje, os portugueses, apesar das restrições, estão a aproximar-se dos padrões europeus.
Os novos dados foram ontem divulgados pelo Eurostat no âmbito do Inquérito ao Rendimento e Condições de Vida e reportam à situação vivida em 2015 e 2016.
Os países que mais puxam para cima a média europeia (neste caso, o grau de capacidade de fazer uma semana de férias) são, sem grande surpresa, os da Europa do Norte e Central, onde os níveis de rendimento per capita costumam ser superiores.
Na zona euro, o que mais se destaca pela positiva é o Luxemburgo, onde 13,1% das pessoas inquiridas acusaram essa restrição. Na Finlândia, o rácio é o segundo mais baixo, apenas 14,2%. A seguir vêm Áustria, Holanda e Alemanha, com 15,4%, 16,2% e 19,2%, respetivamente.
Fora da zona euro, os suecos são os que têm menos dificuldade em desfrutar de umas pequenas férias fora do lar (8%). A Roménia surge com o pior registo: 66,6% dos inquiridos (dois terços) assumem não ter capacidade para ir uma semana para fora. A média europeia está nos 34,4%.
De acordo com um perito da Comissão Europeia que segue este inquérito, mas que preferiu não ser nomeado, há outros fatores além do rendimento disponível que devem ser tidos em conta: as famílias decidem tirar férias ou não de acordo (assim como outras decisões, como a compra de carro ou de casa) com as suas expectativas de emprego ou o risco de desemprego. E também segundo a confiança que têm na economia. A dificuldade no acesso ao crédito nos últimos anos também terá desempenhado o seu papel, ainda que hoje o crédito pessoal e ao consumo tenha regressado a níveis notáveis de expansão.
Em Portugal, percebe-se que, desde 2012 inclusive, existe uma correlação quase perfeita. Em 2013, o desemprego (média anual) atingiu o valor mais alto de sempre (16,2%) e desde aí que tem vindo a descer de forma consistente (está agora em perto de 9%). Do mesmo modo, também a percentagem de pessoas que acusava incapacidade em ir uma semana de férias caiu abruptamente, de quase 60% para os atuais 47,2%, mostram os dados do mesmo Eurostat.
O rendimento disponível também é decisivo. Segundo o INE, no estudo sobre orçamentos familiares, a despesa total anual média por família em Portugal ficou estagnada em 2015-2016 face à situação pré-troika, mas os gastos em "lazer, recreação e cultura" foram os que mais caíram no cabaz de consumo: um rombo de 21% neste período.
O INE também "salienta a redução da importância das despesas com restaurantes e hotéis e com lazer, recreação e cultura" nos anos em análise.
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